Os movimentos que cercam a questão da televisão no futebol brasileiro causam preocupação nos atores econômicos envolvidos.
Outrora deitada em berço esplêndido da estabilidade contratual, a Rede Globo em poucos meses se viu num ambiente de concorrência, contestação e repulsa como jamais se viu antes. Tendo o grupo Warner nas costas por meio do Esporte Interativo, a chamada Vênus Platinada já perdeu times expressivos como Santos, Coritiba, Atlético-PR e Bahia para o Brasileiro de 2019.
Cansados dos desmandos que envolvem horários esdrúxulos, da gourmetização do futebol, das coberturas tendenciosas e desproporcionais, afora outros problemas, torcedores organizados têm manifestado suas críticas à detentora dos direitos de transmissão, a ponto de um árbitro precisar paralisar uma partida para que faixas críticas fossem retiradas das arquibancadas.
Outro ponto de desconfiança está nos imbróglios envolvendo a cúpula de CBF, o grupo Traffic e as ligações na FIFA, já com a suspensão de figuras importantes e o julgamento de alguns chairmen do mundo da bola, casos do ex-presidente da Confederação José Maria Marín e do empresário Jota Ávila. Del Nero segue autoexilado no Brasil, temendo a Interpol caso pise em terras estrangeiras.
Diante de tantos elementos negativos, às vezes enrustidos por alguns poucos jogos de grande apelo e grande celebração midiática, vendendo um produto de aparência duvidosa e conteúdo contestável, é possível entender o esvaziamento atual do futebol brasileiro, enquanto o mercado econômico do esporte preferido dos brasileiros caminha para a inviabilidade econômica – mais de 80% dos jogadores no Brasil ganham até dois salários mínimos mensais, conforme estatísticas de 2015. Clubes pequenos esmagados e em processo de fechamento, os grandes administrando dívidas multimilionárias, empresários fazendo a festa financeira e os melhores jogadores bem distantes dos gramados brasileiros. Jogos sem público enquanto a TV não se preocupa: ela lucra com os torcedores em casa à frente do PPV ou nos bares em geral. Torcida para quê?
Em contrapartida, as federações são dirigidas por grupos feudais, sem remuneração mas administradores de ótimos lucros. Da Confederação, é desnecessário dizer. Os meios de comunicação de massa aplaudem o modelo atual, interessados que estão na manutenção do status quo.
Quando o futebol deixou de ser um grande lazer em firma de espetáculo para se tornar um mero negócio econômico, as suas raízes foram enfraquecidas. Trocou-se o público dos estádios pela massa dos espectadores em frente à uma novela monótona às quartas-feiras e domingos – terças, quintas, sextas e sábados também.
Qualquer análise que relacione o avançar deste sistema nos últimos anos com o fracasso contemporâneo do futebol brasileiro, seja nas competições continentais interclubes ou nas de seleções, não o faz por mera coincidência.
@pauloandel