O clássico carioca no Pacaembu (por Paulo-Roberto Andel)

fla flu 20 03 2016 ricardo nogueira folhapress

O Fla-Flu de ontem no Pacaembu não foi nenhum jogão e, de certa forma, revela certo clima insosso na temporada 2016 do nosso futebol. Chegamos ao fim de março e conta-se nos dedos o rol de partidas empolgantes que foram vistas pelos gramados Brasil afora.

No entanto, alguns fatores positivos chamaram atenção.

Primeiro, o interesse do público. Talvez, apenas talvez, se esta partida tivesse sido disputada no Maracanã, talvez não conseguisse atrair 30 mil torcedores ao estádio – uma lástima quando falamos de um clássico, mas a triste realidade local: TV, desinteresse por parte do público, preços caros et cetera. Há quem aponte a televisão como a principal causa do afastamento dos torcedores do estádio e é justo refletir sobre isso, mas não creio que se trate do único motivo. Antes, 100 mil presentes era uma estatística até simplória; hoje, no máximo 95 mil e em Camp Nou. As modernas arenas brasileiras foram encolhidas em seus tamanhos originais, tendo o grosso de seu público – as classes populares – “devidamente” apartado para biroscas e afins. Mas o que não tem remédio, remediado está.

Segundo, o charme inquestionável do Pacaembu. Pensando nas arenas gourmetizadas, assépticas, frias até, o velho estádio tem realmente cara de estádio. Reparem que nem de longe sou contra modernidades; o que quero dizer é que, se precisavam trazer os campos de futebol para o futuro, não precisavam alijar o passado nem os principais focos de atração para uma partida. O Pacaembu tem história, tradição, imponência e ao lado de outras casas como São Januário e o Mundão do Arruda, ainda mantém certa aragem do que foram as nossas melhores épocas no futebol brasileiro.

Jogar em São Paulo passou a ser uma boa oportunidade para Flamengo e Fluminense. Mas não custa lembrar que isso só veio a acontecer porque ambos não se prepararam devidamente para o fechamento dos estádios no Rio de Janeiro, primeiro por ocasião da Copa de 2014 e, agora, com os Jogos Olímpicos. O que pode ser vendido como estratégia foi, na verdade, improvisação. Boa, mas improvisação.

Reitero: o Pacaembu é lindo demais, mas um Fla-Flu merecia público de Morumbi lotado. De toda forma, isso já é outra história.

@pauloandel

Imagem: Ricardo Nogueira/Folhapress

Um comentário em “O clássico carioca no Pacaembu (por Paulo-Roberto Andel)”

  1. Queria justamente falar sobre esse tema, mas não tive tempo. Fora todas as nuances brilhantemente abordadas, provamos que o futebol brasileiro é plural. Minha linha de raciocínio me diz que os grandes não podem ser só grandes dentro de suas casas. E o jogo de ontem me provou isso.
    Querem fazer dinheiro? Murici reclamou que os jogadores estão cansados?
    Então é hora de planejar.
    O campeonato brasileiro dá a falsa sensação de isonomia. Mas logo percebemos a segregação. O Sport Recife, único representante da parte de cima do país no ano passado, viajou sei lá quantos mil km durante o ano. Foi massacrado em um bate e volta insano. Mas aceita essas condições para depois ficar reclamando. Se houvesse planejamento tudo isso poderia ser dosado e todos sairiam ganhando, torcedor, jogador, treinador e o povo brasileiro.

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