Algumas palavras sobre Pelé (por Paulo-Roberto Andel)

O ano está acabando, o Natal está aí. No hospital, Pelé joga a partida mais difícil de sua longa e vitoriosa vida.

Como é sabido publicamente, seu estado de saúde piorou e o Rei está à base de medicação paliativa. Em português direto e reto, o câncer é incurável, já se alastrou e não há nada a fazer.

Já li, escrevi e debati muito sobre Pelé. Fui chamado de alienado por conta da questão de sua filha Sandra, até hoje sem a devida luz pública. Novamente alienado porque Pelé não teve posições combativas à ditadura no Brasil, nem se colocou de maneira antirracista.

Queiram desculpar. Nada tenho de alienado. Nem aqui, nem na China.

Sobre a questão de Sandra, filha de Pelé, não me cabe julgar nem apedrejar, apenas tentar entender o problema, explicado ao jornalista Milton Neves, sabendo também que, anos depois de Sandra, Pelé reconheceu outra filha, Flávia.

A respeito da ditadura, cabia a Pelé o papel de líder revolucionário para derrubá-la? Faça-me o favor. Sou filho e sobrinho de pessoas presas e torturadas pela ditadura. Deixo aqui uma expressão simples mas que, para mim, traduz a questão: o buraco é mais embaixo.

A simples presença de Pelé como ídolo maior do Brasil era uma postura antirracista, mesmo que involuntária. Desde fins dos anos 1950, ele é uma presença permanente no imaginário brasileiro. Se Pelé não tinha o domínio antropológico e científico do combate ao racismo, o fez do seu jeito. Sim, há 60 anos temos um ídolo negro permanentemente na TV, jornais, rádio e internet. Ok, Pelé nunca assumiu o discurso antirracista? Mas será que ele mesmo, com todo seu poder e dinheiro, também não foi vítima de racismo?

Pelé não foi apenas o maior jogador de todos os tempos, mas o Atleta do Século XXI, supremo na comparação com todos os esportes. Para quem tiver dúvidas, está tudo no YouTube e nos livros.

Dele, nunca se viu em público um único ato de rispidez, grosseria ou prepotência. Nunca. Ciente de seu lugar no topo, sempre respeitou outros grandes craques e até errou feio ao indicar seus sucessores nos gramados. Seria compreensível que fosse um homem até arrogante, com empáfia decorrente de seus feitos, mas nunca agiu assim. Nunca. Podem pesquisar.

Pelé ajudou muita, mas muita gente. Amigos como Altair, lateral campeão mundial de 1962, no tratamento de sua filha, que exigia medicação importada por longo tempo, a milhares de vítimas das chuvas em 1979, quando Flamengo e Atlético Mineiro fizeram um amistoso com renda revertida para a causa dos desabrigados. Ao jogar meio tempo para o Fla, Pelé provocou a quebra do recorde nacional de renda à época, mais um bom dinheiro para a reconstrução das casas perdidas.

Para aplaudir Maradona – gênio -, Cristiano Ronaldo – fenomenal – e mais recentemente Messi – monstruoso -, não é necessário diminuir o tamanho colossal de Pelé. Mbappé já é gigantesco, mas Pelé é Pelé. Ele está entre os gênios da raça, assim como Pablo Picasso, Miles Davis, Glauber Rocha, Jimi Hendrix e outros. Podemos gostar de futebol, apreciar novos craques, mas tendo a consciência de que Pelé, nem de longe, foi superado. Podemos ouvir o novo jazz, gostar, mas sabendo que Miles é Miles.

Aconteça o que acontecer nos próximos dias ou semanas – nunca sabemos -, eu só espero que respeitem Pelé. O Atleta do Século XX, o maior jogador de futebol de todos os tempos, o único jogador da Terra a ganhar três Copas do Mundo, é um idoso de 82 anos no que Gilberto Gil versou como o caminho inevitável para a morte. Criticá-lo não pode ser apedrejá-lo, e muitos dos que sonham com esse apedrejamento carregam muita hipocrisia nas costas.

A verdade é que, perto do que fez para o Brasil, Pelé nunca foi devidamente respeitado. Garrincha morreu bem mais jovem, mas também desprezado e ridicularizado. Pelé tem vivido mais tempo, com uma vida infinitamente mais confortável, mas com toda a carga de desmerecimento de sua trajetória, o que significa uma grande estupidez. Poderíamos ter aproveitado e não repetido duas vezes o mesmo erro.

Por fim, não adianta brigar com os fatos ou apadrinhar achismos. É inútil. Goste-se ou não de Pelé, ele ainda é o maior jogador de futebol da história. Reconhecer isso é apenas um exercício de lucidez. Só.

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Para os que insistem no terraplanismo futebolístico de reduzir os feitos numéricos de Pelé como Atleta do Século XX, proponho um simplório exercício de Estatística Documentária.

Vejamos os dez maiores artilheiros da história do Santos, excetuando-se o próprio Pelé, mais Feitiço (artilheiro nas décadas de 1920-30) e Araken Patuska (artilheiro nos anos 1920). Assim, são sete os maiores artilheiros santistas que jogaram ao lado do Rei.

2) Pepe, 405 gols em 750 jogos (1954-1969). Jogou 13 anos ao lado de Pelé.

3) Coutinho – 370 gols em 457 jogos (1958-1970). Jogou 12 anos ao lado de Pelé.

4) Toninho Guerreiro – 283 gols em 373 jogos (1963-1969). Jogou seis anos ao lado de Pelé.

6) Dorval – 198 gols em 612 jogos (1956-1967). Jogou 11 anos ao lado de Pelé.

7) Edu – 183 gols em 584 jogos (1966-1976). Oito anos ao lado de Pelé.

9) Pagão – 159 gols em 612 jogos (1955-1963). Sete anos ao lado do Rei.

10) Tite – 151 gols em 475 jogos (1951-1963). Sete anos ao lado de Pelé.

Nenhum dos nomes desta lista jogou menos de seis anos com Pelé de camisa 10, fazendo tabelas e recebendo passes. Somados, eles chegam à impressionante marca de 1.749 gols. Não é nenhum absurdo imaginar que Pelé tenha sido o principal responsável por municiar todos esses artilheiros. Que tenha sido por baixo em 40% das jogadas de gol (sabemos que foi mais): falamos de 700 gols pra começar a conversa. É claro que a lista contém vários dos maiores jogadores da história do Peixe, mas é impossível negar a participação direta de Pelé nas estatísticas de gol de seus companheiros.

Obs: apenas a título de curiosidade, dos dez maiores artilheiros da história do Barcelona, o espetacular Messi jogou apenas com Luisito Suárez (198 gols, o terceiro maior, seis anos jogando com Messi) e Samuel Eto’o (131 gols, o oitavo maior, cinco anos ao lado de Messi). Somados, dão 329 gols. Provavelmente Messi também teve expressiva participação em assistências para os colegas de equipe.

(Números sujeitos a retificações mínimas)

@pauloandel

@pauloandel

Dia de Seleção (por Paulo-Roberto Andel)

Quinta, dez pras duas. Lanchei, suei, chorei, tomei banho, jantei bem e fiquei pensando. Marina parou de responder o WhatsApp, deve ter adormecido. Ela trabalha amanhã, ficarei sozinho. Nos últimos tempos, o que eu mais faço é ficar sozinho. As pessoas estão nos smartphones, geralmente muito ocupadas.

Desde aquele dia de muitos anos atrás, com o mar de papel picado que vi na rua em 1978, Brasil 0 x 0 Argentina, lá se foi uma vida. Quarenta e quatro anos.

Vários amigos daquele tempo estão longe ou infelizmente mortos. Meus pais se foram. Tanta, tanta gente. Tem saudade, melancolia e tristeza também.

Nunca é só um jogo, mas jogos e jogos e jogos que vão se acumulando. O garoto Ardiles é um respeitável setentão. Beckenbauer também. Sepp Maier.

Leão, Nelinho, Amaral, Edinho. Jorge Mendonça e Toninho foram embora. Coutinho, Telê, Valdir Peres, o espetacular Sócrates.

Minha vida é longe de ser tranquila, mas nela o futebol é uma presença permanente. É muito bom. Sem o futebol, tudo ia ser muito mais difícil.

A gente vai contando o tempo em Copas. O Sarriá já ficou longe, o México também. A divertida Copa da Itália no Edifício Pampeiro – o Brasil massacrou a Argentina, acertou três bolas na trave e foi eliminado. A Holanda foi eliminada no mesmo dia. Eu era calouro da UERJ.

Sei muito bem que a Copa no Qatar foi um erro, que merece todas as críticas, que não podemos tolerar uma série de coisas. A gente sabe. O mundo tem que melhorar. E as pessoas que se consideram “mais politizadas” precisam aprender que há muita gente politizada apaixonada por futebol, e que sabe melhor do que ninguém onde estão os baixos mundos do esporte. Ninguém é evoluído politicamente por desprezar uma paixão que mobiliza bilhões de pessoas.

São duas da manhã. Eu sinto saudades da Copa da Argentina, não pela ditadura horrenda daquele país, mas por causa de Tarantini, Fillol e Mário Kempes, da fantástica Holanda e do Brasil. Eu tenho saudades de Lato e Trésor. Saudades de colar os escudinhos nos botões, de jogar amistosos com Fred e Floriano, o Luís Fernando também.

O Brasil vai entrar em campo e rememorar os grandes heróis dos anos 1930 e da Copa de 1950 – seleção que sofreu e sofreu muito, sem justiça. Voltar no tempo em que nem Copa havia, como no Sul-americano de 1919 nas Laranjeiras. São muitas histórias numa só.

Daqui a algumas horas eu não vou apenas ligar a TV e ver a estreia do Brasil na Copa do Mundo diante da Sérvia. Não. Mais do que isso, o que vou fazer é pedir ao tempo uma esmola, uma migalha, um golinho dos melhores anos da minha vida. Tempo, esse marcador implacável que sempre vence. Quando somos crianças, o mundo é nosso.

Em 1978 eu tinha uma coleção de tampinhas de Coca-Cola com as carinhas dos jogadores. Ainda não tinha uma mesa de botão. Minha mãe me deu dinheiro para comprar uma cartolina verde, acho que dois cruzeiros. Fiz as linhas do gramado com caneta Bic azul e régua. Na falta de um transferidor, eu fiz as meias-luas e o círculo central com a base de um castiçal que até hoje está aqui em casa. Era um campo pobre, simples, mas bem bonito e desenhado. Posso vê-lo agora com o papel picado sendo jogado pelas janelas de Copacabana.

Agora deu para entender o que eu estou procurando às duas e meia da manhã?

@pauloandel

A carta de Tite para os tricampeões mundiais em 1970

“Tenho viva na lembrança a memória de estar no carro com Parreira, em 2016, a caminho de um encontro com Zagallo. Além do respeito e carinho, também buscava calma e ensinamentos. Escutei relatos que, desde o início de sua carreira como técnico, Zagallo falava sobre temas como a organização da equipe e o estudo profundo – e por longos períodos – de treinamentos e estratégias.

Recentemente, assisti mais uma vez a todos os jogos da Seleção de 70 – confesso que apenas partes da vitória contra a Romênia (3×2) – e pude observar, refletir, opinar mais uma vez… Ou como definiu a poeta Leda Martins, se “toda história é sempre sua invenção”, posso então contar minha história, minha verdade sobre a Seleção de 70.

Tinha nove anos de idade e tenho a vívida lembrança de jogar bolinha de gude enquanto a Seleção disputava a semifinal, contra o Uruguai. Ouvia tudo pelo rádio e, quando o chute de Clodoaldo encontra a rede, largo tudo e saio correndo, vibrando com o gol, talvez imaginando tê-lo feito.

A Seleção Brasileira de 1970 contava com atletas diferenciados e de altíssimo nível: Pelé, Tostão, Gérson, Rivellino, Jair, Clodoaldo e outros mais. Qualidades técnicas e cognitivas. Costumo dizer que essa equipe está em uma prateleira à parte de todas as outras equipes.

É também verdade que após revisitar o tricampeonato no seu aniversário de 50 anos, reforço a qualidade de seu técnico a cada partida assistida. Zagallo é o responsável por adaptar a equipe aos melhores atletas, potencializando-os individualmente e coletivamente enquanto equipe. O “Velho Lobo” é moderno desde 1970, quando respondeu a uma pergunta dos tempos de hoje, um desafio contemporâneo para os técnicos.

Aquele time reunia, na fase ofensiva, criatividade e efetividade. Foram 19 gols marcados em seis jogos. Na fase defensiva havia solidez e organização. Afora os limites humanos, exceção claro a Pelé, conforme a necessidade e/ou a possibilidade, a equipe encantava, competia e vencia. A Seleção das Seleções, bem simples assim!
Lembro de Rivellino relatando como Zagallo o convenceu a jogar como ponta esquerda (externo esquerdo), com liberdade de movimentação quando com a bola (um flutuador), e sem bola preocupado com a recomposição defensiva posicional pela esquerda. Exemplo de liderança transformacional.

Estive também com Gérson antes da Copa do Mundo de 2018. Ele me contou histórias a respeito da equipe e aquilo foi fascinante. Posicionamentos, relações, inteligência do atleta nas percepções da posição e função exercida. Por exemplo, se lembram do gol que me referi no começo do texto? O gol de empate de Clodoaldo contra Uruguai, ao final do primeiro tempo na semifinal da Copa.

Orientação de Gérson, marcado individualmente, para Clodoaldo. Uma troca de função que liberava Clodoaldo para as ações de armação ofensiva enquanto ele, Gérson, permaneceria mais posicional. Percepção e inteligência! E, além de todas as qualidades já exaltadas, um planejamento com preparação física da equipe em alto nível, excelência.

Liderança, carisma e emoção. Marcas de um mestre chamado Zagallo. Desde o famoso bordão “vocês vão ter que me engolir” passando pelo aviãozinho na comemoração de um gol ao brilho no olhar, por vezes lágrimas, que até hoje se evidenciam quando se fala em Seleção Brasileira.

Títulos? Muitos. Se minha pesquisa estiver correta foram 15, sendo Tetracampeão Mundial. Todos menores que o respeito, consideração, virtudes humanas e qualificação profissional conquistados.

Inconfidência. Em uma das conversas que tive com Zagallo afirmei, sinceramente: “Vim aqui além da visita amiga, buscar conselhos e aprender”. Zagallo me olhou sorrindo, com um ar gracioso e devolveu: “Tu já tem experiência e conhecimentos suficientes”.

Zagallo foi mais uma vez de grande sabedoria, sensível para me encorajar e, ao mesmo tempo, sendo humilde no trato humano.

Zagallo sabe que Mestre não ensina, inspira!

Muito obrigado, Seleção de 70.

Muito obrigado, Mestre Zagallo.”

O baile do Tita: Brasil 1979 (da Redação)

Em 02 de agosto de 1979, Brasil e Argentina mediram forças pela Copa América diante de quase 120 mil torcedores.

A Seleção Brasileira venceu a grande rival por 2 a 1, com um golaço do jovem estreante Tita, atuando ao lado de outros jogadores fantásticos e enfrentando nada menos do que o também jovem Diego Maradona.

Ainda que caísse nas semifinais diante do Paraguai, o Brasil contava com jogadores de altíssimo quilate técnico como Amaral, Edinho, Carpegiani, Zenon e outros.

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Brasil 1966, há exatos 50 anos

Em 13 de julho de 1966, o Jornal do Brasil noticiava a preocupação dos húngaros com a possível evolução da Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Inglaterra, depois de estrear na véspera com uma vitória sobre a Bulgária por 2 a 0, com gols de Pelé e Garrincha.

Tudo seria diferente das preocupações húngaras dois dias depois: Hungria 3 x 1 Brasil e o encaminhamento para aquela que, desde então, foi a pior participação do escrete canarinho numa Copa, com a eliminação na primeira fase da competição. Eram claros os reflexos de tudo o que acontecia no país em termos políticos, com claros reflexos em nosso futebol.

Em tempos em que o jornalismo anda rareando, era um verdadeiro luxo a escalação dos correspondentes internacionais do JB na Inglaterra: José Inácio Werneck, João Máximo, Oldemário Touguinhó e grande elenco. Outras palavras.

BRASIL 1966 HUNGRIA

Acabou o jogo (por Thiago Constantino)

jogo haiti

Acabou o jogo! Ele agora está empatado.

Devolvemos o 7 x 1. #sqn

A Alemanha está para o Brasil assim como o Brasil está para o Haiti.

Sonhamos em ser Alemanha, mas enquanto nada muda no futebol, no país e na sociedade…o Haiti continua a ser aqui.

A canção pode ser retórica.

Mas enquanto nada se muda, a retórica é modernidade.

Imagem: Carta Capital

Vitória da resiliência (por Thiago Constantino)

brasil bola murcha

Talvez um dia fosse difícil jogar contra o Paraguai. Mas nunca achei que fosse tanto.

Até o fim dos anos 70, nunca havíamos perdido para eles lá. Porém dos anos 2000 para cá, nunca mais tivemos o sabor da vitória em solo guarani.

Desde 2009, não ganhamos deles onde quer que seja o local de jogo. Também não perdemos. Se você vê alguma vantagem nisso, precisa rever seus conceitos.

A Seleção Brasileira, margeada pelo futebol nativo, está claramente em uma péssima safra. E não é de hoje. Desde o apito final da Copa de 2002, uma era se encerrou. Se você não consegue ver isso, insisto, precisa rever seus conceitos.

De lá para cá, quem vê futebol todos os dias sabe que a desordem total ficou evidente.

Craques em final de carreira se arrastando em campo, recordes pessoais acima dos anseios da nação e muito mais. E o que essa bagunça gerou?

Vamos aos fatos.

Planejamento

O futebol brasileiro e consequentemente a Seleção não se entendem. Não há planos sérios para o futuro e os dirigentes contam com os jargões de sempre como “Ah, na hora H os craques resolvem”.

Craques? Caem eles do céu? Oba! Hoje fui na maternidade lá em Três Corações e tive uma grande notícia: -“Nasceu outro Pelé!”

Não, não nasceu outro Pelé. Edson só foi Pelé porque Gerson foi Gerson, Garrincha foi Garrincha e tantos outros foram… coletivo.

E o que temos para hoje? Vou citar aqui os nomes convocados e mais dois possíveis substitutos. Quero provar que, por mais divergências sadias que tenhamos, vamos acabar no lugar comum. Quer apostar?

Preste bem atenção na convocação para os dois últimos jogos e, em negrito, o complemento de possíveis substitutos:

GOLEIROS

Alisson (Internacional)
Marcelo Grohe (Grêmio)
Diego Alves (Valencia)

Jeferson (Botafogo), Victor (Atlético-MG), Fábio (Cruzeiro), Cassio (Corinthians), Cavalieri( Fluminense)

ZAGUEIROS

David Luiz (PSG)
Miranda (Inter de Milão)
Marquinhos (PSG)
Gil (Shandong Luneng)

Thiago Silva (PSG), Felipe (Corinthians), Alex (Milan), Luisão (Benfica)

LATERAIS

Danilo (Real Madrid)
Daniel Alves (Barcelona)
Filipe Luis (Atlético de Madrid)
Alex Sandro (Juventus)

Marcelo (Real Madrid), Marcos Rocha (Atlético MG)

VOLANTES

Luiz Gustavo (Wolfsburg)
Fernandinho (Manchester City)
Renato Augusto (Beijing Guoan)

Elias (Corinthians), Hernanes (Juventus), Ramires(Jiangsu)

MEIA-ATACANTES

Philippe Coutinho (Liverpool)
Oscar (Chelsea)
Lucas Lima (Santos)
Willian (Chelsea)
Kaká (Orlando City)
Douglas Costa (Bayern de Munique)

Nenê (Vasco), Lucas (PSG), Ganso (São Paulo)

ATACANTES

Neymar (Barcelona)
Hulk (Zenit)
Ricardo Oliveira (Santos)

Jonas (Benfica), Pato (Chelsea), Fred (Fluminense)

E aí? Discorda de algum desses nomes?

Desafio você leitor a tirar um nome mágico da cartola que vá revolucionar as quatro linhas.

Qualquer dos nomes citados, mais uns três ou quatro que possam surgir, refletem e reforçam a unanimidade seguinte : o único craque que temos chama-se Neymar.

Mas esses que estão aí, são tão ruins assim? Não mesmo.

São todos de bons para ótimos jogadores. Quase a totalidade joga nos grandes clubes do mundo e são titulares de suas equipes. Mas o que acontece?

Em suas equipes eles são parte da engrenagem, estruturada de modo a também funcionar sem eles.

Uma vez, antes da copa de 2014, Carlos Alberto Torres cravou: “-Essa seleção terá amadurecido e provavelmente estará pronta para 2018 e 2022”. O  Capita não terá errado.

E estar pronta não significa apenas se classificar para a Copa. Para tal feito é necessário mais do que isso.

Se a técnica não nos permite alcançar algo mais, não é no grito e na base da cara feia que iremos separar os homens dos meninos.

Temos que planejar, organizar e vislumbrar algo mais moderno para que possamos extrair o melhor dos que aí estão.

Ao menos temos que tentar. Mas para que isso aconteça, é necessariamente urgente que se reconheça abertamente, a safra é ruim.

As seleções que se destacam hoje no mundo tem um coletivo muito acima da média, com um individual que colocam no bolso qualquer suposto “craque”brasileiro. E esse, definitivamente não é o caso de Uruguai e principalmente do Paraguai.

Voltando ao Paraguai de hoje, talvez se houvesse um Gamarra na zaga, ou um Chilavert no gol e o time vermelho, branco e azul poderia ter tido melhor sorte. Já que não havia, sorte nossa….ou….sorte de Dunga, que deverá sobreviver mais algum tempo sem nada de bom agregar. Tempo e vai se esvaindo pelas mãos ao passo que o “país do futebol” continua a merecer esse tão singela homenagem, mais pelo seu povo aguerrido e sempre com um fio de esperança do que pela prática do esporte Bretão.

E aí? Você precisa rever seus conceitos? Volte no tempo e reveja o futebol de 2002 até os dias de hoje.

Se não precisa rever, é porque já tomou uma boa dose de resiliência, e para o período atual, melhor remédio não há.


Resiliência é a capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças.

Imagem: letrascronicas.blogspot.com.br

Dois Dungas (por Paulo-Roberto Andel)

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Para os mais jovens, é importante dizer que a trajetória insossa de Dunga como treinador de futebol é distinta, ao menos em boa parte, de sua vida como jogador.

Volante de bons recursos técnicos, capaz de acertar passes longos, dotado de um chute forte e uma garra infinita em campo, não foi campeão do mundo à toa.

Contra si, teve o injusto linchamento midiático (para variar…) na Copa de 1990. A precoce eliminação diante da Argentina do genial Maradona levou a grande imprensa a culpar Dunga por tudo de ruim que aconteceu numa Seleção conturbadíssima. Um ano antes, depois de uma crise, o Brasil tinha ganho a Copa América depois de quatro décadas de espera. A expressão “Era Dunga” foi puro e cruel reducionismo, o que talvez ajude a explicar certa rispidez do treinador em entrevistas, alimentada por rancores do passado.

Já o profissional à beira das quatro linhas deixa a desejar. Sempre desejou. Remake da experiência realizada com Falcão depois daquela mesma Copa da Itália, Dunga chegou à condição de treinador da Seleção Brasileira sem qualquer experiência em clubes. Os dois casos foram inspirados em Franz Beckembauer, o cracaço vitorioso à frente da Alemanha campeã mundial em 1990. Um detalhe: o Kaiser levou anos a fio em cursos de preparação para o ofício de treinador, o que naturalmente não aconteceu com a dupla brasileira. Depois de muitos anos como comentarista, Falcão trabalhou no Bahia e tem feito uma boa jornada no Sport.

As empolgantes estatísticas que se firmaram com a inesperada conquista da Copa América de 2007, mais as vitórias nos amistosos que vão do nada a lugar nenhum deram-lhe um enganoso estofo triunfante. Na hora H, na África do Sul, o que se viu foi uma Seleção destrambelhada, convocada à base de caprichos pessoais e teimosias, que encerrou seu caminho diante de uma pavorosa partida contra a Holanda, na derrota de virada por 2 a 1. A imagem de Dunga com olhar atônito para seu banco de reservas durante aquele jogo é uma página eterna dos maus momentos do futebol brasileiro. Mas justiça seja feita: a arrogância sem limites do medíocre treinador foi também inflada pela eterna opressão da Rede Globo, contrariada em seus interesses comerciais – e qualquer semelhança com os tempos atuais será mera coincidência.

Daquele fracasso até 2014, foram quatro anos de limbo com uma apagada passagem pelo comando do Internacional e só. O que não deu certo em 2010 virou a promessa de dias melhores depois dos 7 a 1, numa CBF cheia de cartolas em cana ou à beira dela. Nada mudou. Dunga não evoluiu. Pouco trabalhou na função. Ao menos, reapareceu mais “humilde” em entrevistas coletivas. De resto, o que se vê é o contestável neymarbol e a insistência permanente na exclusão/rejeição de nomes como Thiago Silva e Marcelo, por exemplo, para a teimosia atroz na escalação de nomes como o de David Luiz – co-responsável por pelo menos 4 daqueles malditos 7 da Alemanha, no desastre do Mineirão.

A Seleção vive um momento complicado, reflexo de tudo que cerca o futebol brasileiro atual, muito visível ontem depois de ser completamente dominada pelo mediano escrete uruguaio. Sua grande história pode até empurrá-la a mais uma classificação em Mundiais, até mesmo numa desagradável repescagem. Mas hoje, pontualmente hoje, estamos em risco para 2018. E mesmo que ele seja superado, para o que todos torcemos muito, será difícil imaginar um Brasil hexacampeão, ainda mais demonstrando aquilo que foi sua maior marca do passado: um grande futebol.

O Dunga das quatro linhas é infinitamente superior ao da beira delas. Se o caso era trazer um treinador de força, líder incontestável, que tivesse a personalidade parecida com a do atual comandante, Leão teria sido um nome com mais estofo, currículo e resultados, mesmo tendo sido rifado da Seleção em 2001. Se a questão priorizasse o talento, Muricy e Tite seriam opções muito mais consistentes e relevantes.

O que não tem remédio, remediado está. Terça-feira tem mais.

@pauloandel

Imagem: globoesporte