SEXTA-FEIRA vadia, fria e meio silenciosa, então surge na TV Hungria versus Holanda pela Liga das Nações. Toda hora tem uma competição: Copa do Mundo, Copa América, Eurocopa, Liga das Nações. Bem, acabou a Copa das Confederações.
Jogo na Hungria, estádio lotado. Setenta anos depois de Puskás, Czibor, Hidegukti e Kocsis ainda alimenta sonhos e esperanças, mesmo que vãs. Um time daqueles de novo? Nunca mais. A Hungria fez 10 a 1 em El Salvador na Copa da Espanha, a maior goleada dos Mundiais. E também ganhou do Brasil por 3 a 0 em 1986, com um gol de Détári. Salvo engano, foi a última atuação de Leão como titular da Seleção Brasileira. Minha simpatia pela Hungria, além dos craques do passado, tem a ver com o Fluminense: a semelhança das cores. Ah, em 1982 tinha o goleiro Mészáros, que faleceu ano passado. Uma vez eu fiquei ouvindo pelo radinho Fluminense x Honved, eles ganharam por 2 a 0 no torneio de Córdoba. Não lrmbro se chegou a ter a transmissão ou só as informações da partida. O que sei é que perdemos para o grande Honved dos anos 1950. E o radinho estava colado na minha cara.
O sonho da Holanda não tem setenta anos, mas cinquenta. O que dizer do time de 1974 que, mesmo sem Cruyff, chegou à final do Mundial da Argentina em 1978? Um bando de craques geniais, malucos e humildes: todos atacavam, defendiam e trocavam de posição. Os adversários enlouqueceram. Krol, Neeskens, Rep, Suurbier. Jongbloed, uma legenda. Van era com a Holanda: Van Beveren, Van Breukelen, Van Der Kherkof, Van Basten – e na música, Van Halen. Agora quase não tem. A segunda leva, com a turma do Gullit, foi excelente também. O terceiro vice mundial, conquistado em 2010, serviu para que, apesar da frustração, a Holanda fosse tão grande a ponto de ser a única seleção que não conquistou uma Copa, mas com status como se tivesse conquistado.
[Máquina Tricolor e Laranja Mecânica têm tudo a ver, de ponta a ponta, da costa leste à oeste
A partida acabou sendo divertida, mas não brilhante. Prevaleceu a marcação da Hungria no primeiro tempo, quando a seleção mandante fez um belo gol: cruzamento da esquerda e finalização de primeira no alto à esquerda. No segundo tempo a Holanda predominou, mesmo com um jogador a menos, e acabou empatando no fim com bela cabeçada de Dumfries. Memphis Depay ainda não está por lá. Na hora da comemoração foi fácil ver como o uniforme holandês azul é bonito, embora a eterna camisa laranja seja imbatível.
Ah, no primeiro tempo teve um lance sensacional, que só se compara a uma decisão por pênaltis – sempre corrigida pelo eterno Mário Vianna, com seus dois ênes: “NÃO SÃO PÊNALTIS, MAS TIROS LIVRES DIRETOS DA MARCA PENAL”. Ufa! Vamos ao lance: dois toques dentro da área húngara, dez húngaros debaixo da trave, dez holandeses pensando onde a bola pode chegar ao gol, tensão discussão. A bola parada depois da marca do pênalti. A cobrança é uma bomba, mas o desfecho é improvável: o goleiro defende sem rebote.
No fim, os húngaros – que contaram com a vitória magra em boa parte do tempo – saíram meio decepcionados, mas não deixaram de cantar e gritar para seus jogadores. Foi uma boa partida. Não, não: Czibor, Hidegukti, Puskás e Kocsis, nunca mais. Cruyff e Neeskens, nunca mais. Contudo, toda vez que começa um jogo, todos os torcedores voltam a ter doze ou dez anos de idade – assim, tudo é visto com o amoroso doce licor da infância. Faz muito tempo, mas é impossível para Holanda e Hungria entrarem em campo sem abrir as cortinas do passado, um belo e fascinante passado.
O jogo do radinho. O Honved tinha outro Kocsis. O Fluzão? Paulo Goulart, Marinho, Ademilton, Edinho e Ricardo Longhi; Pintinho, Givanildo e Mário; Osni, Tulica e Zezé. Depois entraram Edevaldo, Rubens Galaxe, Robertinho e Parraro. O Flu vivia tempos de crise e não ganhava nada desde 1977, mas ninguém sabia que, meses depois, com sete desses jogadores que perderam para o Honved, surgiria um grande campeão. Certas coisas a gente só entende depois que o tempo passou.
Essa turma que agora faz defesa ostensiva de Fair Play financeiro está me fazendo voltar no tempo. Me lembro do ano de 2002, onde o Santos da segunda geração de “Meninos da Vila” se classificou em oitavo e depois, nos mata-matas, se sagrou campeão brasileiro.
Logo após isso, me lembro das mesas de dabate falando em mudanças na fórmula de disputa do campeonato. O argumento era de que o mata-mata, dava chance ao “imponderável de Almeida”, que não premiava a “regularidade”. Por outro lado, diziam que “ponto corrido era mais justo” que era “a vitória da regularidade e do planejamento”, que “na Europa era assim” e que aqui também tinha que ser.
O “Na Europa é assim” serviu pra mudar a fórmula de disputa. Mas, pra ter uma equidade/paridade nas receitas, aí o argumento mudou pra “Na Europa é na Europa, Brasil é Brasil”…
Dentro desse falso conceito de “meritocracia” (leia-se dar privilégios individuais a alguns em detrimento dos demais) instaurou-se a falácia de “Fulano tem mais torcida, dá mais audiência” e por isso “tem que receber mais dinheiro da TV”.
Todas as mudanças que são impostas na base da politicagem, vem acompanhadas de belos discursos, narrativas psicodélicas, dando conta de que tudo vai ser muito bom. Vinte anos depois, podemos dizer que o futebol brasileiro decaiu como um todo. Tivemos uma concentração absurda de receitas em um cartel de clubes, fulminando o equilíbrio técnico e financeiro da competição.
A pergunta que fica é: isso tudo foi bom pra quem?
Obviamente a questão aqui não é entrar no debate sobre mata-mata x pontos corridos. O caso é outro.
O que fica explícitoné que todas as mudanças que são impostas, que sempre vêm camufladas de “bem coletivo”, na real são só para privilegiar o umbigo de alguns.
A “Espanholização” está no formato de disputa, está na tabela que montam, que é sempre mais interessante pra A e B do que para os C, D, E e Fs que compõem o mesmo certame. Está na grade de horários, para gerar mais matchday pra uns e menos para outros. Está no noticiário sempre mais animado pra um e no cenário de terra arrasada para os demais.
É o famoso “aos amigos, tudo, aos inimigos a lei”. Nos tribunais desportivos, a gente já observa isso, onde as decisões são tomadas com a mesma parcialidade que se distribui as cotas de televisão.
Hoje, estamos vendo quem defende FAIR PLAY FINANCEIRO vindo com discurso bonito de “Não pode gastar mais do que arrecada” e “que é pra proteger os clubes”…
O Cruzeiro ficou três anos na Série B. O Bahia chegou a Série C. O Botafogo caiu três vezes. O Vasco disputou cinco vezes a Série B. Qual foi o mecanismo criado para salvar esses clubes?
Esse discurso obviamente está enviesado, é uma coisa que só vai até a página 2. Aqui, assim como nos principais países da Europa, estão visando manter a hegemonia de um seleto grupo.
Quando você faz interdição de investimentos, basicamente condena times médios e pequenos a sempre serem médios e pequenos. Você interdita possibilidade de crescimento.
Futebol não é monopólio. Ele vive da rivalidade. Da disputa. Da livre concorrência.
Passei pela Pedro Lessa a caminho de um evento por volta das cinco e meia da tarde. Começo de mês, perto do Dia das Mães – cadê a minha? -, pelo menos a Banca do André estava cheia de gente na happy hour, uma das poucas saudades dos meus tempos de escritório.
As pessoas bebendo em pé, em volta de mesinhas circulares cheias de long necks, rindo e conversando, salvando um pouco a imagem perturbadora que o Centro agora tem, de lugar abandonado e vazio. Do outro lado, o gourmetizado Amarelinho também tem sua turma. A partir daí, desolação. Não, na Santa Luzia tem um churrasquinho onde brota gente – e garotas bonitas paca.
Ainda a Pedro Lessa. Quem diria que ali existiu um império de música por anos, com CDs espetaculares e muita movimentação? As bancas de metal continuam lá, completamente vazias. Há três anos, acho, ou menos, comprei um Morphine importado, a banda de rock jazz “sujo”, underground, liderada pelo antológico Mark Sandman, que morreu em pleno palco se apresentando. Aquelas bancas metálicas vendiam sonhos: rock, jazz, bossa nova, sambas da antiga. Tudo passou. Ainda bem que tenho minha lojinha.
Depois da turma bebericando, uns dez metros adiante, havia um garotinho, provavelmente filho de alguém ali. Dez anos de idade. Baixinho, magriço, vestindo uma camisa 9 amarela em algodão, bem longe das marcas oficiais. Será que era uma camisa da Seleção? Não sei. Um garotinho de menos de um metro e meio, de bermuda e chinelos, com sua bola de futebol azul escura. Ele e mais ninguém. Dava uns passinhos, chutava a bola num muro da rua, ele voltava e repetia, depois tabelava. Tudo sozinho, ele e mais ninguém.
Eu me identifico porque apesar de já ter 56 anos de idade, nunca deixei de ser um garoto de dez no melhor que isso pode oferecer. Futebol, lanche, descanso e tudo, coisas que a gente vivencia quando criança da melhor maneira possível, e que carrega para sempre. Eu tinha dez anos em 1978 e o futebol me deixava louco: queria jogar na praia, na vila perto de casa, queria ouvir futebol na Rádio Globo, juntar figurinhas, jogar botão e esperava ansiosamente pela revista Placar toda semana – ela trazia escudinhos que você podia recortar para ornamentar seus botões.
O menino e sua bola azul. Ele toca para o fundo de um gol imaginário, faz da Pedro Lessa um Maracanã que ninguém vê. Comemora sozinho, não há torcida nem abraços, sou o único e silencioso espectador. Mesmo sozinho, ele se diverte. Um garoto com sua bola de futebol pode ser o mais feliz do mundo. É o que ele faz ali e me comove – é que eu também era daquele jeito dele quando eu tinha futuro. Lembro de tanta coisa em instantes: quem fui, o que sonhei e vivi. Chutei muita bola sozinho na vila, bem em frente ao colégio onde estudei, entre confusões, de 1977 a 1980.
[Pensei em oferecer meus serviços de ex-bom jogador ao garoto, mas desisti.
Sigo a caminho do evento. Estou prestes a atravessar a rua México. Olho para trás novamente e, enquanto a Banca do André dita a festa do pedaço, o futebol continua vencendo. É o menino solitário em seu mundo particular, tabelando e jogando. Sozinho, ele tem o Maracanã e o Morumbi. Não importa quem não está, mas sim o que virá. Continuo voltando 45 anos no tempo, quando eu sonhava em ter uma bola adidas Tango, até hoje a mais linda de todos. E sonhava em ter alguém para jogar dupla de praia domingo. E ficava horas e horas na praia. É por isso que entendo a nobreza daquele jovem magriço, porque mesmo com 70 quilos a mais, o futebol tem sido meu remédio, oxigênio do dia a dia, alívio contra as piores causas.
Sigo para o evento, o tempo não para. O garotinho, meu amigo desconhecido, insiste nas tabelas com o muro. Ele joga por ele e por mim, sem saber. O futebol insiste, e isso enche meu coração de esperança.
Eu era garoto, tinha uns dez anos. Certamente minha vida foi melhor do que a de 90% das outras crianças, mas esteve longe de ser fácil.
Estávamos muito pobres, meus pais batalhavam demais.
Surgiu o Barão, em meio à inflação. Era um sonho. Eu quero um Barão. Você me empresta um Barão? A nota de 1.000 cruzeiros estrelada pelo Barão do Rio Branco.
Foi uma das cédulas mais queridas pela população, embora a maioria não tivesse nada.
O Barão me traz à tona um tempo distante, longe de ser fácil mas que me dá saudade. Não é saudosismo, mas saudade. É que essa coisa dos sete aos catorze anos passa com velocidade astronômica, a gente não aproveita direito e, quando vê, tudo voa longe.
No tempo do Barão, meu grande sonho era o lanche no Bob’s da Domingos Ferreira. Às vezes meu pai me levava lá. Minha mãe preferia o da Avenida Copacabana, ao lado do Externato Santo Antônio. Tudo se foi.
Ou ganhar um time de botão cristal Gulliver. O do Fluminense era lindo, verde vivo, com o escudinho envolto por um círculo amarelo. Wendell, Miranda, Moisés, Edinho e Carlinhos; Pintinho, Cléber e Rubens Galaxe; Doval e Zezé. Faltou alguém.
Ou ganhar uma linda bola de couro com 32 gomos e me sentir um craque feito aqueles que apareciam no “Gol: o grande momento do futebol”, programa da Band apresentado por Alexandre Santos, só com gols, gols e gols maravilhosos. Tinha Ademir da Guia, Leivinha, Ailton Lira, Edu Bala, Sócrates, Palhinha, Serginho e também as feras do Rio: Luisinho, Tita, Nunes, Cláudio Adão, Roberto, Zico, Luisinho das Arábias.
Sonhar com os times de vidrilha da loja de brinquedos Dom Pixote, que ficava na Santa Clara, bem em frente às Massas Suprema com seus inigualáveis pasteizinhos.
Outro sonho de garoto: ir à Kayat Sports da Figueiredo Magalhães (que não sei ao certo se era do Seu Carlson Gracie ou não) e comprar o escudo tricolor bordado, lindo, mais um número 5 verde, do Edinho, daqueles de grudar na camisa passando ferro. Com o escudo e o número, era só comprar uma camiseta Hering branca e fazer a camisa de futebol mais bonita do mundo. O problema era que dinheiro não era nada fácil e conseguir um Barão…
A gente jogava bola na vila, quase todo dia. Na praia também, até o início da noite. Quando escurecia, não dava pra ver mais nada. Ver a praia de Copacabana hoje toda iluminada é engraçado: os mais jovens nem sabem que a iluminação só começou em fins dos anos 1980, talvez 1988 se não me engano.
Morria de medo de tirar uma nota vermelha. Podia perder a bolsa de estudos. Não podia errar.
Sempre que dava, via desenhos animados com minha mãe. Flintstones, Pepe Legal, Papa Léguas, Corrida Maluca. Até hoje vejo no YouTube. Só falta a mãe do lado.
[A dor de ser órfão é tão grande que não há como descrever, apenas sentir
Às vezes a gente jogava botão no Shopping dos Antiquários, debaixo da escada rolante. Só fiquei chateado um dia, quando os amigos não queriam que eu participasse do campeonato porque “ganhava tudo”. Eu podia até ganhar, mas minha grande alegria era jogar. Até hoje me sinto bem só de mexer nos botões em casa.
Quando tinha grana em casa, minha mãe fazia Strogonoff e bife à rolê. Nos tempos de maré baixa, carne moída com arroz, ou asinhas de frango. Pouco importava: com ela e meu pai em casa, eu acreditava até em felicidade plena.
Parece outro dia, faz muito tempo e celebra uma data histórica: em 22 de agosto de 1973, há exatos 50 anos, Fluminense e Flamengo decidiam o Campeonato Carioca daquele ano.
Deu Fluminense com folga: debaixo de uma tempestade, mas jogando pelo empate, o Tricolor abriu 2 a 0, mas o Flamengo conseguiu empatar, para então o Flu liquidar a fatura com mais dois gols.
Há quem diga que boa parte da chuvarada que alagou o Maracanã se deveu a Manfrini, que literalmente fez chover: acabou com o jogo no talento e na raça. E como todo campeão começa com um grande goleiro, Félix defendeu tudo e mostrou mais uma vez porque foi campeão do mundo.
No primeiro tempo só deu Fluminense, mas a vantagem terminou em apenas dois gols. Num Fla x Flu, é pouco para garantir qualquer coisa. No segundo tempo, mexendo no time, o Fla conseguiu reagir e igualar o marcador, mas não havia a força para a virada e aí o Tricolor prevaleceu.
Alguns jogadores daquela noite acabaram vestindo a camisa adversária a seguir. No Flamengo, Renato, Rodrigues Neto e Paulo Cezar Lima viriam a integrar a Máquina Tricolor. No Fluminense, o lateral Toninho Baiano, autor do segundo gol tricolor, faria história na Gávea. E o artilheiro Dionísio, que fechou a goleada, tinha uma longa trajetória no time rubro-negro.
Fora do segundo turno e da decisão por contusão, Gerson finalmente conseguiu ser campeão pelo seu clube de coração. À beira do campo, pela primeira vez Zagallo perdia uma decisão.
Vindo de uma época espetacular no fim dos anos 1960, o Fluminense manteve a trajetória iniciada em 1969, também num título carioca sobre o grande rival da Gávea. Campeão brasileiro em 1970 e Carioca em 1971 – desta vez sobre o Botafogo -, o Flu 1973 é motivo de orgulho para todos os tricolores. Os garotos daquele tempo hoje são cinquentões e sessentões que carregam consigo as memórias de um Maracanã popular, divino e inesquecível. Não há entre eles quem deixe de falar “Naquela noite o Manfrini arrebentou, rapaz”. E para quem achava que a sequência tricolor esmoreceria, depois de um tímido 1974 viria simplesmente a equipe mais emblemática da história do clube, sob a batuta do Maestro Francisco Horta.
A chuva não importa: cinquenta anos depois, o Fla x Flu da final de 1973 ainda pega fogo. É uma brasa, mora?
Daqui a alguns dias daremos início a mais uma edição do Campeonato Brasileiro. Em 2023, comemora-se 20 anos do sistema de pontos corridos no Brasil. Mas será que temos algo a comemorar?
Em homenagem ao 1° de abril, vamos relembrar algumas das maiores mentiras do futebol brasileiro, que são diariamente fomentadas pela “clarividente” imprensa esportiva.
1- Campeonato mais equilibrado e disputado do mundo com, pelo menos 10 equipes favoritas ao título. Pois bem, vejamos:
Quem acompanha os bastidores do futebol brasileiro, sabe bem que após a destituição do Clube dos 13, a divisão de cotas se transformou. Um projeto de hierarquização artificial denominado “eapanholização” foi elaborado, e hoje funciona a todo o vapor.
Limitamos a disputa a apenas dois ou três clubes, enquanto o restante luta pelas migalhas que caem da mesa, se limitando a brigar por vagas ou a permanência, ou quem sabe, ter uma sorte nas Copas. Perdemos em competitividade, perdemos em abrangência.
Ao contrário do ecossistema europeu, onde se tem quatro clubes grandes por país, e no máximo cinco clubes de médio porte, no Brasil acontece o oposto. Tínhamos os ditos 12 grandes, e cerca de ao menos 20 clubes médios. Com a diminuição do número de participantes, mais a disparidade nas receitas, os clubes de médio porte precisaram conviver com acessos e descensos constantes, o que dificulta qualquer tipo de planejamento.
2- O sucesso é fruto de projeto de grande gestão:
O discurso de gestão inteligente é repetido exaustivamente na imprensa esportiva para justificar o duopólio do Campeonato Brasileiro. É óbvio que a administração dos recursos importa, mas o dinheiro importa muito mais.
Se o problema fosse tão somente a gestão, Ceará, Fortaleza, América Mineiro seriam potências. São bem organizados e possuem eficiência administrativa em vários setores, mas têm receitas de direitos de transmissão muito inferiores àquelas dos adversários. Avaliar uma gestão nessas condições exige a elaboração de critérios um pouco mais sofisticados. Esses clubes não lutarão por títulos porque a disparidade financeira basicamente inviabiliza a competitividade. Duas ou três décadas de contas organizadas serão incapazes de alterar isso substancialmente.
Do outro lado, na ponta da pirâmide, temos o Flamengo e o Corinthians, que sozinhos concentram 24% dos direitos de transmissão. Um campeonato que já começa com times ganhando 20 vezes mais que outros, já começa praticamente decidido.
O futebol brasileiro precisa se reinventar. Hoje, somos a Série D do futebol mundial. Perdemos para a Segunda Divisão Alemã em média de público… perdemos, aliás, em média de público pra um país onde football é outra coisa. O mundo hoje se interessa muito mais pela Segunda Divisão Inglesa ou Espanhola do que pelo Brasileirão. E isso não se deve ao poder econômico, como muitos insistem em dizer. Sul-americana? Libertadores? Isso ainda faz sentido na nossa aldeia.
Por exemplo, nos últimos 10 mundiais de clubes, o futebol brasileiro ficou de fora de cinco finais. Se estendermos pra nível Sul-americano, aumenta para sete. Isso não é “papo de colonizado”. É simplesmente constatar o óbvio. África, Ásia, Oriente Médio, América Central, escolas que em outrora eram marginais, evoluíram. O Japão foi pioneiro, le mais recentemente veio a explosão dos mercados chinês e árabe, muitas vezes levando nossas revelações direto pra lá.
Falando de seleção, o Brasil chega a próxima Copa com 24 anos de jejum. Dos últimos oito finalistas de Copa do Mundo, sete europeus e apenas a Argentina em 2014 e 2022. Há 15 anos, o Brasil não tem um jogador eleito o melhor do mundo.
Até o início dos anos 2000, os times brasileiros eram extremamente competitivos. Muitas vezes superavam os europeus na raça. Mas, hoje, é hora da famosa autocrítica. Estamos habituados a perder. Estamos nos contentando com o simples fato de jogar de igual para igual.
Quem se interessa por um campeonato onde temos mais tempo de bola parada que bola em jogo? Quem se interessa em ir pro estádio ver jogador simulando contusão, saindo de maca e “milagrosamente” se levantando pra voltar ao gramado? Quem vai continuar se interessando por um campeonato onde dois ou três times detêm mais da metade das cotas de TV de todo o campeonato? Quantos outros 7 a 1 em casa ou Mazembes, Casablancas, Tigres e Al-Ahlys teremos que passar pra aprender?
Dez para as quatro da manhã. Acordo e percebo que não desliguei a TV. A grama não deixa dúvidas: tem futebol no bom e velho videotape. A maravilhosa Copa do Brasil, o campeonato que mais gosto de ver. Muita coisa no futebol piorou com o tempo, mas se tem algo bom hoje em dia é poder ver todos os times, seja pela TV ou internet.
De cara, reconheço o CRB e levo algum tempinho para identificar o Operário de Mato Grosso do Sul. O jogo está corrido, parece disputado. Aí é que olho para o alto esquerdo da tela e descubro que o alvirrubro alagoano está disparando uma goleada: CRB 5 a 0. Casa cheia.
O comentarista acaba falando do grande rival nas Alagoas, o CSA, que está de fora da fase final do certame local. Alagoas, a terra do time das letrinhas: CRB, CSA, CSE, ASA. Como era bom ler o Tabelão da revista Placar com as súmulas dos jogos e até os escudinhos para os jogos de botão.
Falando em CSE, vem um nome inesquecível da minha juventude: o goleiro Quebrangulo, que chegou a ganhar prêmio no Fantástico por sua atuação, e que infelizmente morreu afogado. Além dos campos, houve também uma situação heróica de Quebrangulo salvando pessoas, não me lembro ao certo se foi na ocasião da morte ou antes. Bom, em sua cidade local existe o garboso Estádio Goleiro Quebrangulo.
O CRB, alvirrubro, joga com números pretos na camisa listrada. De onde será que vem o preto? Antigamente o Atlético Mineiro jogava com números vermelhos em sua camisa alvinegra. Noutras ocasiões, trocava o vermelho pelo amarelo. E falando em Atlético, minha cabeça voa para o Paranaense, que agora é Athletico e tem um escudo diferente do de todo mundo. Antes, era redondinho e antes do antes era igualzinho ao do Flamengo. Aliás, a camisa do Athletico também era igual à do Fla, com as listras horizontais, que depois viraram verticais.
E o Operário? Sempre será lembrado pela brilhante campanha do Brasileiro de 1977, quando chegou às semifinais e tinha no gol o veterano Manga (que depois jogaria pelo Grêmio, deixando seus fãs colorados ensandecidas), além de Roberto César, que depois faria história no Cruzeiro.
Acaba o VT do CRB, entra Ituano versus Ceará. Num estalar de dedos, vem o momento mais nobre do futebol: a disputa de vagas em cobranças de pênaltis. Tirando quando é com meu time, é bom demais. Impossível não ter emoção e, em muitos casos, vêm as surpresas. O futebol é cinema em sua essência mas, numa disputa de pênaltis, ele é teatro puríssimo. Ribalta, drama e emoção. Deu Ituano, o pessoal comemorou paca.
Atlético Goianiense e Volta Redonda. Eu digo que é bem estranho ver o querido Voltaço todo de branco, apenas com os detalhes aurinegros na beirinha da manga. Tudo bem. Essa eu já sabia: deu de novo no fascinante ballet da morte nos pênaltis. E deu Volta Redonda. Junto com o Nova Iguaçu, pela primeira vez duas equipes do segundo escalão econômico do Rio chegam à terceira fase da Copa do Brasil. Muito legal. Ano passado a Portuguesa fez bonito.
Pego um copo de refresco de pêssego, tomo os remédios para pressão, deito e só então me dou conta de que desabei de sono após Vasco e ABC. Numa noite ingrata para os vascaínos, o time potiguar – e também das letrinhas – aprontou e tirou o Cruz-maltino da Copa do Brasil em pleno São Januário, também no drama dos pênaltis. Meu amigo Catalano xingou o time, alguns jogadores e o árbitro, por motivo justo. Certas coisas não mudam nunca.
Hora de mais um cochilo antes do trabalho. Cinco e vinte da manhã. A bola ainda pega fogo no VT de Volta versus Goianiense. Pouco importa o jogo ou os atletas individualmente em si: fato é que a Copa do Brasil é instigante demais, maneira demais. Daqui a pouco o Catalano vai acordar e xingar tudo de novo, mas já estaremos ligadíssimos no Carioca e loucos para nos encontrarmos na final Vasco e Fluminense. Assim seja.
Onde quer que esteja, que Quebrangulo esteja em paz.
Nesta manhã de domingo triste – meu amigo Caninha se foi -, parei para ler perfis diversos, admiráveis e desconhecidos, todos teorizando sobre a Copa do Mundo. Especialmente os que tentaram fazer um mergulho, digamos, mais intelectualizado sobre o tema.
Para meu gosto e análise pessoal, entre desabafos e decepções naturais, também li um festival de besteiras sobre o assunto. Besteiras colossais, aliás.
O futebol não é apaixonante apenas no Brasil, mas no mundo todo. A Copa do Mundo para a Terra. É um fato. E quem nutre paixão pelo esporte mais popular do planeta não é “alienado” nem vive de “ilusão” por conta dos sentimentos que desenvolveu. Muitas vezes o futebol é bálsamo para aliviar as pancadas diárias na sofrida vida brasileira.
Para quem viveu o Maracanã de verdade até 2010 e vive o esporte, explicar essa paixão no Brasil não é simples. Há uma enorme complexidade em torno do tema, que teorias acadêmicas distantes não dão conta de cobrir. O que dá para dizer é que foi uma febre nos primeiros 25 anos do século XX que nunca mais passou.
Portanto, falarei aqui como o que sou: um torcedor. É apenas o meu relato pessoal e só.
Embora sempre tenha pertencido à maioria pobre da população brasileira, tive uma criação digna, passando por boas escolas, tendo como estudar. Passei muitas dificuldades, mas caminhei até à universidade pública, bem ao lado do Maracanã, para minha alegria
Durante boa parte da minha vida, 25 anos, vivi no bairro mais misturado do Brasil: Copacabana. Lá, vi e conheci de tudo, porque todas as classes sociais interagem de alguma forma, com a quase exceção de parte dos milionários da Avenida Atlântica. Havia interação na escola pública que frequentei, no grupo de escoteiros que fiz parte por muitos anos, mas o único lugar em que realmente sentia integração total era no futebol – de praia, da vila onde estudei, da quadra que alugávamos com trocados no Corpo de Bombeiros.
Quando meu pai começou a me levar ao Maracanã, logo percebi que as pessoas não eram exatamente iguais às de Copacabana (e olhe que lá era tudo misturado). Havia uma mistura única. Várias vezes, ele comprava na bilheteria ingressos extras, três ou quatro, e distribuía para os garotos que pediram dinheiro para comprar um. Eles pulavam enlouquecidos, felizes, se abraçavam e subiam a grande rampa do Maracanã com suas roupas simples, às vezes sem chinelos e isso me emociona porque me leva a mais de quarenta anos atrás.
Eram crianças alienadas ou crianças de posse e total vivência de sua única alegria?
Os melhores momentos de minha vida com meu pai foram no Maracanã, sentado ao lado dele, espremido numa multidão. Cheio de pessoas diferentes, de todos os jeitos, de todas as cores, de todas as classes. Juntos, lamentamos grandes gols dos adversários e comemoramos muito os nossos. Vimos lindos espetáculos de bandeiras e muito, muito pó de arroz no ar. Não era só o jogo, mas chegar cedo, ver a multidão se aproximando, mais de cem mil pessoas pobres e ricas, pretas e brancas, gordas e magras, gays e heterossexuais, todas reunidas em torno do gramado para apreciar arte, num tempo em que tínhamos craques a granel.
Vendo um filme arrebatador, ou uma peça espetacular de teatro, ou ainda um show no inesquecível Canecão, você chegava a quinhentas, mil ou duas mil pessoas reunidas. Por vários motivos, nestes palcos sagrados e fundamentais, não havia a devida mistura social da cidade do Rio. No Maracanã, sim, e com cinquenta ou setenta vezes mais gente. Dá para compreender a dimensão? Isso a cada domingo durante quase sessenta anos, desde 1950.
Gostaria de lembrar que dois dos maiores atores brasileiros de todos os tempos eram completamente apaixonados por futebol: Sérgio Britto e Ítalo Rossi. Se fosse fazer uma lista de músicos, passaria o dia escrevendo, então rapidamente me lembro de João Nogueira, Cartola, João Gilberto e Ciro Monteiro, só para começar.
No Maracanã a gente se sentia gente de verdade, integrada, mesmo que o próprio estádio tivesse sido construído com certos apartes – casos da geral e da arquibancada, por exemplo -, mas eles não deram certo. Ali se vivia o único local do Rio de Janeiro onde o riso, o grito e a lágrima do homem pobre tinham o mesmo tamanho do cidadão rico. O único local. Nem o Carnaval, outro palco espetacular, tinha tanta oferta a preços populares.
Completamente louco por futebol, passei a ler todos os jornais possíveis em casa diariamente. Isso me levou às notícias políticas, de cotidiano, da cidade, de arte e cultura, isso com doze anos de idade. Foi o futebol que abriu espaço para meus outros interesses culturais, que não são poucos – vão de Estatística a botequins. E muitos anos depois de estar com meu pai de mãos dadas no Maracanã, foi o futebol que me abriu as portas para ser um escritor publicado, e consequentemente podendo publicar duas dezenas de livros sobre outros assuntos, no que sou eternamente grato.
Monstros sagrados das letras como Eduardo Galeano, Nelson Rodrigues, Vinicius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade e tantos outros celebraram o futebol em suas obras. É impossível crer que o fizeram por alienação.
Por outro lado, como em qualquer estrato da sociedade, o futebol carrega problemas em seu entorno e até mesmo nas vísceras. Há quem prefira abominá-lo por isso. Eu prefiro procurar nele o que tem de melhor e, na minúscula parte que me cabe, criticar e denunciar o que considero errado e injusto.
O futebol me deu sensação de pertencimento a grupos, me trouxe amigos, me fez ir a veículos de rádio e TV ao vivo que eu jamais imaginaria. O futebol me permitiu passar horas conversando com personalidades como Gilberto Gil e Maria Bethânia. Conheci lugares, viajei e mergulhei tanto em estádios confortáveis como em verdadeiros muquifos para ver jogos com milhares de torcedores ou uns cinco, dez.
Anos depois de publicar meus primeiros livros, passei a produzir obras de outros escritores, em vários casos de futebol. É alienação ou produção?
Por fim, gostaria de dizer o seguinte: o Brasil não vai melhorar em nada porque a Seleção Brasileira é eliminada da Copa do Mundo e então o povo “retorna à realidade”. Diferente de criticar a atuação, apedrejar o futebol não acrescenta nada ao grande debate que todos esperam para que o país saia desse lodaçal. Pelo contrário: o futebol é um dos grandes símbolos da identidade brasileira e deve ser valorizado.
É certo que alguns jogadores famosos estão desalinhados da realidade brasileira e parecem despreocupados com seu povo. Só que eles passam e o esporte fica. Aí está há mais de 120 anos fincado no coração dos brasileiros. E é bom que se diga: mais de 90% dos jogadores de futebol no Brasil não ganham dois salários mínimos mensais.
Tanto faz se é numa arena moderna ou num campinho minúsculo. O futebol une as pessoas, integra, gera convivências e afetos e, num país onde mais de 70 milhões de pessoas oscilam entre a precarização e a miséria, muitas vezes ele é o único momento de alegria – às vezes até de paz. Podem ter certeza: em muitas vezes, o caldo social brasileiro não entornou de vez porque lá estava o futebol ajudando a acalmar os ânimos, em muitas esferas.
Em vez de posts empolados e com teorias confusas, muitos intelectuais contribuiriam para a discussão sobre futebol fazendo exatamente o que fazem com suas temáticas preferidas: pesquisando e estudando em vez de chutar – muito mal, por sinal.
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Paulo-Roberto Andel, escritor e estatístico carioca, é autor/coautor de aproximadamente 40 livros físicos e digitais sobre futebol, poesia, crônicas, humor e política. Edita o site Panorama Tricolor, o blog otraspalabras!, colabora com o Correio da Manhã e o Museu da Pelada. Sobre o Fluminense, seu time de coração, publicou 20 livros.
Parecia tão longe que ainda demoraria muito, mas o tempo é implacável e aí está a Copa do Mundo, diante de todos os corações. Começará em menos de quinze dias e trará de volta um turbilhão de emoções para todos que amam o futebol.
Eu olho para trás e penso nas Copas que vivi. Uma Copa do Mundo sempre tem muitas Copas do Mundo nas costas, uma bagagem especial.
Nós sonhamos em reviver nossos melhores momentos sempre. Agora mesmo me divido: a criança vendo a chuva de papel picado na rua em 1978, o menino vendo os golaços do Brasil 1982.
E os grandes jogos? E os craques? Quem serão os verdadeiros protagonistas do Mundial do Catar?
Será que vamos ter outra “Mano de Dios”?
Quem vai ser o novo Gordon Banks, voando baixo para fazer o impossível?
Sonhos de um futebol mágico e eterno, tal como o de Garrincha no Chile, acertando o possível e o impossível. Quem sonhará?
Ou aqueles malucos geniais e maravilhosos da Holanda, trocando passes e trocando de posição, deixando os adversários embasbacados a todo instante? Ou ainda mais longe, do super timaço da Hungria em 1954?
A Copa é eterna. Ela abre a cortina. Falei aqui de lances que vi na TV muito depois de terem acontecido, bem como outros que sequer vi ao vivo, só ouvi falar. Tudo fica muito vivo, pulsante.
Estão abertas as vagas para o grande espetáculo do futebol na Terra. Estamos à espera de grandes lances definitivos, de jogos para se sentir o coração na boca. Uma coisa é certa: durante um mês, todos os corações do mundo vão perseguir o sonho do futebol. Bares cheios, churrascos, tevês cercadas por olhos atentos. Seleções clássicas e humildes. Jogos simples e apoteóticos. O sonho, o drama, a paixão.
Se não der pra rever o fantástico Pelé atormentando os goleiros Viktor e Mazurkiewicz, que seja o Ronaldinho fuzilando Oliver Kahn. Cercado de jovens, o já veterano Neymar terá sua oportunidade derradeira. Thiago Silva, decano de quatro Copas, também.
O sonho brasileiro da Copa é igualzinho àquela tarde já distante de 1994, quando Jorginho fez um cruzamento perfeito e Romário, sempre ele, subiu três metros de altura para cabecear de forma indefensável, deixando o goleiro sueco Ravelli sem pai nem mãe. A seguir, Romário abre os braços, seguro da vitória imortal, e a gente faz um país, daqueles que casam a voz de Marina Lima com os versos de Antônio Cícero.
Poucos anos de seu surgimento no Brasil, o futebol já causava furor em debates na imprensa.
Extremamente popular na capital da República, o famoso esporte bretão também era motivo de polêmicas e, onde elas estavam, havia também a presença de um dos maiores escritores brasileiros de todo os tempos: Lima Barreto. Sua luta contra o futebol foi declarada contra outro craque da época, Coelho Neto.
“O futeból é eminentemente um factor de dissenção. Agora mesmo, elle acaba de dar provas disso […].O Sacro Collegio do Futeból reuniu-se em sessão secreta, para decidir se podiam ser levados à Buenos-Ayres, campeões que tivessem, nas veias, algum bocado de sangue, negro-homens de cor. […] O conchavo não chegou a um accordo e consultou o Papa, no caso, o eminente Sr. Presidente da República. S. Ex. […] não teve dúvida em solucionar a grave questão. Foi sua resolução de que gente tão ordinária e compromettedora não devia figurar nas exportáveis turmas de jogadores; lá fora, accrescentou, não se precisava saber que tínhamos no Brazil semelhante esterco humano. […] O que me admira, é que os impostos, de cujo producto se tiram as gordas subvenções com que são aquinhoadas as sociedades futebolescas, não tragam também a tisna, o estigma de origem, pois uma grande parte delles é paga pela gente de cor.”.
“É o fardo do homem branco: surrar os negros, afim de trabalharem para elle. O futeból não é assim: não surra, mas humilha; não explora, mas injuria e come as dízimas que os negros pagam.”
Saí do trabalho, passei pelas ruas tristes que só tinham algum alento por que os flamengos estão nas calçadas – eles já comemoram! -, e resolvi passar na pequena papelaria da rua dos Inválidos para comprar uma caneta Bic.
Volta e meia faço isso. Minhas canetas somem. E também porque papelaria é um dos melhores lugares do mundo: olhe para a cartolina, a cola e logo você estará de volta ao melhor de todos os mundos – a infância.
A Bic traz de volta meu pai, que tinha uma letra bem bonita, trabalhada, e estava sempre anotando coisas, de lista de compras a tarefas do dia. Traz a mim mesmo, sonhando em passar no vestibular e estudar na UERJ – fui pra lá por amor, eu a queria desde garoto. Às vezes no corredor do estádio, olhava para o pavilhão e dizia “Um dia eu vou estudar ali”. Acabei indo.
Há 44 anos, eu comprava uma cartolina para desenhar meu estádio de futebol de botão. Ainda não tinha um Estrelão. Meu time do Fluminense tinha Wendell ou Renato, Miranda, Edinho, Rubens Galaxe, Doval, Rivellino, Paulo Emílio, Sebastião Araújo. Botões Gulliver lindos, verdes, com o escudinho do Flu pintado em fundo amarelo.
Daqui a pouco vai ter decisão no Maracanã, o mundo todo vai olhar para lá. Em condições normais eu estaria na velha arquibancada de concreto, mas quem comanda o meu time não deixou, se é que me entendem. Vida que segue.
Saio da papelaria, penso na escola que foi derrubada, nos professores todos mortos, nos colegas que nunca mais vi. Há uma longa caminhada daqueles dias até aqui. Muito longa, tão longa que o Maracanã teria 150 mil pessoas mas vai se consolar com 60 mil – e o povão, aquele povão que eu encarei de frente em Fla-Flus inesquecíveis, agora se esconde em casa ou espia a TV em biroscas para acompanhar seu time. É tudo muito diferente dos tempos dos botões verdes.
Nessa terra tão triste e devastada, que convida ao suicídio, o futebol é importante demais. Quanta gente tem no futebol sua única distração e alegria? Pode ser TV ou rádio, pode ser pelo celular, todo mundo está acompanhando o jogo.
Agora é jantar uma macarronada, deixar de lado o desespero das eleições, não pensar nas dívidas asfixiantes, descansar um pouco e ver o jogo. Claro. Adoro futebol e sempre tenho lado. Não confio em gente que não tem lado em futebol, que só não é pior do que o Zé Ovo dizendo “Não acompanho nada que não tenha o meu time” – não passa num detector de mentiras, coitado.
Nem sei se está tendo confusão no Maracanã agora, e é possível que sim, mas do nada me bateu saudade daquele estádio com cento e tantas mil pessoas, onde eu era um garotinho encantado com as bandeiras, o pó de arroz, o placar de maravilhosas lâmpadas e um monte de craques em campo. Aquilo era extremamente mágico e, se escrevi milhares de páginas sobre futebol, foi por causa da infância inesquecível.
Vou jantar. Que seja uma rara noite de paz nessa terra. Que seja uma noite de diversão para muita gente, sem ódio, sem a cólera doentia que alguns insistem em mostrar nessas ocasiões.
O anfitrião tem a faca, o queijo e o resto na mão para ser campeão no Maracanã – e, por isso mesmo, como ensina a história dos visitantes no campo imortal, tá bem arriscado da Fiel urrar num delírio. Eu vou de 13! Secar é uma das coisas mais divertidas do futebol.
Depois de Botafogo, Cruzeiro e Vasco terem aderido o modelo da SAF, foi a vez do Bahia. O Tricolor da boa terra fechou recentemente uma parceria com o Grupo City, que tem como carro chefe o Manchester City da Inglaterra.
Outro que também sinalizou com a possibilidade de aderir o modelo da SAF, é o Atlético Mineiro. Porém, diferente da situação de outros clubes que passavam por turbulência financeira e falta de resultados esportivos, o Galo mineiro busca no clube empresa apenas uma parceria para se manter no topo. Apesar de a dívida do clube ultrapassar 1.2 Bi, o clube tem totais condições de equacionar.
O órgão colegiado composto pelos 4Rs (Rubens e Rafael Menin, Renato Salvador e Ricardo Guimarães) trabalha para manter, no mínimo 40% das ações, pois assim, o Atlético (associação) ainda seguirá como dono único de seus patrimônios (clubes sociais, Arena MRV e Cidade do Galo) podendo até negociar fatias no futuro. Os mineiros chegaram a ter conversas com o Grupo City, com Fenway Sports Group e com presidente do PSG, que possui ligações com o governo do Catar, mas as tratativas não avançaram.
Nas grandes Ligas da Europa, é comum os clubes serem administrados por empresas ou fundos de investimento. No futebol espanhol, boa parte dos clubes formados por associações civis estavam em situação calamitosa, pois tinham dívidas com o governo significativas e refinanciamentos estatais desses débitos fracassados. A “Espanholização”, que tem como pilar a MP984 praticamente assassinou a indústria do futebol pelos gramados espanhóis, pois 75% dos direitos de transmissão eram concentrados na dupla Real e Barça.
Foi neste cenário que o Governo Espanhol resolveu intervir. Em 2015, foi aprovada a Lei que regulava as vendas dos direitos de transmissão do futebol. A intervenção estatal classificada como “urgente” definiu a venda centralizada dos direitos de transmissão semelhante ao modelo Premier League. Em paralelo a isso, os clubes foram obrigados a virar empresa, pois assim, permitiriam a compra de ações. Isso fez com que os clubes se tornassem uma máquina de arrecadação, diminuindo as disparidades, e tornando o mercado estável e competitivo.
O Mallorca por exemplo, é administrado pelo americano Robert Sarver, dono também do Phoenix Suns da NBA. O Ex armador da equipe, o canadense Steve Nash é um dos acionistas do Mallorca. Barcelona, Real Madrid, Osasuna e Athletic Bilbao ficaram fora da obrigatoriedade de virar empresa, pois possuem modelos associativos bem consolidados, no qual a participação no capital do clube fica nas mãos dos sócios, e não de uma só pessoa ou grupos de investimentos.
Na Inglaterra, o final da década de 80 e início de 90 foi marcado por trocas nas propriedades de clubes. Ao contrário do Brasil, os times já tinham donos, mas eram empresários locais. Quem chegou ao país foram milionários de outros países, especialmente dos EUA, onde já estava consolidada uma indústria lucrativa de outros esportes. A formação da Premier League foi impulsionada por um grupo de cinco clubes —Everton, Manchester United, Liverpool, Arsenal e Tottenham. Atraídos por eles, os clubes de primeira divisão romperam com a Football League, que controlava todos os campeonatos, para criar uma liga independente que centralizaria todos os direitos de TV, patrocínio etc.
O fato de empresários que visavam o lucro serem donos nos principais clubes foi essencial na busca por um novo modelo. Seu objetivo, como em qualquer indústria, era maximizar as receitas de sua empresa. Para isso, precisavam reformar como o futebol se organizava e como passaria a ser comercializado. Logo de cara, fizeram uma concorrência que aumentou significativamente as receitas de televisão. Não havia mais espaço para a politicagem.
No Campeonato Mexicano a MP 984 também deixou marcas profundas. Muitos clubes chegaram a decretar falência. O rebaixamento teve que ser suspenso por 6 temporadas. Foi neste cenário que muitas das equipes resolveram adotar o sistema de franquias, tão comum nos esportes americanos. De toda a elite do futebol local, apenas o Pumas não tem um dono e é constituído por uma associação civil.
A forte presença de empresas privadas fazem o campeonato ter mais de 180 jogadores estrangeiros, cerca do triplo do Campeonato Brasileiro. Atletas sul-americanos são a maioria. “Os mexicanos pagam em dólar e a mudança do câmbio nos países sul-americanos aumentou a atratividade”, explicou o empresário Marcelo Robalinho, que atua no mercado de transferências há mais de 20 anos. Do ponto de vista esportivo, a presença de estrangeiros também eleva o nível da competição. “Aqui, a maioria (dos jogadores) é convocado para as seleções de seus países. O futebol jogado aqui é muito rápido. Eu, particularmente, evoluí muito nesse quesito de jogar mais rápido. O Campeonato Brasileiro é um pouco mais lento. Aqui é mais rápido, jogam bastante com jogadores abertos, rápidos”, afirmou ao Estadão o volante Rafael Carioca, titular do Tigres.
No futebol italiano, a SAF do Milan comandada pelo grupo americano Elliot Management é o melhor case de sucesso. Os rossoneros se encontravam em uma dívida milionária de 200 milhões de euros quando o chinês Li Yonghong comprou o clube do então antigo dono Sílvio Berlusconi. Para piorar, ainda teve uma debandada dos investidores do clube.
Diante da pressão de salvar a instituição da falência, o fundo americano precisou fazer uma escolha; ou seguia os anseios da torcida por ver o Milan de volta as glórias ou equilibrava as contas. O clube rossonero optou por equilibrar as contas, o que mostra que não é só o dinheiro que irá resolver o problema dos clubes, mas sim, um conjunto de ações que levarão a eficiência. Um clube precisará gastar menos e arrecadar mais.
No futebol existem atalhos, mas são mais caros. Por isso eu digo que scouting é o principal caminho. Em mercados mais maduros, onde tem liga, como por exemplo a Premier League, a correlação entre salários e investimentos total, compensação, atletas, bônus, valores de transferência e resultados esportivos é altíssimo. Ou seja, a correlação é muito alta e isso torna o jogo muito competitivo e muito caro para brigar entre as três ou quatro posições. Por isso, o único jeito de mudar o jogo é através de scouting.”, afirmou o CEO Jorge Braga, fazendo uma referência ao sucesso desportivo do clube italiano.
Segundo Braga, o scouting não deve servir apenas para fazer contratações, mas principalmente conseguir um resultado esportivo desproporcional ao investimento que é feito dentro da folha salarial de atletas.
“É especialmente para desenvolvimento de performance e aumento de valor. Ter bons olhos e bons números para contratação é bom, mas o que ganha jogo é poder evoluir a performance individual e pontual e naturalmente expandir o valor dos direitos econômicos e dos jogadores. Isso faz muito a diferença”, completou.
A profissionalização do futebol, como aconteceu com o Milan, vai demandar uma enorme mudança cultural dos brasileiros. Encontrar o equilíbrio entre o fluxo de caixa e a paixão do torcedor não é uma tarefa simples. Os apaixonados não têm paciência para se comprometer com o médio e o longo prazo. Haverá a necessidade, de parte dos clubes, de muita habilidade para comunicar aos associados a estratégia e a sua viabilidade. Transparência e maturidade dos dirigentes, aqui, farão a diferença; ao mesmo tempo que contratos bem firmados com as SAFs, resultantes de negociações feitas à luz do sol”, projetou.
Acredito que as SAFs no Brasil terão dois papéis importantes; um é a questão da formação da Liga, fazer o futebol ter uma visão mais empresarial. O outro, é a profissionalização das gestões dos clubes, que em maioria ainda são perdulárias e amadoras. Os clubes nas mãos de investidores terão propensão a uma maior qualidade de administração.
A grande questão é como cada clube vai gerir os gastos, como farão pra ter equilíbrio entre a parte comercial e o sucesso esportivo.
Tivemos casos de clubes que aderiram ao modelo da SAF e decretaram falência. O Málaga da Espanha foi adquirido por um xeique que pouco tempo depois desistiu do negócio. O time foi rebaixado para segunda divisão e acumulou dívidas.
O Parma da Itália, que por muito tempo foi gerido e bancado pela Parmalat, decretou falência e por conta das dívidas deixadas precisou ser refundado com um novo nome e na última divisão do Futebol italiano.
Muita gente fala em Profissionalização da Gestão, mas será que estão dispostos a pagar o preço? Os cases de sucesso mostram que a consistência vence a conveniência.
Nesta quinta-feira, Corinthians e Fluminense se enfrentam na Arena Itaquera pela partida de volta da Copa do Brasil. No primeiro duelo, empate em 2 a 2 no Maracanã. Por um lado, o Tricolor tem motivos de sobra para se manter otimista. Venceu por 2 a 1 o bom time do Fortaleza no Maracanã pelo Brasileiro.
Por outro lado, o Flu tem muito a lamentar. O time tem tido queda de rendimento, especialmente na segunda etapa dos jogos. É nítido que o time está esgotado fisicamente, e para este jogo decisivo não poderá contar com o meia André, um dos pilares do time tanto na marcação, quanto na construção de jogadas ofensivas. Fernando Diniz terá que escolher entre manter seus jogadores em campo até o limite da ruptura física, ou fazer alterações mais cedo e ter uma queda vertiginosa de rendimento.
Apesar dos pesares, o Fluminense deixa razões para deixar o torcedor esperançoso. O Fluminense é o segundo time mais eficiente nas finalizações, ficando atrás apenas do Inter de Mano Menezes. Vem apresentando bons números fora de casa, sendo o segundo melhor visitante no Brasileiro, e tendo vencido todas longe de seus domínios na Copa do Brasil. O retrospecto de Fernando Diniz jogando contra treinadores estrangeiros que até o momento é de 73,8%. Germán Cano fez as pazes com as redes, fez os dois diante do Fortaleza e retomou a artilharia do campeonato. O goleiro Fábio é o único do atual elenco a ter vencido o Corinthians na Arena Itaquera. Na ocasião, foi campeão da Copa do Brasil em 2018, vencendo por 2 a 1 e garantindo o hexacampeonato da competição para o time celeste.
Outro ponto que me chama bastante atenção nesse Fluminense, é como o time melhorou na construção das jogadas, na compactação de marcação. Isso justifica a tamanha eficiência durante a temporada.
O Fluminense se inspira no épico e memorável jogo de 1984 diante do mesmo Corinthians, válido pela semifinal do Brasileiro daquele ano. Naquela partida, o ex-zagueiro Ricardo Gomes apontou que a classificação a decisão após um jogo que classificou como “tecnicamente perfeito”.
Na final, o Fluminense enfrentou o Vasco, que havia eliminado o Grêmio. No primeiro jogo, vitória por 1 a 0, gol do craque Romerito. Na segunda partida, empate sem gols e título garantido para o time das Laranjeiras.
Os torcedores do Vasco têm dado show nas arquibancadas. A sinergia entre time e torcida tem sido o ponto alto da campanha do time de São Januário. Para se ter uma noção, na temporada passada o Gigante da Colina somou 49 pontos em 38 jogos, enquanto que nessa temporada, o clube soma 30 pontos em apenas 14 jogos, é vice-líder e a sete pontos do quinto colocado.
A torcida parece ter compreendido o momento do clube e demonstra apoio incondicional onde quer que o Vasco jogue. Dentro de campo, um time de operários, que amam a disputa e não fogem da luta. As atuações não são brilhantes, mas são eficazes, o que falta de inspiração, sobra de transpiração.
Após a última vitória sobre o Operário por 3 a 0, o meia Nenê falou dessa sinergia entre clube e torcida; “A gente parece que é um só. Eles enxergam nossa vontade de ganhar o jogo. A gente está vendo que eles estão dando a vida por nós apoiando o tempo inteiro. Realmente muito feliz com essa vitória de hoje. Eram três pontos muito importantes para a gente seguir o nosso caminho e seguir a passos largos para o nosso objetivo.’’
A torcida do Vasco também deu show em São Januário com a faixa “Respeito, Igualdade e Diversidade” em homenagem a causa LGBTQI+.
Embora tenha conseguido o placar de 3 a 0 sobre o Operário, o Vasco passou por momentos de aflição na partida. O time paranaense criou chances perigosas, obrigando o goleiro Thiago Rodrigues a fazer boas defesas. Neste momento, foi que o torcedor cantou a plenos pulmões e jogou junto com o time. Os vascaínos fizeram arte sem instrumentos se valendo apenas da batida do coração.
O Gigante da Colina vem fazendo o que dele se espera, ainda mais se tratando de uma das maiores disputas de todos os tempos na Série B. O nível técnico da competição não tem sido dos melhores, mas tem sobrado emoção, garra, disputas acirradíssimas.
A boa fase vascaína tem alguns ingredientes que acho que valem a pena salientar. O primeiro deles, é a mudança de perfil do elenco em relação ao ano passado. Em 2021, havia um grande número de jogadores que tinham status no futebol, boas passagens por outros clubes. Mesmo que eles não estivessem no auge de suas performances, existia uma ideia que tudo sairia ao natural e o Vasco conseguiria o acesso. Neste ano, muitos jogadores nunca tiveram oportunidades em clubes grandes, muitos estão em busca de um destaque em cenário nacional.
O segundo ingrediente é o fato de alguns jogadores deste atual elenco serem torcedores vascaínos desde a infância, casos do zagueiro Anderson Conceição, do volante Yuri Lara e do lateral Weverton.
O último ponto de destaque para mim, é o fato de a maioria desses jogadores do Vasco terem experiência de já terem jogado a Série B. Incorporaram com facilidade a postura que a competição exige.
Acredito que todos esses fatores, podem ajudar o Vasco a conseguir o acesso.
O Gigante da Colina está no caminho certo. No embalo da torcida, tem tudo pra conseguir esse acesso.
Os números estatísticos da partida entre Fluminense e Botafogo comprovam a superioridade tricolor. A equipe comandada por Fernando Diniz teve mais posse, finalizou mais vezes sem se preocupar com os riscos que a postura ofensiva poderia oferecer. O Botafogo recheado de desfalques adotou uma postura mais defensiva, postura também adotada por outros clubes (América Mineiro, Juventude e Flamengo) sem muito sucesso. Isso porquê o Time de Guerreiros conseguiu encontrar espaços na defesa do time do português Luís Castro, que adotou um 5-4-1.
O Time de Guerreiros fez uma partida muito próxima da perfeição. Preencheu bem os espaços, jogou com intensidade, marcou no campo de ataque, fez um jogo vertical e de muita aproximação entre os setores. Um verdadeiro nó tático. O herói deste domingo foi o zagueiro Manoel.
Na humilde opinião deste que vos escreve, o Botafogo tentou jogar mais recuado, preencher os espaços entre as linhas, e apostava em uma transição rápida para surpreender o adversário. A ideia inicial até era boa, mas na prática, esbarrou nos expressivos méritos do Fluminense, que executou muito bem a ocupação de espaço, na pressão ofensiva e na recomposição defensiva.
O Fluminense assumiu os riscos dessa postura mais agressiva, diante de um oponente que saiu fortalecido de uma situação muito mais controversa na rodada passada diante do Internacional. O “Dinizismo” é 8 ou 80. Com certeza em algum momento fez o coração do torcedor acelerar e quase ter um infarto naquelas saídas de bola perigosíssimas. Porém, já fez o torcedor abrir um largo sorriso quando a jogada foi bem executada, vide a jogada que resultou em gol contra o Palmeiras no Allianz Parque.
As ressalvas que alguns da crônica esportiva especializada tinham com relação a Diniz, muito era por conta dos resultados. As boas ideias do técnico, nunca foram condizentes com os resultados. Em 2019, o treinador deixou o Fluminense perto da zona do rebaixamento no Brasileiro. O torcedor tricolor se cansou de ver, um time com 90% de posse, 30 finalizações, e a derrota no final.
Acredito que o que mudou foi que agora o treinador consegue ser ofensivo e ter um pouco mais de equilíbrio e consistência. O Fluminense joga em um 4-2-3-1, com saída de bola bem construída, tendo como ponto alto a aproximação entre os jogadores. Um jogo posicional, físico e de muita obediência tática. As melhores chances do Tricolor carioca surgiram nos momentos em que todo o time se aproximou do setor onde estava a bola e deu opção de passe para quem estava com ela.
O Botafogo teve raras oportunidades de contragolpe no jogo. O lado esquerdo tricolor ainda tem uma certa fragilidade, visto Caio Paulista ter muita vocação ofensiva, atua quase como um ponta, e por ali acaba surgindo espaços pro adversário. Não foi por acaso que a chance mais clara de gol do escrete de Luís Castro surgiu justamente de uma bola longa no lado direito de ataque. Fato é que o Glorioso tinha superioridade numérica no ataque, mas não conseguiu usar esse ponto a seu favor.
As entradas de John Kennedy e Matheus Martins nas vagas de German Cano e Ganso deram mais mobilidade ao Fluminense. O gol saiu aos 36 minutos do segundo tempo pelo zagueiro Manoel, que recebeu passe de Caio Paulista após lançamento primoroso do volante André
A sensação que o Tricolor sai de campo é que o resultado poderia ter sido maior, dado o volume de jogo que teve. Diniz tem participação efetiva no excelente rendimento do meia Nonato, e na grande atuação de Jhon Árias. Como se afinaram no meio de campo Ganso e Gustavo Nonato na meia cancha. Vale destacar também a atuação de Luiz Henrique. A despedida do camisa 11 do Fluminense teve mais uma vitória e mais uma boa apresentação da jovem promessa no Brasileirão. Diniz recuperou o sorriso desse garoto, e o jovem sairá pela porta da frente, deixando saudade nos corações tricolores.
Com um a menos desde o início da primeira etapa, o Botafogo venceu de virada o Internacional no Estádio Beira-Rio na semana passada.
A gelada noite de Porto Alegre presenciou uma partida histórica entre Inter e Botafogo. Peleia daquelas que entram para a galeria de “Jogos para Sempre” do nosso esporte bretão. O Inter começou marcando pressão, dificultando o adversário na saída de bola. No primeiro lance contundente do jogo, logo aos 4 minutos, Edenilson tentou a jogada por dentro e a bola sobrou para Alan Patrick. O meia chutou em direção ao zagueiro Philipe Sampaio. A bola bateu na barriga e depois resvalou no braço. Pela regra, não seria pênalti. Mas, depois de consultar o VAR, o árbitro Sávio Pereira Sampaio assinalou pênalti equivocadamente e alegou que a bola tocou no braço do jogador.
Além disso, ele também expulsou o atleta Philipe Sampaio, e fez com que os cariocas ficassem com menos um desde os 4 minutos do primeiro tempo. A ação causou revolta justíssima por parte dos jogadores do Glorioso, que reclamaram bastante, e o técnico Luís Castro também acabou expulso.
Na cobrança da penalidade, o volante Edenílson abriu o placar para os gaúchos. Com um a mais em campo, o Inter foi empilhando chances. Em uma delas, Fabrício Bustos tabelou com Alan Patrick e estufou as redes de Gatito: Inter 2 a 0.
Estando o Inter com vantagem no placar, jogando em casa, tendo um jogador a mais em campo e empilhando chances, tudo indicava que a partida seria mais um mero protocolo, uma formalidade. Mas, há coisas que só acontecem com o Botafogo. Mesmo sem Luís Castro a beira do gramado, o clube de General Severiano se recusou a ser mero espectador da partida.
Por incrível que pareça dizer, o Botafogo teve uma excelente postura justamente após ter um jogador a menos em campo. A adversidade, a situação dramática, fez com que o time jogasse de forma mais compacta; os atletas estavam mais bem agrupados, defendendo em linha, mas com uma excelente e rápida transição quando tinham a bola em seus domínios. O Glorioso fez com excelência o que lhe cabia naquelas circunstâncias.
Vinícius Lopes descontou e renovou as esperanças do Alvinegro carioca, superando qualquer prognóstico desfavorável. O gol mudou a dinâmica do jogo. Mano Menezes colocou 5 homens em linha no campo de ataque, mas mesmo com a superioridade numérica o Inter não conseguiu mostrar consistência defensiva. O Botafogo sempre tinha algum jogador aberto pela ponta como uma flecha ou uma bola alçada na área, como a que resultou no gol de empate de Erison.
Ainda com metade do segundo tempo pela frente, o Alvinegro se vestia com as roupas daqueles heróis urbanos que contrariam as estatísticas, que não se abatem perante a injustiça. Gabriel Mercado fez um gol para o Inter em uma cabeçada catedrática, e comemorou como se não houvesse amanhã. Mas o gol foi anulado corretamente. O Glorioso foi rebelde, passou a noite recusando o papel que lhe ofereceram logo após o apito inicial, e assim como toda saga de heroísmo, o capítulo final foi apoteótico.
No último e derradeiro lance, aos 55 minutos do segundo tempo, um contragolpe certeiro e mortífero. Matheus Nacimento tentou o passe para Jeffinho, Kayke como um maratonista ganhou na velocidade da defesa colorada, e em dividida com Vitão, a bola sobrou para Hugo sacramentar a vitória épica, no Beira-Rio. Depois do gol, ocorreu uma confusão entre os jogadores com pancadaria generalizada, mas que foi contida. Na briga, Lucas Piazon foi agredido pelo atacante David e saiu com o ombro imobilizado.
Muito mais que três pontos, vitória da justiça. Partida épica, memorável, eternizada na história dos Campeonatos Brasileiros, com a marca da Estrela Solitária.
Entre 1978 e 1981, a garotada que curtia futebol foi tomada por uma verdadeira febre que até hoje repercute no mundo adulto: a coleção de cartões Futebol Cards.
O lançamento veio na esteira da Copa da Argentina e logo mobilizou uma multidão. Pela primeira vez, o futebol não era lançado em figurinhas para um álbum, mas em cartões de papelão de ótima qualidade – mais de 40 anos depois, colecionadores ostentam peças impecáveis.
Cada cartão vinha com a foto do jogador vestido com a camisa do clube e, em seu verso, uma pequena ficha de apresentação com dados pessoais, gostos e trajetória na carreira. A venda era em pacotinhos com três cartões e o chiclete Ping Pong, também chamado de Magrão pelo seu formato retangular finíssimo. Bem, o chiclete não era grande coisa (…), mas o fato é que a garotada invadia as bancas de jornal – que, acredite, vendiam jornais naquele tempo – com suas moedas para a arrebatar os pacotes. Num mundo sem internet, o Futebol Cards era uma das raras oportunidades de se conhecer um pouco mais os ídolos.
Como em toda coleção, Futebol Cards tinha os cartões mais populares, que acumulavam repetições e eram usados em trocas, enquanto os mais raros eram disputados a tapa. Todo mundo tinha um Fred do Botafogo, zagueiro e irmão de Paulo Cezar Caju. Abel, o Abelão, hoje treinador consagrado, era um símbolo permanente do Vasco nos pacotinhos. Pelo Fluminense, o cartão popular era do multitarefa Rubens Galaxe. Do Flamengo, Rondinelli. E das equipes de outros estados? Quem não teve vários Iúra do Grêmio, Victor do Santos, Odirlei da Ponte Preta e o cracaço Zé Carlos do Guarani?
Num primeiro momento, a coleção se limitava aos grandes clubes, mas rapidamente abrigou equipes expressivas de outros estados e, numa segunda etapa, algumas equipes de menor investimento. Um caso típico foi a simpática Caldense de Minas Gerais, que ganhou projeção nacional com a coleção. Já incensado pela bela campanha em 1977 e o grandioso Estádio Santa Cruz, o Botafogo de Ribeirão Preto também teve grande visibilidade graças à coleção, que incluía nomes como os de João Carlos Motoca, o do goleiro Aguilera e do veteraníssimo Zito.
Alguns cartões ficaram muito valorizados por erros de edição. Por exemplo, no Guarani, os cartões dos pontas Capitão e Bozó, campeões brasileiros de 1978, saíram trocados. Em outras situações, os jogadores que mudaram de clube possuem cartões diferentes. É o caso de Nunes, que tem dois cartões quando jogava pelo Fluminense (um de camisa branca e o outro com uma camisa tricolor estranhíssima) e depois um pelo Flamengo, com a camisa rubro-negra. Também é o caso do xerife Moisés, com cartões pelos dois clubes. No Grêmio, o goleiro Remi não tirou a foto com a camisa da posição, mas sim a do time.
A Futebol Cards também lançou a série Grandes Jogos, registrando partidas importantes dos anos 1970, com fotos maravilhosas. Clássicos como Atlético e Cruzeiro, Fla x Flu e o incrível Fluminense x Corinthians de 1976 estão na lista.
Mais de quarenta anos depois, a coleção mexe com os torcedores cinquentões. Negociações na internet alimentam o sonho de se conseguir um cartão que faltou à época. Lá estão muitos e muitos nomes que ajudaram a escrever a história cotidiana do futebol brasileiro. Que tal o Helinho do Vasco? Ou o trio Vanderlei, Marco Aurélio e Dicá da Ponte Preta? Juari e Nilton Batata no Santos. Zé Carlos, Renato e Zenon no Guarani. Marinho, Jair Gonçalves e Pires no Palmeiras. Você sabia que Ancheta, zagueiro símbolo do Grêmio, depois virou cantor na noite de Porto Alegre?
Ah, o meu time com Wendell e Renato, Gilson Gênio e Zezé, Pintinho e Cleber, que saudade!
Eu não sei dizer sobre a atuação dos times, era muito pequenininho, devia ter pouco mais de cinco anos de idade. Só sei que era o meu Fluminense jogando contra alguém no Maracanã.
Era uma tarde de domingo, numa partida iniciada às 17 horas, padrão daqueles tempos. Ao término, o Maracanã mudava de semblante: trocava a tarde clara pelo escuro da noite.
Não havia um grande público presente. Sei disso porque me lembro dos grandes silêncios em momentos da partida, assim como da imagem cinzenta dos grandes degraus de concreto – que futuramente seriam a minha segunda casa.
Talvez, mas apenas talvez, o Fluminense estivesse de branco. É uma suposição, um sentimento.
Não sou capaz de descrever jogadas, mas sei dizer da bola. Em diversas ocasiões, um dos goleiros tinha a bola na mão e depois a quicava no gramado. Uma ou duas vezes. Depois o chute fazia a bola subir, até a vista confundi-la com os holofotes da grande marquise do Maracanã – que pareciam bolas de futebol alinhadas.
Sei que lanchei um cachorro quente. O vendedor parou perto de mim, colocou a caixa ao lado de nós e meu pai comprou. O sabor que aquele lanche tinha era espetacular, e não dá para explicar isso a quem não teve vivência nas velhas arquibancadas. Só sentindo para saber.
O que lembro mesmo é do final. Estávamos sentados bem perto de um acesso. Olhei para o placar escrito zero a zero. Meu pai parou do meu lado, esperou as pessoas passarem e estendeu a mão para mim. Segurei e então descemos por um túnel bem estreito.
Já no corredor, havia bastante luz e gente caminhando para os dois lados. As pessoas se deslocavam com calma. Não havia euforia, afinal era o empate em zero a zero. Depois tinha uma grande rampa para descer e o caminho para a estação de trem Derby Club, essa com bastante gente e bandeiras do Fluzão. Nosso destino era a Central do Brasil, ao contrário da maioria. Chegando lá, pegaríamos o ônibus 154 que nos deixaria na porta de casa.
Essa é uma pequena história que acaba de fazer 48 anos. Meu início como torcedor de futebol. Não foi uma tarde de glórias nem glamour, mas que significa muito para mim, pois foi a primeira de muitas e muitas tardes e noites onde fui um garoto muito feliz. Era o Fluminense de Gerson, de Cafuringa e Silveira, de Félix e Manfrini, de Brunel e Lima, louco para retomar os caminhos vitoriosos de 1969 a 1973 – e eles logo viriam.
Uma da manhã, madrugada de sábado para domingo, aquela insônia de doer e o controle remoto à mão. Nenhum filme interessante, nenhum show legal, o jornal 24 horas com as mesmas notícias da primeira hora (repetidas 23 vezes).
O destino determina procurar o primeiro jogo de futebol que apareça na seleção de canais. Subitamente ele se apresenta: Náutico versus Íbis, abertura do Pernambucano 2022. É reprise mas vale: se você não viu nada e se nada chegou do jogo à sua tela do smartphone, é um jogo novinho em folha.
Cheguei atrasado e o Náutico já vencia por 2 a 0, com dois bonitos gols de fora da área no castigado gramado do belo Estádio dos Aflitos. Interessante é que o jogo era divertido de se ver, mesmo com a limitação técnica dos dois times: ambos procuravam o ataque e tocando a bola, sem chutões nem ligações diretas. Mas olhando as camisas dos times e sabendo que elas são familiares, achei que tinha algo estranho, diferente, que eu não sabia explicar direito, até que a ficha caiu: qual tinha sido o último jogo que eu tinha visto do Íbis?
Nenhum. Mas como assim?
É fácil entender: o rubro-negro de Paulista estava voltando à primeira divisão pernambucana depois de 22 anos. Ou seja, o Íbis nunca tinha sido transmitido pela TV no século XXI até este jogo.
Gosto de jogos com a presença de times de menor investimento. Gosto da sensação de localidade, de raiz. É claro que o futebol bem jogado, de alto nível técnico (e cada vez mais raro no Brasil), é maravilhoso, só que para muitos apaixonados pelo esporte o enredo vai muito além das quatro linhas. O próprio Íbis é uma prova material desse conceito: de volta à primeira divisão de seu estado, o que lhe importa é se manter nela custe o que for. O Pássaro Negro não está em busca de títulos, mas da sua sobrevivência como “pior time do mundo”, só que na elite pernambucana. É bonito saber que a luta deles tem 80 anos.
E o jogo? Divertido no segundo tempo, até que perto do fim o garoto Júlio faz um golaço para o Náutico e decreta os 3 a 0 finais da partida. Mesmo assim, o Íbis teve duas oportunidades de gol desperdiçadas. E continuou tentando tocar a bola, mesmo sem qualquer esperança de um empate.
Quando a partida terminou, o Estádio dos Aflitos me lembrou dos jogos que vão começar daqui a pouco pelo Cariocão e Paulistão. E bateu a saudade de Moça Bonita, Ítalo Del Cima e Bariri, os velhos e queridos alçapões que sempre atrapalhavam o Big Four carioca mais os amados America e Bangu. A gente sabe que o melhor futebol está na Champions, mas quem viveu esses estádios que falei e outros sabe da importância disso. Importância que nutre um torcedor insone em plena madrugada de sábado para domingo. Ou lembrar de seu goleiro Félix, de seu time de botões cristal, de seus amigos da escola.
À beira do campo, Helio dos Anjos grita para consolidar a vitória do Náutico. Quem se lembra de que ele foi goleiro do Flamengo? Eram tempos de Raul e Cantarele, de Catinha e Zandonaide, de Mendonça, de Abel, de tanta gente que passou tão rápido mas deixou saudade.
O mascote do Íbis, um pássaro bem grande, aparece cabisbaixo atrás do gol no fim do jogo. No meio de campo, torcedores do Náutico celebraram o adversário: “Vocês subiram o Íbis. Agora façam um gol no Santa Cruz!”. A derrota dói, mas para quem estava há mais de duas décadas na segunda divisão, entrar em campo pela série A é uma vitória. E quem nunca é protagonista pode ter seu lugar ao sol como figurante. Quantas e quantas vezes a gente já se divertiu com o Íbis sem que ele vencesse um jogo ou marcasse um gol? De alguma forma ele sempre faz falta.
Duas e meia da manhã, daqui a pouco tem Avaí versus Figueirense. Já estou contando as horas para ver o Fluminense contra o Bangu na Ilha do Governador. Só me falta um radinho e três colegas de arquibancada que eu já tive, mas um dia eu chego lá.
O Íbis voltou porque o futebol é muito mais do que um jogo.
PS: o destaque negativo nos Aflitos foi um idiota que se gabava de não ter se vacinado ao entrar. O xilindró lhe deu a resposta merecida.
A decisão foi o acontecimento do fim do ano na Guanabara. Um dia de festa tricolor num país que vivia tempos trágicos.
Meu pai foi ao jogo. Eu torci de casa, mesmo sem saber. Já tinha uma camisa do Fluminense, uma camiseta de algodão com o escudo bem grandão, que cobria todo o peito, e os simples dizeres “Sou Fluzão”.
Dez anos depois, em 1980, o futebol já era uma rotina diária em minha vida. Num domingo quente como o de hoje, eu ia à padaria, depois passava pela banca de jornal, trazia tudo que meu pai pedia e depois ficava na fila para ler os cadernos de esportes. Isso certamente me ajudou como cronista. O Dia, O Globo, Jornal do Brasil, Jornal dos Sports, tudo. Mas como era em 1970?
Provavelmente meu pai é que foi à padaria, porque minha mãe não saía de perto de mim. Ele tinha 29 anos e deve ter ficado que nem um louco, sonhando em chegar logo ao Maracanã. Um jovem ainda, pai de família, com o irmão recém-exilado, com uma criança de colo, administrando duas lojas, lutando para vencer. E muito perto de ter uma alegria incomensurável, que era a de ver seu time campeão do Brasil.
Fico imaginando aquele Maracanã abarrotado. Longe de desrespeitar a garotada de agora, mas quem viu aquela praça com mais de 130 mil pessoas sabe o que estou falando.
O Fluminense venceu o campeonato com um empate com o Atlético Mineiro. Foi um sonoro campeão. Superou o Palmeiras de Ademir da Guia, o Santos de Pelé, o Cruzeiro de Tostão, o Botafogo de Paulo Cezar Caju, o São Paulo de Gerson e muito mais. Ganhou um dos títulos mais difíceis de sua história e o campeonato brasileiro mais difícil de todos os tempos.
Meu pai era calado. Não sei se foi sozinho ao jogo ou com algum amigo. Não sei se chorou, o que vi pouquíssimas vezes. Não sei se cantou. Eu só imagino as cenas que não vivi, mas tudo aquilo resultou em coisas que repercutem até hoje.
O primeiro jogador que vi na vida foi o Félix, num álbum de figurinhas da Copa de 1970. Eu devia ter perto de cinco anos. Meu pai adorava álbuns e fez vários. A gente os perdeu nas mudanças, é duro ser pobre. Mas a cena eu não esqueço: estava deitado na minha cama quando ele veio, me chamou e mostrou. Félix, Félix, nunca mais esqueci – isso tem mais de 47 anos e eu me lembro como se fosse agora.
Samarone, Galhardo, Marco Antônio, Oliveira. Didi. Denílson, o Rei Zulu. Flávio, Mickey, Lula. São todos nomes familiares para mim. Não precisei vê-los para adorá-los, saber como foram e são tão importantes para o Fluminense. Sei como eles deixaram meu pai feliz, e felicidade é algo tão raro que a gente precisa sempre valorizar. É um grãozinho de areia com o qual sonhamos sempre.
A volta do jogo? Ele deve ter abraçado minha mãe, ligado o rádio para ouvir a repercussão do título e planejar o próximo álbum de figurinhas.
Já comprei o pão hoje. A banca de jornais está fechada. O rádio está desligado. Há um enorme silêncio, exceto pelo ventilador que lembra uma turbina de avião. Então é ficar deitado, olhar para cima e se sentir em pleno voo.
Hoje não tem jogo. O Fluminense de agora é incerteza no campo e devastação fora dele, mas há cinquenta anos, meus amigos, o mundo era pequeno para as três cores da vitória, cores de um título supremo que sempre estará representado pelo V da vitória de Mickey, o artilheiro inesperado que supriu a ausência do esplêndido Flávio e levou o Flu a um de seus títulos mais arrebatadores.
Um dia, depois de tanto ouvir as histórias tricolores de meu pai, comecei a escrever as minhas, mas nunca deixei de lado o que aprendi e vivi. Tudo passou rápido demais. Quem me dera estar no berço outra vez com minha camiseta do Fluzão! Na impossibilidade, deixo um grande abraço a todos os tricolores vivos ou mortos que, naquele dia, no campo, na arquibancada, na geral e nos radinhos Brasil afora, ajudaram o Fluminense a se mostrar em seu real tamanho: gigantesco, gigantesco.
Viva os campeões brasileiros de 1970!
@pauloandel
Nascido em 1968, Paulo-Roberto Andel é autor de 30 livros, sendo 16 deles sobre o Fluminense. Formado em Estatística pela UERJ, é editor e cronista do Panorama Tricolor, cronista colaborador do Museu da Pelada e do Correio da Manhã. No Panorama, assinou mais de 1.000 colunas desde 2012. Por conta de seus esforços literários, foi declarado torcedor ilustre do clube em sessão solene do Conselho Deliberativo do Fluminense em 21/07/2014.
Naquele tempo os times só conseguiam dinheiro se jogassem. A arquibancada era a principal fonte de receita financeira. E por isso, em plena Copa do Mundo de 1982, com a Terra inteira olhando para Sócrates, Falcão e companhia, o Maracanã abriu várias vezes para as partidas do Torneio do Campeões de 1982, praticamente uma versão reduzida do Campeonato Brasileiro.
Gostando de futebol e querendo ver outras partidas além das do meu Fluminense, o que me restava? Administrar a mesada e dividir direitinho para poder ver o máximo de jogos na geral, o setor mais popular e barato do Maracanã. Foi o que fiz.
Além do Flu, vi também o Vasco num 0 a 0 com o São Paulo. Jogo ruim para os vascaínos num raro domingo à noite – antigamente só no Sul é que se tinha partidas neste horário -, vaias e um pênalti perdido pelo poderoso artilheiro Roberto Dinamite, cuja cobrança vi atrás do gol, bem de pertinho como a geral permitia. Se era difícil enxergar os lances, por outro lado a gente tinha a sensação de que fazia parte do jogo, de que estava dentro do campo. Quando o gol saía, lá estava a gente na televisão feito os figurantes mais felizes do mundo.
Eu gostava do America. Gostava bastante. Talvez fosse meu segundo time, talvez eu tivesse ficado encantado pelo bandeirão vermelho que abriram num empate com o Flu em 1979. E então veio um jogo contra o Atlético Mineiro, decisão de vaga na competição.
Tinha um garoto que era fanático pelo America. Estava sempre com sua camisa e escudo rubros, bandeira na mão, boné e radinho. Gostava de ficar na geral entre o escanteio invertido à direita da Tribuna de Honra e a primeira trave. Num jogo vazio nos conhecemos e vimos algumas partidas juntos. Eu tinha treze anos, ele já devia ter uns dezesseis por conta do bigodinho que usava. E torcia, torcia, torcia demais. Eu achava bacana que ele torcesse tanto por seu time, que não ganhava títulos há tempos, era bonito aquilo. Com o tempo, entendi que todos querem ser campeões mas torcer não tem a ver com a obrigação de títulos e sim com a paixão.
Oi. Beleza? Legal você estar aqui. Vamos torcer. Sangueeeeeee!
Jogo duro, pouca gente, frio de domingo. Quando as partidas começavam às cinco da tarde, geralmente o segundo tempo tinha cara de noite. Não foi diferente.
Meu amigo com caras e bocas de sofrimento atroz, eu torcendo pelo America, por ele, pelas pessoas que ali estavam. O Flu ia jogar noutro dia, podia esperar. Ali era tudo ou nada para o Diabo da Campos Sales. Zero a zero, zero a zero. Zero a zero.
No último minuto, aconteceu um bate-rebate na área. Alguém furou. A gente estava no lugar de sempre: escanteio invertido à direita da Tribuna. Elói chutou. Francisco Chagas Eloia, não esqueço o nome. Gol. Gol! Gol de Elói no último minuto, America classificado.
Meu amigo me deu um abraço, outro e começou a chorar. Eu nunca tinha visto um garoto chorar de alegria, nem eu mesmo tinha chorado. Chorou muito e gritou muito quando o árbitro logo encerrou o jogo. Foi uma lição para mim: eu me sentia tão triste porque o meu time mal tinha dois anos sem título e, ali, o meu amigo que nunca tinha visto uma volta olímpica mostrava todo o seu amor pelo seu grande clube. Então aprendi que, no futebol, títulos são importantes mas não são eles que determinam o amor de alguém por aquele jogo fascinante que, há dois séculos – e desde muito antes – mexe com a alma da gente pelo mundo inteiro.
Havia pouca gente no Maracanã, mas lembro das pessoas gritando muito na saída, tanto no corredor soturno da geral quanto na rua. Trocamos outro abraço. Ele me agradeceu porque via os jogos sozinho e, segundo sua opinião, quando nos conhecemos, eu tinha trazido sorte para o nosso America. Eu devia ter contado a ele que era Fluminense, mas acabei não falando. Então nos despedimos e ele seguiu para a estação de trem, para depois chegar em Santo Cristo. Estava muito feliz. Qual será seu nome? Não sei dizer.
Virei à direita na Avenida Maracanã e, quando passei pela majestosa Estátua do Bellini, quase não havia gente, exceto um vendedor de cachorro quente e umas três pessoas. Então resolvi fazer um lanche antes de atravessar a rua, pegar o 434 e fazer uma viagem até Copacabana.
O America seguiu em frente e acabou campeão, Campeão dos Campeões. A Seleção, que era o grande assunto daquele Brasil, acabaria eliminada pela Itália. Ainda voltei muitas e muitas vezes à geral, aí praticamente só pelo meu amor tricolor. Um dia, a força da grana e da ganância destruiria o palco dos meus sonhos de garoto.
Tomara que meu amigo americano de Santo Cristo continue vivendo aquele sonho permanente do futebol, o choro, o gol. As coisas estão difíceis para o America mas o sonho não pode morrer. Estão difíceis para o futebol brasileiro na verdade. O Maracanã era o sonho de dois garotos abraçados, que nem precisavam torcer pelo mesmo time para saber o que é que um jogo significava.
Lembro dele indo para a estação de Derby Club. Faz muito tempo.
No programa Entorno da Bola, do Canal Iaras e Pagus do YouTube, Pedro Simonard e Paulo-Roberto Andel conversaram com Alfredo Sampaio, presidente do Saferj – Sindicato dos Atletas de Futebol do Estado do Rio de Janeiro -, sobre o momento do futebol brasileiro em relação à Covid19.
Quando meu pai entrou no quarto com o álbum de figurinhas da Copa de 1970, no ano de 1973, eu tinha quatro anos de idade mas já gostava de futebol, mesmo sem nunca ter visto um jogo. E no ano seguinte, 1974, eu me lembro de estar sentado num degrau de concreto da arquibancada num jogo do Fluminense, quando meu pai me deu a mão e me puxou para ir embora. No corredor do Maracanã eu via vários torcedores grandes, todos muito maiores do que eu, caminhando para o mesmo lado, a caminho da rampa do lado da UERJ é de um obelisco que já não existe lá. E lembro do cheiro de cachorro quente das barracas, contrastando com o das laranjas, que eram vendidas em grandes plásticos no chão.
Em 1975, eu estava na casa de Dona Nininha e Seu Arlindo, que ficava na Estrada de Botafogo, quando meu pai chegou com uma caixa de lindos botões da marca Cracks da Pelota. Colar os escudinhos do Fluminense nos botões de plástico transparente, sem cor, foi uma responsabilidade: eu sabia que aquilo era muito sério.
Em poucos anos, eu ouvia um rádio Telefunken bem grandão para ouvir as narrações dos jogos. Meu pai me levou ao Maracanã lotado várias vezes, com 120 ou 130 mil pessoas, uma experiência pela qual ninguém passa imune. Eu lia O Dia, O Globo, Jornal do Brasil e Jornal dos Sports, até o Pasquim falava de futebol, a Revista Placar era maravilhosa. Jogava bola na rua, na vila ao lado do prédio onde morava, e também na praia de Copacabana, alternando as traves do Juventus e do Bairro Peixoto. Disputava campeonatos de botão com Augusto Arromba, Marcelo Batista, Luis Fernando Gomes Minas e o saudoso Fredão. Joguei também com meu amigo Leonardo Tigre Maia, que era meu colega de escola e, anos depois, de faculdade. Na casa do Fred, Luis e Floriano Romano eram figuras presentes, e também jogávamos nas casas deles.
Com 13 anos, eu já ia para o Maracanã sozinho toda semana, jogava botão sozinho, criava finais imaginárias em casa, disputava duplas e praia sempre que possível à noite, peladas na quadra da Lagoa e no Corpo de Bombeiros da Xavier da Silveira. Edinho era meu herói dos gramados. Eu respeitava adversários terríveis como Roberto Dinamite, Tita e Mendonça. Tentei fundar uma torcida organizada com Toninho e Ricardo, filho de Silério, que era amigo de meus pais e trabalhava num prédio da Rua Santa Clara – eles declinaram e deixei de ser o mais jovem presidente de torcida do país. Colecionava muitos botões que minha mãe me dava de presente, com todo o sacrifício financeiro – eu os tenho até hoje.
Quando fiz 15 anos, o Fluminense estava prestes a viver anos incríveis e inesquecíveis. Eu estava lá em todas. Deste então, se passaram quatro décadas. Respirei futebol o tempo todo, e continuo sendo o garoto que se encantava com os botões de plástico, as figurinhas da Copa de 1970, o grande anel do céu a ser observado por quem se deitava num degrau da geral do Maracanã. Por isso escrevi até aqui muitos livros sobre o assunto, afora os inéditos e inacabados: é que eu continuo procurando por todos os lados o cheiro do cachorro quente, das laranjas, os vendedores de Coca-Cola que mais pareciam astronautas da arquibancada – todos de branco, com capacete e o refrigerante às costas num tanque que mais parecia de oxigênio. Eu procuro a nuvem espessa de pó de arroz, o mar de bandeiras e também a oposição do outro lado. Eu procuro o velho obelisco, as caminhadas da Praça da Bandeira até o Maracanã, os sinais das estações de rádio que ecoavam por toda a arquibancada nos minutos finais de jogo, o pacotinho de batata frita Guri no bar fuleiro, a voz de Victorio Gutemberg saindo por altofalantes abafados e dando os resultados da loteria, os garotos pobres e descalços na bilheteria que choravam ao ganhar um ingresso do meu pai – ele também chorava, o lindo placar de lâmpadas que inunda meus sonhos, os passageiros do ônibus na volta de um clássico qualquer – risos, piadas, incorreções e abraços.
O Maracanã por muito tempo foi o lugar onde eu vi os ricos e os pobres se abraçando de verdade, como se fosse amizade e parceria, o único lugar. E que choravam juntos num insucesso.
Ainda procuro os garotos jogando botão debaixo da escada rolante do shopping dos antiquários, ou chutando bola na trave do Juventus com a praia deserta, ou ainda fazendo a de fora na Vila Tenreiro Aranha para se sentirem heróis entre traves imaginárias feitas com chinelos ou pedras.
Há exatos trinta anos, em 29 de agosto de 1988, o JB cobria sua página de esportes com o panorama da segunda divisão carioca de futebol, algo impensável nos dias atuais.
Um curta metragem com direção de Henrique Castelo Branco e argumento de Paulo-Roberto Andel, realizado em 2013, levando um dos maiores clássicos do futebol mundial para o universo lúdico do jogo de botão, baseado em três grandes decisões entre Fluminense e Flamengo.
Em 1993, Fluminense e Vasco decidiram o Campeonato Carioca.
Na primeira partida, o Vasco saiu vitorioso por 2 a 0, com dois frangos que encerraram a trajetória do goleiro Ricardo Pinto nas Laranjeiras, e jogava por um empate no segundo jogo. Eurico Miranda, sempre ele, já proclamava o time da Colina como campeão, mas o Tricolor venceu o segundo combate por 2 a 1, numa partida de arbitragem conturbada de José Roberto Wright, e que também dirigira o primeiro jogo da decisão. Irritadíssimo, EM gritou a plenos pulmões que JRW jamais apitaria a terceira partida. Foi escalado Daniel Pomeroy, cujo trabalho recebeu muitas – e merecidas – críticas na decisão do campeonato, que terminou com um empate em 0 a 0 e levando o Vasco ao bicampeonato estadual.
Conturbações à parte, os três jogos da grande decisão de 1993 levaram quase 180 mil pagantes ao Maracanã, e certamente mais de 200 mil torcedores presentes. Definitivamente, eram outros tempos.
Testemunha vida de grandes casos da vida brasileira nos últimos 50 anos, passado pelo esporte e a política, o jornalista Juca Kfouri lança seu livro de memórias, “Confesso que perdi”.
Sócrates, CBF, Diretas Já, ditadura militar-empresarial, Corinthians, Revista Placar, Revista Playboy, Máfia da Loteria Esportiva e muito mais.
A poucos dias do início da Copa União, guerra entre os clubes: o alijado Bangu, através de Castor de Andrade (ele mesmo!) entraria com uma ação na Justiça para embargar a competição.
Tema recorrente nos últimos tempos, a questão das receitas e dívidas dos clubes de futebol é fruto de longos debates em tempos que o esporte e o business tornaram-se inseparáveis.
No caso particular do futebol carioca, muito se fala sobre as gestões e a administração financeira dos clubes. Por muito tempo, todos viveram verdadeiras cirandas administrativas. Hoje, cada um a seu modo e receitas disponíveis, estão lutando contra o problema.
Alguns dados abaixo, produzidos a partir do excelente blog de Cássio Zirpoli no Diário de Pernambuco, e também de matéria de Daniel Mundim no Globoesporte, ajudam a entender as manchetes atuais sobre o tema.
A principal receita dos clubes cariocas (e brasileiros) advém das cotas de TV pagas pela emissora que detém a exclusividade dos direitos de transmissão das partidas no Brasil.
Em 11/02/1979, Flamengo e America disputavam um clássico no Maracanã pelo Campeonato Carioca. Numa partida em que não foi brilhante, o Rubro-Negro goleou o Diabo por 4 a 0; no entanto, o grande destaque da tarde ficou por conta da estreia do placar eletrônico do Maracanã, o mais moderno do Brasil à época, e que se tornaria um verdadeiro ícone gráfico daqueles anos de ouro do futebol do Rio.
Coube ao ponta-direita Reinaldo “Ratão” (assim apelidado por conta de seu espesso bigode) marcar o primeiro gol do novo placar.
Em plena efervescência em 18/08/1987, o futebol brasileiro ainda discutia seu campeonato que começaria em pouquíssimo tempo. Curiosamente, numa reunião com o Ministro da Educação… enquanto o Clube dos 13 batia no peito e divulgava a tabela da competição que iria fazer por conta própria.
O presidente da CBF era o eterno cartola Otávio Pinto Guimarães, tendo como seu vice o inenarrável Nabi Abi Chedid.
E ainda uma crônica sempre esperta do gênio João Saldanha sobre a importância dos clássicos no futebol do Brasil.
Era tudo muito diferente há 35 anos atrás. As séries A e B do campeonato brasileiro eram interligadas, de modo que dois times tinham acesso direto no mesmo ano, através da disputa por fases. Quem não subia para a Taça de Ouro tinha a chance de vencer a Taça de Prata, e o Campo Grande a conquistou de forma gloriosa. Foi o último título do clube, que hoje luta pela sobrevivência.
Neste 13 de junho o Campo Grande completa exatos 77 anos. Que venham muitos outros pela frente,
Da página Memórias do Futebol Carioca, reproduzimos a publicação abaixo:
Títulos Inesquecíveis – Campo Grande, campeão da Taça de Prata de 1982. Pedido feito por: Igor Lima.
O Campo Grande, pequeno e tradicional clube do Rio de Janeiro, sagrou-se campeão da 3ª edição da Taça de Prata (a 5ª edição do Campeonato Brasileiro da 2ª Divisão) em 1982, o seu maior título conquistado até hoje.
Esta edição teve a participação de 48 equipes de todo o país, que totalizaram 362 gols em 133 jogos, com uma média de 2,72 gols por partida. O torneio concedia 4 vagas aos vencedores da 2ª fase para a série A do mesmo ano (a Taça de Ouro), onde subiram o América-RJ, o Atlético-PR, o Corinthians-SP, e o São Paulo-RS, que por isto mesmo não participaram das fases finais desta competição.
Os 4 cariocas que disputaram o torneio:
• América F.C.
• Volta Redonda F.C.
• Campo Grande A.C.
• Americano F.C. (Olaria A.C., que havia se classificado na Taça de Bronze de 1981, teve que ceder a sua vaga ao time de Campos por ter sido rebaixado no Campeonato Carioca de 1981)
Nesta época, o Campusca vivia uma de suas melhores fases, com os bailes e as piscinas sempre cheias, assim como a arquibancada do estádio Ítalo del Cima. Inaugurado em abril de 1960, o maior patrimônio do Galo da Zona Oeste, como também é chamado, foi construído em um terreno doado pela família Del Cima. A decisão da Taça de Prata, em abril de 1982, contra o CSA de Alagoas, marcou a história do estádio. O time havia perdido o primeiro jogo, em Maceió, por 4 a 3, e vencido o segundo, em casa, por 2 a 1. Assim, houve a necessidade de uma terceira partida, e, por ter a melhor campanha, o Alvinegro voltou a jogar em seus domínios. E desta vez, diante de 16.842 torcedores, não deixou dúvidas de que merecia a faixa de campeão ao golear o rival por 3 a 0 e encerrar a competição com 78% de aproveitamento, obtidos com 11 vitórias, três empates e apenas duas derrotas em 16 jogos. Décio Esteves comandou o time na conquista.
O time-base era formado pelos seguintes jogadores: Ronaldo, Marinho, Pirulito, Mauro e Ramírez; Serginho, Lulinha e Pingo; Tuchê, Luisinho das Arábias e Luís Paulo. O artilheiro da competição foi Luisinho das Arábias, do Campo Grande, com 10 gols. Além disso, vale frisar que o Campo Grande teve o melhor ataque da competição, com 39 gols.
1ª Fase
24/01, Campo Grande 2×0 Americano (Ítalo del Cima)
28/01, Campo Grande 3×0 Portuguesa (Ítalo del Cima)
31/01, Uberaba 1×1 Campo Grande (João Guido)
03/02, América-MG 0x2 Campo Grande (Independência)
07/02, Campo Grande 3×1 Comercial-MS (Ítalo del Cima)
2ª Fase
17/02, Campo Grande 2×2 Volta Redonda (Ítalo del Cima)
20/02, Atlético-PR 2×1 Campo Grande (Couto Pereira)
Oitavas-de-Final
27/02, Goiás 0x0 Campo Grande (Serra Dourada)
06/03, Campo Grande 4×0 Goiás (Ítalo del Cima)
Quartas-de-Final
14/03, River-PI 2×3 Campo Grande (Albertão)
20/03, Campo Grande 4×0 River-PI (Ítalo del Cima)
Semifinais
28/03, Campo Grande 4×0 Uberaba (Ítalo del Cima)
04/04, Uberaba 0x2 Campo Grande (João Guido)
Finais
11/04, CSA 4×3 Campo Grande (Rei Pelé)
18/04, Campo Grande 2×1 CSA (Ítalo del Cima)
20/04, Campo Grande 3×0 CSA (Ítalo del Cima)
Dados sobre o última partida:
Data: 25/04/1982
Local: Estádio Ítalo Del Cima (Campo Grande AC)
Ãrbitro: Airton Domingos Bernardoni (RS)
Auxiliares: Valdir Luís Louruz (RS) e Sílvio Luís de Oliveira (RS)
Cartões amarelos: Luisinho (CGAC), Américo e Jerônimo (CSA)
Renda: Cr$ 4.858.200,00
Público: 15.567 pagantes
Campo Grande: Ronaldo; Marinho, Pirulito, Mauro e Ramírez; Serginho, Lulinha, Pingo (Aílton); Tuchê, Luisinho e Luís Paulo; Técnico: Décio Esteves
CSA: Joseli; Flávio, Jerônimo, Fernando e Zezinho; Ademir, Zé Carlos (Josenílton), Veiga; Américo (Freitas), Dentinho e Mug; Técnico: Jorge Vasconcellos
Gols: Luisinho aos 30′ e 60′ e Lulinha aos 44′
Mais informações sobre a competição aqui:
http://www.rsssfbrasil.com/tablesae/br1982l2.htm (em inglês)
Foto: Equipe do Campo Grande, campeã da Taça de Prata de 1982.
Acervo: http://anotandofutbol.blogspot.com.br/. Fontes: Globoesporte.com, Wikipédia, http://colunasports.blogspot.com.br/, http://campograndeac.no.comunidades.net/ e http://www.bolanaarea.com/.
Daqui a menos de um mês, completam-se 35 anos da fatídica derrota da Seleção Brasileira para a Itália na Copa do Mundo da Espanha, que alijou um dos maiores times da nossa história de um título mundial.
O tempo deu o devido valor àquele time; no entanto, aqui trazemos o calor das análises e crônicas daquele momento, publicadas no maior jornal do País.
Campeão do campo, campeão do jogo, campeão sem cruzamento, campeão moral, briga na Justiça, decisão do STF… sobre a Copa União de 1987, muito já foi dito.
Quase 30 anos depois de seu conhecido imbroglio, há quem bata no peito e ateste a verdade.
O curioso é que, no dia da decisão do Módulo Verde entre Flamengo e Internacional, nem mesmo jornalistas do Rio de Janeiro, palco da batalha final, tinham absoluta certeza sobre o desfecho da competição.
De São Paulo, idem.
Jornal do Brasil, 13/12/1987 – capa
Jornal do Brasil – 13/12/1987 – Página 62
Folha de São Paulo, 14/12/1987 – capa
Folha de São Paulo, 14/12/1987 – Capa
Jornal do Brasil, 08/02/1988 – Caderno de Esportes
Então viria a segunda Copa União em setembro de 1988. E quem disse que haveria paz no futebol brasileiro?
Folha de São Paulo, 03/09/1988 – Caderno de Esportes
Folha de São Paulo, 03/09/1988 – Caderno de Esportes
Há 46 anos, uma discussão se mantém no ar: o gol da final do Campeonato Carioca de 1971, vencida pelo Fluminense por 1 a 0 com um gol do ponta-esquerda Lula.
À época, com enorme manchetes e a crônica firme de alguns dos melhores textos da imprensa brasileira, casos de Armando Nogueira e João Saldanha por exemplo, estampou-se a versão de falta do lateral Marco Antônio sobre o goleiro Ubirajara Mota, sendo o Tricolor beneficiado por um erro crasso de José Marçal Filho. No entanto, além da discussão sobre aquela mesma falta, no mesmo lance Lula finalizou caindo porque supostamente sofrera pênalti de Mura.
A decisão de 1971 já provocou debates acalorados, análises profundas, livros e matérias.
Um dos maiores jornalistas da história do futebol brasileiro – e botafoguense de corpo e alma -, Oldemário Touguinhó assim escreveu na capa do Caderno B do Jornal do Brasil em 29 de junho de 1971, dois dias após a decisão:
Em 22 de novembro de 1979, numa quinta-feira à noite, o America recebia o time do Mixto de Mato Grosso para uma partida pelo Campeonato Brasileiro daquele ano. Embora o tradicional time rubro ainda tivesse uma boa torcida presente à maioria de suas apresentações, esta contou com apenas 1.236 pagantes, num Maracanã deserto.
Depois de um primeiro tempo ruim, o Mecão acabou goleando o adversário (este com um uniforme muito parecido com o do Vasco da Gama) pelo placar de 6 a 1. O grande destaque da partida no segundo tempo foi o ponta-esquerda Silvinho. Era ainda o America de Uchoa, o eterno zagueiro Alex, o volante Merica, o meia Nelson Borges e o centroavante César.
Pela equipe de Mato Grosso, o destaque era o centroavante Bife, o maior artilheiro da história do futebol do Estado, com passagem pelos times do Porto e Belenenses de Portugal, tendo falecido em 2007 aos 57 anos. E também o veloz jogador Gonçalves.
Foi a maior goleada do America na história do Maracanã e também em jogos do time pelo Campeonato Brasileiro. Alijado da disputa nacional em 1987 por conta de sua bárbara exclusão da primeira divisão, não se recuperou até hoje. O Mixto ainda disputaria outros campeonatos brasileiros da primeira divisão até 1985.
Qual a razão do apelido de Bife, que se chamava José Silva Oliveira?
Segundo o historiador Reinaldo Queirós, o apelido do craque deu-se quando ele tinha 12 para 13 anos, já era um bom jogador entre a molecada e sua mãe era vendedora de marmitas para os soldados de um quartel. A entrega era em três viagens numa velha caminhonete de um tio. Bife viajava atrás segurando as marmitas para que a comida não derramasse. Em certo dia, as marmitas estavam muito cheirosas, ele então abriu uma e comeu o bife que ficava em cima do arroz e do feijão. Estava tão bom que comeu 15 bifes. Entrega feita, os soldados, famintos, “sorteados” pela ausência da preciosa mistura, chiaram com o sargento. Na entrega seguinte, o moleque foi detida e confessou. A mãe dele não foi destituída do fornecimento, o garoto continuou fazendo as entregas e nunca mais aprontou, mas ficou com o apelido de Bife.
Hoje, quase às dez da noite, teremos o Fluminense enfrentando o Botafogo pela Taça Rio.
Descontadas as hipérboles, a luta do Tricolor neste momento é somar pontos para garantir a vantagem do empate no jogo semifinal. Já o Alvinegro está com a cabeça noutra competição. O primeiro resultado de tudo já sabemos: um público muito aquém do razoável para o mais antigo clássico do futebol brasileiro, por diversas razões.
Neste 2017, tivemos a estreia do Fluzão diante do Vasco para 11.043 torcedores pagantes. O time da Colina jogou para 8.088 pagantes diante do Botafogo. E o Fla x Flu onde ganhamos a Taça Guanabara teve 22.042 idem. Flamengo e Vasco, 5.484. Estes quatro clássicos tiveram 46.657 torcedores somados. Um número francamente ridículo se pensarmos no tamanho das torcidas dos grandes clubes cariocas, descontadas as hipérboles e piadas.
Ao se questionar sobre a franca decadência nos números presenciais, certa esfera modernista há de ressaltar a era da televisão (que salva os clubes, mas também lhes oferece uma adaga no pescoço), da arquibancada espalhada pelos bares e das torcidas organizadas do eu sozinho, em casa, diante da esmartevê. Sem dúvida os tempos mudaram e muito, mas isso não deve ou deveria significar o retrocesso quantitativo do público para os anos 1920 e 1930, quando Laranjeiras e São Januário eram os templos do futebol carioca e brasileiro.
Ok, não tem Maracanã. Ou tem, dependendo da cara do cliente. O fato é que nosso futebol foi francamente esvaziado com o passar dos tempos e, a cada dia que passa, não somente aumenta o número de pessoas que não se interessam por futebol como os estádios daqui ficam cada vez mais desinteressantes. No mínimo, deveria ser uma preocupação dos clubes de futebol, deixando de lado a monocultura das cotas da TV que, em muitos casos, vira limite do cheque especial para cobrir arroubos e barbeiragens administrativas.
Dos jogos que elenquei acima, o Fla x Flu teve o maior público. Era a decisão da Taça Guanabara, ainda com charme e nostalgia mesmo sem valer quase nada para a fase final da competição. É certo que poderia ter dado mais gente se não tivesse havido tanta confissão com liminares, proibições et cetera. Mas não deixo de pensar numa outra edição do clássico imortal, realizada há quase 30 anos, da devida maneira: num domingo às cinco da tarde no outrora maior estádio do mundo. O Rio de Janeiro foi tomado por uma tempestade monumental, a ponto de se duvidar que fosse possível a realização da partida. Só foram os gatos pingados feito eu; os degraus da arquibancada do Maracanã que ficavam além da velha cobertura de concreto pareciam riachos, com o pessoal espremido onde dava. Um jogo ruim, para 24.512 pagantes.
Não se pode vulgarizar os clássicos: eles precisam ser especiais, contando com grandes torcidas. O contrário faz com que todos percamos antes da bola rolar. É preciso resgatar ao menos parte da torcida que se perdeu nas telas e monitores da vida. Um espetáculo não existe sem plateia, um grande jogo não resiste sem torcidas.
O mundo mudou, já não é o mesmo, vivemos a bela Idade Média com smartphone, Uber e Tinder, mas não custa nada refletir nas palavras do primeiro parágrafo da crônica de João Saldanha, abaixo publicada.
Iniciando sua carreira no São Cristóvão e revelado pelo Fluminense, o Rei Arthur encarou uma pedreira: a busca por uma vaga na fenomenal Máquina Tricolor.
Deixando as Laranjeiras, teve uma temporada brilhante pelo Operário de Mato Grosso do Sul, depois no Bangu, Vasco, Corinthians e diversas outras equipes.
Um craque do meio de campo, com drible, arranque e visão de jogo, daqueles que o futebol brasileiro fabricava como ninguém.
Embora tenho conquistado diversos títulos em sua vida profissional, jogando em estádios abarrotados, para muitos a sua maior atuação foi numa tarde chuvosa de quarta-feira, feriado de 7 de setembro, no Maracanã enfrentando o Flamengo pelo primeiro turno do Campeonato Carioca de 1983, diante de apenas cinco mil torcedores (o que hoje pode ser um bom número, dependendo do jogo).
Na verdade, quem fez chover foi o próprio Arthurzinho, que marcou quatro gols na goleada por 6 a 2 imposta pelo Alvirrubro ao time rubro-negro, escrevendo seu nome ao lado de Nilo, Carvalho Leite, Russinho, Heleno de Freitas, Puskás e Marcelo, jogadores que também fizeram quatro tentos sobre o Flamengo numa mesma partida em toda a história.
O time da Gávea vivia uma crise desde a saída de Zico e uma derrota para o Botafogo por 3 a 0, também pelo carioca que derrubou a comissão técnica e a diretoria inteira do clube.
A conta ficou para o jovem goleiro Abelha, vindo da Ferroviária de Araraquara, substituto de Raul Plassmann e que fazia sua estreia justamente no Flamengo x Bangu. Foi extremamente criticado pela goleada. Felizmente a carreira de Abelha não foi arruinada: depois ele jogou no São Paulo e em outros clubes, tornou-se treinador de futebol e já escreveu até um livro, chamado “Treinamento de Goleiro – Técnico e Físico”.
Campeonato Estadual – Taça Guanabara
Local: Maracanã
Renda: Cr$ 4.282.400,00/ Público: 5.009 pagantes
Árbitro: Pedro Carlos Bregalda, auxiliado por João José Loureiro e José Inácio Teixeira
Bangu: Toinho; Gílson Paulino, Tecão (Jair), Fernandes (Índio) e Tonho; Mococa, Arturzinho e Mário; Marinho, Fernando Macaé e Ado; Técnico: Moisés
Flamengo: Abelha; Leandro, Marinho, Mozer e Ademar; Andrade, Vítor e Júnior; Robertinho, Baltazar (Peu) e Adílio; Técnico: José Roberto Francalacci
Bangu dá goleada histórica
Fonte: Jornal dos Sports
(Reprodução do site bangu.net)
Bem que o Bangu tentou dar de sete em comemoração ao dia da Independência do Brasil, mas acabou mesmo ficando nos 6 a 2 sobre o Flamengo, ontem à tarde, no Maracanã. Foi uma goleada histórica como histórica foi a atuação de Artur, que marcou quatro gols, um de pênalti, um de cabeça, um de rebote de goleiro e um antológico.
Para quem vem acompanhando o Flamengo, a goleada de ontem não surpreendeu tanto. O Goleiro Raul é que vinha impedindo derrotas e não deixou que o América marcasse mais de três. Ontem, Raul não jogou e, para complicar ainda mais, Abelha, contrariando o seu nome, falhou principalmente pelo alto.
A desarrumação é total, parece faltar motivação a alguns jogadores, outros demonstram precisar de um psicólogo. Além de uns dois convocados para a seleção que não se mostraram dispostos a arriscar uma contusão. O comando, sem força, devido às circunstâncias em que o clube se encontra, tudo indefinido, também não pode exigir o máximo. A confusão é tão grande que a cada jogo, é escalado um camisa 10. Ontem, foi a vez de Júnior.
Mas a goleada de ontem não pode ser creditada apenas a ruindade do Flamengo. O Bangu jogou e vem jogando muito bem, tanto que ganhou do América e do Goytacaz nos jogos anteriores. A tendência é crescer com Marinho Chagas na lateral e a consolidação da filosofia do técnico Moisés. O Time do Bangu está cheio de baixinhos, mas todos muito bons de bola. E um craque chamado Artur.
Ao contrário do time do Flamengo, que ainda não entendeu a necessidade de até morder os adversários, o do Bangu colocou tudo em campo. A técnica, velocidade, disciplina tática e o próprio coração. O seu único erro ontem, foi voltar atrasado para o segundo tempo, em três minutos. A troca de uniformes, devido ao campo enlameado, deve ter sido o motivo. Quando ao Flamengo, nem isso.
Castor não se ilude, vai reforçar o time
A goleada de 6 a 2 sobre o Flamengo não diminuiu o ânimo de Castor de Andrade de reforçar a equipe. Após a vitória, o dirigente disse que continua interessado na contratação de dois jogadores – um centroavante e um zagueiro – e que Marinho Chagas, que assina hoje seu contrato, deverá estrear brevemente no Bangu:
– Essa goleada não vai me iludir – disse o dirigente. Ainda quero mais reforços e vou agir rapidamente, a tempo de reforçar o time para o segundo turno. Nomes eu não digo, mas posso garantir que o Bangu terá grandes reforços muito em breve.
A situação de Marinho Chagas já está definida. Ele assina contrato hoje e, se tiver em condições até sábado, poderá até estrear contra o Botafogo. Mas essa é uma coisa pouco provável. O jogador, apesar de se sentir bem, ainda não decidiu se estreará mesmo:
– Vai depender dessa dorzinha, que sinto na região glútea. Se melhorar, eu jogo. Mas se continuar sentindo, vou pedir ao Moisés para dar um tempo e entrar só quando estiver bem. Afinal, depois de um resultado desses, não posso entrar em campo sem condições totais. O Bangu está armando um grande time e vai brigar pelo título.
Quem deverá voltar em breve é o lateral direito Rosemiro, que a cada vem melhorando muito. O lateral disse que na próxima semana pedirá a Moisés para treinar normalmente, já que se sente totalmente recuperado.
Na vibração, o prêmio é dobrado
A goleada de ontem pode ser considerada Histórica. Pelo menos, o vestiário do Bangu tinha o clima de um resultado inesquecível. O ambiente era de muita descontração e Castor de Andrade era um dos mais emocionados, tanto que anunciou um bicho de Cr$ 100 mil, alterando os seus planos, que era de pagar Cr$ 50 mil pela vitória.
Os jogadores se abraçavam e os torcedores lembravam que a última vez que o Bangu conseguiu golear o Flamengo foi em 1970, vencendo de 4 a 0. E, em tom de gozação, o supervisor Carlos Alberto Galvão lembrava, juntamente com Mário, o lance em que o Bangu marcou seu sexto gol, quando ele, Carlos Alberto, comemorando o gol, gritou para Mário mandar o time parar de fazer gols.
Como acontece em todos os jogos, Moisés se trancou na rouparia e só saiu para dar rápida entrevista. Apesar da goleada, o técnico não parecia de todo entusiasmado e só se descontraiu depois que Ademir Vicente, ex-jogador do Botafogo, Corinthians e do próprio Bangu, brincou com o treinador:
– Tá justificando o quê? – disse, ao ver o treinador dando entrevistas para um jornalista. – depois de uma vitória dessas não precisa justificar nada. Aliás, estou muito aborrecido com o senhor. Hoje, o Bangu podia ter dado de 10 a 1 no Flamengo. Uma goleada memorável. Quem foi que mandou o time parar de fazer de gols?
Após as palavras de Ademir Vicente, Moisés riu e fez alguns comentários sobre a partida:
– Ainda estou um pouco atônico, pois apesar dos 6 a 2 o jogo não foi tão fácil assim. Até marcarmos o quarto gol, o jogo estava duro e temi até por uma reação do Flamengo, que é um grande time. Felizmente, dessa vez, nós contamos também com a sorte e conseguimos transformar em gols quase todas as jogadas de perigo que criamos na área do Flamengo.
Para o jogo contra o Botafogo, sábado, Moisés não pretende alterar o time. A apresentação dos jogadores será hoje, à tarde, no Estádio Guilherme da Silveira. Segundo o Dr. Renato Pascoal, Fernandes e Tecão, que saíram contundidos, não deverão ser problemas para sábado.
O Destaque: Arturzinho, um gol de gênio
Aos 28 minutos do segundo tempo, Arturzinho dominou a bola no meio de campo e fingiu que ia dar para Fernando Macaé. Nesse instante, Mozer tentou fazer a linha de impedimento e foi o seu azar. Numa jogada de gênio, num dos gols que podem ser considerados como um dos mais belos já marcados no Estádio Mário Filho, Arturzinho partiu em direção ao gol, driblando, com um único toque, toda a defesa do Flamengo. Abelha saiu no desespero e Arturzinho, com um chute fatal, mandou a bola por cobertura e mesmo antes dela chegar as redes, ele já estava comemorando.
– É um gol raro. Nem mesmo os grandes jogadores estão acostumados a marcá-los. Fiz com a convicção de que poderia marcá-lo e dei sorte. Mas, volto a repetir, foi um lance muito difícil de acontecer.
No vestiário, Arturzinho foi o jogador mais festejado. Até mesmo a oração, que é feita após todas as partidas, independente de qualquer resultado, teve que esperar. Arturzinho, apontado como o pincipal destaque do jogo, demorou a sair de campo, tal o número de entrevistas que teve de dar às emissoras de rádios.
Depois, no vestiário, ele disse que o dia de ontem, em que assumiu a artilharia do Campeonato Estadual, ao lado de Luisinho do América, com 10 gols, após marcar quatro contra o Flamengo, poderia ter sido muito especial se fosse no domingo. Por isso seria duplamente especial.
– De qualquer maneira é uma data memorável, mas seria muito especial mesmo se fosse domingo, dia em que serei pai. Minha mulher está grávida e vai se internar na Clínica Jabour, onde terá uma cesariana, domingo. Por isso seria duplamente especial.
E um dos artilheiros do campeonato será ainda homenageado pelo Bangu. O supervisor Carlos Alberto Galvão informou no vestiário, logo após a partida, que Castor de Andrade já mandou fazer uma camisa, tamanho muito pequeno, para dar ao filho de Arturzinho. Como só saberá se a criança será menino ou menina após o parto, Castor mandou confeccionar apenas o nome do jogador na camisa, em cima do escudo. Mas mandará bordar o nome da criança, tão logo Arturzinho diga como se chamará.
A arte de Renato Aroeira é certeira sobre um grande capítulo escondido do futebol brasileiro, que você não vê por “lá”, mas por aqui. O Atle-Tiba não nos deixa mentir…
A decisão judicial em caráter liminar que impõe a torcida única nos clássicos disputados no Rio de Janeiro é, acima de tudo, um ato de eficácia mínima em relação ao problema dos confrontos criminosos vinculados ao nosso futebol.
O crescimento pelo interesse dos torcedores, que começa nos públicos de 20 mil pessoas nos anos 1910 e 1920, chegando aos mais de 100 mil entre as décadas de 1960 a 1990, foi semeado pelo grande apelo popular dos clubes cariocas e pela emoção dos jogos clássicos. São eles que, ainda hoje, alimentam de forma lúdica a paixão pelo futebol, sem desrespeito aos clubes de menor investimento.
A violência, crescente em toda a sociedade, passou a atingir o futebol corriqueiramente, ainda que seus promotores constituam cerca de 0,0000000001% dos torcedores, sendo alguns figurinhas carimbadas na seara policial. Um problema de segurança, de Estado e que sempre teve menos atenção do que deveria. Resultado: a contribuição para o afastamento gradual de torcedores dos campos de futebol, também motivados por outros fatores. Hoje em dia, um clássico no Rio mobiliza cinco ou seis vezes menos torcedores do que há duas décadas. Seria uma demonstração de crise e fracasso caso o problema interessasse de verdade aos meios de comunicação e, especialmente, à televisão, numa grande campanha de combate à violência, mas também com o resgate dos verdadeiros torcedores para as arquibancadas. Não é o que exatamente acontece.
Ao impor a torcida única, o poder público parece desconhecer completamente o modus operandi do minúsculo núcleo criminoso que habita o mundo futebol. Em inúmeros casos, os ataques do banditismo acontecem a muitos quilômetros dos estádios – e assim continuarão, pois a medida em nada os atinge. O único efeito prático é o afastamento ainda maior dos torcedores dos campos, cada vez mais utilizando bares e residências para acompanhar as partidas. A quem interessa um espetáculo sem público presente? Certamente não é aos clubes.
A violência é um problema de segurança e deveria ser tratada como tal, num todo. Esvaziar os clássicos em nome do combate a ela é como desestimular os consumidores a frequentarem um shopping center que teve uma loja assaltada, ou restringir o acesso geral a uma grande praia porque um turista sofreu uma violência. É tratar uma bursite com amputação. É ferir o princípio da razoabilidade, punindo 99,99999% dos torcedores, que possuem boa índole. É reconhecer o fracasso e a derrota do sistema de segurança pública.
Com ou sem torcida única, a violência continuará a prosperar caso a Polícia e a Justiça não façam o que parece óbvio: identificar, prender e punir os criminosos. Com torcida única, todos perdem, com exceção dos praticantes da violência. E o futebol do Rio fica cada vez mais parecido com seu símbolo maior, o Maracanã: abandonado, desperdiçado e pouco atraente.
A demagogia não tem força para solucionar este problema grave. É como enxugar gelo.
Tiros à queima-roupa, gritos, dor, morte. Oito baleados na torcida do Botafogo, um morto, outro em estado gravíssimo até o fechamento desta edição.
Em condições normais de razoabilidade, o clássico entre Botafogo e Flamengo jamais teria sido realizado neste domingo no Engenhão. Mas, pensando bem, condições normais de razoabilidade são algo bastante raro no Brasil de hoje, em qualquer temática.
A banalização da violência acabou endurecendo os corações. As pessoas olham com indiferença, passam e a vida segue. Quarta-feira tem outro jogo, eu não tenho nada com isso, não fui eu quem inventou a violência. E assim, um clássico para colocar 40 mil pessoas põe a metade disso.
Uma parte dos torcedores simplesmente desistiu. O cardápio de sandices que cercam a ida a um jogo de futebol não é para qualquer estômago. Alguns ficam nos bares, outros vendo o jogo na TV em casa e outros passaram a ignorar o esporte – as pesquisas apontam a gravidade deste último fato, aumentando a cada nova medição.
Em dois finais de semana seguidos, o Rio testemunhou dois atos de selvageria contra pessoas que cometiam o crime de acompanhar seus times de futebol. Não é coisa propriamente de hoje: nos anos 1970, era comum alguém ser morto na geral do Maracanã por “assalto” (sempre repercutiu a desconfiança de que alguns mortos eram militantes de esquerda, acompanhando o jogo no setor mais popular do estádio). Tal como hoje, ninguém ligava. E aqui se fala do Rio, mas podia ser em São Paulo, Belo Horizonte, Goiânia ou outra cidade qualquer.
A TV foi a primeira a bancar a realização da partida. Seu compromisso é com os números da audiência e do caixa. Não vai ter ninguém na rua protestando contra a violência no futebol, nem com boneco gigante de presidiário, nem com camisa da CBF – e aqui, usar a palavra que designa um apenado pode parecer até deselegância.
A Federação? Depois ela publica uma nota de repúdio.
Algumas imagens do maravilhoso documentário brasileiro de Pedro Asbeg e Renato Martins, “Geraldinos” (2015), que conta a história da Geral do Maracanã, carinhosamente conhecida como “o espaço mais democrático do futebol carioca”, extinta em 2005.
SINOPSE
“Construído em 1950 para a primeira Copa no Brasil, o Maracanã foi, por 60 anos, o espaço mítico do futebol-arte. Nesse território, a “Geral” era o lugar destinado ao povão. Não havia como jogadores e técnicos deixarem de ouvir as críticas e até xingamentos dos torcedores apaixonados, figuras não raro folclóricas que ficavam bem perto do campo. Dedicado à memória destes torcedores, o filme analisa as mudanças na reforma do estádio, em 2010, que decretaram não só o fim da concepção de um espaço para todos, mas a instalação de um modelo mais elitista de espetáculo e de cidade”.
Nesta quarta-feira, dia 08, a Chapecoense tem um confronto com o Cruzeiro pela Primeira Liga. Até aí, tudo bem; no entanto, o time da Chape também tem um jogo contra seu rival Avaí pelo Campeonato Catarinense. Os dois jogos no mesmo dia.
Inicialmente o confronto contra o Avaí estava marcado para dia 14 deste mês, mas foi adiado. Assim que soube das modificações na tabela, o clube entrou em contato com a Primeira Liga e também com a Federação Catarinense de Futebol para a alteração de uma das datas, sem sucesso nos dois casos.
Está longe de ser a primeira vez que isso acontece no futebol brasileiro.
O mais surreal dos casos aconteceu com o Grêmio em 1994. Segue reprodução do site Cenas Lamentáveis:
“Em 1994, a Federação Gaúcha de Futebol criou um campeonato estadual de pontos corridos, conhecido até hoje como “Gauchão Interminável”. Começou em 5 de março e terminou em 17 de dezembro, com 23 clubes duelando em turno e returno.
A ideia da federação era diminuir o número de clubes na Primeira Divisão Gaúcha. Para isso, o regulamento determinou que nove equipes seriam rebaixadas. As consequências de um campeonato longo foram uma baixa média de público e uma das páginas mais curiosas da história do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense.
Em 11 de dezembro de 1994, uma tórrida tarde de domingo, foram realizadas três partidas no Estádio Olímpico, válidas pelo Gauchão daquele ano. O Grêmio já estava sem chances de título, mas por que precisou jogar três vezes no mesmo dia?
Acontece que esta foi a forma encontrada de “zerar” os jogos do clube no Gauchão, já que o time de Luiz Felipe Scolari estava disputando várias competições: Copa do Brasil, Brasileiro, Supercopa e Conmebol. A temporada do Grêmio teria quase cem partidas em 1994.
Para aguentar os 270 minutos correspondentes das partidas, que iniciariam às 14, 16 e 18 horas, Felipão concentrou 42 jogadores, colocando em campo 34 deles, além de ceder a casamata a Zeca Rodrigues nas duas primeiras partidas, ficando à beira do gramado apenas no confronto final.
A torcida tinha a mesma impressão, tanto que protagonizou um dos menores públicos da história do Olímpico. Havia até promoção de ingressos: cadeiras e social a R$ 3,00. Estudante pagava R$ 1,50. No total, 758 pessoas sentaram no duro concreto do estádio, e apenas 247 eram pagantes. A renda, portanto, seria de irrisórios 690 reais.
Apesar das enormes dificuldades, o aproveitamento do Grêmio foi bom: um empate e duas vitórias. A primeira partida, às 14 horas, com sensação térmica de 48 ºC, foi diante do Aimoré. Juniores e juvenis formaram a equipe tricolor, com uniforme azul celeste. Destaque para o goleiro Murilo, que evitou a derrota ao defender um pênalti aos 34 minutos do segundo tempo.
O calor era tanto que o árbitro interrompeu a partida para hidratação dos atletas. Atualmente, consta até no regulamento de certas competições, mas, em 1994, isso sequer era cogitado, pois os jogos nunca eram disputados à época em horários de maior incidência de raios solares. A decisão de Willy Tissot arrancou aplausos dos torcedores.
A primeira vitória do Grêmio no dia viria na partida seguinte, disputada às 16 horas. Só que, mesmo com sete titulares, o Grêmio, usando o tradicional uniforme tricolor, só conseguiu vencer o Santa Cruz aos 47 minutos do segundo tempo. O único gol da partida foi marcado pelo atacante Fabinho. Além disso, o zagueiro Agnaldo Liz desperdiçou um pênalti para o Grêmio.
A maratona de futebol no Estádio Olímpico chegaria ao fim com o confronto das 18 horas, diante do Brasil de Pelotas. Émerson, jovem meia, havia entrado no segundo tempo diante do Santa Cruz, e seria titular no jogo final, por isso, precisou ser rápido no vestiário para trocar o uniforme tricolor que estava usando pelo branco.
“Lembro que as palestras pré-jogo foram muito rápidas. O clima também era de descontração, era fim de ano e pouco valiam as partidas. Aquela tarde foi uma experiência única”, recorda Emerson.
O Xavante chegou ao Olímpico às 15 horas, e se deparou com os vestiários todos ocupados. O jeito foi a delegação ir para a providencial sombra do setor das sociais. O tempo livre foi regado a picolés, pagos pelo técnico Ernesto Guedes.
Em campo, sem picolé e com o calor um pouco menos impiedoso, mais uma vitória do Grêmio, pelo placar mínimo. O gol saiu aos 22 minutos do segundo tempo. Jaques, de cabeça, foi o autor do tento. “Foi no improviso. Antes, a gente dava risada, brincava que conseguiria jogar as três partidas, mas não foi fácil. Três jogos, no mesmo estádio, da mesma equipe, no mesmo campeonato. Pelo que eu já vi sobre futebol, não conheço nenhum caso no mundo”, disse o atacante.
Na época em que vitória valia dois pontos, que o Plano Real começava a dura empreitada de remediar a economia nacional, e Felipão ainda era apenas um gaúcho de bigode e pouco conhecido no Brasil, o Grêmio, enfim, conseguiu completar 270 minutos em campo numa mesma tarde. Curiosidade com cara de façanha. Mais uma história que o Olímpico levou consigo, depois que cedeu seus jogos à Arena do Grêmio.
O fato colocou o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense no Guinness Book: foi o primeiro time a disputar três partidas oficiais em um mesmo dia. Jaques, Emerson e Ciro foram os que mais correram pelo tricolor gaúcho: atuaram em duas das três partidas.”
Em 1993, sem datas para realização da Recopa (duelo entre vencedores da Libertadores e da Supercopa do ano anterior), a Conmebol e a CBF concordaram que o duelo entre São Paulo e Cruzeiro, marcado para o dia 25 de setembro, poderia valer por duas competições.
Assim, o jogo disputado no Morumbi, reuniu o São Paulo campeão da Libertadores e o Cruzeiro campeão da Supercopa. A partida valia pelo Campeonato Brasileiro, mas o resultado foi considerado também como o jogo de ida da Recopa, após acordo entre as entidades. A partida terminou empatada sem gols.
Na volta, quatro dias depois, no Mineirão, o duelo valeu somente pelo curto torneio internacional. Novo placar de 0 a 0 e decisão nos pênaltis. Melhor para o São Paulo, que venceu por 4 a 2. Então no começo de carreira, Ronaldinho ainda não era Ronaldo Fenômeno e perdeu uma das cobranças, defendida por Zetti.
Ah, e acabou de acontecer com o Gre-Nal outro dia também pela Primeira Liga.
Ao som de Waldir Calmon e sua orquestra, com um verdadeiro hino do futebol brasileiro: “Na cadência do samba”, de Luiz Bandeira. A gravação é do ano de 1956. Ao ouvi-la, todos os torcedores com mais de 40 anos de idade embarcam num mundo de sonhos, gols e lances espetaculares.
Tempos em que o futebol abarrotava os estádios brasileiros de paixão, com públicos imensos.
Havia uma grande expectativa em junho de 1985: novamente a Seleção Brasileira faria um jogo decisivo contra o Paraguai para garantir sua vaga na Copa do Mundo do ano seguinte. Em tempos de inflação galopante, a previsão era de uma bilheteria de um bilhão de cruzeiros, moeda da época (equivalente a cerca de 162.400 dólares) para 150 mil pagantes no Maracanã lotado.
A renda ultrapassou 1,4 bilhão de cruzeiros, mas o Maracanã não lotou: compareceram “apenas” 139.923 torcedores.
Com o empate em 1 a 1, a Seleção garantiu vaga para o Mundial do México. O grande destaque da partida foi o paraguaio Romerito, autor de um golaço que silenciou o estádio.
Em 1992, o time do Vasco da Gama estava prestes a estrear na Copa São Paulo de juniores, a popular Copinha, diante da Portuguesa de Desportos.
A grande curiosidade, se pensarmos nos tempos atuais, tem a ver com o número de participantes. Naquela ocasião, por medida de economia, a Copinha teve 24 clubes disputando a competição, em vez dos 40 do ano anterior.
O mesmo Vasco acabaria campeão na decisão diante do São Paulo, vencendo nos pênaltis por 5 a 3, depois de empatar no tempo normal por 1 a 1. O artilheiro da Copinha seria Valdir, jovem atacante que depois marcaria seu nome no rol de artilheiros vascaínos.
A parte triste estava, para variar, na violência. Três dias antes da final, foi disputada a partida das semifinais entre São Paulo e Corinthians, no Estádio Nicolau Alayon.
Como o Estádio do Pacaembu estava indisponível, devido ao material usado em um show no fim de semana anterior, o clássico estava marcado para a Rua Javari, mas optou-se por transferi-lo para o Nicolau, para permitir uma presença maior de público.
O clima de guerra entre as torcidas provocou ataques com bombas e rojões, proibidos dentro do estádio. Os torcedores infiltravam-se por trás das arquibancadas, para jogar bombas sobre os adversários, por cima do muro. Uma delas, provavelmente atirada por torcedores do São Paulo, atingiu Rodrigo de Gásperi, um torcedor corintiano de treze anos.
Houve pânico entre boa parte dos doze mil torcedores e o jogo ficou interrompido por 25 minutos, mas acabaria retomado até o fim da prorrogação.
Rodrigo morreria quatro dias depois, no hospital, vítima de lesões cerebrais
Nesta edição recém-iniciada, a Copinha conta com 120 equipes na disputa.
Não era uma época das mais fáceis no Brasil, mas o futebol era uma espécie de alívio para a vida sofrida de milhões de torcedores.
O Maracanã, palco maior do futebol mundial, recebia Flamengo e Vasco para o eterno clássico, por ocasião da décima rodada do campeonato carioca de futebol daquele ano.
Horário tradicional das 21 horas e 15 minutos.
Uma data marcante para Marcelo, o então goleiro da equipe vascaína, jovem de 24 anos que prometia fechar o gol da Colina, já com a bagagem de ter jogado pelos times do Yuracan de Itajubá, São Paulo, Palmeiras, Ferroviário de Botucatu e Bonsucesso.
O resultado da partida teve efeito completamente oposto.
O goleiro acabou levando dois gols da intermediária, um deles num lance que parecia muito fácil, marcados por dois craques do Flamengo: os meio-campistas Carlinhos e Nelsinho.
No caminho do vestiário, Marcelo decidiu que nunca mais vestiria a camisa do Vasco da Gama ou de qualquer outro time. A partida se encerrou com o placar de 2 a 1 para o Rubro-Negro.
Ao final do primeiro tempo, o goleiro já havia se desentendido com o treinador Eli do Amparo, que o havia acusado de falhar no gol do empate do Flamengo, feito por Carlinhos. Os dois precisaram ser contidos pelos companheiros para não brigarem no vestiário.
Mas quem disse que só Marcelo sofria em campo? O próprio árbitro da partida chegou a desistir de arbitrar, alegando falta de condições emocionais (vide matéria abaixo), com a partida sendo paralisada e retomada.
Após o segundo gol, marcado por Nelsinho, craque da Gávea, quase do meio de campo no primeiro minuto do segundo tempo, Marcelo alegou não ter mais condições emocionais de prosseguir jogando. Depois de mais de 15 minutos de paralisação do jogo, com atletas dos dois times pedindo para que reconsiderasse a decisão, Marcelo se manteve irredutível.
O goleiro deixou o gramado aplaudido de pé por mais de 90 mil pessoas. Após esta partida, encerrou a carreira.
Em depoimento ao canal ESPN, disse Marcelo:
“Eu bati o tiro de meta a bola atravessou, o Célio deu uma cabeçada, o Nelsinho matou no peito, veio andando e chutou de longe. Eu fui abaixar pra pegar, a bola bateu no chão, bateu no meu braço e entrou. Ela nem chegou ao fundo da rede. Entrei no vestiário e quem estava me esperando era o goleiro Barbosa. Ela me disse: ‘garoto, levante a cabeça porque o que aconteceu comigo foi pior do que o aconteceu contigo’”.
À época gerou inúmeras crônicas publicadas por jornais e revistas, uma delas escrita por Dom Marcos Barbosa (monge e cronista que se tornaria imortal da Academia Brasileira de Letras em 1980), intitulada “Uma Rosa do Povo”, onde fazia uma comparação entre o goleiro e o senador americano Bob Kennedy, bastante aplaudido em um encontro nos EUA durante a campanha presidencial. Marcelo emoldurou esta crônica
No ano de 1970, ao se formar em Engenharia, Marcelo convidou Barbosa pessoalmente para prestigiar a entrega do diploma. O encontro acabou gerando inspiração ao imortal, que tempos depois escreveu outra crônica batizada como “Uma Crônica no Quadro”.
Depois do futebol, Marcelo aposentou-se como engenheiro, tendo trabalhado por 25 anos na IBM.
Deu no Estadão, na seção de classificados: o emblemático estádio do Canindé, a casa da Portuguesa de Desportos.
O leilão será realizado no próximo dia 18, às 14h, através da empresa Fidalgo Leilões.
O valor inicial é de R$ 74 milhões, sendo 30% no ato da compra e o restante em até 30 parcelas.
Até o momento, não houve o registro de lances.
Parte do terreno ocupado pelo Canindé (45%) pertence à Prefeitura de São Paulo.
O leilão nasceu do rol de dívidas trabalhistas acumuladas pela Portuguesa ao longo dos anos, muitas delas com ex-jogadores hoje representados pela advogada Gislaine Nunes.
As partes chegaram a fazer um acordo, mas desde a entrada de Ilídio Lico na presidência, no início de 2014, o clube parou de pagar as parcelas da dívida. Assim sendo, a área do estádio foi oferecida como garantia.
A ação original, de 2002, é de autoria do ex-jogador Tiago de Moraes Barcellos.
HISTÓRIA
O Deutsch Sportive, clube da colônia alemã em São Paulo, possuía um imóvel no bairro do Canindé, onde praticava os mais variados esportes. Mas, com a declaração de guerra do governo brasileiro aos países do Eixo, durante a Segunda Guerra Mundial, começou uma perseguição a clubes das colônias desses países, inclusive a alemã. O Deutsch resolve vender seu imóvel temendo perdê-lo confiscado.
Por sua vez, o São Paulo Futebol Clube, que resolvera o seu problema com estádio para jogos, adotando ao Estádio do Pacaembu, ainda não tinha um local para treinamento. Comprou então o Canindé em 29 de janeiro de 1944, por 740 contos de Réis. Ainda, pelo acordo deveria permitir que os membros do clube vendedor continuassem usando as instalações. O Deutsch Sportive mudou de nome para Guarani, abrasileirando-se e fugindo de perseguições. Mais tarde, seus sócios aderiram ao São Paulo.
Em 1956, a Portuguesa adquiriu o imóvel no bairro do Canindé, do seu proprietário, Wadih Sadi. Este, um sócio do São Paulo Futebol Clube, que comprara o imóvel do próprio clube um ano antes. No local havia apenas uma pequena infra-estrutura, que incluía: um campo para treinos, um pequeno salão, vestiários e outras depeNdências de treinamento. Para que pudessem ser realizadas partidas oficiais no local e atender às exigências da Federação Paulista de Futebol, foram realizadas várias reformas, levantados alambrados e uma arquibancada provisória de madeira. Estas primeiras arquibancadas acabaram conferindo ao estádio o apelido carinhoso de “Ilha da Madeira” — título que, além de ser alusivo à condição da edificação, também se refere à ilha portuguesa.
Mergulhada num caos sem fim desde dezembro de 2013, no conturbadíssimo episódio conhecido como “Flamenguesa”, a querida Portuguesa de Desportos parece sem condições de reagir a uma sucessão de golpes endógenos e exógenos. Não se pode confundir os maus atos de alguns homens com a belíssima e longe história do veterano clube, recheados de nomes imortais do futebol brasileiro, tais como Félix, Djalma Santos, Denner; Julinho Botelho, Enéas de Camargo, o Príncipe Ivair, Basílio, Dicá e muitos outros.
Para quem acha que o futebol do passado corria às mil maravilhas quando o assunto era arbitragem, federação e outrem, aí está o registro do Jornal do Brasil em 24/10/1981, há exatos 35 anos: uma crise no futebol carioca, cujos desdobramentos chegariam no ano seguinte ao escândalo conhecido como “Máfia da Loteria”, com resultados terríveis para o então mais valioso e procurado jogo de apostas do Brasil.
O Brasil em efervescência política por conta da luta por eleições diretas, esperadas há 20 anos.
No Maracanã, Flamengo e Santos.
O velho e inesquecível placar do então maior estádio do mundo, com suas lâmpadas, não se fazia de rogado e entrava na militância em prol da democracia no Brasil.
O placar terminou empatado em 2 a 2.
Três dias depois, a esperança de milhões de brasileiros era enterrada temporariamente, com a rejeição da PEC (proposta de emenda constitucional) Dante de Oliveira pela Câmara dos Deputados, que previa as eleições diretas.
No vídeo com os gols do jogo, duas curiosidades: a narração de Fernando Vanucci e a enorme propaganda dourada na camisa do Flamengo.
Dois jogos, duas goleadas, dois grandes momentos no Maracanã.
Em 1979, pelas quartas de final do Campeonato Brasileiro, o Palmeiras bateu o Flamengo por 4 a 1 no então maior estádio do mundo, lotadíssimo.
No ano seguinte, 1980, o troco rubro-negro: 6 a 2 sobre o Verdão. Vários jogadores atuaram nos dois jogos e viveram céus e infernos do futebol.
Em 1979, o Palmeiras chegaria até as semifinais da competição, sendo eliminado pelo Internacional de Porto Alegre. Já em 1980, o Flamengo conquistaria seu primeiro título brasileiro.
Quando o Maracanã era o Maracanã, mesmo com a bagunça que era o futebol brasileiro, o encontro semanal da bola acontecia de forma especial – mas não exclusiva – às cinco da tarde no maior estádio do mundo. E invariavelmente duas horas antes, acontecia a preliminar de juvenis, que depois foram transformados em juniores. Bem antes disso tudo, havia o campeonato de aspirantes, com jovens jogadores que ainda não eram aproveitados nos times principais.
Você conhecia os futuros craques do seu time – porque eles continuavam no clube, eram profissionalizados e jogavam algumas temporadas antes de serem negociados. E também engolia a seco as ferinhas dos times adversários. Todo mundo sabia tudo com um ou dois anos de antecedência, e aqueles jogadores iam formar a base dos times cariocas, salvo uma ou outra transação. Quando eram efetivados nos profissionais, poucos jogadores não estavam acostumados ao Maraca lotado – e quem jogou nele, joga em qualquer lugar. Anos depois, a euforia pela consagração de atletas ou a tristeza pelo fracasso de promessas tão aguardadas.
Um belo dia, inventaram que o gramado ficava desgastado demais com partidas preliminares. O homem aperfeiçoou o avião, o computador, criou o telefone móvel, a TV a cabo, as novas armas de guerra e acreditem: a única coisa que não evoluiu foi a grama dos estádios. Ela piorou. Então podia ter preliminar nos anos 1950, 1960, 1970, 1980, 1990 e… não deu mais.
Os jogos dos juniores passaram a ser disputados em horários alternativos, em dias alternativos e, apesar da farta informação que hoje temos por causa da internet, muito pouco noticiados. Resultado: há uma vida no mundo do futebol que pouquíssimos conhecem, porque é disputada nas sombras. No mínimo, gera a desconfiança de que tal arranjo é proposital: quanto menos forem vistos os jogadores da base, mais fácil é negociar direitos federativos sem que os torcedores exerçam poder de pressão.
Feito para que o Brasil tivesse um berço esplêndido da conquista de 1950, o Maracanã mal nasceu e já carregava consigo o peso do fracasso, tudo porque a politicagem fez crer que o Mundial já estava assegurado. Mas o abalo com o Mundial conquistado pelo valentes uruguaios teria data de validade.
Menos de quinze anos depois, o Brasil já seria bicampeão do mundo, os clássicos abarrotariam o futuro estádio Mário Filho e este seria uma referência mundial do esporte e dos eventos brasileiros. Do Santos, esquadrão maior da Terra, passando pelo Botafogo de Garrincha e muitos, pela Máquina Tricolor, pelo Flamengo dos anos 1980, o Vasco dos 1990, o Maraca enfrentou dramas e, aos poucos, foi sofrendo intervenções que o descaracterizaram, até se tornar o que é hoje: um elefante branco enrustido.
O Mundial de 2014 passou, as Olimpíadas de 2016 também. Há indícios de que ele passe a ser a casa do Flamengo, como se já não tivesse sido desde o começo, embora não exclusiva. O problema é quando se abre mão dos outros protagonistas cariocas, seja pelo desinteresse deles, seja pelos altos custos, seja por outros fatores.
O Vasco tem o belo e mitológico São Januário, que não comporta sua enorme torcida em momentos culminantes. O Botafogo está satisfeito com o Engenhão, embora tenha conseguido seus últimos grandes públicos na década no Maracanã, por ocasião da disputa da Libertadores. O Fluminense anuncia o terreno para a construção de um novo estádio, sem saber o que fará com o centenário estádio das Laranjeiras, mas também dizendo que “não abrirá mão do Mário Filho”. E o Flamengo, depois de trocentos projetos de arena própria, quer o Maracanã, mas não se furta a disputar jogos em outras praças, contando com seus torcedores país afora.
A redução do Mário Filho atendeu ao projeto concebido por João Havelange à frente da FIFA, e que se espalhou pelos continentes. Novos e modernos estádios, menos público, ingressos majorados e o povo que se vire na TV, porque a elite econômica mantém as arquibancadas. Num primeiro momento, era a viabilidade de lucro máximo do mundo corporativo da bola, com êxito na Europa de capitais próximas umas das outras, com enorme malha férrea e metroviária, mas no Brasil e especificamente no Rio não deu certo: quem sempre encheu o Maraca foi o povão dos trens e ônibus. Era uma programação popular, acessível, que se perdeu. Resumindo: tiraram o povo do estádio, causaram a uma geração inteira a indiferença ao Maracanã, raras vezes a população mais abonada comprou a causa dos jogos e agora ele é um bonecão do posto, descaracterizado, artificial, sem carisma. Curioso que apontem isso como a modernidade: provavelmente nenhum executivo da NFL teria essa mesma visão. Há os que falam que o futebol mudou e é um fato, mas não precisava ser para pior.
Sem a volta do povo que realmente ama o futebol e faz dele uma procissão permanente, o Maracanã está condenado ao ocaso e a ser lembrado apenas como algo da antiga – porque o Flamengo, mesmo com toda a sua força, não terá como preenchê-lo sozinho permanentemente, se for o caso. Com tantos campeonatos, transmissões, internet, notícias fake, redes sociais e concorrência diária, o futebol começa a ser desimportante pelo fastio. Há um excesso de jogos, competições, disputas e tudo isso vai minando o aspecto principal: o interesse do público alvo, o torcedor. Se hoje há uma enorme concorrência entre o futebol e outras formas de lazer, promover e popularizar o espetáculo é fundamental.
O Brasil só se tornou pentacampeão do mundo porque a paixão pelo futebol rompeu barreiras e fronteiras, tendo o Maracanã como seu teatro maior. E se a sua utilização e finalidade não forem revistas, atendendo aos critérios de propagação do esporte e integração social, provavelmente todos veremos um tiro no pé da nossa maior paixão. Mesmo desfigurado e trucidado pelos podres poderes, ele tem boas chances de cura. É preciso trazer o povo de volta, de todas as bandeiras e para ontem, antes que seja tarde e o Maracanã perca sua finalidade essencial, se já não for.
As pessoas estão cansadas das novelas da TV, e o futebol está se tornando uma delas.
Meu objetivo aqui era saudar o golaço fantástico marcado por Camilo, jogador do Botafogo, na tarde de ontem contra o Grêmio.
Cheguei a fazer um rascunho de texto para tal. Basicamente o seguinte:
Só o golaço redime, só o golaço liberta. Foi assim que um dia o futebol brasileiro chegou a ser o melhor do mundo: com golaços. E grandes passes. E dribles estonteantes.
O golaço marcado por Camilo na partida Botafogo x Grêmio é daqueles que não se esquece. Remete aos melhores momentos do nosso esporte predileto, quando eles pipocavam aos montes em todas as rodadas.
Ontem, depois do gol, as redes sociais repercutiram imediatamente a obra de arte. Gente de todas as torcidas. Um sinal claro de que, rivalidades à parte, o torcedor brasileiro tem verdadeira adoração pelo futebol bem jogado, bonito, elegante.
Camilo prestou um enorme serviço ao seu Botafogo e a todos os que, desde sempre, fazem do domingo o dia de suas procissões sagradas da bola.
E começaria a ajustá-lo, quando meu amigo Rafael me mandou há pouco pelo Whatsapp a notícia da morte precoce de Mazolinha, ídolo alvinegro campeão de 1989 e um dos protagonistas da decisão contra o Flamengo e do gol eterno marcado por Maurício.
Sobre aquela noite inesquecível, meu amigo Fagner Torres, jornalista e blogueiro ESPN, tricolor, disse o seguinte no Facebook: “Por conta da notícia, revi os melhores momentos daquela decisão. Valter Senra dando o apito final. Jogadores se jogando ao chão sem saber o que fazer. Torcida ensandecida. Valdir Espinosa chorando. Emil Pinheiro dizendo ao repórter que podia morrer a partir dali. Eu era muito moleque, mas tenho flashes de ter visto o jogo na TV, acho que na Manchete. E o empurrão do Maurício no Leonardo é a cereja do bolo. Coisas que só o futebol do Rio de Janeiro era capaz de nos proporcionar.”
E repliquei: “Cara, um dia eu farei um conto sobre tudo o que vi naquele dia. Eu estava do lado do estádio a uma hora da partida. Fui embora para economizar grana, achando que a decisão acabasse adiada para domingo. Vi o jogo em casa. Nos minutos finais da partida,eu e meus pais, todos tricolores, choramos. O tempo todo víamos pessoas chorando. No dia seguinte, de manhã, eu fui para a UERJ, ao chegar em Botafogo, no viaduto, vi uma das cenas de futebol mais bonitas de toda a minha vida: centenas de botafoguenses deitados no gramado, no asfalto (também do viaduto), pessoas chorando, gritando, rolando no chão às seis e quinze da manhã. Uma cena que só superei quando vi o gol de barriga na arquibancada. Eu tenho saudade demais daqueles anos, das pessoas e daquele futebol. Eu tenho saudades do Maracanã e de ir com amigos só para secar o Flamengo de zoação. É duro olhar para trás e ver que o melhor já passou. Aquele foi o dia do Botafogo, mas pode ter certeza: o Rio de Janeiro quase todo veio abaixo.”
Zeh Augusto Catalano, também cronista deste PANORAMA, comentou em seguida. O jornalista Expedito Paz, idem. O primeiro, vascaíno. O segundo, santista. Fagner e eu, tricolores. Rafael, que deu a notícia, rubro-negro.
Poderia falar muitas coisas a respeito, mas o simples fato da interação entre tantos torcedores de clubes diferentes mostra o que é a memória de futebol, daquele futebol que estava outro dia aí mesmo, coisa de trinta ou vinte e cinco anos atrás.
Bastou dizer “Mazolinha” e todo mundo já soube de quem se tratava.
Morreu jovem e de forma inesperada. Ficou pobre. Teve uma carreira errante. Mas, naquele dia da grande final entre Botafogo e Flamengo, com o time de General Severiano há 21 anos sem títulos, ele foi um dos protagonistas de um grande dia da história do Rio de Janeiro e do Brasil. Eu tinha 21 anos de idade, estou perto dos 50 e me lembro daquilo como se fosse ontem: Zico, substituído, descendo a escada do túnel do Maracanã, a jogada pela esquerda e um gol que emocionou milhões de torcedores país afora, do Botafogo e de vários times. Um deles está aqui escrevendo.
Naquela noite, eu olhei para o rival como um amigo querido, um fraterno irmão. E essa é a minha dor: onde está aquele amor, aquele humor, aquele Maracanã?
Ao Mazolinha, meu muito obrigado. E também ao Camilo, que fez um gol tão bonito ontem a ponto de me fazer voltar à infância, quando esperávamos a TV para vermos os grandes gols, dos nossos times e dos outros.
Mazolinha e Camilo. H
Há coisas que só acontecem ao Botafogo, tais como a estrela solitária que navega pelas glórias na Via Láctea.
Em 31 de março de 1964, o Jornal do Brasil noticiava que as equipes do America e do Bonsucesso estavam em ritmo europeu: o primeiro, às vésperas de embarcar para a então Tchecoslováquia, enquanto o segundo tinha 30 partidas amistosas para jogar em gramados da Europa, Oriente Médio e África.
Vejam a contradição dos números: por cada partida disputada, o Bonsuça levaria 500 dólares. Já o Mecão cogitava contratar o atacante Paulo Leão por 20 milhões de cruzeiros.
As coisas não andavam muito fáceis pelo Brasil e pelo mundo, de modo que o America só viajaria no dia 13 de abril. Madureira e Vitória também marcariam presença no exterior.
Era um jogo de bola, desses de garotos pelos quais ninguém dá nada ainda e, quando ninguém espera, oferece jogadores para ainda manter viva a chama do nosso futebol, tão combalido nos dias atuais.
Jogo num estádio do interior, transmitido pela rede pública, reprisado numa madrugada, João Gilberto tocando no CD player e a partida correndo enquanto eu também lia jornais.
Interrompi a leitura por instantes, fitei a tela e me deparei com um tiro de meta.
Não era uma jogada qualquer, era um tiro de meta.
No instante, o único ser vivo na tela focada a grande distância era o goleiro, um solitário goleiro com a responsabilidade de reconduzir o jogo carente de torcedores, repórteres e outros participantes – imagem que permaneceu por muitos segundos, dado um bloqueio momentâneo na transmissão.
Eis que a televisão me pareceu como um grande quadro, uma monumental aquarela, com aquele solitário menino estático a observar a bola e pensar em como iria chutá-la, para onde e com que força, tudo cercado pelo silêncio que só a voz de João é capaz de fazer ecoar.
Mais segundos, mais silêncio e a brutal solidão do goleiro na tela, como se ninguém mais estivesse no estádio a apreciar sua intenção, exceto eu.
Quando se pensa em futebol, é certo que muitos imaginam o grande gol, a jogada mirabolante, o passe apurado, o domínio com categoria, o drama do pênalti.
O tiro de meta, meus amigos, é um importante momento marginalizado: é difícil a sua consecução terminar em algum dos lances anteriormente descritos. Entretanto, não sei se pelas substâncias e solidão a mais ou alegria de menos, fiquei a contemplar aquela imagem congelada como um princípio de esperança – era um tiro de meta, amigos.
Naquele tiro, naquela cobrança, era possível identificar até um cotidiano de nossas vidas: depois do tiro de meta, após um interrupção, que o jogo recomeça.
Mais substâncias, tracei em minha confusa memória uma relação com minha própria vida, machucada por revezes que deveriam sair por uma imaginária linha de fundo, representados por uma bola.
A vida, amigos, ávida por si própria, voltaria após breve intervalo a ser vivida tão logo fosse trocada a bola por outra e a devida reposição pelo tiro de meta seria um recobrar de ânimo, um renascer das cinzas, um poente a abafar a tempestade – talvez seja este o significado da expressão popular “bola pra frente”, não advinda de um lançamento primoroso, mas sim do desprezado e esquecido tiro de meta.
Talvez daí seja a razão do futebol ser tão apaixonante e cobiçado por gente de todo o mundo: podemos encontrar relações diretas com nosso viver através da vida e morte do jogo.
A derrota pelo gol sofrido e a alegria pelo tento marcado; a beleza da jogada articulada e a besteira da bola perdida; a pressão que não derrota através do chute que vai pela linha de fundo e o recomeçar pelo especial tiro de meta, somente ele.
É preciso entender a força, o vigor e a esperança que um tiro de meta é capaz de mostrar.
É preciso notar a perspectiva que um tiro de meta pode trazer a um jogo de bola, tão preciso quanto um recomeçar na vida depois de uma derrota circunstancial.
Quando a imagem voltou, o goleiro continuou solitário; desferiu o chute e a bola foi para o meio de campo, com vários jovens a disputá-la numa outra imagem.
O estádio continuava vazio e é possível que eu fosse um dos poucos telespectadores.
Depois do revés, o jogo recomeçou tal qual cada vida faz e fará após um desânimo marcante porém passageiro, efêmero feito uma nova bola num canto de linhas de cal.
Geneton Moraes Neto, um dos maiores jornalistas brasileiros de todos os tempos, saiu de cena nesta segunda feira, aos 60 anos de idade. Muito antes do justo e razoável.
Foi um dos maiores desbravadores daquilo que se convencionou ser um dos temas mais “malditos” da história do futebol brasileiro: a Copa de 1950, com sua final trágica, destruindo carreiras e reputações para sempre por motivos exagerados.
Graças a Geneton, pudemos olhar para trás e tentar entender melhor o que foi a estupidez tão covarde em massacrar midiaticamente os jogadores da Seleção – vários morreram na miséria.
O documentário abaixo foi realizado com base no livro “Dossiê 50”.
Definitivamente, a herança maior que os Jogos do Rio 2016 podem deixar para o Brasil não tratam exatamente de equipamentos, recursos e outros bens de consumo, públicos ou não.
Está em algo que parecia perdido no tempo.
A fidalguia.
Houve quem reclamasse – com razão – das torcidas em esportes que não têm os costumes do nosso football, que transformamos em futebol para o muito bem e o muito mal.
Mas a maioria está em paz, reconhecendo que também há valor numa medalha de bronze. Até mesmo sem o desejado pódio. Em práticas desportivas muitas vezes ignoradas pelos clubes e pelo Estado Brasileiro, como não valorizar um sexto ou oitavo lugar? É estar entre os maiores do planeta.
Há um detalhe que ajuda a perceber tudo: reparem, por exemplo, nas emocionadas comemorações dos atletas brasileiros em diversos momentos, bem diferentes do nosso futebol. Quando finalmente fizemos gols nas Olimpíadas, o alívio veio através de chutes, palavrões e ira. Muita ira.
Para alguns, demonstração de garra e vontade. Para outros, a carência de senso esportivo que ainda vitimiza um povo marcado por bruscas transformações sociais, econômicas e afetivas.
E por falar em afeto, o show de luta contra a homofobia, tão visto nestes dias de disputa, é mais uma lição dos Jogos ao nosso esporte mais querido, falado e divulgado, marcado permanentemente por armários de ferro trancados com correntes, contrariando o óbvio ululante, como diria Nelson Rodrigues.
É claro que ninguém treina anos a fio para perder e que a História é sempre mais destacada pelos vencedores, mas a vida não pode ser apenas o “perdeu, sai” instantâneo que se vê, por exemplo, na quantidade de treinadores demitidos a cada edição do Brasileirão.
Se os Jogos Olímpicos do Rio não foram capazes de transformar a Cidade Maravilhosa numa terra de paz, o que sabíamos ser quase impossível, é inegável que sua presença nos serve como uma verdadeira universidade de respeito a outros valores, ao harmonioso viver entre divergências, à diversidade em todas as instâncias.
Viver o respeito. Entender que o esporte é mais do que um jogo. Que não ser campeão não é vergonha, mas pode ser símbolo de reconhecimento, dependendo do que tenha sido feito – e como.
Eis aí um mar de lições para jogadores, torcedores, profissionais do futebol e seus “abnegados” dirigentes pendurados em vultosos grupos políticos de ocasião.
O espírito olímpico tem muito a ensinar ao país das chuteiras. Basta querer entender.
Olhar as comemorações dos gols da Seleção de Futebol e compará-las com as de Pelé já seria um exercício de franca humildade.
Alguns jogadores que fizeram parte do elenco da Seleção Brasileira que disputou os Jogos de 1972: Nielsen, Terezo, Abel Braga, Osmar, Celso, Bolívar, Falcão, Rubens Galaxe, Pedrinho, Washington, Zé Carlos, Manoel, Roberto Dinamite e Dirceu
Antes de ter sido assassinado em 2010 para dar vez à uma arena goumetizada, o Maracanã já tinha penado com reformas sucessivas em nome da modernidade. A primeira, benéfica, elevou a altura do piso da geral entre 1984 e 1985. A segunda, por conta do trágico acidente na final do campeonato brasileiro de 1992.
Depois, tome 2000, 2005 e, finalmente em 2010, o falecimento em nome da Copa do Mundo de 2014, cujo final para nós é desnecessário de lembrança.
As outras mexeram com várias estruturas, mas nada se comparou a esta última, que não se limitou a uma obra devastadora, mas também gerou danos sociais que parecem irreversíveis.
O povão que ocupou o velho Mário Filho por 60 anos foi varrido de vez. De acordo com uma “tendência mundial”, o monumental estádio foi destruído, dando vez a um substituto menor, completamente desprovido de alma e carisma, incapaz de tirar seu novo público-alvo dos Village Malls da vida, com os torcedores mais humildes – o grosso histórico do grande público médio presente antes – definitivamente alijados para bares, biroscas perto de casa ou a popular gatonet.
Resultado? Com exceção da Copa do Mundo, a nova arena jamais teve sua lotação esgotada, perdeu o posto de palco dos clássicos abarrotados, tornou-se um elefante branco na prática e agora depende de providências da prefeitura do Rio para sua reinvenção. Ah, mas é uma tendência mundial! Com o nosso país do tamanho de um continente, havia outras alternativas.
Estamos em 2016. Metade do tempo da década atual teve o Maracanã fechado. Crianças já cresceram sem o costume de ir ao estádio – e, talvez por isso também, muitas usam tanto as camisas de Barcelona, Real Madrid, PSG e outras grandes equipes europeias. Adultos perderam o costume de frequentar o futebol no campo. Para muitos torcedores dos grandes clubes cariocas, a referência de futebol passou a ser uma distância: a outra cidade, o outro Estado.
Silenciosamente, vivemos fora dos gramados a mesma crise dentro dele: basta ver quantas vezes nos últimos anos o Rio teve redução dos participantes na primeira divisão do futebol brasileiro.
Segundo especialistas, é uma tendência mundial.
Resta saber então porque os estádios alemães, ingleses, franceses, portugueses e até estadunidenses têm casa cheia enquanto os nossos, salvo raras exceções, estão à míngua.
A se manter o cenário atual, no futuro nenhum estádio nosso precisará de arquibancadas, porque não teremos público presente e todos se esbaldarão em frente à TV ou computador para ver mais um capítulo da eterna novela da bola, sem final feliz.
Hoje é mais um domingo sem Maracanã. Os torcedores do mundo corporativo desdenham da ausência: “Daqui a pouco ele volta”. A realidade parece outra: distância, indiferença e a perda de nossa principal casa do povo carioca, trocada pela força da grana que ergue e destrói coisas belas, incapaz de é para entender o que significa a alma, o espírito do futebol no Rio de Janeiro e no Brasil.
Fim de jogo ontem, Fluminense 2 x 0 Cruzeiro em Edson Passos, na Baixada Fluminense.
A repórter aborda o goleiro Fábio, do Cruzeiro, que acabava de completar 700 jogos pelo time mineiro justamente na derrota para o Flu.
A pergunta foi um pedido de explicações sobre a péssima atuação de seu time.
Fábio não soube explicar. Falou por dois minutos sem dizer nada de muito coerente.
Nem uma única letra sobre deus (assim mesmo, com letra minúscula).
Quando das vitórias, Fabio é um desses jogadores que dizem que foi tudo para glória de Jesus. “Jesus nos abençoou e ganhamos a partida”. Curiosamente, na hora das derrotas, Jesus é esquecido. Será que o time do Cruzeiro anda pecando? Será que não é “em nome de Jesus” que o time adversário tenha jogado infinitamente melhor que seu time e vencido, sem senões, a partida? Deus só vence?
O que acontece, então, quando dois times “ungidos pela fé” se encontram? Só o que vence glorifica de joelhos? E se empatar?
Aqui, no Panorama, temos representantes de todas as religiões. E da falta delas também. Umbandistas, evangélicos, ateus. Eu sou católico. E digo, com orgulho, que não faço orações pedindo vitórias, gols ou sucesso em uma disputa de pênaltis. Tenho vergonha de pedir pra Deus que uma bola entre quando tem gente passando fome pertinho de onde vejo confortavelmente um jogo de futebol. E mesmo que eu rezasse, do outro lado do campo, teríamos um bando de gente rezando pro outro lado. Isso não significa que eu desmereça quem reze. De forma alguma. Me irrita é ver jogador de futebol ganhar milhares de reais na realidade em que vivemos e só lembrar d’Ele nas horas boas.
Imaginem o pobre Deus, no conforto do seu céu, olimpo ou seja lá como a sua religião chame a Sua casa, num dia de Fla-Flu. Milhões de cidadãos acendendo velas, fazendo despachos, orações, oferendas, pagando dízimo, fazendo promessas.
Aí um dos lados vence e os vencedores louvam a Deus – como se Ele fosse o autor dos gols ou das pixotadas que conduziram os números do placar – e os perdedores… O ignoram!
Fábio, por que você não glorificou a Deus na derrota? Será que, no futebol, só a vitória é de Jesus?
Parece piada, mas não é. Quando só menciona a religião nas vitórias, o goleiro (que é o exemplo da vez, mas poderia ser qualquer jogador, inclusive algum do Fluminense ou de qualquer time do futebol brasileiro) deprecia a própria profissão e o esforço de todos os profissionais que o cercam e que trabalham para que o time ganhe. Deus pode influência nos resultados e mover montanhas, mas sem treino, dedicação, vontade firme e – suponho seja o caso – confiança e obediência ao técnico e líder, a bola não vai entrar e o time não vai ganhar.
Deus ajuda quem cedo madruga. E treina, e se dedica, e luta. O time pode até perder, mas, se for dedicado, o torcedor dará apoio.
Parece que o Fluminense rezou muito neste domingo. Daí graças!
Enfim, o grande e esperado retorno do futebol aos palcos da Cidade Maravilhosa.
Sofrimento 1 – O eterno desrespeito
Mas peraí? Sábado à tarde? Bom, meu primeiro sofrimento já começa por aí. A insensibilidade de dirigentes, CBF e TV de organizar um clássico dessa magnitude no sábado. Nada mais tradicional do que uma cidade inteira acordando em clima de clássico naquele domingão, e a bola rolando após aquele belo almoço em família. Bom, deixa isso pra lá, pois é um papo que dá para a gente continuar a eternidade discutindo…Futebol, CBF, Clubes, TV, horários, blá, blá, blá.
Vamos ao segundo sofrimento? Desde que anunciaram a Arena Botafogo na Portuguesa, eu fiquei bem animado. Me considero sócio-morador (risos): minha casa fica a 20 passos do clube/estádio, fui criado lá dentro e tudo o que sei na prática sobre futebol desenvolvi na Lusa. Minha habilidade razoável me rendeu algumas medalhas como peladeiro-criança.
Só que o destino está sempre nos pregando peças. Desde o ido ano de 2005, com a finada Arena Petrobrás, os grandes clubes não jogavam aqui. Mas era hora de retomar o protagonismo do futebol carioca. E lá vem a inauguração da nova Arena e o primeiro jogo vai ser… Botafogo x Flamengo. Putz, euforia e tristeza ao mesmo tempo. Como flamenguista, sabia que seria impossível comprar os 1.500 ingressos disponibilizados. E minha teoria foi confirmada quando a diretoria do clube colocou-os à venda apenas a sócios. Ué, mas não vai ter torcida mista? É com muita tristeza que digo que nós, brasileiros, ainda não chegamos a esse nível de educação. E a polícia, ciente disso, corrobora o atestado de incompetência do povo brasileiro.
Sofrimento 2 – O Infiltrado
Bom. E agora, o que fazer?
Em um mix de saudades do Flamengo e euforia pelo jogo na porta de casa. E, apesar de minha sogra quase arrancar os cabelos de medo, respirei fundo e decidi: vou comprar ingresso na torcida do Botafogo! Para minimizar o risco, me infiltrei no covil do “inimigo” pela parte social do clube. Mas vou te dizer, R$ 100,00 pelo ingresso nesse momento de crise do país e para um esporte considerado popular…êta mundo cão!
Ao entrar no clube, uma emoção única: meu estádio de infância todo bonitinho e arrumadinho. Passada a primeira emoção, a missão era, óbvio, encontrar algum amigo flamenguista também infiltrado. E não tardou muito para isso. Mas como “copiar” o comportamento da torcida adversária sem deixar a emoção pelo Flamengo transparecer? Missão difícil, mas não impossível. Nada que uma dose de sangue frio e muita tremedeira interna não resolvesse. O fato é que, se eu e meu amigo conseguimos passar pelos 90 minutos ileso, mesmo levantando os braços timidamente nos gols do Botafogo, alguns outros flamenguistas não tiveram tanto êxito. Antes de rolar a bola, um foi descoberto e conduzido pela segurança não sei para onde, ao coro hostil de Via… Filho da P… e uma sonora vaia. No primeiro gol do Fla, outro foi visto comemorando. Emoção e diversão garantidas.
PS: Um elogio sincero à diretoria do Botafogo. A organização foi quase impecável, apesar do “migué” em dizer um dia antes do jogo que os ingressos estavam esgotados. A Arena tem o espaço de 17 mil lugares e 15 mil foram liberados para o clássico, sendo que a torcida do Flamengo ficou com 10%. Com 11.600 presentes, foi fácil perceber vários clarões na torcida do Botafogo.
Torcedor botafoguense, pode chegar e veja se lota a Arena, pô! O futebol carioca merece e seu time precisa do seu apoio.
Aí vai um vídeo interessante sobre o Estádio, apesar do louco dizendo que a Ilha do Governador é distante, mais afastado do Rio de Janeiro. De onde esse cara saiu? De Marte? Só podia ser botafoguense mesmo. Brincadeira.
Vamos falar do jogo? Na hora da bola rolar, vi o técnico da seleção Tite e seu auxiliar Edu Gaspar nas cabines e a pergunta foi “O que esse louco fazia aqui?”. Ele mesmo disse em entrevista, que não veio necessariamente assistir ao jogo e que também tem conversado com os técnicos dos clubes, fazendo uma espécie de troca de experiências. Bom, se foi para isso, ok. Porque em campo, lamentavelmente é nítida a carência de nível técnico no Brasil de hoje. O gramado ainda está ralo e, por isso, duro e fazendo a bola quicar de forma irregular – dos seis gols do jogo, pelo menos quatro foram em falhas individuais bisonhas. O nível técnico foi sofrível, com destaque apenas para o Camilo pela técnica e os estrangeiros Salgueiro e Canales mais, do lado do Fla, William Arão pela movimentação e Mancuello pela visão de jogo (parece uma tartaruga esse menino!). E foi só.
O primeiro tempo foi horroroso e a segunda parte da pelada só foi mais agradável pelos gols e pela alegria da torcida botafoguense com o empate. Teve até gente chorando de emoção, bem ao meu lado.
O Flamengo batia o Botafogo facilmente, por conta dos erros individuais em excesso da equipe alvinegra. Mas o tio Zé “Ricardiola” quando faz um gol bota os onze atrás. Imagine quando está com dois gols à frente no placar. Colocou quatro cabeças de área e o aguerrido time do Botafogo conseguiu o empate. E tem gente que ainda chamava papai Joel Santana de retranqueiro. Sabe de nada, inocente…
É isso aí, pessoal. Ricardo Gomes tentando fazer milagre e tirar o Botafogo do sufoco, acho que os estrangeiros podem ajudar bastante e o Flamengo continuando a namorar o G4, mas olhando com frieza, este amor está mais para Platônico ou Crush, como chama a galera da nova geração. (Vejam esse vídeo, achei muito engraçado!)
Ah, esqueci. A saída foi muito tranquila e com mais 20 passos estava de volta ao espírito rubro-negro, dentro do meu sacrossanto lar.
Em 13 de julho de 1966, o Jornal do Brasil noticiava a preocupação dos húngaros com a possível evolução da Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Inglaterra, depois de estrear na véspera com uma vitória sobre a Bulgária por 2 a 0, com gols de Pelé e Garrincha.
Tudo seria diferente das preocupações húngaras dois dias depois: Hungria 3 x 1 Brasil e o encaminhamento para aquela que, desde então, foi a pior participação do escrete canarinho numa Copa, com a eliminação na primeira fase da competição. Eram claros os reflexos de tudo o que acontecia no país em termos políticos, com claros reflexos em nosso futebol.
Em tempos em que o jornalismo anda rareando, era um verdadeiro luxo a escalação dos correspondentes internacionais do JB na Inglaterra: José Inácio Werneck, João Máximo, Oldemário Touguinhó e grande elenco. Outras palavras.
A lista traz algumas curiosidades. Por exemplo, a recente supremacia ibérica na competição. Os brilhos efêmeros da Dinarmarca em 1992 (que entrou como convidada no lugar da Iugoslávia, envolvida em terrível guerra) e da Grécia em 2004.
De todas as seleções campeãs, as que se destacaram nas Copas do Mundo disputadas imediatamente a seguir foram a Itália vice-campeã em 1970, a Alemanha campeã em 1974 e vice-campeã em 1982, mais a Espanha campeã em 2010.
Tivesse começado dez anos antes, talvez a Eurocopa testemunhasse o vigor da belíssima Hungria dos anos 1950. Não deu. Uma pena.
O futebol produz momentos inesquecíveis. Qualquer apaixonado por futebol guarda em sua memória e coração partidas épicas, atuações brilhantes. A virada da Mercosul em 2000 para os vascaínos, por exemplo. Um segundo tempo perfeito.
Ou lances únicos. Aquele instante eterno.
Gol do Cocada em 1988.
Para quem não se lembra, foi uma partida modorrenta, cujo empate persistente daria o título carioca ao Vasco. O chute do Cocada a pôs na história. A comemoração, a expulsão, a posterior pancadaria entre Romário e Renato. O jogo se resume àquele lance e tudo mais decorreu daquele fato.
Os eternos sete a um destoam das duas descrições anteriores. São talvez os oito minutos (cinco minutos entre a marcação dos quatro gols) mais inexplicáveis da história do futebol. Um time recheado de estrelas (Júlio César; Maicon, David Luiz, Dante e Marcelo; Luiz Gustavo, Fernandinho, Bernard, Hulk e Oscar; Fred.) comandado por Felipão, o último técnico brasileiro a levantar o mundial, que desmoronou como um castelo de cartas.
Não houve uma única tentativa de esfriar os alemães, mudar o ritmo do jogo, nada. Por três inacreditáveis vezes a bola la foi posta no centro do campo e o Brasil deu a saída para levar outro gol. Fosse boxe, o técnico teria jogado a toalha e interrompido ali o vexame.
Dia 19 de junho passado, o México levou de 7 a 0 do Chile, na semifinal da Copa América, jogando “em casa”. A partida foi disputada nos Estados Unidos, num estádio apinhado de mexicanos que acreditavam piamente numa final contra os favoritos argentinos – os únicos a não passar vexame, como Brasil e Uruguai, eliminados na primeira fase por respectivamente Peru e Venezuela. O México tomou cinco gols no segundo tempo, mas eles não foram frutos de uma hecatombe instantânea e coletiva.
Costumo assistir os jogos na sala de casa. Quando o Brasil tomou o segundo gol, fui até a copa pegar água. Enchi o copo, parei na frente da TV. Gol. Sentei-me e fiquei ali, pasmo, vendo aquilo.
Lembro mais dos rostos dos jogadores e técnico do que dos lances em si. Fred, David Luiz, Dante. Julio Cesar. Tão pasmos quanto eu. Homens com vasta experiência internacional. Alguns campeões do mundo por clubes e por seus países.
Não se pode dizer que a seleção era mal-treinada. Ela não era treinada. Numa época de poucos talentos, o comando de Felipão era uma mistura de Família Scolari com um “pra frente Brasil” que já havia dado sinais claros de instabilidade na trave de Pinilla, no último minuto de uma prorrogação contra o Chile. A sorte mais uma vez havia sorrido para nós. Os dois primeiros jogos eliminatórios foram contra Chile e Colômbia, fregueses contumazes. Ainda assim, o Chile só ficou pra trás nos pênaltis. Então, na base da “fé”, chegamos à semifinal, a dois jogos do sonho de manter a Copa do Mundo por aqui.
Muitos anos ainda passarão até a redenção do futebol brasileiro. Até lá, convém lembrar bem daqueles minutos inacreditáveis.
Era uma vez um país tímido mas alegre, humilde e pobre, sedento de progresso, com seus menininhos negros e descalços,chutando bolas em campinhos de terra batida ou na rua.
O país que queria ter sido grande em 1950, mas que acabou chorando a ponto de ter vários suicidas no Maracanã e em toda a velha Guanabara. Que teria grandes traumas cotidianos a seguir.
E que também pagava merrecas aos seus jogadores de futebol, mesmo os que defendiam a Seleção Brasileira (com camisas improvisadas).
Há 58 anos, um país desafiava todas as definições e tomava o futebol mundial como protagonista. Daqui saiu desacreditado. Olhando para trás, como seria possível não confiar em Zito, Garrincha, Didi, Nílton Santos, Gilmar? Os tempos explicam.
O que dizer do menino Pelé em lágrimas de adolescente?
Havia um país pronto para dar um salto equivalente de meio século em três ou quatro anos. A Bossa Nova, o Cinema Novo, o grande teatro, o Concretismo, a industrialização, a construção de Brasília. Havia o Brasil pronto para se libertar das amarras, levantar do berço esplêndido e caminhar altivo pelo pátio das grandes nações.
Tudo parecia que ia dar certo. Muita coisa ia ser feita. Era a hora de decolar. No meio do caminho, a ganância dos homens pôs o barco a pique, mas ele ainda não afundou.
Poucas vezes em toda a história os brasileiros foram tão felizes quanto em 29 de junho de 1958.
Choraram, gritaram, tomaram as ruas, trocaram abraços e beijos, tudo por conta da lira do delírio contada nos aparelhos de rádio por todo o país.
Ali, eles finalmente se viram como brasileiros de verdade. Por um dia, senhores do mundo.
Decano do jornalismo esportivo do Rio de Janeiro, Alberto Léo saiu de cena nesta quinta-feira fria e triste. Esperou até o último momento pelo seu Fluminense, mas as coisas não deram certo diante do Santos.
Há 16 anos, pertencia ao time da antiga TVE e, posteriormente, EBC – TV Brasil.
Pioneiro dos esportes da Rede Bandeirantes, começou em 1980, onde esteve ao lado de outras feras como Márcio Guedes, Paulo Stein e José Roberto Tedesco. Mais tarde, boa parte dessa equipe foi para a antiga TV Manchete, reforçada simplesmente por João Saldanha.
Na TVE, trabalhou como comentarista do programa Ataque, mesa-redonda exibida no domingo à noite. Depois, foi editor-chefe do programa, que hoje se chama NoMundo da Bola. Há três anos, havia assumido a Gerência de Esportes da EBC no Rio de Janeiro, sendo responsável pela programação esportiva da TV Brasil e da Rádio Nacional.
Não bastasse a carreira admirável de Alberto Léo, era uma pessoa extremamente afável, educada, elegante. Acompanhei-o como torcedor por décadas e nunca vi uma rusga sua com quem quer que fosse. Não apenas um profissional da antiga, qualificado, pausado, mas também um ser humano admirável. Gente que a gente precisa ver mais nas ruas, nos transportes públicos, nas repartições, nas mesas e rodas, no Fluminense também.
Em 2007, tive a oportunidade de entrevistá-lo na TVE para um livro, pronto, inédito, que um dia será publicado. Foram horas muito agradáveis e de simpatia, com muitas histórias legais. Alberto Léo era um tricolor 100% fidalgo na acepção da palavra, desses que andam faltando por aí.
Gostaria de falar muito mais, mas desculpem-me por favor a brevidade.
O tempo vai passado e as pessoas da minha geração vão perdendo as peças dos seus quebra-cabeças da infância. Alberto Léo era uma referência fundamental.
Penso no título “O Fluminense que eu vivi” e a tristeza é inevitável.
Em certas horas, o silêncio fala mais alto do que tudo.
A última terça-feira era para ser um dia comum, não marcasse a data na qual, há 30 anos, este colunista foi apresentado à palavra derrota.
Apesar disso, guardo na memória o 21 de junho de 1986 com imenso carinho. Deve se considerar felizardo aquele que descobre as perdas da existência com o futebol, pois, convenhamos, não há forma mais leve de se conhecer o fracasso. A vida é dura e pode nos reservar formas de ausência piores que aquela que vem pelo descaminho da bola. Ela, a redonda, ao contrário da vida, gira ao ponto de quase sempre se colocar diante de nós em outras ocasiões, louca para ser chutada ou agarrada.
Foi bonito aquele 21 de junho. E são tantas lembranças, que como eu haveria de esquecer? Era um menino vestido quase a caráter, com a camisa amarela que tinha a Jules Rimet na frente e o número 10 às costas (daí o ‘quase’). Completava o uniforme, um shortinho azul, um par de meiões brancos e um surrado Ki-Chute amarrado na canela.
As ruas naquele 21 de junho pulsaram, repletas de enfeites. A família esteve reunida em torno da churrasqueira, atenta à voz que vinha da tela. Era do Osmar Santos.
Naquele dia tinha o Araken, o Show-Man. O tema, que eu adorava, era “Mexe coração”. Na hora do gol, a TV tocava um tal de “ginga pra lá, ginga pra cá!”, que naquele 21 de junho, me lembro de ter cantado junto.
Meu time tinha muitos craques. Mas apenas mais tarde é que eu vim a escolher um deles como herói, graças ao seu braço direito erguido e seu punho cerrado!
E como não podia deixar de ser, coube à minha mãe o afeto recebido após aquela primeira derrota.
Por fim, a última lembrança. Ainda chorando, avistei, na porta de meu apartamento, um inseto, que após o susto inicial, descobri se chamar Esperança, devido a sua cor verde.
Eram tempos incríveis! Lamento que nada daquilo exista mais.
Ou melhor, a Esperança ainda não morreu.
Imagem: David Canon/Allsport
O jornalista Fagner Torres responde pelo blog Laranjeiras ESPN FC, além de colaborar com o blog Panorama Tricolor e este PANORAMA DO FUTEBOL
O cronista Paulo Rocha, decano de várias redações e ex-editor do Jornal dos Sports, atualmente titular dos sábados no site Panorama Tricolor, lança em julho o livro “Fla, Flu e Bangu: as cores de cada paixão”, de sua coautoria ao lado dos também jornalistas Carlos Molinari e Sergio Du Bocage, onde cada um dos escritores aborda seu time de coração.
O Jornalismo Esportivo tem uma característica que o diferencia de todos os demais. Ele fala de paixão, principalmente quando trata de futebol. Mais que isso: quem o pratica é um apaixonado pelo que faz. E como falar de futebol, sem ter um clube de preferência para torcer? Misture tudo isso e veja o quanto é difícil, para um jornalista esportivo, ser imparcial e transmitir esse sentimento para leitores, ouvintes e telespectadores. Mas eles conseguem.
“Fla, Flu e Bangu – as cores de uma paixão” é uma chance que a Editora Novaterra oferece aos jornalistas Sergio du Bocage, Paulo Rocha e Carlos Molinari de colocarem para fora essa paixão. E o que vemos são crônicas informativas, curiosas, pessoais e que certamente vão mexer com o coração dos milhões de torcedores desses três clubes.
Você está convidado a participar desse autêntico triangular. Temos certeza de que cada capítulo será um jogo inesquecível para você. Boa leitura.
Formato: 14 x 21 cm – Brochura
Número de páginas: a definir
ISBN 978-85-61893-50-7
Fabíola ama futebol. Um amor herdado de seu pai tricolor, que a levava aos estádios já com apenas cinco anos de idade. Calhou de não seguir o time paterno e, apesar do enorme carinho pelo Fluminense, acompanha e investe sua torcida no Atlético Mineiro. É torcedora no âmago da palavra. Fica nervosa, chora, ri e comemora. Se emociona.
Morou e viajou por diversas cidades. Em cada uma, fez questão de conhecer e vivenciar seus estádios. Maracanã, Mineirão, Independência, Rei Pelé, Castelão, Santiago Bernabéu, Vicente Calderón, Camp Nou e foi até ao Stade de Marrakech acompanhar o seu Galo. Justamente no Mané Garrincha, em Brasília, ela presenciou o pior do futebol. Justamente na cidade onde mora e viveu a maior parte da vida, na cidade que ela escolheu para criar seus filhos.
Sua filha mais velha, já com dezesseis anos, escolheu seguir o avô e torcer pelo Fluminense. O mais novo, com cinco anos, ainda não despertou para o futebol e, apesar de jogar bola na escola, diz que não tem time, que não gosta muito. Os dois cresceram acompanhando a paixão da mãe e Fabíola quis trazê-los um pouco mais para esse universo. Uma chance para isso apareceu quando foi anunciado o confronto entre Flamengo e Palmeiras na cidade.
De ingressos comprados, os três partiram ainda cedo para o Mané Garrincha, para evitar qualquer problema. A fila já estava grande, porém não se encontrava policiais ou funcionários do estádio para dar qualquer informação. Logo surgiram filas entre filas e muitos “fura-filas”. Mas ainda assim, a entrada foi relativamente tranquila, afinal o jogo só começaria em duas horas. Ah sim, finalmente apareceram policiais e funcionários. Era o momento da revista.
A alegria de estar com os filhos dentro do estádio era tudo para Fabíola. Nem o perrengue na entrada ou água, pipoca e batatinhas superfaturadas estragariam aquele momento. A área escolhida foi a mais cara, justamente para evitar possíveis confusões.
O jogo foi bem disputado e o empate em um a um chegava ao intervalo. Foi então que o programa família se tornou pesadelo. Exatamente no lugar onde estavam, começaram a aparecer homens sem camisa e muito vermelhos, machucados. Esse pessoal passou ao lado deles, na arquibancada. Estavam na saída da passagem que levava para o anel onde ficam lanchonete e banheiros. Ponto onde todas as áreas se cruzam. Nenhum segurança, nenhum policial, apenas funcionários e torcedores. De repente, a gritaria.
Ditos representantes da Mancha Verde foram para cima dos flamenguistas em um local cheio de crianças e família comprando água e comida ou indo ao banheiro. Foi um Deus nos acuda com gente pulando para dentro da lanchonete e se escondendo nos banheiros. Lixeiras e extintores de incêndio viraram armas. Entre várias pessoas, Fabíola e seus filhos se tornaram reféns da situação, presos na arquibancada. Pela proximidade da confusão, sequer tinham para onde fugir.
Alheio à confusão, o jogo foi reiniciado enquanto as pessoas gritavam por polícia. Até que tudo o que se ouvia era o barulho das bombas de efeito moral. O spray de pimenta utilizado rapidamente chegou às arquibancadas e, pouco depois, também ao campo. Fabíola cobriu os rostos dos filhos com uma blusa de frio e tentou se proteger com a própria camisa. Em volta, cada um tentava se proteger de alguma forma. Ainda assim, todos sofreram. Tosse, olhos lacrimejando, dificuldade em respirar e dor de cabeça.
Sem ter o que fazer, Fabíola abraçou seus filhos e deu sua proteção de mãe até que tudo se acalmasse. Pela primeira vez sentiu medo em um estádio de futebol.
Quando finalmente, acabou o corre-corre e a polícia liberou a área da lanchonete, Fabíola decidiu levar seus filhos embora. Medo da situação se repetir, medo que um gol reacendesse a briga. Medo.
Deixando o Mané Garrincha, Fabíola se sentiu atravessando uma zona de guerra. Gol do Palmeiras? Colocou o menino de cinco anos no ombro e apertou o passo antes que outra confusão acontecesse. O sentimento ruim superou o medo. Agora ela sentia terror.
Já dentro do carro, voltando para casa, uma dose extra de tristeza. Seu filho pequeno, justamente quem ela tanto queria que tomasse gosto por futebol, pediu que ela nunca mais o levasse a um estádio. Pediu que nunca o fizesse assistir a um jogo de futebol.
Fabíola sabe que pode contornar essa situação. Não pode deixar o filho acreditar que o futebol se resume a selvageria. Quer passar a ele todo o sentimento que recebeu do pai pelo esporte. Mas ela tem consciência de que será uma luta difícil.
Ela ainda quer acreditar. O país do futebol não pode ser o país da impunidade. O Brasil sediou uma Copa e, em menos de dois meses, o Mané Garrincha receberá jogos pelas Olimpíadas, receberá a Seleção Brasileira. Vai ser assim também? Com ingressos para três jogos, ainda não sabe se correrá o risco de voltar lá.
Bandidos fantasiados de torcedores e polícia com total despreparo colocam em risco o futebol brasileiro. É assim há anos e é difícil de enxergar o fim disso. Só em Brasília, Capital Federal, é o terceiro caso recente.
O problema são as organizadas? O problema é a falta de preparo da polícia? É a falta de condições para o evento? A cada acontecimento como o do Mané Garrincha, além dos danos (pessoas e estruturas), o futebol morre um pouco.
Pensem como foi dolorido para a Fabíola passar por essa situação com seus filhos. Pensem como foi ouvir do seu mais novo que não o faça ver futebol novamente.
Neste domingo, o Palmeiras venceu o Flamengo por 2 a 1 no Estádio Nacional de Brasília, pelo Brasileirão 2016.
Mas a grande derrota aconteceu fora do gramado: por conta de uma confusão envolvendo torcedores do Palmeiras, a polícia local utilizou gás de pimenta e este se espalhou.
Numa das cenas mais lamentáveis, um pai teve que carregar rapidamente no colo seu filho cadeirante, também intoxicado.
A partida demorou mais de dez minutos além do intervalo normal entre os tempos, com muitas pessoas passando mal, inclusive jogadores.
Independentemente do que deveria ser feito ou não, o fato é que a cada dia que passa é mais dificil frequentar um estádio de futebol no Brasil, o que parece agradar quem vê na transmissão dos jogos um mero exercício de lucro.
Num programa especial da antiga TV Manchete, resenhando o ano de 1987 no futebol brasileiro, personagens como Nabi Abi Chedid, Márcio Braga, Rubens Hoffmeister, Octávio Pinto Guimarães em cenas curiosas, mais os comentários imperdíveis de João Saldanha e a apresentação de Paulo Stein.
Em destaque, um clássico dos tempos da homofobia e da porrada:
Nesta sexta-feira (03/06), a prorrogação do CINEFOOT 2016 traz dois filmes importantes no sentido de se debater a estrutura do futebol brasileiro dentro e forma de campo: “Os boias-frias do futebol”, de Luciano Pérez Fernández, e “Geraldinos”, de Pedro Asbeg e Renato Martins.
A exibição será no Centro Cultural da Justiça Federal, com entrada franca, sujeita à lotação da sala, às 19 horas.
Avenida Rio Branco, 241 – Centro – Rio de Janeiro – em frente ao Amarelinho da Cinelândia.
OS BOIAS-FRIAS DO FUTEBOL
Atrasos de salários; jogadores que não recebem, outros que pagam para jogar; promessas não cumpridas; jornadas duplas ou triplas para complementar a renda familiar; falta de estrutura; contratos curtos de trabalho; ausência de calendário anual. Essas são algumas das dificuldades e obstáculos da dura realidade do mercado de trabalho dos atletas da base da pirâmide do futebol brasileiro. “Os boias-frias do futebol” revela os sonhos e as incertezas de dois jogadores da Série C do Campeonato estadual do Rio, a divisão mais operária do futebol fluminense.
GERALDINOS
Conta a história da Geral do Maracanã, carinhosamente conhecida como “o espaço mais democrático do futebol carioca”, que foi extinta em 2005. O nome do filme é baseado no termo Geraldinos, criado pelo radialista Washington Rodrigues para referir-se aos torcedores que assistiam aos jogos na Geral do Maracanã.
Imagens dos jogos Força e Saúde x São Clemente e Copaleme x Juventus, pelas semifinais do campeonato estadual de futebol de praia 2016, diretamente das areias de Copacabana no dia 14 de maio.
Hoje começa o Campeonato Brasileiro, o Brasileirão, a competição esportiva mais importante do nosso país. Serão sete meses, 380 jogos, e no final, um campeão e quatro rebaixados à Série B.
Então, preparei uma pequena análise das equipes que disputarão o campeonato.
América-MG – O título mineiro mostrou que o time não é tão fraco assim; pode almejar ir além da briga pela permanência na elite do futebol brasileiro.
Atlético-MG – É um dos postulantes ao título deste ano. Manteve a boa base do ano passado e vem apresentando o melhor futebol do Brasil em 2016.
Atlético-PR – Venceu o título paranaense e tem um bom time. Caso consiga ser forte em casa, e beliscar algumas vitórias fora, poderá brigar por uma vaga na Libertadores; caso contrário deve ficar no meio da tabela.
Botafogo – Possui um bom time e só. Seu elenco não dispõe de bons reservas, o que pode ser perigoso em uma competição tão exigente. Deve ficar na parte de baixo da tabela e manter-se na primeira divisão deve ser o objetivo. O que vier além disso é lucro.
Chapecoense – No último ano, o atual campeão catarinense escapou do descenso nas últimas rodadas e, para não passar sufoco desta vez, a Chapecoense vai precisar melhorar seu desempenho fora de seu estádio, onde geralmente consegue dificultar a vida dos favoritos. Deve ficar no grupo intermediário do campeonato.
Corinthians – O atual campeão perdeu sua espinha dorsal; decepcionou no Paulista e na Libertadores, sendo eliminado precocemente em ambas. A confiança reside na capacidade de Tite conseguir reconstruir seu time e lutar pelo bicampeonato nacional.
Coritiba – No ano passado, só se livrou do rebaixamento na ultima rodada. E neste ano, o Coxa deve mais uma vez, passar sufoco no Brasileiro, lutando pela permanência na divisão de elite do futebol brasileiro.
Cruzeiro – Começou muito mal o ano de 2016, trocou de técnico e vai recomeçar o trabalho com o português Paulo Bento. Mas ainda está atrás de seus principais concorrentes, o que pode deixá-lo de fora da luta pelo título. Mas é um dos postulantes a uma vaga na Libertadores de 2017.
Figueirense – A luta contra o rebaixamento deve ser a tônica do Brasileiro do Figueirense, que na última temporada se livrou da Série B somente no fim do campeonato. Vencer em casa é fundamental para fugir da parte de baixo da tabela.
Flamengo – Tem potencial para chegar à Libertadores do ano que vem, mas até o momento não mostrou qualidade para se credenciar como candidato à vaga. Se Muricy conseguir encaixar o time, aí o Flamengo poderá subir na tabela.
Fluminense – Sua situação se assemelha à do rival Flamengo, mas o Tricolor já está em um patamar melhor, com seu time mais acertado, dando ao seu torcedor, a esperança de ver seu time na Libertadores em 2017.
Grêmio – Roger Machado vai ter que fazer seu time apresentar o bom futebol que levou o Grêmio à Libertadores desse ano, pois até o momento, o tricolor gaúcho não mostrou potencial para repetir a boa colocação de 2015.
Internacional – Hexacampeão gaúcho, o Colorado dessa vez não começa o Brasileiro como um dos favoritos ao campeonato. O Internacional possui uma equipe bem estruturada, bom técnico, mas ainda falta qualidade à equipe para se posicionar no nível dos concorrentes à taça. Deve brigar pela vaga na Libertadores.
Palmeiras – O período de férias forçadas que teve pode ser determinante para Cuca acelerar a evolução do time – e colocá-lo em condições de igualdade com as principais equipes na luta pelo caneco.
Ponte Preta – No ano passado, a Macaca ficou pelo meio da tabela. A missão da equipe campineira é melhorar a posição do último ano e passar o Brasileiro sem sustos, se mantendo na Série A.
Santa Cruz – Impulsionado pelos títulos do estadual e da Copa do Nordeste, o Santa chega ao Brasileiro pensando ir além da briga pela permanência na primeira divisão. Para isso, o time aposta suas fichas em Grafite. Caso o atacante consiga fazer bons jogos, o Santa Cruz tem grandes chances de terminar o ano na parte intermediária da tabela.
Santos – Sem dúvida nenhuma, o Peixe tem qualidade suficiente para concorrer a uma das vagas na Libertadores do próximo ano. Para ter condições de ir além, depende da capacidade do Dorival Júnior conseguir fazer a equipe ir a um degrau acima de onde está hoje.
São Paulo – Depois de um início de ano oscilando entre boas e más atuações, o time do Morumbi parece ter encontrado o seu melhor futebol, o que credencia a equipe a, pelo menos, estar na briga pelo G4, mas em condições de voltar a ser campeão depois de oito anos.
Sport – Depois do sexto lugar no ano passado, o Leão da Ilha perdeu seus principais jogadores e hoje está atrás de seu rival local, o Santa Cruz. Portanto, dificilmente, a equipe este ano conseguirá repetir a boa campanha do ano passado; deverá brigar no máximo pelo meio da tabela.
Vitória – O rubro-negro baiano volta à Série A com o objetivo de se manter pelo meio da tabela e não passar apertos para permanecer na elite em 2017. Se a situação da equipe permitir, o Vitória poderá sonhar em rugir mais alto nesse Brasileirão.
No programa SBT Repórter, apresentado por Roberto Cabrini em 13/06/2013, o perigoso universo do submundo do futebol.
Durante cinco meses, Cabrini investigou homens que se diziam empresários e agentes, mas que, na prática, em nome do lucro, montaram uma verdadeira fábrica de fraudes.
Hola, estoy aqui “de boa”, solamente mirando mi decano querido y esperando por Boca Juniors
Semana passada, o PANORAMA DO FUTEBOL estava passeando pela bela capital uruguaia, justamente no dia anterior ao jogo de ida de Nacional x Corinthians. E como não poderia ser diferente: passeio é trabalho também.
Fomos à busca do Gran Parque Central, estádio uruguaio, para fazer algumas fotos e conhecer mais de perto o Club Nacional de Football. Já que o GPS do “coche” não ajudou muito, quase desistimos pela segunda vez de visitar esse mito do futebol ao passarmos direto pela entrada do Clube, quase sem perceber. Mas, fizemos o possível e sem pestanejar, viramos a primeira a direita com o objetivo de retornar. Ahh GPS infernal! A tentativa de retorno se mostrou quase frustrada, não fôssemos parar em uma rua sem saída, onde havia pequenos cones nas cores do clube, símbolos do clube pintados nos muros junto aos grafites e uma pequena pista de skate onde moleques chutavam uma pelota, mostrando que ali, no subúrbio da capital, no bairro La Blanqueada, o futebol ainda respira. E nessa respiração, sentimos o cheiro do gol mais perto.
Buscando estacionar para visitar o clube, vislumbramos o acanhado estádio que se situa na rua logo atrás. Pronto! Missão dada, missão cumprida! E todo bom viajante, tem que contar com a sorte. As equipes de TV brasileiras estavam no estádio fazendo a cobertura do Corinthians na Libertadores e, com isso, os seguranças permitiram que fizéssemos algumas fotos no interior.
Logo na entrada, uma demonstração da responsabilidade que é defender um clube de massa. Os torcedores deixam suas mensagens de força, apoio e também cobrança, em um painel. E curiosamente o termo em espanhol para designar os torcedores se chama “hinchas”. Este termo tem origem em um torcedor do Nacional que inflava seus pulmões para encher balões de gás em todos os jogos.
No hall dos elevadores, a imagem do General Artigas e o motivo das cores do clube. Naquelas redondezas, em 1811, Artigas foi nomeado o chefe dos orientais que conduziriam a independência uruguaia. O local era o rancho de Juana de Suarez, conhecida como “La Paraguaya”, daí as cores do clube, que também guarda semelhança com as cores das bandeiras dos 33 orientais.
Hora de acessar as arquibancadas! Bom, para quem conhece La Bombonera, no Caminito, podemos dizer que a impressão é a mesma. Ao adentrar as arquibancadas, a sensação de caldeirão que temos pela TV nos foi confirmada. Um estádio marcado na história, que foi reconhecido pela FIFA como o local da primeira partida de Copas do Mundo, em 1930.
E para nossa grande surpresa, adivinhe quem permanece desde 2013, sentado, observando seu “clube de coração”, conforme reza a lenda? Carlos Gardel, o “Zorzal Criollo”, ele mesmo. Derivado da grande disputa por sua nacionalidade, Gardel também gera disputa pelo seu time de coração. E nessa disputa, a estátua-homenagem feita pelo Nacional, até o momento, mostrou-se mais ousada.
Orgulhando-se de ser o primeiro clube criollo da América Latina, o grande Nacional, ostenta também o tri da Libertadores da América e inúmeros títulos uruguaios, que lhe dão a alcunha de Rey de Copas. Mas o maior “título” para eles vem de mais uma polêmica e conturbada controvérsia com seus adversários. Quem é o Decano do futebol uruguaio? Para La Banda del Parque, não há dúvidas. Club Nacional de Football, fundado em 14 de maio de 1899.
Dentre os jogadores de grande destaque por lá, lembramos Recoba, Dario Pereira, Hugo de Leon, Lugano, Loco Abreu, Ruben Sosa, Rodolfo Rodriguez, e o, super-reconhecido por lá, goleiro Manga.
Seu maior ídolo foi Atilio Garcia, com cerca de 460 gols. No entanto, Abdon Porte ficou marcado na história por dar literalmente sua vida pelo time.
Por fim, fizemos um interessante registro de como a vizinhança está colada com o muro do estádio. Nele mora a certeza de que ao nascer, o pequeno uruguaio, já nasce com a pelota nos pés.
Essa coluna vai ao ar nesta sexta-feira (06/05), após o jogo de volta pelas oitavas de final da Libertadores, propositadamente para que possamos refletir que o amor pelo futebol está além das quatro linhas. E para que os clubes brasileiros aprendam que é impossível ganhar fácil de um time de expressão uruguaio, seja onde for o jogo. Não sabemos onde o Nacional poderá chegar nessa Libertadores. Mas na noite passada, a tradição e a mística da camisa foram muito bem contadas e o tango uruguaio foi dançado ao som de Gardel.
Era um domingo qualquer de “Show do Esporte”, em 1985. A Band mostrava o campeonato italiano, e este era um jogo dos melhores. A Juventus, de Platini e Boniek, ia a Napoli encarar Maradona – que ainda não havia virado Deus – e seu time mediano que, anos mais tarde, conseguiria o tão esperado Scudetto.
Mas o que há de tão sensacional nesse jogo? A falta, batida por Maradona, que o vídeo acima mostra. No gol estava Stefano Tacconi, uma lenda da Juventus, um monstro de goleiro. Lembro bem do lance, que já não era uma marcação comum da arbitragem. Dois toques dentro da área, a barreira montada em cima da bola. Não há espaço pra nada. Esse colherada (com a bola em movimento) por cima da barreira é uma das coisas mais inexplicáveis que já vi num campo de futebol. Eu (e o mundo) jurávamos que a bola seria batida do outro lado, pela absoluta impossibilidade de se fazer qualquer outra coisa. No entanto… O gênio fez isso ai.
É um troço tão sensacional, tão inacreditável, que eu estou aqui falando de uma falta, de um único toque, trinta anos depois.
Nunca mais vi nada parecido.
A tradução do título do vídeo: “Tanto faz, faço o gol assim mesmo”. Resposta a um companheiro de time que reclamava da barreira próxima demais.
Depois querem comparar brasileiros contemporâneos a ele…
No fim de semana passado, dois pontos me chamaram a atenção nas disputas regionais do futebol brasileiro, em seus dois principais centros.
1
No clássico disputado no Rio de Janeiro, na cidade de Volta Redonda, o Botafogo venceu o Fluminense por 1 a 0, classificando-se para a final do Carioca 2016, diante de apenas 5.182 torcedores presentes, dos quais 3.562 foram pagantes.
Cerca de 31% do público foi beneficiado pelas leis de gratuidade – se elas não existissem, o resultado do comparecimento talvez fosse ainda mais catastrófico.
Trata-se do mais antigo clássico do futebol brasileiro.
Foram disponibilizados 14.933 ingressos para a decisão da vaga. Cerca de 35% dos ingressos foram utilizados, somando-se os pagos e as gratuidades. O Raulino de Oliveira teve sua capacidade ociosa em 65% ao receber o confronto.
Domingo, 19 horas, fora da capital, crise etc.
Em 2010, a população de Volta Redonda era estimada em 257.686 habitantes. Supondo que 10% dela tivesse interesse por futebol, um número muito modesto, algo como 26.000 pessoas.
É possível supor que o grosso do público presente à decisão no Clássico Vovô seja composto por torcedores cariocas que se deslocaram do Rio de Janeiro até Volta Redonda, em caravanas organizadas. Porque o público local está totalmente alheio à frequência no estádio. Basta ver os números e a frequência histórica no Raulino.
Em 2013, há três anos, na decisão da Taça Rio que também valia vaga para a final do campeonato, Fluminense e Botafogo levaram ao Estádio da Cidadania 12.485 torcedores pagantes e 15. 516 torcedores presentes.
Comparando-se a totalização dos presentes em 2016 contra 2013, queda de 67%.
Futebol virou minissérie de TV. E pouca gente atentou para a gravidade dessa situação.
2
Em São Paulo, o Santos bateu o Palmeiras nos pênaltis e se classificou para a decisão do Paulistão 2016.
Em jogo de torcida única, com a chancela do Estado na declaração de incompetência para combater a violência, o Peixe atuou diante de 13.690 torcedores pagantes.
Mais do que o dobro do público presente à disputa de Fluminense e Botafogo, mas muito pouco para um clássico.
Entende-se que há uma limitação em função dos lugares disponíveis na Vila Belmiro, sem dúvida, além do direito natural do Santos como mandante da partida, tendo em vista a classificação no Paulistão.
Os dois casos fazem pensar.
Quatro dos times mais expressivos do futebol brasileiro jogando para plateias modestas nas arquibancadas, ainda que por motivos diferentes.
O futebol perde sua magia e passa a ser um mero produto de grade de TV. A novela que, se perdermos um capítulo, não muda muito.
Em Santos, um caso normal: o Peixe disputará a final contra o Audax na Vila Belmiro.
No Rio de Janeiro a final será disputada no Maracanã entre Vasco e Botafogo, com TV aberta. Com muita sorte, os dois jogos somados terão 100 mil torcedores presentes.
Há quem diga que o futebol mudou, o jeito de acompanhá-lo mudou e é claro que tudo isso deve ser avaliado. Mas o esporte precisa de coração, de sentimento, de chama, e isso não será pavimentado no futuro com relações distantes, sem presença ao lado da equipe.
Os chamados times grandes aos poucos perdem seu principal ativo: o torcedor presente. E as crianças cada vez mais vestem as camisas do Barcelona, do PSG, do Real Madrid e de outros times europeus porque veem estes times durante a semana, à tarde, em horários adequados aos torcedores mirins.
Alguém vai dizer que Vasco e Flamengo tiveram lotação máxima na outra semifinal do Carioca 2016, disputada no calor equatorial às quatro da tarde em Manaus. É uma outra discussão. Outra demais.
A final do Campeonato Alagoano de 2016 acontece em dois jogos, disputados nos próximos dois domingos. CSA e CRB farão uma decisão toda especial, não apenas por se tratar de um “Clássico das Multidões”, mas por ser um clássico que completa 100 anos em 2016.
O primeiro confronto aconteceu em 1916, com vitória do CSA por 1 a 0 sobre o CRB. Desde então, as equipes se enfrentaram 504 vezes, com 190 vitórias e 616 gols do CRB, que tem grande vantagem sobre o rival com 152 vitórias e 623 gols. Além disso, aconteceram 162 empates.
O CRB é o atual campeão e tem 28 títulos estaduais, enquanto o CSA é o maior vencedor da competição com 38 títulos.
O CRB é o único clube alagoano a conquistar um título regional (Copa do Nordeste 1975). É também o único a ganhar um título interestadual disputado contra os times paraibanos, que concedeu acesso para segunda divisão do campeonato brasileiro. O CRB é o segundo clube mais velho do Estado, sendo pioneiro no Estado no tocante às participações nas series A (1972) e B (1971) do Campeonato Brasileiro, também sendo o primeiro a vencer um campeonato alagoano em 1927 e a ganhar títulos regionais. O CRB foi o primeiro clube de Alagoas a construir estadio particular, e o primeiro campeão no estádio Rei Pelé. Chegou a final da serie C em 2011 e foi vice campeão da Copa do Nordeste em 1994.
O CSA é o único time de Alagoas a disputar um torneio internacional, a conhecida Copa Conmebol de 1999, em sua ultima edição, organizada pela Confederacão Sulamericana de Futebol. O campeão foi o Talleres (Argentina), que na final venceu a própria equipe alagoana.
O maior confronto do futebol alagoano rendeu um documentário intitulado “Futebol na Terra da Rasteira” (2013), dirigido por Thalles Gomes.
Numa crônica escrita em 1921, o escritor alagoano Graciliano Ramos sentenciou: “O futebol não pega, tenham a certeza. Desenvolvam os músculos, rapazes, ganhem força, desempenem a coluna vertebral. A rasteira! Este, sim, é o esporte nacional por excelência. Dediquem-se à rasteira, rapazes!”
O documentário FUTEBOL NA TERRA DA RASTEIRA tenta entender como, contrariando todas as expectativas, o futebol pegou em terras caetés. Através do relato de ex-jogadores que marcaram a história da centenária rivalidade entre CRB e CSA, o filme traça um panorama geral da relação permeada de alegrias e tristezas entre o futebol e a cidade de Maceió.
Na contramão da febre full hd, o curta-metragem foi todo finalizado em VHS. Dirigido por Thalles Gomes e produzido pela Subvídeos Produções, o curta-metragem foi um dos vencedores do Premio Guilherme Rogato da Prefeitura de Maceió. Na escalação do documentário estão os ex-jogadores Silva Cão, Paranhos, Joãzinho Paulista, Catanha, Jorge Siri, Peu, Jerônimo, Felipão e muitos outros. Sem contar a narração de Márcio Canuto e a trilha sonora do Wado.
Colaboração: Subvídeos Produções e Minuto Esportes.
A badalada classificação do time do Audax à final do Paulistão 2016 causa entusiasmo aos fãs de futebol, devido ao bom desempenho técnico do time. Em outras ocasiões, outros times de menor investimento já chegaram a momentos decisivos de campeonatos regionais e até nacionais, com pleno êxito. Relembre aqui alguns momentos.
Operário-MS x São Paulo – Semifinal do Campeonato Brasileiro de 1977 (1º jogo)
Palmeiras x Internacional de Limeira – Final do Campeonato Paulista de 1986 (2º jogo)
Bragantino x Novorizontino – Final do Campeonato Paulista de 1990 (2º jogo)
Grêmio x Criciúma – Final da Copa do Brasil de 1991 (1º jogo)
Botafogo x Juventude – Final da Copa do Brasil de 1999 (2º jogo)
Flamengo x Santo André – Final da Copa do Brasil de 2004 (2º jogo)
São Caetano x Santos – Final do Campeonato Paulista de 2004 (2º jogo)
Fluminense x Paulista – Final da Copa do Brasil de 2005 (2º jogo)
Botafogo x Madureira – Final do Campeonato Carioca de 2006 (2º jogo)
Santos x Ituano – Final do Campeonato Paulista de 2014 (2º jogo)
No sábado passado, 16/04, o PANORAMA DO FUTEBOL registrou cenas de mais uma rodada do Campeonato Carioca de Futebol de Praia, na modalidade 11.
Imagens dos jogos Bairro Peixoto x São Clemente (aspirantes) e Juventus x Copaleme (aspirantes e amadores) – este, com destaque para a homenagem aos 60 anos do clássico, realizada antes da partida de fundo. E mais um trecho de “Craques da areia”, com o depoimento de Marcelo Bueno, tricampeão mundial pela Seleção Brasileira de Beach Soccer.
O PANORAMA apoia e defende a ampla estruturação do futebol de praia em investimentos e divulgação; um dos esportes mais tradicionais do Rio de Janeiro, posteriormente espalhado pelo Brasil e pelo mundo, merece mais atenção dos cariocas.
Rebaixado ontem pela terceira vez à série B do Campeonato Carioca em menos de dez anos, o America infelizmente deixa dúvidas quanto ao seu futuro.
Segundo time de considerável parcela dos torcedores cariocas, com uma bela história, aos poucos, o importante clube foi dando passos rumo ao ostracismo a partir dos anos 1980. Bem verdade que o alijamento à caneta do campeonato brasileiro de 1987 contou muito neste sentido, mas não foi o único fator. As sucessivas diásporas com a mudança dos campos, a falta de verba, as dívidas e o descaso ajudam a explicar o processo.
A decomposição foi avançando, a torcida fanática foi encolhendo de tamenho e um dos orgulhos da cidade foi ficando de lado.
Que o America pode voltar ao cenário local da primeira divisão estadual, é fato.
Resta saber se, um dia, ele poderá retomar sua posição de grande clube do futebol brasileiro e símbolo do Rio de Janeiro.
Num domingo tão deprimente para o país, a terceira queda do simpático Diabo parece infelizmente fazer sentido.
Fica a torcida para que a recuperação aconteça, por mais difícil que seja.
No sábado passado, 09/04, o PANORAMA DO FUTEBOL registrou imagens dos jogos entre o Força e Saúde e o São Clemente, nas categorias Aspirante e Amador, válidos pela segunda rodada do Campeonato Carioca de Futebol de Praia 2016.
Num cenário belíssimo, dos maiores cartões postais do mundo – a praia de Botafogo tendo o Pão de Açúcar e a Urca ao fundo.
Nos Aspirantes, empate em 1 a 1. Nos Amadores, o Força venceu por 2 a 0.
O futebol de praia é uma das grandes expressões do esporte litorâneo no Brasil, sendo praticado há décadas (desde os anos 1950) e tendo como berço a praia de Copacabana, tendo fornecido vários craques para os gramados, como o goleiro Renato (Atlético Mineiro, Seleção Brasileira de 1974, Flamengo, Fluminense e Bahia), o zagueiro Edinho (Fluminense e Seleção Brasileira 1978-1982-1986), o lateral Júnior (Flamengo e Seleção Brasileira 1982-1986), o meia Paulo Cézar Caju (Campeão mundial em 1970, Copa de 1974 e diversos grandes clubes), dentre muitos outros.
Precisa ser valorizado à altura tanto em termos midiáticos quanto de estrutura.
Operário, de Campo Grande, e Vasco, disputam uma partida importante no Estádio Pedro Pedrossian, vulgo Morenão, na capital do Mato Grosso do Sul. Estádio lotado. Só mais uma de milhares partidas dos intermináveis campeonatos nacionais dos anos 70 e 80.
Mas um fato marcou o jogo. O estádio teria sido sobrevoado por um OVNI, fato testemunhado por milhares de pessoas, dentro e fora do estádio. Entre os presentes, vários jogadores de seleção brasileira. No time do Operário, começando a carreira, um certo Cocada, que conta nos vídeos abaixo o que viu. No Vasco, as declarações são dadas incrivelmente por… Rondinelli, que pouca gente lembra, mas atuou pelo Vasco em 1982.
Eu me lembrava desse fato e fui fazer a pesquisa, que me levou a estes vídeos abaixo. Descobri o documentário “O que era aquilo” que parece ser sobre o jogo em questão e a aparição do OVNI. Na verdade, aparentemente, o jogo foi só um gancho. O documentário acaba sendo sobre a destruição do futebol do Comercial e do Operário, este último time de muito sucesso nos anos 70, chegando a disputar a semifinal do campeonato brasileiro de 1977, perdendo para o depois campeão São Paulo. No gol, Manga. A derrota por 3 a 0 na 1a perna da semifinal, em São Paulo, é até hoje contestada pelos torcedores do Operário. Uma mariola pra quem adivinhar o juiz…
O documentário tem uma hora de duração e pode ser visto pelo link abaixo. Recomendo. Sugiro especial atenção para a senhora torcedora apaixonada do Operário e para as desatrosas intervenções do Editor do Globo Esporte, em trechos mais para o final do filme.
Domingo de manhã, comecei a zapear os canais e então bati os olhos no futebol. O velho Guarani de guerra na briga da Segundona em São Paulo, numa decisão contra o Barretos – este, com seu uniforme de cores bolivianas que me remeteu ao Sampaio Correa.
Qualquer garoto em 1978 sabia a seguinte escalação: Neneca, Mauro, Gomes, Édson e Miranda; Zé Carlos, Renato e Zenon; Capitão, Careca e Bozó. Um timaço que bateu o Palmeiras naquele ano e se tornou o único campeão brasileiro do interior ao lado do Santos.
No ano de 1979, veio a Libertadores e os dois times alviverdes fizeram seus jogos da primeira fase contra os peruanos Alianza e Universitario de Lima. Partidas nas manhãs de domingo. Para mim, uma boa lembrança da juventude: volta e meia meu pai me dava dinheiro para comprar lasanha pronta num restaurante de Copacabana, a trattoria Torna, que ficava na rua Anita Garibaldi. Depois dos jogos, a deliciosa refeição tinha um sabor ainda mais acentuado, principalmente se depois a boa pedida fosse um jogo no Maracanã. O Bugre passou fácil pela primeira fase, com goleadas sobre o Palmeiras e o Universitario, vindo a cair nas semifinais (dois triangulares, onde os primeiros decidiam o título) e terminando em quarto lugar na maior competição de futebol da América.
O querido Guarani que depois seria semifinalista do Brasileiro em 1982 e vice-campeão em 1986. Pensem em nomes como Neto, Evair, Amoroso, Luizão e Edílson Capelinha: todos foram revelados no Brinco de Ouro da Princesa.
O tempo passou, o dinheiro acabou, as dívidas se acumularam, o estádio foi a leilão. Na Segundona também estavam – ou estão – a Portuguesa, o Marília, o Bragantino, o Juventus, próceres da gênese do futebol paulista.
O Barretos foi melhor e fez seus gols no segundo tempo. O resultado tirou o Guarani da fase final, onde serão decididas as vagas de acesso. Mais um ano de agonia, mais um domingo de tristeza, agravado por ser o dia seguinte ao aniversário de 105 anos do clube campineiro.
Penso naquela saborosa lasanha de 37 anos atrás. A mesada do meu pai. Zé Carlos, Renato e Zenon.
Outro dia mesmo, o Guarani era dos maiores; agora, suas chagas são carne viva.
O Brinco de Ouro da Princesa continua bonito, apesar de tudo. Mas tudo isso me remete aos sinais claros da decadência do nosso futebol.
O lugar do Bugre é em cima – ou, ao menos, deveria ser.
Como pode um estádio de Copa do Mundo, um dos três mais importantes do país, estar há 20 dias sem manutenção do gramado, sabendo que abrigaria o maior clássico do Rio de Janeiro?
Como pode um clássico da grandeza de Flamengo x Vasco ser realizado em uma quarta-feira à noite?
Como pode os dois melhores jogadores em campo serem estrangeiros?
Como pode Guerrero ser a estrela maior de uma nação?
Como pode Martin Silva ser reserva na seleção do Uruguai?
Como pode num jogo de tamanha tradição no cenário nacional faltar tanta inspiração e sobrar transpiração?
Ao menos na quarta, de volta à medíocre realidade do futebol brasileiro, sobrou transpiração. Porque, ainda sob os efeitos do clássico, continuamos a ver camisas solitárias, chuteiras sedentárias e cabeças milionárias. O único a enxergar diferente disso foi o nosso comandante. Mas se todos nós não estamos certos, ao menos nos resta entender o célebre Nelson Rodrigues com sua unanimidade burra.
Do Flamengo, ressalto novamente a transpiração. Pode ser que o ano tenha começado, pode ser pelo fim do cansaço, medo da torcida ou porque o adversário era o Vasco.
Ainda diria que o Rubro-Negro esteve mais de perto de vencer e pôr fim à incômoda série de insucessos diante do rival, mas esbarrou na ótima atuação do goleiro Martín Silva, que salvou o Cruz-Maltino algumas vezes na partida. Também para pôr fim à crise instalada e conseguir se manter na briga pela classificação, só resta ao Flamengo vencer o Botafogo no sábado. O gol já voltou, mas as vitórias… aguardem as cenas dos próximos capítulos…
O Vasco não jogou bem, tentou controlar o jogo e explorar os contra-ataques; foi punido pela sua postura em campo mas logo se redimiu, manteve a liderança e a invencibilidade no campeonato.
Talvez um dia fosse difícil jogar contra o Paraguai. Mas nunca achei que fosse tanto.
Até o fim dos anos 70, nunca havíamos perdido para eles lá. Porém dos anos 2000 para cá, nunca mais tivemos o sabor da vitória em solo guarani.
Desde 2009, não ganhamos deles onde quer que seja o local de jogo. Também não perdemos. Se você vê alguma vantagem nisso, precisa rever seus conceitos.
A Seleção Brasileira, margeada pelo futebol nativo, está claramente em uma péssima safra. E não é de hoje. Desde o apito final da Copa de 2002, uma era se encerrou. Se você não consegue ver isso, insisto, precisa rever seus conceitos.
De lá para cá, quem vê futebol todos os dias sabe que a desordem total ficou evidente.
Craques em final de carreira se arrastando em campo, recordes pessoais acima dos anseios da nação e muito mais. E o que essa bagunça gerou?
Vamos aos fatos.
Planejamento
O futebol brasileiro e consequentemente a Seleção não se entendem. Não há planos sérios para o futuro e os dirigentes contam com os jargões de sempre como “Ah, na hora H os craques resolvem”.
Craques? Caem eles do céu? Oba! Hoje fui na maternidade lá em Três Corações e tive uma grande notícia: -“Nasceu outro Pelé!”
Não, não nasceu outro Pelé. Edson só foi Pelé porque Gerson foi Gerson, Garrincha foi Garrincha e tantos outros foram… coletivo.
E o que temos para hoje? Vou citar aqui os nomes convocados e mais dois possíveis substitutos. Quero provar que, por mais divergências sadias que tenhamos, vamos acabar no lugar comum. Quer apostar?
Preste bem atenção na convocação para os dois últimos jogos e, em negrito, o complemento de possíveis substitutos:
GOLEIROS
Alisson (Internacional)
Marcelo Grohe (Grêmio)
Diego Alves (Valencia)
Jeferson (Botafogo), Victor (Atlético-MG), Fábio (Cruzeiro), Cassio (Corinthians), Cavalieri( Fluminense)
ZAGUEIROS
David Luiz (PSG)
Miranda (Inter de Milão)
Marquinhos (PSG)
Gil (Shandong Luneng)
Thiago Silva (PSG), Felipe (Corinthians), Alex (Milan), Luisão (Benfica)
LATERAIS
Danilo (Real Madrid)
Daniel Alves (Barcelona)
Filipe Luis (Atlético de Madrid)
Alex Sandro (Juventus)
Marcelo (Real Madrid), Marcos Rocha (Atlético MG)
VOLANTES
Luiz Gustavo (Wolfsburg)
Fernandinho (Manchester City)
Renato Augusto (Beijing Guoan)
Elias (Corinthians), Hernanes (Juventus), Ramires(Jiangsu)
MEIA-ATACANTES
Philippe Coutinho (Liverpool)
Oscar (Chelsea)
Lucas Lima (Santos)
Willian (Chelsea)
Kaká (Orlando City)
Douglas Costa (Bayern de Munique)
Nenê (Vasco), Lucas (PSG), Ganso (São Paulo)
ATACANTES
Neymar (Barcelona)
Hulk (Zenit)
Ricardo Oliveira (Santos)
Jonas (Benfica), Pato (Chelsea), Fred (Fluminense)
E aí? Discorda de algum desses nomes?
Desafio você leitor a tirar um nome mágico da cartola que vá revolucionar as quatro linhas.
Qualquer dos nomes citados, mais uns três ou quatro que possam surgir, refletem e reforçam a unanimidade seguinte : o único craque que temos chama-se Neymar.
Mas esses que estão aí, são tão ruins assim? Não mesmo.
São todos de bons para ótimos jogadores. Quase a totalidade joga nos grandes clubes do mundo e são titulares de suas equipes. Mas o que acontece?
Em suas equipes eles são parte da engrenagem, estruturada de modo a também funcionar sem eles.
Uma vez, antes da copa de 2014, Carlos Alberto Torres cravou: “-Essa seleção terá amadurecido e provavelmente estará pronta para 2018 e 2022”. O Capita não terá errado.
E estar pronta não significa apenas se classificar para a Copa. Para tal feito é necessário mais do que isso.
Se a técnica não nos permite alcançar algo mais, não é no grito e na base da cara feia que iremos separar os homens dos meninos.
Temos que planejar, organizar e vislumbrar algo mais moderno para que possamos extrair o melhor dos que aí estão.
Ao menos temos que tentar. Mas para que isso aconteça, é necessariamente urgente que se reconheça abertamente, a safra é ruim.
As seleções que se destacam hoje no mundo tem um coletivo muito acima da média, com um individual que colocam no bolso qualquer suposto “craque”brasileiro. E esse, definitivamente não é o caso de Uruguai e principalmente do Paraguai.
Voltando ao Paraguai de hoje, talvez se houvesse um Gamarra na zaga, ou um Chilavert no gol e o time vermelho, branco e azul poderia ter tido melhor sorte. Já que não havia, sorte nossa….ou….sorte de Dunga, que deverá sobreviver mais algum tempo sem nada de bom agregar. Tempo e vai se esvaindo pelas mãos ao passo que o “país do futebol” continua a merecer esse tão singela homenagem, mais pelo seu povo aguerrido e sempre com um fio de esperança do que pela prática do esporte Bretão.
E aí? Você precisa rever seus conceitos? Volte no tempo e reveja o futebol de 2002 até os dias de hoje.
Se não precisa rever, é porque já tomou uma boa dose de resiliência, e para o período atual, melhor remédio não há.
Resiliência é a capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças.
Domingo à tarde, Vasco e Botafogo, os dois líderes e melhores times do Campeonato Carioca, disputavam, em São Januário, um jogo que tinha tudo para ser bem interessante – como foi. Mas não para o torcedor. Oito mil testemunhas presenciaram o cotejo. As sociais vazias são mais um alerta de que as coisas vão mal, obrigado, no mundo do futebol. E este não é um fenômeno brasileiro. Há exceções – Inglaterra e Alemanha – mas é muito comum ver campos às moscas mundo afora em praças importantes como Itália e Espanha.
Mais que campos vazios, há um desinteresse crescente pelo esporte na TV também. Domingo, assisti sozinho o jogo no bar de um clube. Durante o segundo tempo, apenas dois cidadãos vieram ver o que passava na televisão. O clube estava cheio. Ninguém deu bola pro jogo.
Até 1994, a Formula 1 era uma das paxões do brasileiro. As pessoas não saíam de casa. Tinham de ver a corrida do Senna. Naquele fatídico primeiro de maio, essa paixão virou tristeza. Mas se engana quem pensa que foi a morte do ídolo que transformou a F1 nesse espetáculo insuportável de hoje. A derrocada começou com um super-carro da Ferrari, que pulverizou os demais, ganhando todas as corridas do ano. Somou-se a isso uma escolha catastrófica de regulamento dos carros, transformando as corridas numa enfadonha procissão. Lembro-me de Galvão Bueno vibrando com trocas de pneus. As únicas ultrapassagens se davam nos boxes.
Em suma, o que a Formula 1 tinha de melhor – equilíbrio, cracaços no volante -, desapareceu. Em vez de três ou quatro carros brigando por vitória, sete ou oito pilotos, um alemão Dick Vigarista desfilando sua arrogância e passeando sem ameaças.
O equilíbrio e a emoção desapareceram. Com isso, claro, o público despencou. Patrocínios também.
O exemplo está ai. O futebol segue a passos largos o mesmo caminho de desequilíbrio. É a famosa espanholização. Tomara que não seja tarde demais.
Que os campeonatos estaduais estão rumo à extinção, já sabemos.
Mas nem sempre foi assim.
Até os anos 1980, os estaduais eram competições valorizadas pelos grandes clubes e seus torcedores. Não eram tratadas com o menosprezo que só aumenta ano após ano.
Os motivos para esta perda de espaço e interesse dos estaduais são muitos, abordados diariamente em inúmeros espaços da imprensa esportiva brasileira. Contudo, há um enfoque pouco abordado, que é o valor desportivo; ou seja, com o passar dos anos, os estaduais foram perdendo o seu valor frente às outras competições que surgiram ao longo dos últimos 25 ou 30 anos. Os defensores das competições locais podem dizer que, nesse período, dentre as disputas que surgiram, quase nenhuma resistiu, enquanto os estaduais continuam aí.
Para que se tenha ideia do que estou falando, vou exemplificar. Em 1987, o Campeonato Carioca foi disputado por 14 clubes entre os meses de fevereiro e julho. Vasco, Flamengo e Bangu, que chegaram à fase final da competição fizeram 31 jogos ao todo. Enquanto isso, o Campeonato Brasileiro (Copa União) foi disputado por 16 clubes no período de setembro a dezembro, e o Flamengo, por ter chegado à final, fez 19 jogos. Quer dizer, naquele ano, o time rubro-negro fez 50 jogos nas duas competições oficiais disputadas.
Em 2015, dentro de um cenário hipotético, já que nenhum clube do Rio de Janeiro esteve na Copa Libertadores do mesmo anos, um clube carioca poderia disputar até 83 jogos, um aumento de 66% em relação a 1987 – e, nesse contexto, o estadual seria a competição menos importante, uma vez que esta agremiação disputaria também a Copa do Brasil, o Campeonato Brasileiro, a Copa Libertadores e o Mundial de Clubes da FIFA.
Nesse contexto, com o calendário dos clubes mais apertado, o Estadual acaba ficando em segundo plano e, por ser a competição menos importante da temporada, os grandes clubes deixam de escalar seus jogadores para que eles possam render o máximo nos jogos das outras frentes paralelas.
E onde está o valor desportivo nisso tudo?
Atualmente, os estaduais não possuem nenhum valor desportivo para os grandes clubes, pois não dependem do seu resultado para se classificar para outra competição, o que não acontece nas outras competições, que são classificatórias para outras, até chegar ao topo, que é o Mundial de Clubes da FIFA.
Para que os estaduais recuperem uma parte de seu valor, seja para clubes, torcedores e mídia esportiva, eles deveriam ser classificatórios para a Copa do Brasil. Mas, para isso, esta competição precisaria sofrer um enxugamento e ter, no máximo, 46 clubes, todos classificados com base no resultado do campeonato estadual do ano anterior. Cada estado teria um ou dois representantes e a CBF arbitraria o critério para apontar os estados que classificariam uma ou duas equipes para a Copa do Brasil.
É evidente que apenas uma medida isolada não resolve o problema dos estaduais, mas pode ajudar a reerguer essas competições que muito ajudaram na formação do outrora melhor futebol do mundo.
Os movimentos que cercam a questão da televisão no futebol brasileiro causam preocupação nos atores econômicos envolvidos.
Outrora deitada em berço esplêndido da estabilidade contratual, a Rede Globo em poucos meses se viu num ambiente de concorrência, contestação e repulsa como jamais se viu antes. Tendo o grupo Warner nas costas por meio do Esporte Interativo, a chamada Vênus Platinada já perdeu times expressivos como Santos, Coritiba, Atlético-PR e Bahia para o Brasileiro de 2019.
Cansados dos desmandos que envolvem horários esdrúxulos, da gourmetização do futebol, das coberturas tendenciosas e desproporcionais, afora outros problemas, torcedores organizados têm manifestado suas críticas à detentora dos direitos de transmissão, a ponto de um árbitro precisar paralisar uma partida para que faixas críticas fossem retiradas das arquibancadas.
Outro ponto de desconfiança está nos imbróglios envolvendo a cúpula de CBF, o grupo Traffic e as ligações na FIFA, já com a suspensão de figuras importantes e o julgamento de alguns chairmen do mundo da bola, casos do ex-presidente da Confederação José Maria Marín e do empresário Jota Ávila. Del Nero segue autoexilado no Brasil, temendo a Interpol caso pise em terras estrangeiras.
Diante de tantos elementos negativos, às vezes enrustidos por alguns poucos jogos de grande apelo e grande celebração midiática, vendendo um produto de aparência duvidosa e conteúdo contestável, é possível entender o esvaziamento atual do futebol brasileiro, enquanto o mercado econômico do esporte preferido dos brasileiros caminha para a inviabilidade econômica – mais de 80% dos jogadores no Brasil ganham até dois salários mínimos mensais, conforme estatísticas de 2015. Clubes pequenos esmagados e em processo de fechamento, os grandes administrando dívidas multimilionárias, empresários fazendo a festa financeira e os melhores jogadores bem distantes dos gramados brasileiros. Jogos sem público enquanto a TV não se preocupa: ela lucra com os torcedores em casa à frente do PPV ou nos bares em geral. Torcida para quê?
Em contrapartida, as federações são dirigidas por grupos feudais, sem remuneração mas administradores de ótimos lucros. Da Confederação, é desnecessário dizer. Os meios de comunicação de massa aplaudem o modelo atual, interessados que estão na manutenção do status quo.
Quando o futebol deixou de ser um grande lazer em firma de espetáculo para se tornar um mero negócio econômico, as suas raízes foram enfraquecidas. Trocou-se o público dos estádios pela massa dos espectadores em frente à uma novela monótona às quartas-feiras e domingos – terças, quintas, sextas e sábados também.
Qualquer análise que relacione o avançar deste sistema nos últimos anos com o fracasso contemporâneo do futebol brasileiro, seja nas competições continentais interclubes ou nas de seleções, não o faz por mera coincidência.