A última terça-feira era para ser um dia comum, não marcasse a data na qual, há 30 anos, este colunista foi apresentado à palavra derrota.
Apesar disso, guardo na memória o 21 de junho de 1986 com imenso carinho. Deve se considerar felizardo aquele que descobre as perdas da existência com o futebol, pois, convenhamos, não há forma mais leve de se conhecer o fracasso. A vida é dura e pode nos reservar formas de ausência piores que aquela que vem pelo descaminho da bola. Ela, a redonda, ao contrário da vida, gira ao ponto de quase sempre se colocar diante de nós em outras ocasiões, louca para ser chutada ou agarrada.
Foi bonito aquele 21 de junho. E são tantas lembranças, que como eu haveria de esquecer? Era um menino vestido quase a caráter, com a camisa amarela que tinha a Jules Rimet na frente e o número 10 às costas (daí o ‘quase’). Completava o uniforme, um shortinho azul, um par de meiões brancos e um surrado Ki-Chute amarrado na canela.
As ruas naquele 21 de junho pulsaram, repletas de enfeites. A família esteve reunida em torno da churrasqueira, atenta à voz que vinha da tela. Era do Osmar Santos.
Naquele dia tinha o Araken, o Show-Man. O tema, que eu adorava, era “Mexe coração”. Na hora do gol, a TV tocava um tal de “ginga pra lá, ginga pra cá!”, que naquele 21 de junho, me lembro de ter cantado junto.
Meu time tinha muitos craques. Mas apenas mais tarde é que eu vim a escolher um deles como herói, graças ao seu braço direito erguido e seu punho cerrado!
E como não podia deixar de ser, coube à minha mãe o afeto recebido após aquela primeira derrota.
Por fim, a última lembrança. Ainda chorando, avistei, na porta de meu apartamento, um inseto, que após o susto inicial, descobri se chamar Esperança, devido a sua cor verde.
Eram tempos incríveis! Lamento que nada daquilo exista mais.
Ou melhor, a Esperança ainda não morreu.
Imagem: David Canon/Allsport
O jornalista Fagner Torres responde pelo blog Laranjeiras ESPN FC, além de colaborar com o blog Panorama Tricolor e este PANORAMA DO FUTEBOL