Tua estrela solitária te conduz (por Paulo-Roberto Andel)

Agora no placar, 03:51 a.m. Predomina um enorme silêncio na madrugada do Brasil neste momento, bem diferente do que aconteceu horas atrás, quando cidades inteiras do país urraram de alegria com a vitória do Botafogo sobre o PSG. Não importa o que digam, nem a posse de bola nem o “se”. Nos últimos tempos, quantos derrotaram o esquadrão campeão europeu, tido como imbatível e melhor do mundo reconhecidamente? Pois bem, o Botafogo foi certeiro com seu bote de cobra e escreveu mais uma das grandes páginas de sua história, num livro com mais de quinhentas. Igor Jesus fez jus a uma camisa com gosto de vitória, cujo cheiro vem de longe, bem longe – é que o Botafogo anda de mãos dadas com o triunfo desde os tempos de Dinorah, Carvalho Leite e Basso, desde a mitologia erguida por Garrincha, Didi e Quarentinha, desde histórias maravilhosas que nasceram dos pés de Paulo Cezar, Mendonça e Maurício, de Túlio e Sérgio Manoel. O Botafogo, que acabou de ganhar o Brasil e a América do Sul. Se as manchetes dos jornais forem sinceras nesta sexta-feira, sete dias depois da sexta-feira 13, todas dirão “Tudo é Botafogo”. Não é uma novidade para um clube centenário com uma história monumental, mas é uma vitória dos alvinegros que valeu para todos os brasileiros que amam futebol. Naquela em que pode ter sido sua partida mais vista da história nas televisões e computadores do mundo inteiro, o Alvinegro não se fez de rogado e venceu o maior time do mundo com um gol solitário e definitivo, que valeu a condução serena de uma estrela solitária. Às 04:15 a.m., este relato se encerra com a dignidade de uma noite em que, depois de muito tempo, um clube da Europa se rendeu ao futebol sul-americano. Não se sabe o que pode acontecer daqui por diante, é uma Copa, tudo é possível, mas uma coisa é certa: em algum lugar do infinito, os garotos do Electro Club estão abraçados e cantando a valer, da mesma maneira que por aqui fazem Anderson Feife, Pedro Simonard e Carlos Lopes. Tudo é Botafogo, não estamos sós.

Edinho, 70 anos (por Paulo-Roberto Andel)

O ZAGUEIRO QUE FAZIA CHOVER

Edino Nazareth Filho, o Edinho, eterno zagueiro do Fluminense, completa 70 anos nesta quinta-feira e isso é inacreditável porque outro dia mesmo ele estava no Maracanã fazendo o impossível no gramado: dribles, passes e gols a granel, tudo isso jogando como defensor.

Desarmava, criava e concluía com a mesma categoria. Era fisicamente um touro. Corria feito um louco. Com suas arrancadas, ele levava o Fluminense a vitórias e a torcida ao delírio. Não aceitava a derrota de jeito nenhum. Craque de garra infinita: depois dele, somente Romerito e Conca chegaram perto em termos de aliar talento e vigor na mesma intensidade.

Numa tarde de 1975, Seu Pinheiro – eterno ídolo tricolor, então maior zagueiro da história do FFC e homem forte das divisões de base, foi à sala do eterno presidente Francisco Horta – que fazia questão de ouvi-lo em tudo:

“Doutor, o menino tem que jogar!”

Dito e feito: entrou e só saiu do time titular sete anos depois, quando foi vendido para a Udinese. Com 20 anos, tornou-se titular da Máquina Tricolor, o mais emblemático time tricolor em todos os tempos. Aos 21, chamava Carlos Alberto Torres e Rodrigues Neto de você. Aos 25 era o líder do maravilhoso Fluminense campeão de 1980. Jogou três Copas do Mundo e foi um monstro no México em 1986.

Depois, como treinador do Flu, levou o clube a duas finais do Campeonato Carioca com times modestos, mostrando a sua vocação para a disputa de títulos.

Os garotos tricolores que hoje têm cerca de sessenta anos de idade ficaram loucos com Edinho em campo. Ele foi uma força da natureza, uma explosão e uma presença que se eternizaram no ideário tricolor. O craque que não aceitava perder, o craque da garra infinita, que salvava um gol certo e cinco segundos depois arrancava para marcar o gol da vitória. Quando perdia um jogo, era aplaudido pelo esforço para tentar impedir o revés. A torcida sabia que ali estava um jogador inigualável. Sim, o Flu teve zagueiros fantásticos e inesquecíveis a seguir, todos no Olimpo de Álvaro Chaves – Ricardo Gomes, Torres, Válber, Thiago Silva e outros – mas coube a Edinho o título de maior zagueiro da história do Fluminense porque só ele encarou de frente a Zico, Mendonça, Adílio, Roberto Dinamite, Arthurzinho, Doval, Reinaldo, Éder, Sócrates, Zenon, Jorge Mendonça, Pita, Tita, Aílton Lira, Falcão, Joãozinho, Uri Geller e Muller sem contar super craques em times estrangeiros.

Edinho é um eterno escudo do Fluzão, conturbado no peito e tatuado no coração. Aqueles garotos sessentões de 1975 carregam o craque consigo há muitos anos e continuarão para sempre.

@p.r.andel