Durante anos, uma das vozes marcantes do futebol brasileiro foi ouvida à meia noite de domingo, quando começava na querida e saudosa TVE a reprise do jogo de domingo no Maracanã.
Uma voz clássica, retumbante, de falas pausadas a cada novo jogador que tocasse na bola. Uma explosão quando havia um lance de lperigo para os goleiros. E se o perigo virasse gol sofrido, um segundo de silêncio e uma bomba atômica: TÁLÁAAAAAAAAA! Em seguida, o nome do jogador e, em alguns casos onde o gol havia acontecido numa rebatida na área, cravava: “Numa sinuca maluca!”.
José Cunha, um tremendo locutor esportivo, veio de Minas para o Rio e por aqui ficou. Passou por várias rádios, sentou praça na TV e, fora do futebol, participou do fenômeno popular “O povo na TV”, programa ao vivo na TVS, depois SBT, ao lado de futuros ícones da mídia como Sérgio Mallandro, Wagner Montes, Cristina Rocha, Roberto Jefferson (ele mesmo!), Anna Davies e Wilton Franco.
Cunha foi chefe, mestre e líder de gerações de jornalistas de suas equipes. Muitos profissionais o definiram como uma figura de extrema doçura, generosidade e carisma. Num meio onde vaidades costumam pipocar, ele foi uma unanimidade profissional.
Os garotos de 1979, 1980 e 1981 que escutavam José Cunha nunca mais vão se esquecer dele. A poderosa voz do narrador contou incontáveis partidas recheadas de craques por todo o gramado do inesquecível Maracanã. Com seu TÁLÁAAAAAAA, ele imortalizou grandes lances de Mendonça, Zico, Roberto Dinamite, Edinho, Cláudio Adão e tantas outras feras do futebol daquele tempo de arquibancadas populares, geraldinos ensandecidos e a festa permanente que o Rio desfraldava no maior estádio do mundo.
Sua despedida leva muitos torcedores de agora a se reencontrarem com a juventude, talvez nos melhores momentos de suas vidas. Sua voz é o registro de outro sobre um futebol fascinante, popular e extremamente humano.
Viva José Cunha!