Eu vi Beto Fuscão uma vez no Maracanã de antigamente, de muito tempo atrás, 1979. Não era jogo do Fluminense, mas meu pai me levou ao Maracanã e nos sentimos bem, em meio a uma turma de verde. Nós, espremidos por verdadeira multidão de flamengos.
Aconteceu uma das maiores partidas da história. Eram dois timaços, mas o Palmeiras, com sua camisa verdona linda, nocauteou sem dó. Fez 4 a 1 e se classificou para a semifinal do campeonato brasileiro. Meu pai ria, que saudade. À beira do campo, o treinador era um símbolo do Fluminense: Telê Santana, o mestre.
A goleada mudou o futebol brasileiro. A partida do Palmeiras foi tão espetacular que levou Telê para a Seleção Brasileira. O resto já se sabe: o Brasil viveu dois anos e meio de sonho com o escrete que encantou o mundo, exceto os idiotas da objetividade.
Gilmar, Rosemiro, Beto Fuscão, Polozzi e Pedrinho; Pires, Mococa e Jorge Mendonça; Jorginho, Cesar e Baroninho. Depois entrou Zé Mário, que inclusive fez gol. Daquela tarde de sonhos, foram embora o Mococa e o Jorge Mendonça, que jogaram aqui no Rio, mais o Beto Fuscão. Meu pai também foi embora, assim como muitos torcedores que viram ao vivo aquele jogo espetacular. Eu, que continuo por aqui, reitero: foi uma das maiores partidas da história do Maracanã. Antes disso, o Beto foi Seleção em 1977.
Beto Fuscão, muito obrigado por ter existido. Pessoas como você me trouxeram até aqui. Aquele domingo à tarde de 1979 é imortal.
Poucos anos de seu surgimento no Brasil, o futebol já causava furor em debates na imprensa.
Extremamente popular na capital da República, o famoso esporte bretão também era motivo de polêmicas e, onde elas estavam, havia também a presença de um dos maiores escritores brasileiros de todo os tempos: Lima Barreto. Sua luta contra o futebol foi declarada contra outro craque da época, Coelho Neto.
“O futeból é eminentemente um factor de dissenção. Agora mesmo, elle acaba de dar provas disso […].O Sacro Collegio do Futeból reuniu-se em sessão secreta, para decidir se podiam ser levados à Buenos-Ayres, campeões que tivessem, nas veias, algum bocado de sangue, negro-homens de cor. […] O conchavo não chegou a um accordo e consultou o Papa, no caso, o eminente Sr. Presidente da República. S. Ex. […] não teve dúvida em solucionar a grave questão. Foi sua resolução de que gente tão ordinária e compromettedora não devia figurar nas exportáveis turmas de jogadores; lá fora, accrescentou, não se precisava saber que tínhamos no Brazil semelhante esterco humano. […] O que me admira, é que os impostos, de cujo producto se tiram as gordas subvenções com que são aquinhoadas as sociedades futebolescas, não tragam também a tisna, o estigma de origem, pois uma grande parte delles é paga pela gente de cor.”.
“É o fardo do homem branco: surrar os negros, afim de trabalharem para elle. O futeból não é assim: não surra, mas humilha; não explora, mas injuria e come as dízimas que os negros pagam.”
Sábado passado, cheguei ao Maracanã com meu amigo Marcelo e fomos para a arquibancada hoje chamada de setor Norte, nem sempre aberta.
Quando me sentei na cadeira, olhei para a frente e me deparei com a massa de gente do Fluminense, por todos os lados. Tudo bem, o Maracanã de agora não é o de antigamente, mas o que importa é que, nas circunstâncias atuais, o que sobrou do velho estádio estava lotado.
Às vezes eu espio as arquibancadas e vejo o que já não existe: a velha arquitetura com cadeiras na parte de baixo e a inesquecível geral. Tudo se mistura. Não é loucura, mas a memória que transborda e que parece tão viva fisicamente, por maior que seja a ilusão.
Cadeiras abaixo, o pai brinca com seu pequeno filho que ainda descobrirá o mundo do futebol, das lágrimas e alegrias às vezes simultaneamente. Outro dia mesmo era eu quem brincava com meu pai, mas acreditem: quarenta anos passam rápido demais. Por um instante, sei que ser órfão é um tiro no peito, não importando a idade, mas a maturidade me regenera em instantes.
Eu estou num jogo e venho para ver a despedida de um ídolo do meu clube, para ver o ballet da vida que a minha torcida vai proporcionar, mas ao mesmo tempo reencontrar meu passado. São muitos e muitos anos, são vitórias inesquecíveis com derrotas idem. A perfeição não existe; a vida, sim.
Perto de mim, garotinhos esbugalham seus olhos antes do jogo porque esperam o último ato de Fred, o maior ídolo de todos eles. Eu era um garotinho quando Rivellino foi embora, depois Wendell, depois Edinho e Cláudio Adão, sei o que é aquilo. Minha única vantagem é ser testemunha de que tudo passa, que a máquina do tempo não para e que os ídolos precisam passar para que venham novas sementes a germinar o futebol.
[Afonsinho, um dos maiores jogadores de seu tempo, encerrou a carreira no Fluminense em 1981. Ainda jogava muito. Ganhou várias notas 10 dos jornais em seus três meses de Laranjeiras. Isso já passou de quarenta anos.
No novo Maracanã, a torcida tricolor poucas vezes encheu o estádio. As campanhas não ajudaram, nem a escassez de títulos, mas alguma coisa mudou. O futebol é outro, o povão está alijado do estádio, as pessoas estão empobrecidas e há muito sofrimento.
O sábado foi mais do que agradecer a Fred ou testemunhar o fim de sua carreira. Para pessoas como eu, que já viram e viveram muita coisa, que estão mais próximas do fim do que do começo, a arquibancada repleta de três cores foi o reencontro com minhas raízes, com o que vivi ali por muitos e muitos anos.
Apesar de todas as dificuldades e dos tempos modernos, o futebol ainda faz com que sessenta mil tricolores compareçam ao Maracanã. Dá a certeza de que ainda estamos muito vivos, tal como em tantas e tantas ocasiões que agora parecem tão distantes.
Meu momento culminante foi com a entrada do time em campo. Os tanques de fumaça criaram uma espessa nuvem branca que aos poucos subiu, cobrindo tudo. A gente sabe que não era, mas parecia demais o velho e bom pó de arroz que cativou milhões de tricolores para sempre. Olhei para baixo e vi a multidão alucinada na geral imaginária. Olhei para o lado e vi meu pai balbuciar alguma coisa enquanto apertava minha mão. Na impossibilidade daquela fantasia, o Marcelo presente também ao lado trouxe o conforto que a gente precisa quando se sente só no meio da multidão.
O Fluminense venceu, Fred se despediu, teve celebração e homenagem, a torcida saiu feliz. Os garotinhos de 2022 já procuram pela próxima partida. Ainda tensos com a saída do ídolo, eles esperam pelos novos jogadores que possam arrebatar os corações em três cores. A fumaça dos tanques não é o pó de arroz, mas aquele momento mágico nos fez sentir como se estivéssemos nas nuvens.
Um jogo nunca é um jogo só. São muitos e muitos jogos. Os corações mais atentos sabem que, num Maracanã lotado, o passado e o presente andam de mãos dadas.
Meio século depois de comandar o maior time de todos os tempos – a Seleção Brasileira tricampeã mundial em 1970 -, Pelé completa 80 anos.
Desde a vitória inesquecível no México, jamais foi superado, sequer igualado ou, pelo menos, tendo um concorrente em seu encalço, ainda que a cem ou duzentos metros de distância.
De lá para cá, vimos Cruiyff, Rivellino, Maradona, Rummenigge, Sócrates, Platini, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo, CR7, Zidane, Messi, Neymar e mais um exército de super craques fantásticos, mas nenhum deles sequer ameaçou no o posto do Rei do Futebol, o Atleta do Século XX.
Ao contrário da praxe de um país que, a cada quinze anos, esquece o que se passou a cada quinze anos, a carreira de Pelé pode ser vista e revista de muitas formas e com franca digitalização: revistas, filmes, documentários, vídeos, livros e muitos, muitos gols e jogadas. Só desconhece sua obra quem quer.
Não é preciso concordar com as posições políticas nem com as questões familiares de Pelé – ambas dignas de crítica livre – para reconhecê-lo como o maior jogador de futebol de todos os tempos. E sua arte não pode ser diminuída. Não vale apenas para Pelé, mas também para Pablo Picasso, George Gershwin, Tom Jobim, Basquiat, Andy Warhol, Charles Chaplin, Charles Bukowski, Jack Kerouac, Paul McCartney, Madonna, Janis Joplin, Susan Sontag, Indira Gandhi, Glauber Rocha e uma antiga lista telefônica imensa de personalidades geniais que foram – e/ou são – seres imperfeitos, simplesmente porque a perfeição plena de um ser humano não existe. Você mesmo(a) que lê estas linhas, já cometeu erros que considera até graves, mesmo que não tenham resultado na morte de ninguém? Eu cometi, reconheço e alguns deles me doem diariamente, mesmo quando eu não fui diretamente responsável, assim como algumas das pessoas que mais admirei e admiro já cometeram, inclusive contra mim. Todas estão perdoadas. Nenhuma delas foi ou é Pelé.
Gostaria de compartilhar uma pequena história de um colega, hoje jornalista consagrado, iniciante há duas décadas. Ao saber que Pelé desembarcaria nas Laranjeiras para uma reunião no Palácio Guanabara, se mandou para lá cedinho e abordou o Rei quando não havia um repórter por perto, em pleno gramado tricolor. Foi atendido com toda a gentileza em plena alvorada e, quando os seguranças chegaram perto para intervir, Pelé imediatamente pediu para que se afastassem e continuou atendendo o jovem e desconhecido repórter.
O maior craque de todos os tempos levou o nome do Brasil por todos os quatro cantos do mundo, num tempo em que o país procurava seu lugar no planeta. Seus números falam por si. Voltando às referências artísticas, muitos dizem que Nelson Rodrigues – outro brasileiro genial e que também não está isento de críticas – era o nosso Shakespeare. Outros dizem que Miles Davis – outro monstro com histórias controversas – foi o Pablo Picasso do jazz. Outros dizem que o maravilhoso Tom Jobim – que hoje seria apedrejado – foi e é o nosso George Gershwin. Pois bem, dentro das quatro linhas Pelé foi a soma de todos esses artistas geniais e mais um pouco. Carregando consigo a tradição de heróis como Friedenreich e Zizinho, ele desenhou uma carreira sem precedentes na história do futebol e hoje, quase quarenta anos depois, todos alimentamos o sonho de ver algo parecido com Pelé em campo. É difícil imaginar que ele possa ser concretizado. Pelo menos o Google e o YouTube aí estão para provar tudo que foi realizado pelo Rei.
“Vê-lo jogar, bem valia uma trégua e muito mais. Quando Pelé ia correndo, passava através dos adversários como um punhal. Quando parava, os adversários se perdiam nos labirintos que suas pernas desenhavam. Quando saltava, subia no ar como se o ar fosse uma escada”, escreveu Eduardo Galeano, um Pelé da literatura, em seu espetacular livro “Futebol ao sol e à sombra”.
Antes disso, em 1958, escreveu Galeano: “Pelé magricela, quase menino, incha o peito para impressionar e ergue o queixo. Ele joga futebol como Deus jogaria, se Deus decidisse se dedicar seriamente ao assunto. Pelé marca encontro com a bola onde for e quando for e como for, e ele nunca falha.
Até pouco tempo, engraxava sapatos no cais do porto. Pelé nasceu para subir, e sabe disso.”
A vida nos reserva muitas surpresas. O ano era 2016 e já começou cercado de muita expectativa. A esposa estava grávida, após inúmeras tentativas, e o tão sonhado filho estava a caminho. Tudo girava em torno desse acontecimento e estávamos muito felizes. De repente, a saúde da sogra que já vinha abalada se complica e ela é internada. Preocupação total. Mal tivemos tempo de respirar e vem outra notícia: um primo, quase um irmão, cai da laje da sua casa e também é internado com suspeitas de ficar paraplégico. Comoção total.
O tempo passou. O filhote nasceu e hoje é um meninão muito esperto e inteligente. A sogra, infelizmente nos deixou no ano passado, por conta de complicações da saúde. Hoje, o que nos resta é a saudade. E o primo? Bom, o primo José deixou o hospital mas infelizmente o diagnóstico de paraplegia se confirmou. Se aposentou por invalidez e hoje passa o tempo em sua cama, tentando encontrar motivos que o façam resgatar a alegria de viver.
Ontem, como sempre faço, falei com ele e, companheiros que éramos nas peladas de rua, a pauta quase sempre é futebol. No meio da nossa conversa recebo uma mensagem do eterno craque Paulo Cézar Lima, o PC Caju. Fiz a conexão na hora. Por que não pedir ao PC para enviar uma mensagem de conforto ao primo? Ele é botafoguense, tem o PC como um dos seus ídolos e certamente ficará feliz em receber esse carinho da parte dele. No melhor estilo “calçar a cara”, pedi o favor ao PC.
Assim o fiz mas devo confessar que não alimentei muita esperança não. E explico: PC é um ícone do futebol mundial, deve haver umas trocentas pessoas querendo falar com ele, entrevistá-lo, escreve as suas colunas, enfim, uma agenda lotada. Mas ele fez um áudio. E me enviou em menos de um minuto após o pedido. Transcrevo:
“Bom dia, salve José! Saudações botafoguenses. Muita força, muita perseverança, muita fé em Deus. Muita fé em você também que é mais importante nessa hora mas é Deus, lógico, que está ao nosso lado, todos os dias, todas as horas. Mas somos nós que temos que correr atrás e lutar, né? Que tudo corra bem, que você se recupere e vamos ver se após essa quarentena possamos tomar um café juntos aí, falou? Um grande abraço, muita saúde, tudo de bom. Um abração do tricampeão mundial Paulo Cézar Lima.”
Não preciso nem dizer o quanto esse áudio me emocionou e, de prontidão, agradeci demais a ele. Encaminhei o áudio para o José e foi algo assim muito poderoso. Ele me respondeu emocionado num primeiro áudio dizendo que não estava acreditando naquilo. O seu ídolo mandando um áudio específico para ele. Eu falei que era para acreditar e que enviasse um também que eu encaminharia para o PC. Moral da história: o PC acabou me pedindo o telefone do José, ligou para ele e, por instantes, não havia mais doença, não havia cama, não havia dor. A voz triste deu lugar à alegria. Só havia a magia do futebol a unir o ídolo e o fã, numa conversa onde ambos voltaram no tempo. O tempo em que um encantava a todos nos gramados mundo afora e o outro o imitava nas peladas de rua de seu bairro.
O que temos aqui meus amigos é a prova cabal do poder do futebol e da paixão que ele arrebata. Aquele momento em que um ídolo faz mais pelo torcedor que um psicólogo. O momento em que ele também é um remédio. Não sei se os atuais “craques” teriam tempo e vontade para fazer isso. São muitos assessores, muito estafe, muito marketing. Mas o que importa é que Paulo Cézar Lima, o grande PC Caju, o fez. E isso não tem preço. Como te disse PC: que Papai do Céu te dê em dobro! Você é gente!
Mais do que um zagueiro dos bons, Moisés Matias de Andrade era o típico carioca: zombeteiro, irreverente, bem humorado, amante das praias e das ruas.
Autor de pérolas como “Zagueiro que se preza não ganha o (prêmio) Belford Duarte” e “Da medalhinha pra baixo é tudo joelho”, ele fez época no futebol brasileiro dos anos 1970, jogando pelos grandes clubes cariocas e também pelo Corinthians (onde foi campeão em 1977).
Depois, foi um personagem muito ligado ao Bangu, como jogador e treinador, num tempo de grande destaque da equipe alvirrubra, sendo vice-campeão carioca e brasileiro em 1985.
O futebol carioca vivia uma de suas melhores épocas, entre os anos 1970 e 1980, recheado de craques, prestígio e com o Maracanã muitas vezes lotado. Os jogos eram empolgantes, as rivalidades eram saudáveis e o torcedor tinha prazer em acompanhar as partidas.
Moisés faleceu em 2008, e é um patrimônio esquecido da cidade do Rio de Janeiro que precisa ser resgatado. Uma de suas criações tem a ver com o Carnaval: o Bloco das Piranhas, que desfilava em Madureira, composto por jogadores de futebol e celebridades, todos vestidos de mulher. No Bloco das Piranhas, Dé O Aranha, Luisinho Lemos, Joel Santana, Alcir Portela e Brito eram nomes certos a cada folia.
Uma das grandes celebrações de rua entre os anos 1970 e 1990, que infelizmente não teve sequência – dependia muito dele, Moisés, que era o líder e promotor do bloco. O retrato de um futebol mais simples, do povo, antes da era dos supersalários, seguranças e assessores de imprensa.
Passando pelas cinco regiões do Brasil, a nova série inédita Série C apresenta um novo olhar da cultura brasileira através do Campeonato Brasileiro Série C.
Acompanhando os mais diversos times da Série C, a produção da Raccord, mostra, através do esporte mais popular do Brasil, as contradições, o sincretismo, a popularidade e riqueza do povo que recebeu a Copa do Mundo em 2014. O jogador, o presidente, os treinadores e, claro, os torcedores, são personagens que ajudam a retratar as peculiaridades desta competição que é considerada passagem obrigatória para qualquer time recém-criado que pretenda se juntar às seletas equipes do futebol brasileiro.
Personalidades como o cantor Raimundo Fagner, o rapper MV Bill, Flávio Gomes, Hugo Giorgetti, Juca Kfouri e o cineasta Halder Gomes fazem seus comentários sobre o enorme universo que existe em torno do campeonato. Retratando as mais diversas culturas do país, a série contou com a presença de times que representam as cinco regiões do Brasil: Águia de Marabá (Marabá | PA); Juventude (Caxias do Sul | RS), Cuiabá (Cuiabá | MT), Fortaleza (Fortaleza | CE), Madureira (Rio de Janeiro | RJ), Portuguesa (São Paulo | SP) e Salgueiro (Salgueiro | PE).
Nesta quinta-feira começa a campanha de crowdfunding para financiar o documentário “Todo juiz é ladrão; Cabelada, não!”, com direção de Leandro Araújo.
Luiz Carlos Gonçalves, o Cabelada, foi um dos árbitros mais populares e folclóricos da história do futebol carioca. Cunhou o bordão “Todo juiz é ladrão, Cabelada não!”
Cabelada tem tantas histórias incríveis que decidimos fazer um documentário sobre ele. A ideia é contar com muito bom-humor os “causos” da época de árbitro e da vida boêmia, com imagens de acervo de TV, notícias de jornal, áudios de rádio, fotos antigas, além de entrevistas com:
– Ex-jogadores
– Dirigentes de clubes cariocas
– Personalidades do samba
– Jornalistas esportivos
– Amigos e familiares
O filme já começou a ser produzido com recursos pessoais e já temos até teaser trailer. Mas para dar prosseguimento a este projeto precisamos levantar mais uma graninha. Por isso vamos lançar um financiamento coletivo no Catarse.
O financiamento coletivo funciona assim: cada um contribui com o quanto puder na página do filme no site do Catarse. Dependendo do valor da contribuição você terá direito a uma ou mais recompensas. Teremos link para ver o filme online, livros, DVD e muito mais.
A arrecadação começa nesta quinta ao meio-dia. Chame a galera para apoiar. Convide ao menos três amigos para esse evento e nos ajude a fazer o documentário do Cabelada acontecer!
Equipe:
Leandro Araújo – direção e pesquisa
Maria Fernanda Quintela – câmera
Fabricio Barros – câmera
Yanieska Shanah Genaro – Fotografia e som
Victor Viana – entrevista
Para milhões de pessoas, a última imagem de Marcelo Rezende é a do apresentador de programas policiais. No entanto, antes disso ele foi um dos grandes jornalistas esportivos de seu tempo, cujo auge foi na chefia de redação da Revista Placar no Rio de Janeiro.
Em outubro de 1982, com a participação direta de Marcelo Rezende, a revista publicou aquela que foi sua mais impactante investigação: a do esquema da Máfia da Loteria Esportiva, que pode ser lida CLICANDO AQUI.
A mesma revista publicou uma matéria a respeito do tema um ano depois. CLIQUE AQUI.
Um perfil muito interessante de Marcelo está NESTE LINK.
E ainda um divertido bate bola com ninguém menos do que João Saldanha, seu ex-companheiro de redação, numa edição do programa Roda Viva da TV Cultura, falando sobre homossexualidade no futebol em 1986.
Cinco grandes gols de partidas decisivas, marcados pelos times que não foram campeões nas ocasiões, mas deixaram suas marcar eternas para o imaginário estético do futebol.
Ézio, em 1991, na final do Campeonato Carioca contra o Flamengo, que venceu por 4 a 2.
Pita, pelo Santos, na primeira partida da final do Campeonato Brasileiro de 1983, sendo 1 a 0 para o Santos na primeira parta e 3 a 0 Flamengo (campeão) na segunda
Henrique, pelo Figueirense, na primeira partida da final da Copa do Brasil de 2007, vencida pelo Fluminense depois de 1 a 1 no primeiro jogo e vitória tricolor por 1 a 0 no segundo
Mandzukic, pela Juventus, na final da Champions League de 2017, vencida pelo Real Madrid por 4 a 1
Neto, pelo Guarani, na primeira partida da final do Campeonato Paulista de 1988, vencido pelo Corinthians (1 a 1 no primeiro jogo e 1 a 0 Timão, na prorrogação da segunda partida)
Falecido nesta manhã (04), Luiz Melodia foi um dos mais talentosos artistas da MPB nos últimos 50 anos. Surgido em meados da década de 1960, finalmente se firmou com seu antológico disco de 1973. Desde então, alternou uma carreira com grandes sucessos populares e alguns momentos de recolhimento, mas sempre mantendo um público fiel à sua obra.
Em entrevista ao site Gafieiras – CLIQUE AQUI, Melodia falou de sua paixão pelo futebol e de sua vontade de ter sido jogador profissional:
“Acho que o futebol era o que vencia a minha cabeça. Porra! Era o que mais eu estava a fim, até porque toda a garotada… Independentemente de música, também era louco para ser um profissional, velho! E tinha muitos que treinavam no São Cristóvão, que era pertinho lá do São Carlos, do morro. Lembro do Murilo, que era um craque, Tic-Tac, de toda rapaziada de lá. Jogavam bola mesmo! Ourinho, Cutelo…”
Amigos, o velho Barbosa está fora do Brasil. Mas não importa e explico: — a ausência do verdadeiro craque é tão ativa, militante e absorvente como a presença viva. Só o perna de pau consegue ser esquecido. Um Barbosa, não. Está na longínqua e quase inexistente Escandinávia e continua sendo fato, continua sendo notícia. Ausente dá uma sensação de presença física.
O velho Barbosa! Digo “velho” e já retifico: — não é velho coisa nenhuma. Amigos, não existe a menor relação entre Barbosa e a sua idade. Ou melhor: — idade e pessoa não coincidem no arqueiro vascaíno. Ele tem o quê? Uns 37, 38 anos. Para as outras atividades, o sujeito pode ter isso ou mais, impunemente. Mas o tempo, no futebol, é rapidíssimo. Um minuto vale um mês ou mais. E, aos 37 anos, o indivíduo é gagá para a bola, e insisto: — o indivíduo baba de uma velhice irremediável. A própria bola, o refuga e trai. E Barbosa continua notícia, continua fato pelo seguinte: — porque é eterno.
E quando Barbosa joga acontece apenas isto: — ele esfrega a sua eternidade na cara da gente. Há dias, escrevi, aqui mesmo, que se trata da eternidade mais viçosa já ocorrida no futebol brasileiro. No comum dos mortais, a vida é uma luta corpo a corpo contra o tempo. O sujeito olha a folhinha e toma um susto ao verificar que estamos em 59. 1959! É o caso de perguntar: — “Já?” Sim, amigos: — Já! Para Barbosa o problema de folhinha e de relógio não existe. É o homem sem tempo, que esqueceu o tempo, que vive sem o tempo, muitíssimo bem. Há os que rosnam: — “Barbosa pinta os cabelos!” De fato, tem já cabelos brancos. Aí o único detalhe de velhice na sua figura ágil, elástica, acrobática.
O problema do arqueiro, porém, não se resume ao desgaste físico. Não. Ele sofre um constante, um ininterrupto desgaste emocional. Debaixo dos três paus, parado, dá ideia de um chupa-sangue que não faz nada, enquanto os outros se matam em campo. Ilusão! Na verdade, mesmo sem jogar, mesmo lendo gibi, o goleiro faz mais do que o puro e simples esforço corporal. Ele traz consigo uma sensação de responsabilidade que, por si só, exaure qualquer um. Amigos, eis a verdade eterna do futebol: — o único responsável é o goleiro, ao passo que os outros, todos os outros, são uns irresponsáveis natos e hereditários. Um atacante, um médio e mesmo um zagueiro podem falhar. Podem falhar e falham vinte, trinta vezes num único jogo. Só o arqueiro tem que ser infalível. Um lapso do arqueiro pode significar um frango, um gol, e, numa palavra, a derrota. Vejam 50. Quando se fala em 50, ninguém pensa num colapso geral, numa pane coletiva. Não. O sujeito pensa em Barbosa, o sujeito descarrega em Barbosa a responsabilidade maciça, compacta da derrota. O gol de Ghiggia ficou gravado, na memória nacional, como um frango eterno. O brasileiro já se esqueceu da febre amarela, da vacina obrigatória, da espanhola, do assassinato de Pinheiro Machado. Mas o que ele não esquece, nem a tiro, é o chamado “frango” de Barbosa.
Qualquer um outro estaria morto, enterrado, com o seguinte epitáfio: — “Aqui jaz Fulano, assassinado por um frango.” Ora, eu comecei a desconfiar da eternidade de Barbosa quando ele sobreviveu a 50. Então, concluí de mim para mim: “Esse camarada não morre mais!” Não morreu e pelo contrário: — está cada vez mais vivo. Nove anos depois de 50, ele joga contra o Santos, no Pacaembu. Funcionou num time de reservas contra um dos maiores, senão o maior time do Brasil. E foi trágico, amigos, foi trágico! Começa o jogo e, imediatamente, Pelé invade, perfura e, de três metros, fuzila. Fosse outro, e não Barbosa, estaria perguntando, e até hoje: — “Por onde entrou a bola?” Barbosa defendeu e com que soberbo descaro! Daí para frente, a partida se limitou a um furioso duelo entre o solitário Barbosa e o desvairado ataque santista. Foi patético, ou por outra — foi sublime. E porque, na sua eternidade salubérrima, ainda fecha o gol, eu faço de Barbosa o meu personagem da semana.
Publicado na Manchete Esportiva, 30/5/1959, e também em “A Pátria de Chuteiras”, 2013, página 72
Dadinho, com 163 gols é o maior artilheiro da história do Clube do Remo, e três vezes artilheiro do campeonato paraense.
Paulista, começou a carreira no Itabuna, no anos de 1978, tendo defendido diversos outros clubes em sua carreira: Saad-SP, Santa Cruz, o extinto Pinheiros (hoje Paraná Clube), Inter de Porto Alegre, Ceará, ABC e Paysandu.
A história de Dadinho também é marcada no grande rival do Remo, o Paysandu: ele foi o autor do gol do título brasileiro do Papão na Série B em 1991.
Em 2011, o artilheiro morava em Indaiatuba-SP com a esposa e dois filhos, trabalhando fora do futebol, numa concessionária de veículos, na parte de monitoria do sistema de câmeras de segurança da loja.
O segundo maior artilheiro da história do Remo é o carioca Alcino “Motora” (Alcino Neves dos Santos Filho), com 158 gols. Começou no Madureira, depois também atuando pela Portuguesa de Desportos, Grêmio, Atlético Goianiense, Bangu, Rio Negro-AM, Internacional de Limeira e Pinheirense-PA. Foi tricampeão paraense entre 1973 e 1975.
Vindo de uma juventude difícil, chegando mesmo a ser preso e condenado no Rio de Janeiro, Alcino ganhou a torcida azul por sua garra, irreverência e pelo estilo que depois seria conhecido anos depois por bad boy. Faleceu em 2006, numa situação muito difícil na cidade paraense de Ananindeua, onde morava de favor em um sítio.
Foi um dos maiores árbitros da história do futebol brasileiro, dirigiu e auxiliou grandes decisões, chegou ao quadro da FIFA quando isso era algo realmente relevante e marcou época no underground paulistano – a Boca do Lixo em tempos de liberdade sexual plena mas também do início da AIDS.
Seu grande talento na arbitragem não o eximiu de protagonizar confusões, chegando a expulsar PMs e até um cachorro de campo.
Seguia o estilo de Armando Marques como árbitro e, também por isso, acabou ganhando o apelido de “Pantera Cor de Rosa” (tinha um andar semelhante ao da personagem do desenho animado).
Teve um final de vida triste. Precisa ser valorizado à altura de sua contribuição para o esporte.
Há 46 anos, uma discussão se mantém no ar: o gol da final do Campeonato Carioca de 1971, vencida pelo Fluminense por 1 a 0 com um gol do ponta-esquerda Lula.
À época, com enorme manchetes e a crônica firme de alguns dos melhores textos da imprensa brasileira, casos de Armando Nogueira e João Saldanha por exemplo, estampou-se a versão de falta do lateral Marco Antônio sobre o goleiro Ubirajara Mota, sendo o Tricolor beneficiado por um erro crasso de José Marçal Filho. No entanto, além da discussão sobre aquela mesma falta, no mesmo lance Lula finalizou caindo porque supostamente sofrera pênalti de Mura.
A decisão de 1971 já provocou debates acalorados, análises profundas, livros e matérias.
Um dos maiores jornalistas da história do futebol brasileiro – e botafoguense de corpo e alma -, Oldemário Touguinhó assim escreveu na capa do Caderno B do Jornal do Brasil em 29 de junho de 1971, dois dias após a decisão:
Em 22 de novembro de 1979, numa quinta-feira à noite, o America recebia o time do Mixto de Mato Grosso para uma partida pelo Campeonato Brasileiro daquele ano. Embora o tradicional time rubro ainda tivesse uma boa torcida presente à maioria de suas apresentações, esta contou com apenas 1.236 pagantes, num Maracanã deserto.
Depois de um primeiro tempo ruim, o Mecão acabou goleando o adversário (este com um uniforme muito parecido com o do Vasco da Gama) pelo placar de 6 a 1. O grande destaque da partida no segundo tempo foi o ponta-esquerda Silvinho. Era ainda o America de Uchoa, o eterno zagueiro Alex, o volante Merica, o meia Nelson Borges e o centroavante César.
Pela equipe de Mato Grosso, o destaque era o centroavante Bife, o maior artilheiro da história do futebol do Estado, com passagem pelos times do Porto e Belenenses de Portugal, tendo falecido em 2007 aos 57 anos. E também o veloz jogador Gonçalves.
Foi a maior goleada do America na história do Maracanã e também em jogos do time pelo Campeonato Brasileiro. Alijado da disputa nacional em 1987 por conta de sua bárbara exclusão da primeira divisão, não se recuperou até hoje. O Mixto ainda disputaria outros campeonatos brasileiros da primeira divisão até 1985.
Qual a razão do apelido de Bife, que se chamava José Silva Oliveira?
Segundo o historiador Reinaldo Queirós, o apelido do craque deu-se quando ele tinha 12 para 13 anos, já era um bom jogador entre a molecada e sua mãe era vendedora de marmitas para os soldados de um quartel. A entrega era em três viagens numa velha caminhonete de um tio. Bife viajava atrás segurando as marmitas para que a comida não derramasse. Em certo dia, as marmitas estavam muito cheirosas, ele então abriu uma e comeu o bife que ficava em cima do arroz e do feijão. Estava tão bom que comeu 15 bifes. Entrega feita, os soldados, famintos, “sorteados” pela ausência da preciosa mistura, chiaram com o sargento. Na entrega seguinte, o moleque foi detida e confessou. A mãe dele não foi destituída do fornecimento, o garoto continuou fazendo as entregas e nunca mais aprontou, mas ficou com o apelido de Bife.
Ao som de Waldir Calmon e sua orquestra, com um verdadeiro hino do futebol brasileiro: “Na cadência do samba”, de Luiz Bandeira. A gravação é do ano de 1956. Ao ouvi-la, todos os torcedores com mais de 40 anos de idade embarcam num mundo de sonhos, gols e lances espetaculares.
Tempos em que o futebol abarrotava os estádios brasileiros de paixão, com públicos imensos.
Sob direção e produção de Pedro von Krüger e Felipe Nepomuceno, o documentário “A Incrível Volta ao Mundo do Tricolor Suburbano”
A história da atração é contada no início da década de 1960, época onde os principais torneios de futebol disputados no Brasil eram os estaduais, já que o Campeonato Brasileiro nunca havia sido realizado. As equipes, após o término destas competições, ficavam um período grande sem jogar, que utilizavam com frequência para realizar excursões nacionais e internacionais. Essas viagens eram muito comuns entre os clubes de maior tradição.
Em 1961, o empresário José da Gama, conhecido como um dos primeiros negociadores de jogadores do país, resolveu levar o Madureira Atlético Clube para viajar pelo mundo. Ele planejava, desde o começo, não apenas fazer uma simples excursão, mas sim rodar o planeta inteiro com o Tricolor Suburbano.
O documentário, feito em sua grande parte de imagens de arquivo, se relaciona intimamente com o tema “Memórias” por relembrar a grande viagem realizada pelo Madura. No momento em que era vivida guerra fria, o Madureira levou o futebol do Brasil até países como Cuba, Rússia e Japão. Todo o material foi buscado com os ex-jogadores e suas famílias.
O primeiro caso comprovado de doping no futebol brasileiro aconteceu em 1973, numa partida entre o Atlético Mineiro e o Vasco da Gama, com o atacante Cosme da Silva Campos, uma das grandes promessas dos gramados daquele tempo. O episódio teve repercussão nacional, principalmente por conta da hipocrisia que sempre cercou o tema, ainda mais em tempos de ditadura. Recuperado meses depois, Campos voltou a jogar, mas perdeu a guinada que poderia ter dado em sua carreira.
Em detalhada reportagem da revista Placar, todo o caso é apresentado por Arthur Ferreira, o saudoso Raul Quadros e o decano José Trajano, além de uma entrevista com Campos feita em 2012 por alunos de Jornalismo do Centro Universitário UNA.
Não era uma época das mais fáceis no Brasil, mas o futebol era uma espécie de alívio para a vida sofrida de milhões de torcedores.
O Maracanã, palco maior do futebol mundial, recebia Flamengo e Vasco para o eterno clássico, por ocasião da décima rodada do campeonato carioca de futebol daquele ano.
Horário tradicional das 21 horas e 15 minutos.
Uma data marcante para Marcelo, o então goleiro da equipe vascaína, jovem de 24 anos que prometia fechar o gol da Colina, já com a bagagem de ter jogado pelos times do Yuracan de Itajubá, São Paulo, Palmeiras, Ferroviário de Botucatu e Bonsucesso.
O resultado da partida teve efeito completamente oposto.
O goleiro acabou levando dois gols da intermediária, um deles num lance que parecia muito fácil, marcados por dois craques do Flamengo: os meio-campistas Carlinhos e Nelsinho.
No caminho do vestiário, Marcelo decidiu que nunca mais vestiria a camisa do Vasco da Gama ou de qualquer outro time. A partida se encerrou com o placar de 2 a 1 para o Rubro-Negro.
Ao final do primeiro tempo, o goleiro já havia se desentendido com o treinador Eli do Amparo, que o havia acusado de falhar no gol do empate do Flamengo, feito por Carlinhos. Os dois precisaram ser contidos pelos companheiros para não brigarem no vestiário.
Mas quem disse que só Marcelo sofria em campo? O próprio árbitro da partida chegou a desistir de arbitrar, alegando falta de condições emocionais (vide matéria abaixo), com a partida sendo paralisada e retomada.
Após o segundo gol, marcado por Nelsinho, craque da Gávea, quase do meio de campo no primeiro minuto do segundo tempo, Marcelo alegou não ter mais condições emocionais de prosseguir jogando. Depois de mais de 15 minutos de paralisação do jogo, com atletas dos dois times pedindo para que reconsiderasse a decisão, Marcelo se manteve irredutível.
O goleiro deixou o gramado aplaudido de pé por mais de 90 mil pessoas. Após esta partida, encerrou a carreira.
Em depoimento ao canal ESPN, disse Marcelo:
“Eu bati o tiro de meta a bola atravessou, o Célio deu uma cabeçada, o Nelsinho matou no peito, veio andando e chutou de longe. Eu fui abaixar pra pegar, a bola bateu no chão, bateu no meu braço e entrou. Ela nem chegou ao fundo da rede. Entrei no vestiário e quem estava me esperando era o goleiro Barbosa. Ela me disse: ‘garoto, levante a cabeça porque o que aconteceu comigo foi pior do que o aconteceu contigo’”.
À época gerou inúmeras crônicas publicadas por jornais e revistas, uma delas escrita por Dom Marcos Barbosa (monge e cronista que se tornaria imortal da Academia Brasileira de Letras em 1980), intitulada “Uma Rosa do Povo”, onde fazia uma comparação entre o goleiro e o senador americano Bob Kennedy, bastante aplaudido em um encontro nos EUA durante a campanha presidencial. Marcelo emoldurou esta crônica
No ano de 1970, ao se formar em Engenharia, Marcelo convidou Barbosa pessoalmente para prestigiar a entrega do diploma. O encontro acabou gerando inspiração ao imortal, que tempos depois escreveu outra crônica batizada como “Uma Crônica no Quadro”.
Depois do futebol, Marcelo aposentou-se como engenheiro, tendo trabalhado por 25 anos na IBM.
Onde tinha João Saldanha, tinha também reflexão, humor e causos imperdíveis. É o caso desta entrevista ao programa Roda Viva, dividido em três blocos, da TV Cultura no ano de 1986. Aqui, apresentamos o segundo. Os outros dois podem ser encontrados com facilidade no YouTube. Para os mais jovens, é divertido ver o apresentador Marcelo Rezende ainda como jornalista esportivo na bancada.
Tática, técnica, as Feras do Saldanha, a Democracia Corinthiana, a incrível história do tiro no goleiro Manga, homossexualidade no futebol e muito mais.
O futebol já foi mais simples, divertido e espirituoso.
Há vinte anos, a sensação do futebol carioca estava nas frases espirituosas do treinador Jair Pereira, daquela vez comandando o Botafogo.
Jair trabalhou em mais de 30 clubes, foi campeão mundial de juniores pela Seleção Brasileira e bem antes disso, brilhou com a camisa do Vasco dentro de campo.
Profissional de respeito, querido por todos, divertido e competente, muito diferente do tom professoral que muito se vê hoje à beira do campo.
O Jornal do Brasil relembrava em 19 de setembro de 1996 os casos curiosos de alguns treinadores brasileiros.
Moisés, zagueiro de trocentos times, depois treinador (citado na matéria) e uma figura marcante do Rio de Janeiro, ao lado de mitos do futebol como Joel Santana, Brito e o falecido Alcir Portela.
Era o Bloco das Piranhas, famoso em Madureira por receber jogadores de futebol vestidos de mulher no Carnaval.
Jair Pereira e Moisés jogaram juntos no Bonsucesso. Na imagem abaixo, do livro “Vai dar zebra”, do jornalista José Rezende, Moisés é o quarto em pé da esquerda para a direita. Jair Pereira é o terceiro agachado, do meio.
Neste sábado, 17 de setembro, completa-se meio século do falecimento de Mário Filho, uma das figuras mais importantes do jornalismo esportivo brasileiro.
Ele jogou muito, muito e muito, às vezes ao lado de grandes jogadores e, em outras oportunidades, com futebolistas de qualidade discutível. No entanto, sempre brilhou. Num tempo em que seu time passava uma longa época sem conquistas, em várias oportunidades ele personificou a Estrela Solitária: Milton da Costa Mendonça, o Mendonça.
Filho de Mendonça, zagueiro do Bangu que teve a perna quebrada num lance com Didi, em 1951, para se aposentar, Mendonça chegou ao time principal do Botafogo pelas mãos do supertreinador Telê Santana, que o viu nos juvenis e imediatamente o alçou à equipe de profissionais.
Jogou por oito temporadas com a camisa alvinegra, nos tempos da recessão do clube, então mudado de General Severiano para Marechal Hermes. Um camisa 10 clássico, talentoso, especialista em passes e na bola parada. Assim como Heleno de Freitas, não precisou de conquistas para ser uma página eterna do livro dos dias do Botafogo.
Mendonça teve grandes jornadas no tempo em que o Maracanã facilmente recebia mais de cem mil torcedores. Agora, se perguntarem pelo jogo mais marcante, a resposta é inevitável: quartas de final do Campeonato Brasileiro de 1981, com o Botafogo vencendo o Flamengo (que seria campeão mundial meses depois) por 3 a 1. Seu drible no craque Júnior por ocasião do terceiro gol é uma legenda para todos os que acompanhavam o grande futebol brasileiro naquele tempo.
Meu objetivo aqui era saudar o golaço fantástico marcado por Camilo, jogador do Botafogo, na tarde de ontem contra o Grêmio.
Cheguei a fazer um rascunho de texto para tal. Basicamente o seguinte:
Só o golaço redime, só o golaço liberta. Foi assim que um dia o futebol brasileiro chegou a ser o melhor do mundo: com golaços. E grandes passes. E dribles estonteantes.
O golaço marcado por Camilo na partida Botafogo x Grêmio é daqueles que não se esquece. Remete aos melhores momentos do nosso esporte predileto, quando eles pipocavam aos montes em todas as rodadas.
Ontem, depois do gol, as redes sociais repercutiram imediatamente a obra de arte. Gente de todas as torcidas. Um sinal claro de que, rivalidades à parte, o torcedor brasileiro tem verdadeira adoração pelo futebol bem jogado, bonito, elegante.
Camilo prestou um enorme serviço ao seu Botafogo e a todos os que, desde sempre, fazem do domingo o dia de suas procissões sagradas da bola.
E começaria a ajustá-lo, quando meu amigo Rafael me mandou há pouco pelo Whatsapp a notícia da morte precoce de Mazolinha, ídolo alvinegro campeão de 1989 e um dos protagonistas da decisão contra o Flamengo e do gol eterno marcado por Maurício.
Sobre aquela noite inesquecível, meu amigo Fagner Torres, jornalista e blogueiro ESPN, tricolor, disse o seguinte no Facebook: “Por conta da notícia, revi os melhores momentos daquela decisão. Valter Senra dando o apito final. Jogadores se jogando ao chão sem saber o que fazer. Torcida ensandecida. Valdir Espinosa chorando. Emil Pinheiro dizendo ao repórter que podia morrer a partir dali. Eu era muito moleque, mas tenho flashes de ter visto o jogo na TV, acho que na Manchete. E o empurrão do Maurício no Leonardo é a cereja do bolo. Coisas que só o futebol do Rio de Janeiro era capaz de nos proporcionar.”
E repliquei: “Cara, um dia eu farei um conto sobre tudo o que vi naquele dia. Eu estava do lado do estádio a uma hora da partida. Fui embora para economizar grana, achando que a decisão acabasse adiada para domingo. Vi o jogo em casa. Nos minutos finais da partida,eu e meus pais, todos tricolores, choramos. O tempo todo víamos pessoas chorando. No dia seguinte, de manhã, eu fui para a UERJ, ao chegar em Botafogo, no viaduto, vi uma das cenas de futebol mais bonitas de toda a minha vida: centenas de botafoguenses deitados no gramado, no asfalto (também do viaduto), pessoas chorando, gritando, rolando no chão às seis e quinze da manhã. Uma cena que só superei quando vi o gol de barriga na arquibancada. Eu tenho saudade demais daqueles anos, das pessoas e daquele futebol. Eu tenho saudades do Maracanã e de ir com amigos só para secar o Flamengo de zoação. É duro olhar para trás e ver que o melhor já passou. Aquele foi o dia do Botafogo, mas pode ter certeza: o Rio de Janeiro quase todo veio abaixo.”
Zeh Augusto Catalano, também cronista deste PANORAMA, comentou em seguida. O jornalista Expedito Paz, idem. O primeiro, vascaíno. O segundo, santista. Fagner e eu, tricolores. Rafael, que deu a notícia, rubro-negro.
Poderia falar muitas coisas a respeito, mas o simples fato da interação entre tantos torcedores de clubes diferentes mostra o que é a memória de futebol, daquele futebol que estava outro dia aí mesmo, coisa de trinta ou vinte e cinco anos atrás.
Bastou dizer “Mazolinha” e todo mundo já soube de quem se tratava.
Morreu jovem e de forma inesperada. Ficou pobre. Teve uma carreira errante. Mas, naquele dia da grande final entre Botafogo e Flamengo, com o time de General Severiano há 21 anos sem títulos, ele foi um dos protagonistas de um grande dia da história do Rio de Janeiro e do Brasil. Eu tinha 21 anos de idade, estou perto dos 50 e me lembro daquilo como se fosse ontem: Zico, substituído, descendo a escada do túnel do Maracanã, a jogada pela esquerda e um gol que emocionou milhões de torcedores país afora, do Botafogo e de vários times. Um deles está aqui escrevendo.
Naquela noite, eu olhei para o rival como um amigo querido, um fraterno irmão. E essa é a minha dor: onde está aquele amor, aquele humor, aquele Maracanã?
Ao Mazolinha, meu muito obrigado. E também ao Camilo, que fez um gol tão bonito ontem a ponto de me fazer voltar à infância, quando esperávamos a TV para vermos os grandes gols, dos nossos times e dos outros.
Mazolinha e Camilo. H
Há coisas que só acontecem ao Botafogo, tais como a estrela solitária que navega pelas glórias na Via Láctea.
Ele foi um dos maiores jogadores da história do Cruzeiro, e marcou época no futebol brasileiro ao lado de outros craques da ponta esquerda entre a segunda metade dos anos 1970 e a primeira dos 1980 – uma posição que incrivelmente não existe mais – como Zé Sérgio, Zezé, João Paulo, Julio César “Uri Geller”, Ziza e Éder, entre outros.
João Soares de Almeida Filho, o Joãozinho, nascido em Belo Horizonte, 15 de fevereiro de 1954)
Disputou 482 jogos com a camisa celeste entre 1973 e 1982, sendo o oitavo jogador que mais a vestiu na história. Marcou 116 gols e é o décimo primeiro maior artilheiro da história do clube. Foi dele o gol que levou o Cruzeiro ao título da Copa Libertadores da América em 1976.
Era um jogo de bola, desses de garotos pelos quais ninguém dá nada ainda e, quando ninguém espera, oferece jogadores para ainda manter viva a chama do nosso futebol, tão combalido nos dias atuais.
Jogo num estádio do interior, transmitido pela rede pública, reprisado numa madrugada, João Gilberto tocando no CD player e a partida correndo enquanto eu também lia jornais.
Interrompi a leitura por instantes, fitei a tela e me deparei com um tiro de meta.
Não era uma jogada qualquer, era um tiro de meta.
No instante, o único ser vivo na tela focada a grande distância era o goleiro, um solitário goleiro com a responsabilidade de reconduzir o jogo carente de torcedores, repórteres e outros participantes – imagem que permaneceu por muitos segundos, dado um bloqueio momentâneo na transmissão.
Eis que a televisão me pareceu como um grande quadro, uma monumental aquarela, com aquele solitário menino estático a observar a bola e pensar em como iria chutá-la, para onde e com que força, tudo cercado pelo silêncio que só a voz de João é capaz de fazer ecoar.
Mais segundos, mais silêncio e a brutal solidão do goleiro na tela, como se ninguém mais estivesse no estádio a apreciar sua intenção, exceto eu.
Quando se pensa em futebol, é certo que muitos imaginam o grande gol, a jogada mirabolante, o passe apurado, o domínio com categoria, o drama do pênalti.
O tiro de meta, meus amigos, é um importante momento marginalizado: é difícil a sua consecução terminar em algum dos lances anteriormente descritos. Entretanto, não sei se pelas substâncias e solidão a mais ou alegria de menos, fiquei a contemplar aquela imagem congelada como um princípio de esperança – era um tiro de meta, amigos.
Naquele tiro, naquela cobrança, era possível identificar até um cotidiano de nossas vidas: depois do tiro de meta, após um interrupção, que o jogo recomeça.
Mais substâncias, tracei em minha confusa memória uma relação com minha própria vida, machucada por revezes que deveriam sair por uma imaginária linha de fundo, representados por uma bola.
A vida, amigos, ávida por si própria, voltaria após breve intervalo a ser vivida tão logo fosse trocada a bola por outra e a devida reposição pelo tiro de meta seria um recobrar de ânimo, um renascer das cinzas, um poente a abafar a tempestade – talvez seja este o significado da expressão popular “bola pra frente”, não advinda de um lançamento primoroso, mas sim do desprezado e esquecido tiro de meta.
Talvez daí seja a razão do futebol ser tão apaixonante e cobiçado por gente de todo o mundo: podemos encontrar relações diretas com nosso viver através da vida e morte do jogo.
A derrota pelo gol sofrido e a alegria pelo tento marcado; a beleza da jogada articulada e a besteira da bola perdida; a pressão que não derrota através do chute que vai pela linha de fundo e o recomeçar pelo especial tiro de meta, somente ele.
É preciso entender a força, o vigor e a esperança que um tiro de meta é capaz de mostrar.
É preciso notar a perspectiva que um tiro de meta pode trazer a um jogo de bola, tão preciso quanto um recomeçar na vida depois de uma derrota circunstancial.
Quando a imagem voltou, o goleiro continuou solitário; desferiu o chute e a bola foi para o meio de campo, com vários jovens a disputá-la numa outra imagem.
O estádio continuava vazio e é possível que eu fosse um dos poucos telespectadores.
Depois do revés, o jogo recomeçou tal qual cada vida faz e fará após um desânimo marcante porém passageiro, efêmero feito uma nova bola num canto de linhas de cal.
Geneton Moraes Neto, um dos maiores jornalistas brasileiros de todos os tempos, saiu de cena nesta segunda feira, aos 60 anos de idade. Muito antes do justo e razoável.
Foi um dos maiores desbravadores daquilo que se convencionou ser um dos temas mais “malditos” da história do futebol brasileiro: a Copa de 1950, com sua final trágica, destruindo carreiras e reputações para sempre por motivos exagerados.
Graças a Geneton, pudemos olhar para trás e tentar entender melhor o que foi a estupidez tão covarde em massacrar midiaticamente os jogadores da Seleção – vários morreram na miséria.
O documentário abaixo foi realizado com base no livro “Dossiê 50”.
João Havelange, um dos maiores dirigentes esportivos da história, faleceu hoje aos 100 anos de idade.
Com o devido respeito e as condolências, esta postagem revela alguns dos muitos aspectos da personalidade de JH, por meio do documentário “Conversando com JH”.
O filme conta o que há por trás da realização de uma biografia, a partir da relação de biógrafo e biografado. “Conversa com JH” conta a experiência de João Havelange e Ernesto Rodrigues durante a produção do livro “Jogo Duro – A história de João Havelange” (Editora Record, 2007).
Os muitos conflitos e obstáculos enfrentados que lidam com a apropriação da história de uma outra pessoa e como ela vê a si mesma no mundo.
A biografia, lançada em 2007, contou com mais de 140 entrevistas de profissionais do futebol, de todos os países do mundo.
Os conflitos culminam ao ponto que Ernesto cumpre seu compromisso de mostrar os originais para o ex-presidente da Fifa.
No Brasil, o ato de “virar casaca”, involuntariamente ou não – até mesmo por causas nobres, homenagem a amigos, ações comunitárias e filantrópicas – é condenado como se estivesse previsto no Código Penal.
Também vale para jogadores muito identificados com um clube e que passam a atual num rival, ou mesmo um clube de outro estado, e enfrentam a antiga casa.
Mas será que é possível realmente identificar os personagens abaixo pelas camisas que vestem/mostram nas imagens, às vezes de forma pontual e única?
Parece claro que não.
1) Zico
2) Pedro Bial, supertricolor (homenageando Armando Nogueira)
3) Pelé no Fluminense
4) O Rei do Futebol no Flamengo
5) O mito botafoguense Garrincha
6) Tita, criado na Gávea e com passagem por diversos clubes brasileiros
7) Roberto Dinamite, símbolo vascaíno
8) O cantor Fagner, que já foi Ceará, Fortaleza, Fluminense etc
9) O cantor botafoguense Agnaldo Timóteo, também um torcedor firme do América
10) Nunes, intimamente vinculado ao Flamengo
11) Biro-Biro, eterno ídolo da Fiel
12) Casagrande, marca registrada do Corinthians
13) Serginho Chulapa, muito ligado ao Santos e com passagem marcante pelo Sâo Paulo
14) Adílio, o “cobra criada” da Gávea, apelidado pelo locutor Waldyr Amaral
Em 2012, Raimundo Fagner, um dos grandes artistas da MPB, concedeu entrevista ao site Portal da Copa, recordando duas histórias com o mundo do futebol: amigos, convivências, e lembranças da amizade com jogadores como Zico e o falecido Geraldo.
Fim de jogo ontem, Fluminense 2 x 0 Cruzeiro em Edson Passos, na Baixada Fluminense.
A repórter aborda o goleiro Fábio, do Cruzeiro, que acabava de completar 700 jogos pelo time mineiro justamente na derrota para o Flu.
A pergunta foi um pedido de explicações sobre a péssima atuação de seu time.
Fábio não soube explicar. Falou por dois minutos sem dizer nada de muito coerente.
Nem uma única letra sobre deus (assim mesmo, com letra minúscula).
Quando das vitórias, Fabio é um desses jogadores que dizem que foi tudo para glória de Jesus. “Jesus nos abençoou e ganhamos a partida”. Curiosamente, na hora das derrotas, Jesus é esquecido. Será que o time do Cruzeiro anda pecando? Será que não é “em nome de Jesus” que o time adversário tenha jogado infinitamente melhor que seu time e vencido, sem senões, a partida? Deus só vence?
O que acontece, então, quando dois times “ungidos pela fé” se encontram? Só o que vence glorifica de joelhos? E se empatar?
Aqui, no Panorama, temos representantes de todas as religiões. E da falta delas também. Umbandistas, evangélicos, ateus. Eu sou católico. E digo, com orgulho, que não faço orações pedindo vitórias, gols ou sucesso em uma disputa de pênaltis. Tenho vergonha de pedir pra Deus que uma bola entre quando tem gente passando fome pertinho de onde vejo confortavelmente um jogo de futebol. E mesmo que eu rezasse, do outro lado do campo, teríamos um bando de gente rezando pro outro lado. Isso não significa que eu desmereça quem reze. De forma alguma. Me irrita é ver jogador de futebol ganhar milhares de reais na realidade em que vivemos e só lembrar d’Ele nas horas boas.
Imaginem o pobre Deus, no conforto do seu céu, olimpo ou seja lá como a sua religião chame a Sua casa, num dia de Fla-Flu. Milhões de cidadãos acendendo velas, fazendo despachos, orações, oferendas, pagando dízimo, fazendo promessas.
Aí um dos lados vence e os vencedores louvam a Deus – como se Ele fosse o autor dos gols ou das pixotadas que conduziram os números do placar – e os perdedores… O ignoram!
Fábio, por que você não glorificou a Deus na derrota? Será que, no futebol, só a vitória é de Jesus?
Parece piada, mas não é. Quando só menciona a religião nas vitórias, o goleiro (que é o exemplo da vez, mas poderia ser qualquer jogador, inclusive algum do Fluminense ou de qualquer time do futebol brasileiro) deprecia a própria profissão e o esforço de todos os profissionais que o cercam e que trabalham para que o time ganhe. Deus pode influência nos resultados e mover montanhas, mas sem treino, dedicação, vontade firme e – suponho seja o caso – confiança e obediência ao técnico e líder, a bola não vai entrar e o time não vai ganhar.
Deus ajuda quem cedo madruga. E treina, e se dedica, e luta. O time pode até perder, mas, se for dedicado, o torcedor dará apoio.
Parece que o Fluminense rezou muito neste domingo. Daí graças!
Em 13 de julho de 1966, o Jornal do Brasil noticiava a preocupação dos húngaros com a possível evolução da Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Inglaterra, depois de estrear na véspera com uma vitória sobre a Bulgária por 2 a 0, com gols de Pelé e Garrincha.
Tudo seria diferente das preocupações húngaras dois dias depois: Hungria 3 x 1 Brasil e o encaminhamento para aquela que, desde então, foi a pior participação do escrete canarinho numa Copa, com a eliminação na primeira fase da competição. Eram claros os reflexos de tudo o que acontecia no país em termos políticos, com claros reflexos em nosso futebol.
Em tempos em que o jornalismo anda rareando, era um verdadeiro luxo a escalação dos correspondentes internacionais do JB na Inglaterra: José Inácio Werneck, João Máximo, Oldemário Touguinhó e grande elenco. Outras palavras.
E vocês, velhos amigos, onde moram agora que não mandam sequer um sinal de fumaça?
Alô, alô, marcianos: aqui quem fala é da Terra. Para variar, estamos em guerra, debaixo de violência, desonestidade, hipocrisia, mentira e injustiça.
Nosso futebol já foi uma espécie de entorpecente do bem: o mundo desabava, mas tínhamos o porto seguro nas tardes de domingo do falecido Maracanã.
Brigamos pelo Didi, discutimos por 1971 e também por 1957. Ah, os clássicos! O perfeito contraste entre o mundo das cores especiais contra o branco e preto. As histórias, as memórias, o drama. Do complexo de vira-latas ao triunfo definitivo no México, foram vinte anos de luta até a batalha final.
Mais dez, Nelson fechou a máquina de escrever.
Mais outros dez, Saldanha desligou o microfone.
Ficou um mar de histórias e recordações, tudo escoado para o lado, porque o que vemos aqui e agora sem vocês é a CBF, a opressão global, os escândalos da Fifa, o mundo corporativo do futebol, cheio de pose e arrogância, que não ousa dizer seu nome para não cerrar fileiras atrás das grades.
Os craques foram ficando cada vez menos craques. Paixão ainda existe, sentimento é terra liberta, mas acontece de vez em quando um sentimento de desolação…
Os sinos ainda dobram por vocês.
A pátria amada, cheia de lágrimas, soluça e ora por dias melhores.
Mas afinal, onde é que vocês foram parar?
Precisávamos de vocês por aqui, ensinando aos prepotentes o óbvio ululante até pararam de fazer tantas besteiras e apresentá-las como coisa importante e duradoura, a começar pelas Laranjeiras. Mas vai dar trabalho, porque será preciso visitar muitos outros logradouros de respeito.
O Brazil não entende o Brasil. É claro que mudamos, mas no âmago ainda mora aquele velho sentimento de que somos iguaizinhos aos nossos antepassados.
Um dia vamos todos nos encontrar e rir disso tudo. Mas já que vai demorar um tempo, que tal vocês nos darem umas dicas de como podemos sair deste lamaçal em que nos metemos? Pode ser carta registrada mesmo. Psicografada, pois.
Se o velho Ivan Lessa estiver aí por perto, será um favor mandarem um abraço a ele também, recordando dois de seus melhores escritos:
“Conseqüentemente: aí está, viva e atuante, a crônica do cronista brasileiro.
Pouco importa que o cronista ou a cronista limite-se a relatar seu encontro no bar ou sua ida ao cabeleireiro.
Tanto faz que seja elitista ou literariamente limitador.
E daí que tenha menos profundidade que mergulhadores mais audazes como Milan Kundera e Marion Zimmer Bradley?
A crônica vai registrando, o cronista vai falando sozinho diante de todo mundo.”
“O verdadeiro torcedor, assim como quem não quer nada, quer tudo. O verdadeiro torcedor é pela zebra e o circo pegando fogo fora de campo. O verdadeiro torcedor pouco liga para milionários dando pontapés e estragando gramados.
O negócio do verdadeiro torcedor é ver os outros milionários, os da mídia, quebrando a cara. Momentaneamente, ao menos. O verdadeiro torcedor sabe que os outros torcedores, coitados, logo vão embora e de tudo se esquecer depois de cantarem seus estribilhos, soprarem nisso ou naquilo outro e voltar a esperar outros quatro anos.”
Vivo estivesse, João Saldanha completaria hoje 99 anos.
É de se imaginar o que faria e diria caso estivesse por aqui.
Mas mesmo sua ausência física não o exime de ser uma referência brasileira permanente. No futebol, no carnaval, na política, no cotidiano.
Acompanhei o trabalho de Saldanha em seus últimos doze anos de vida por vários motivos. Depois, ídolo eternizado, mergulhei em seu passado e me assustei com o fato daquele senhor tão simpático e divertido (do jeito dele) ter sido uma verdadeira enciclopédia para se entender o Brasil de seu tempo, o de antes e o pós. Como ainda pode ser a síntese e a antítese de tanta coisa?
Pensando em João Saldanha você consegue refletir sobre o que chamam de novo jornalismo, esse que aí está com claros propósitos de favorecimentos pessoais em detrimento da transparência da informação.
Ou sobre a hipocrisia de muitos que discutem política, condenando na classe as más práticas que exercem cotidianamente.
Ou sobre um Rio de Janeiro que há muito deixou suas tradições autênticas de lado em troca de certo gigantismo oco.
Sobre doutores das ciências curtas e apagadas que veem em qualquer obrigação de Estado a bandeira do comunismo, também hipocritamente utilizando tal argumento para simplesmente deixar de lado o bem comum em prol do particular.
Saldanha me faz pensar em muita coisa.
Inesperadamente, com o passar do tempo, tornei-me um escritor.
Devo muito disso a ele, que tanto li na tenra juventude. Ainda leio. Também assustei-me, outro dia, ao lê-lo na Biblioteca Nacional: o texto remetia imediatamente à sua fala. Força da natureza.
Vivo estivesse? Saldanha aí está o tempo inteiro. Taí um sujeito que eu queria muito ter visto na arquibancada do meu Fluminense.
A ligação de um dos maiores artistas brasileiros com o nosso esporte predileto vem de longe. Chico Buarque sempre enalteceu o futebol em diversas passagens de sua obra.
Torcedor do Fluminense e frequentador do Maracanã, fundou a torcida Jovem Flu ao lado de outros próceres das artes. Até hoje promove grandes campeonatos de pelada em sua casa.
Em 1989, compôs “O futebol”, delicioso resgate dos tempos em que éramos os reis dos gramados, com jogadores inesquecíveis e inigualáveis. Confira.
Para estufar esse filó Como eu sonhei Só Se eu fosse o Rei Para tirar efeito igual Ao jogador Qual Compositor Para aplicar uma firula exata Que pintor Para emplacar em que pinacoteca, nega Pintura mais fundamental Que um chute a gol Com precisão De flecha e folha seca
Parafusar algum joão Na lateral Não Quando é fatal Para avisar a finta enfim Quando não é Sim No contrapé Para avançar na vaga geometria O corredor Na paralela do impossível, minha nega No sentimento diagonal Do homem-gol Rasgando o chão E costurando a linha
Parábola do homem comum Roçando o céu Um Senhor chapéu Para delírio das gerais No coliseu Mas Que rei sou eu Para anular a natural catimba Do cantor Paralisando esta canção capenga, nega Para captar o visual De um chute a gol E a emoção Da idéia quando ginga
(Para Mané para Didi para Mané / Mané para Didi/ para Mané para Didi para Pagão/ para Pelé e Canhoteiro)
Era uma vez um país tímido mas alegre, humilde e pobre, sedento de progresso, com seus menininhos negros e descalços,chutando bolas em campinhos de terra batida ou na rua.
O país que queria ter sido grande em 1950, mas que acabou chorando a ponto de ter vários suicidas no Maracanã e em toda a velha Guanabara. Que teria grandes traumas cotidianos a seguir.
E que também pagava merrecas aos seus jogadores de futebol, mesmo os que defendiam a Seleção Brasileira (com camisas improvisadas).
Há 58 anos, um país desafiava todas as definições e tomava o futebol mundial como protagonista. Daqui saiu desacreditado. Olhando para trás, como seria possível não confiar em Zito, Garrincha, Didi, Nílton Santos, Gilmar? Os tempos explicam.
O que dizer do menino Pelé em lágrimas de adolescente?
Havia um país pronto para dar um salto equivalente de meio século em três ou quatro anos. A Bossa Nova, o Cinema Novo, o grande teatro, o Concretismo, a industrialização, a construção de Brasília. Havia o Brasil pronto para se libertar das amarras, levantar do berço esplêndido e caminhar altivo pelo pátio das grandes nações.
Tudo parecia que ia dar certo. Muita coisa ia ser feita. Era a hora de decolar. No meio do caminho, a ganância dos homens pôs o barco a pique, mas ele ainda não afundou.
Poucas vezes em toda a história os brasileiros foram tão felizes quanto em 29 de junho de 1958.
Choraram, gritaram, tomaram as ruas, trocaram abraços e beijos, tudo por conta da lira do delírio contada nos aparelhos de rádio por todo o país.
Ali, eles finalmente se viram como brasileiros de verdade. Por um dia, senhores do mundo.
Num momento terrível como esse, sem fazer julgamentos antecipados, o drama de Jobson já era visível de longe. Muito longe.
O craque precisava mais do que talento com a a bola nos pés, desde jovem.
Os clubes, cada vez mais preocupados em produzir, lucrar, naming rights, “gestão”, “trabalho” e outras quinquilharias da gramática, na verdade são menos profissionais do que as manchetes e as coletivas de TV sugerem. Muito mais gado do que gente, muito mais números do que nomes.
Muitas vezes se fala que as divisões de base têm a missão de “moldar caráteres” ou “forjar homens”.
Quantas vezes estamos vendo o mesmo problema? Carreiras jogadas na lama, drogas, confusões, acidentes automobilísticos, mortes.
Longe de paternalismos ou passar a mão na cabeça de quem comete crimes.
Se foi o caso de Jobson, que a lei seja estritamente cumprida.
Mas não é de se pensar que, enquanto ainda sentimos a bordoada dos 7 a 1, num país onde a cada dia cada manchete é uma outra bordoada, continuamos jogando talentos e talentos fora pela total incapacidade de lapidá-los?
Até 1958, perdíamos para outras escolas de futebol. Desde 2002, perdemos para nós mesmos. E nossa indiferença. Afinal, o mercado é livre.
O caso de Jobson é marcante. Uma decomposição a céu aberto, que poderia ter sido evitada. Por ele mesmo e pelos que lucraram financeriamente com sua efêmera carreira.
Decano do jornalismo esportivo do Rio de Janeiro, Alberto Léo saiu de cena nesta quinta-feira fria e triste. Esperou até o último momento pelo seu Fluminense, mas as coisas não deram certo diante do Santos.
Há 16 anos, pertencia ao time da antiga TVE e, posteriormente, EBC – TV Brasil.
Pioneiro dos esportes da Rede Bandeirantes, começou em 1980, onde esteve ao lado de outras feras como Márcio Guedes, Paulo Stein e José Roberto Tedesco. Mais tarde, boa parte dessa equipe foi para a antiga TV Manchete, reforçada simplesmente por João Saldanha.
Na TVE, trabalhou como comentarista do programa Ataque, mesa-redonda exibida no domingo à noite. Depois, foi editor-chefe do programa, que hoje se chama NoMundo da Bola. Há três anos, havia assumido a Gerência de Esportes da EBC no Rio de Janeiro, sendo responsável pela programação esportiva da TV Brasil e da Rádio Nacional.
Não bastasse a carreira admirável de Alberto Léo, era uma pessoa extremamente afável, educada, elegante. Acompanhei-o como torcedor por décadas e nunca vi uma rusga sua com quem quer que fosse. Não apenas um profissional da antiga, qualificado, pausado, mas também um ser humano admirável. Gente que a gente precisa ver mais nas ruas, nos transportes públicos, nas repartições, nas mesas e rodas, no Fluminense também.
Em 2007, tive a oportunidade de entrevistá-lo na TVE para um livro, pronto, inédito, que um dia será publicado. Foram horas muito agradáveis e de simpatia, com muitas histórias legais. Alberto Léo era um tricolor 100% fidalgo na acepção da palavra, desses que andam faltando por aí.
Gostaria de falar muito mais, mas desculpem-me por favor a brevidade.
O tempo vai passado e as pessoas da minha geração vão perdendo as peças dos seus quebra-cabeças da infância. Alberto Léo era uma referência fundamental.
Penso no título “O Fluminense que eu vivi” e a tristeza é inevitável.
Em certas horas, o silêncio fala mais alto do que tudo.
A última terça-feira era para ser um dia comum, não marcasse a data na qual, há 30 anos, este colunista foi apresentado à palavra derrota.
Apesar disso, guardo na memória o 21 de junho de 1986 com imenso carinho. Deve se considerar felizardo aquele que descobre as perdas da existência com o futebol, pois, convenhamos, não há forma mais leve de se conhecer o fracasso. A vida é dura e pode nos reservar formas de ausência piores que aquela que vem pelo descaminho da bola. Ela, a redonda, ao contrário da vida, gira ao ponto de quase sempre se colocar diante de nós em outras ocasiões, louca para ser chutada ou agarrada.
Foi bonito aquele 21 de junho. E são tantas lembranças, que como eu haveria de esquecer? Era um menino vestido quase a caráter, com a camisa amarela que tinha a Jules Rimet na frente e o número 10 às costas (daí o ‘quase’). Completava o uniforme, um shortinho azul, um par de meiões brancos e um surrado Ki-Chute amarrado na canela.
As ruas naquele 21 de junho pulsaram, repletas de enfeites. A família esteve reunida em torno da churrasqueira, atenta à voz que vinha da tela. Era do Osmar Santos.
Naquele dia tinha o Araken, o Show-Man. O tema, que eu adorava, era “Mexe coração”. Na hora do gol, a TV tocava um tal de “ginga pra lá, ginga pra cá!”, que naquele 21 de junho, me lembro de ter cantado junto.
Meu time tinha muitos craques. Mas apenas mais tarde é que eu vim a escolher um deles como herói, graças ao seu braço direito erguido e seu punho cerrado!
E como não podia deixar de ser, coube à minha mãe o afeto recebido após aquela primeira derrota.
Por fim, a última lembrança. Ainda chorando, avistei, na porta de meu apartamento, um inseto, que após o susto inicial, descobri se chamar Esperança, devido a sua cor verde.
Eram tempos incríveis! Lamento que nada daquilo exista mais.
Ou melhor, a Esperança ainda não morreu.
Imagem: David Canon/Allsport
O jornalista Fagner Torres responde pelo blog Laranjeiras ESPN FC, além de colaborar com o blog Panorama Tricolor e este PANORAMA DO FUTEBOL
Eleito como o jogador mais simpático do Brasil, o atacante Renato Gaúcho recebe o Troféu Velho Guerreiro das mãos do apresentador Abelardo Chacrinha Barbosa, além de uma coroa de rei do futebol daquele momento.
Na ocasião, o jogador atuava pelo Flamengo e havia sido campeão brasileiro em 1987.
Renato também respondeu às perguntas de um júri especialmente composto por estrelas da época, tais como Márcia Gabrielle (Miss Brasil), Simone Carvalho (atriz), Vanessa de Oliveira (modelo da Dijon), Terezinha Sodré (atriz), Monique Evans (modelo e atriz), Cláudia Raia (atriz), Alcione Mazzeo (atriz) e Elke Maravilha (mito).
Originalmente exibido no programa Cassino do Chacrinha em março de 1988. Chacrinha faleceria três meses depois, em junho do mesmo ano.
Num programa especial da antiga TV Manchete, resenhando o ano de 1987 no futebol brasileiro, personagens como Nabi Abi Chedid, Márcio Braga, Rubens Hoffmeister, Octávio Pinto Guimarães em cenas curiosas, mais os comentários imperdíveis de João Saldanha e a apresentação de Paulo Stein.
Em destaque, um clássico dos tempos da homofobia e da porrada:
Em 03 de junho de 1996, O Rio de Janeiro vivia sob forte comoção, em virtude do falecimento de dezenas de idosos na Clínica Santa Genoveva, em Santa Teresa, num acontecimento que repercutiu nacionalmente.
Na ocasião, o Jornal do Brasil publicou uma longa matéria sobre a agonia de Heleno de Freitas em seus últimos anos de vida, tendo em vista que ele também viveu em uma casa de repouso e, no fim, num sanatório.
Abaixo, as tristes memórias dos momentos finais de um dos maiores craques da história do futebol brasileiro.
Toda vez que penso no Brasil, o país que poderia ter sido, o país que foi e o que é, me vem à mente a imagem de Juscelino Kubitschek reunido no Brasília Palace Hotel em 1958. Animada comitiva, vinda de um DC3 do Rio, cercava o presidente e ouvia de um rádio transistorizado com antena esticada no último, a final da Copa do Mundo entre Suécia e Brasil.
O presidente bossa nova parece incomodado na foto, de braço em riste como pedisse para pararem a algazarra, enquanto todos de braços erguidos comemoravam um dos gols do timaço de Pelé, Garrincha e companhia. É provável que ruídos de ondas curtas atrapalhassem a transmissão e a atenção do atento e desconfiado – como sói ao bom mineiro – JK.
Há algo perdido naquela foto. A começar pelo autor, até hoje desconhecido. Pode ter sido o tio do cafezinho.
A partir daquele ano o Brasil seria vanguarda diferenciada em diversos campos. No cinema novo, na música bossanovista, na literatura dos concretos paulistas, na arquitetura de Niemeyer, nas artes, teatro de arena e a partir daquele jogo, também nos esportes. Seria campeão de basquete, tênis, boxe e atletismo anos seguidos. Nelson Rodrigues versou que finalmente perdemos naquela tarde em Estocolmo (manhã no Brasil) o malfadado “complexo de vira-latas”.
Aquele país, em que pese a infraestrutura ainda de dar pena, por incrível, era cortado por trens de norte a sul. Gigante exportador de café e predominantemente agrícola, havia ainda muito mais Jecas Tatus que Haroldos de Campos, por óbvio, ao longo do extenso território. No meu delírio, é possível dizer que o Brasil não era nenhum Pelé. Era, vá lá, um Zito. Segurava a bronca lá atrás, e dava conta do recado e suporte ao primeiro mundo, este na linha de frente. Tudo com muita elegância, a bem da verdade. Quem viu Zito jogar, ou como eu apenas ouviu falar, sabe a que me refiro.
Como anos depois viria a observar Tom Zé, de forma extremamente charmosa, em muito pouco tempo o país deixou a condição mais baixa do universo civilizado, o de fornecer matéria prima, para o mais elevado: provedor de cultura. Era o país do futuro. Que coisa.
Penso sempre naquela foto. E junto com a lembrança da imagem vem a pergunta inevitável: onde foi que erramos? Algumas respostas surgem de imediato. Sem a ingenuidade da juventude já sabemos todos que, por exemplo, foi no período JK que o desmonte dos trilhos começou. O transporte por trens talvez seja o elemento mais estratégico da
infraestrutura de um país. Isso pra citar um exemplo, bastante pertinente quando vemos a influência das grandes empreiteiras do cimento no universo político da nação. Perdemos o trem, fomos de busão. Daí o atraso, os senhores nos desculpem.
Depois de alguns anos de confusão generalizada, todos sabemos o que aconteceu. A festa acabou. Veio a ressaca pesada do grande carnaval, em que heróis e vilões se revezaram no meio de uma passarela imaginária, agora emitindo seus rancores via planalto central. Anos de chumbo e tudo o mais.
Há algo mais perdido naquela foto. Um país que é apaixonado pela ficção novelística, a que muitos creditam o advento da televisão, em ledo engano. O brasileiro consumia vorazmente folhetins impressos desde o século 19, e as novelas de rádio paravam o país. “O Direito de Nascer” deu briga de família. Vizinhos se reuniam para ouvir a radionovela, vovó me contava. Livros e enciclopédias eram grandes fontes de renda, vendidas de porta em porta a uma classe média que crescia a olhos vistos, junto com as cidades. O Brasil das ondas de rádio está perdido naquela foto. Depois entregue aos raios catódicos, a paixão folhetinesca apenas continuou.
No hedonismo que se seguiu em décadas seguintes, Pelé se tornou o homem mais conhecido do mundo. Em processo inverso e misterioso, o país a que ele pertence foi sendo esquecido. Isolado por ditadura, quem sabe. Por acabrunhamento ou interesse que não nos ocorre.
Mas malandro é malandro e mané é mané. Olha nós aqui outra vez!
Voltamos no final do século. E dá pra dizer que reentramos muito bem, armados de guitarras elétricas e tambores de maracatu, reforçados por Romário, Ronaldo, Bebeto, Ronaldinho e Rivaldo. Deu pro gasto e ainda sobrou um tanto pra cachaça. Adentramos os aguardados anos 2000 triunfantes. Estamos aí.
Meu delírio termina aqui. Há outro processo turbulento nos ameaçando para o limbo de um período importante da História novamente. É por isso que não consigo deixar de pensar que há algo mais perdido naquela foto. Pode ser no gesto do presidente pedindo calma… calma.
Flavio Jacobsen é escritor e compositor. Autor de Uns Contos no Bolso (Kottrer Editorial, 2015). Artista de rock, canta e toca guitarra na banda Gruvox.
Imagens dos jogos Força e Saúde x São Clemente e Copaleme x Juventus, pelas semifinais do campeonato estadual de futebol de praia 2016, diretamente das areias de Copacabana no dia 14 de maio.
Em 12 de outubro de 1979, a revista Placar batia de frente com a corrupção no futebol, misturada à política nacional e outras mazelas que, pelo visto, não sofreram maiores modificações nas últimas décadas.
É interessante notar boa dose de perenidade nas canetas certeiras de Juca Kfouri e João Saldanha, tudo dosado com finas ironia e humor.
O verdadeiro torcedor não se dá a conhecer. Embora um conoisseur, prefere trabalhar – seu ofício é duro – em silêncio. Tem razão. Sua prática é feroz, exige disciplina e nem todos o compreenderiam.
O verdadeiro torcedor não pinta a cara ou qualquer outra parte de seu corpo, não veste a camisa de seleção alguma, não agita bandeiras, não ergue a voz em coro com outros. O verdadeiro torcedor é um animal pensante doméstico. Não vai aos jogos. Principalmente os da Copa do Mundo. Escolhe, no entanto, torneios importantes que propiciem amplo espaço na imprensa, televisão ou mesmo rádio.
O verdadeiro torcedor gasta seu dinheiro em jornais, publicações especializadas, cadernos em espiral e canetas esferográficas. E uma tesoura razoável. No seu quarto, um território proibido a estranhos, tem colado nas paredes tabelas coloridas e algumas fotos e recortes pregados com uma massinha azul que não deixa marca ou mancha. Na mesa de trabalho, ao lado do computador, o caderno de notas, a tesoura (Recortar é viver, este seu lema) e uma Bic, de preferência azul.
O verdadeiro torcedor passa entre 2 a 3 horas por dia folheando os jornais em busca de colunas relativas aos diversos jogos. Degusta análises, com ênfase naquelas que ousem previsões. Não são difíceis de encontrar: o peixe morre pela boca, o jornalista esportivo pelo texto. O verdadeiro torcedor passa pelo menos uma hora vendo e ouvindo, com atenção, as observações feitas pelos bem pagos comentaristas profissionais durante os intervalos e as versões compactas dos jogos da Copa. O verdadeiro torcedor ri fácil e, sério, toma notas.
O verdadeiro torcedor é um perfeccionista. O verdadeiro torcedor sabe, como os mais desbragadamente apaixonados, o nome e a ficha completa de jogadores mais populares como Cristiano Ronaldo, Messi, Robinho, Maicon, Eto’o, Casillas, Rooney e Dempsey, como também daqueles menos cotados, como Zigic, Özil, M’bohir, Yussuf e Park-Ji-Sung.
Até mesmo os técnicos não fogem a seus olhos dourados de atenção: Otto Rehhagel, Huh Jung-moo, Gerardo Mantino e Rajevac são magos feiticeiros de sua intimidade. O verdadeiro torcedor desconhece limites para o esporte das multidões em sua modalidade máxima, pois sabe de cor e salteado até mesmo o nome de todos os estádios sul-africanos, dos quais prefere citar, em voz baixa e a sós, como se recitando uma incantação, os de Koftus Versfeld, Peter Mokaba, Mbombela e o de Moses Mabhida.
O verdadeiro torcedor tem, por vezes, seus exageros, pois é humano, nada mais que humano. Saber uma linha do hino nacional da Argélia, sob qualquer ponto de vista, não deixa de ser levar a idiossincrasia a seus mais desvairados limites (É assim: Qassaman Binnazzilat Ilmahigat e quer dizer Juramos pelo raio que destrói).
O verdadeiro torcedor freme e goza de prazer é quando encontra, como foi o caso, um comentário-prognóstico de David Hytner, doGuardian, na mesma manhã em que, algumas horas depois, a Alemanha foi perder de 1 a 0 para a Sérvia:
Joachim Löw revitalizou sua equipe (a alemã, frise-se) com uma abordagem técnica audaz, saudável e multicultural. E, mais abaixo, A formação por ele escolhida a dedo abunda com a exuberância e o frescor da juventude. Assim prosseguiu o notável David Hytner, sem sequer esquecer do trema sobre o ode Löw, jabuzelando e vuvulanando por umas três colunas.
A Sérvia? Sob a batuta de Raddy Antic? A Sérvia definitivamente não estava à altura de conter as feras de Löw que, até então, já haviam desembestado ganhando de 4 (de quatro!) da – seria manhosa, David Hytner? – Austrália, orquestrada sob a batuta do – seria capcioso, David Hytner? – Pim Verbeek.
O verdadeiro torcedor, assim como quem não quer nada, quer tudo. O verdadeiro torcedor é pela zebra e o circo pegando fogo fora de campo. O verdadeiro torcedor pouco liga para milionários dando pontapés e estragando gramados.
O negócio do verdadeiro torcedor é ver os outros milionários, os da mídia, quebrando a cara. Momentaneamente, ao menos. O verdadeiro torcedor sabe que os outros torcedores, coitados, logo vão embora e de tudo se esquecer depois de cantarem seus estribilhos, soprarem nisso ou naquilo outro e voltar a esperar outros quatro anos..
O verdadeiro torcedor não carece de matéria. N’est-ce pas, cari amici italiani?
(Publicado originalmente na BBC Brasil em 21 de junho de 2010)
Um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos – e um torcedor fanático do Botafogo -, Ivan Lessa fez parte do grupo que colaborou e que, durante muito tempo, fez sucesso no jornal “O Pasquim”. Carioca, filho de Orígines Lessa e Elsie Lessa, escreve valendo-se de um humor cheio de ironias. Auto-asilado na Inglaterra, segundo ele por ter-se desencantado com o Brasil, trabalhava na BBC de Londres. Publicou em praticamente todos os grandes veículos da imprensa brasileira.
Ivan faleceu aos 77 anos, em Londres, onde vivia, em 09/06/2012.
Morreu ontem (3), no Rio de Janeiro, o jornalista Teixeira Heizer, de 83 anos, após sofrer uma parada cardíaca, um dia após o lançamento do seu mais recente livro A outra história de cada um. Jornalista esportivo, começou no rádio, na década de 1950, e trabalhou nos últimos anos como comentarista nas transmissões de futebol e nos debates do canal SporTV.
Foi fundador da Rede Globo e se orgulhava de ter o crachá funcional número 01, como primeiro contratado da emissora. Trabalhou em vários veículos ao longo da carreira, também na televisão, e passou pelas redações dos jornais Diário da Noite, Diário de Notícias, Última Hora, O Dia, Placar, Veja e por vários anos trabalhou na sucursal do Estado de São Paulo no Rio de Janeiro, além de ter sido gerente de Jornalismo da extinta Empresa Brasileira de Notícias (EBN) e da Radiobrás, nos anos 80.
Heizer foi ainda professor de Jornalismo da Faculdade de Comunicação Social da Universidade Gama Filho. Ele escreveu dois livros sobre futebol, sua grande paixão: O Jogo Bruto das Copas do Mundo e Maracanazo – Tragédias e Epopeias de um Estádio com Alma, lançado em junho de 2010, contando suas memórias sobre a final da Copa do Mundo de 1950, no Rio de Janeiro, quando a seleção brasileira foi derrotada pela uruguaia, no Maracanã, por 2 a 1.
Ao Memória Globo, Teixeira Heizer lembrou que o apreço pela língua portuguesa era uma de suas principais marcas: “Sempre que eu escrevia [no jornal], eu prestava atenção porque alguém ia ler o que eu fizesse. Então eu construía o melhor para oferecer ao leitor. Até hoje, bate no meu ouvido: Ele tem o gosto pela frase”.
Primeiros passos
O primeiro trabalho no jornalismo foi na redação do jornal Correio Fluminense, em 1953. Um ano depois, já fazia parte da equipe de repórteres da Continental, emissora de rádio carioca cujo slogan era ser “Cem por cento esportiva”. No início da década de 1960, começou a trabalhar como comentarista esportivo na Rádio Globo, ao lado de profissionais como Waldir Amaral, Luiz Mendes e Raul Brunini.
Pela Globo, Heizer participou da cobertura da Copa do Mundo do Chile (1962), quando a seleção brasileira de futebol comandada conquistou o segundo título mundial. No ano seguinte, o jornalista fez parte da equipe que cobriu uma excursão da seleção brasileira pela Europa. Essa cobertura deu à Rádio Globo o primeiro lugar de audiência entre as emissoras cariocas na época.
Teixeira Heizer fez parte da equipe de profissionais que participaram da inauguração da TV Globo, em 1965, e foi contratado com o crachá número 01 da empresa. Heizer foi o responsável também pela criação dos primeiros programas esportivos da emissora, como o Em Cima do Lance e Por Dentro da Jogada. Fazia parte também do TeleGlobo e chegou a apresentar o programa ao lado da atriz Nathalia Thimberg e do locutor Hilton Gomes. O telejornal foi o primeiro a ser exibido pela emissora.
O jornalista será enterrado nesta quarta-feira (4) no Cemitério de Itaipu, em Niterói, região metropolitana do Rio, em horário a ser ainda definido pela família.
Do jornalista Fernando Brito, do blog Tijolaço
Eu poderia escrever sobre a importância de Teixeira Heizer no jornalismo esportivo, um dos pioneiros e mais independentes e apaixonados, como éramos nos anos em que o futebol era motivo de paixão.
Poderia escrever sobre sua importância para uma geração de companheiros teimosos, remadores contra a maré, na qual se incluem Juca Kfouri e José Trajano?
Escrevo, porém, sobre algo muito pessoal.
Quando me mudei para Niterói, construindo uma casa do nada, sem economias,Teixeira Heizer soube disso.
Por artes do destino, uma indenização trabalhista, se não me engano do Estado de São Paulo, havia permitido que ele comprasse uma pequena escola, o São Marcos, que sua mulher e seu filho Marcos – grande músico, já morto, agora – dirigiam.
Escola boa, aliás, muito boa, que acabaria sendo vendida para outro grupo educacional.
Teixeira queria porque queria que meus filhos estudassem lá, sem pagar.
Óbvio que não aceitei, mas ele então fez um desconto que tornou viável erguer casa e escola para os meus guris, sem que eu perdesse a vergonha na cara.
Era um domingo qualquer de “Show do Esporte”, em 1985. A Band mostrava o campeonato italiano, e este era um jogo dos melhores. A Juventus, de Platini e Boniek, ia a Napoli encarar Maradona – que ainda não havia virado Deus – e seu time mediano que, anos mais tarde, conseguiria o tão esperado Scudetto.
Mas o que há de tão sensacional nesse jogo? A falta, batida por Maradona, que o vídeo acima mostra. No gol estava Stefano Tacconi, uma lenda da Juventus, um monstro de goleiro. Lembro bem do lance, que já não era uma marcação comum da arbitragem. Dois toques dentro da área, a barreira montada em cima da bola. Não há espaço pra nada. Esse colherada (com a bola em movimento) por cima da barreira é uma das coisas mais inexplicáveis que já vi num campo de futebol. Eu (e o mundo) jurávamos que a bola seria batida do outro lado, pela absoluta impossibilidade de se fazer qualquer outra coisa. No entanto… O gênio fez isso ai.
É um troço tão sensacional, tão inacreditável, que eu estou aqui falando de uma falta, de um único toque, trinta anos depois.
Nunca mais vi nada parecido.
A tradução do título do vídeo: “Tanto faz, faço o gol assim mesmo”. Resposta a um companheiro de time que reclamava da barreira próxima demais.
Depois querem comparar brasileiros contemporâneos a ele…
Em 20 de abril de 1984, a revista Placar publicava excelente matéria de Moacir Japiassu sobre a ascensão da empresa Traffic no mercado da publicidade esportiva, liderada pelos jovens Ciro José e J. Hawilla – este, no ramo desde 1973.
Engana-se quem pensa que a tão famosa seleção de Telê Santana era unanimidade.
Antes de ter esse programa de entrevistas no fim das noite, Jô Soares era um dos melhores humoristas do país. Ele comandou, por muitos anos, um programa humorístico chamado “Viva o gordo” – depois “Veja o gordo”, no SBT. Entre as dezenas de personagens, o “Zé da Galera”, este, do vídeo acima. Era um personagem fixo do programa. Ou seja, toda semana havia um quadro novo. O quadro consistia de um telefonema, de um orelhão, do cidadão comum para Telê Santana, técnico da seleção brasileira. Toda semana, o Zé reclamava da atuação da seleção, de algo relativo à escalação do time e, principalmente, da completa ausência de pontas entre os 22 convocados da seleção.
O resultado final da seleção de 1982 todos conhecemos.
Não me lembro (tinha onze anos na época e, como o programa era noturno, nem sempre o assistia) como terminou a personagem. Nas minhas buscas na internet, achei vários textos, todos apontando para este exato vídeo. E uma entrevista do autor da personagem, realizada durante a Copa seguinte, de 86, na qual o Brasil foi comandado pelo mesmo Telê.
Nessa época, a seleção era algo bem próximo do povo. Jogava no Brasil, com jogadores do Brasil. Havia até bairrismo, com a imprensa de São Paulo escovando os cariocas e vice-versa. Tudo isso acabou. Pelo menos no atual estado das coisas.
A teimosia de Telê é famosa. Quanto de influência teve nas derrotas de 82 e 86? Bom tema para uma pesquisa mais aprofundada. Volto a esse assunto em breve.
Carlos Henrique Raposo foi um jogador brasileiro que atuou por diversos clubes brasileiros e do exterior. Ganhou o apelido “Kaiser” devido à semelhança com o alemão Franz Beckenbauer.
Em 2011, o programa “Esporte Espetacular”, da Rede Globo, exibiu uma matéria que contava com detalhes como ele por mais de 20 anos conseguiu ludibriar diversos clubes brasileiros (Botafogo, Flamengo, Bangu, Fluminense, Vasco da Gama, America) e do exterior (Puebla do México, Independiente da Argentina – há controvérsias a respeito -, El Paso dos EUA e Gazélec Ajaccio da França), fazendo parte de seus elencos, mesmo sem praticamente ter disputado partidas oficiais. Entre seus supostos feitos notáveis, Kaiser alegou ter sido campeão Mundial Interclubes pelo Independiente em 1984, fato negado pela diretoria do clube argentino. Por este fato, Carlos ganhou a alcunha de “Forrest Gump” do Futebol Brasileiro. O rei do caô.
Após aposentar-se(?) da carreira profissional no futebol, Carlos tornou-se personal trainer.
Confira também o incrível programa “Provocações” com Antonio Abujamra entrevistando o atleta 342.
A final do Campeonato Alagoano de 2016 acontece em dois jogos, disputados nos próximos dois domingos. CSA e CRB farão uma decisão toda especial, não apenas por se tratar de um “Clássico das Multidões”, mas por ser um clássico que completa 100 anos em 2016.
O primeiro confronto aconteceu em 1916, com vitória do CSA por 1 a 0 sobre o CRB. Desde então, as equipes se enfrentaram 504 vezes, com 190 vitórias e 616 gols do CRB, que tem grande vantagem sobre o rival com 152 vitórias e 623 gols. Além disso, aconteceram 162 empates.
O CRB é o atual campeão e tem 28 títulos estaduais, enquanto o CSA é o maior vencedor da competição com 38 títulos.
O CRB é o único clube alagoano a conquistar um título regional (Copa do Nordeste 1975). É também o único a ganhar um título interestadual disputado contra os times paraibanos, que concedeu acesso para segunda divisão do campeonato brasileiro. O CRB é o segundo clube mais velho do Estado, sendo pioneiro no Estado no tocante às participações nas series A (1972) e B (1971) do Campeonato Brasileiro, também sendo o primeiro a vencer um campeonato alagoano em 1927 e a ganhar títulos regionais. O CRB foi o primeiro clube de Alagoas a construir estadio particular, e o primeiro campeão no estádio Rei Pelé. Chegou a final da serie C em 2011 e foi vice campeão da Copa do Nordeste em 1994.
O CSA é o único time de Alagoas a disputar um torneio internacional, a conhecida Copa Conmebol de 1999, em sua ultima edição, organizada pela Confederacão Sulamericana de Futebol. O campeão foi o Talleres (Argentina), que na final venceu a própria equipe alagoana.
O maior confronto do futebol alagoano rendeu um documentário intitulado “Futebol na Terra da Rasteira” (2013), dirigido por Thalles Gomes.
Numa crônica escrita em 1921, o escritor alagoano Graciliano Ramos sentenciou: “O futebol não pega, tenham a certeza. Desenvolvam os músculos, rapazes, ganhem força, desempenem a coluna vertebral. A rasteira! Este, sim, é o esporte nacional por excelência. Dediquem-se à rasteira, rapazes!”
O documentário FUTEBOL NA TERRA DA RASTEIRA tenta entender como, contrariando todas as expectativas, o futebol pegou em terras caetés. Através do relato de ex-jogadores que marcaram a história da centenária rivalidade entre CRB e CSA, o filme traça um panorama geral da relação permeada de alegrias e tristezas entre o futebol e a cidade de Maceió.
Na contramão da febre full hd, o curta-metragem foi todo finalizado em VHS. Dirigido por Thalles Gomes e produzido pela Subvídeos Produções, o curta-metragem foi um dos vencedores do Premio Guilherme Rogato da Prefeitura de Maceió. Na escalação do documentário estão os ex-jogadores Silva Cão, Paranhos, Joãzinho Paulista, Catanha, Jorge Siri, Peu, Jerônimo, Felipão e muitos outros. Sem contar a narração de Márcio Canuto e a trilha sonora do Wado.
Colaboração: Subvídeos Produções e Minuto Esportes.
O CINEFOOT, único festival de cinema de futebol do Brasil e pioneiro na América Latina, anuncia a sua relação de convocados para as mostras competitivas da sua sétima edição no Rio de Janeiro. São 23 filmes na disputa pela Taça Cinefoot 2016.
O CINEFOOT será realizado de 19 a 24 de maio no Espaço Itaú de Cinema Praia de Botafogo, Ponto Cine e Cine Joia (Jacarepaguá e Caetés), o mais novo cinema a integrar o circuito.
De 31 de maio a 4 de junho, está programada a já tradicional “Prorrogação Cinefoot“ no CCJF – Centro Cultural Justiça Federal, Cine Teatro Eduardo Coutinho e Cinemaison.
Mauro Shampoo, figura emblemática do não menos emblemático time do Íbis, foi meio-campista, camisa 10 e o maior ídolo do time pernambucano, que defendeu entre as décadas de 1980 e 1990, tendo marcado um gol, em paralelo à sua profissão de cabeleireiro.
Carismático e folclórico, Shampoo é o protagonista desse divertido curta-metragem, de Paulo Henrique Fontenele e Leonardo Cunha Lima.
No sábado passado, 16/04, o PANORAMA DO FUTEBOL registrou cenas de mais uma rodada do Campeonato Carioca de Futebol de Praia, na modalidade 11.
Imagens dos jogos Bairro Peixoto x São Clemente (aspirantes) e Juventus x Copaleme (aspirantes e amadores) – este, com destaque para a homenagem aos 60 anos do clássico, realizada antes da partida de fundo. E mais um trecho de “Craques da areia”, com o depoimento de Marcelo Bueno, tricampeão mundial pela Seleção Brasileira de Beach Soccer.
O PANORAMA apoia e defende a ampla estruturação do futebol de praia em investimentos e divulgação; um dos esportes mais tradicionais do Rio de Janeiro, posteriormente espalhado pelo Brasil e pelo mundo, merece mais atenção dos cariocas.
Tanto quanto carece de ídolos e craques em campo, o futebol precisa de personagens fora dele, sejam jornalistas ou técnicos. Com passagens em todos os clubes do Rio, Joel Santana é uma das poucas pessoas benquistas em todos os quatro grandes. E, como já se sabe, uma figuraça ímpar.
Morador de Copacabana, era fácil vê-lo semanalmente na Missa do Padre Zé Roberto, na Paróquia da Ressurreição, na Francisco Otaviano. Beque aposentado, seu quase metro e noventa se destacava uns 20 centímetros acima das velhinhas que o cercavam na Igreja. Sempre de óculos escuros. Figuraça.
Mas a história que conto não vem da Igreja do Posto Seis, mas da outra ponta da praia de Copacabana.
Também não é dessa entrevista eterna e clássica não.
Num fim de noite, em Copacabana, estava com minha mulher e uma amiga no Cervantes, boteco super tradicional especializado em sanduíches e chopp daqui do Rio. Lá pelas tantas, irrompe no recinto a figura. Sozinho, sentou-se de frente pra mim. O garçom veio, a conversa demorou um pouco além da conta. Joel apontava pra cima.
A única decoração do salão do cervantes era uma prateleira perto do teto, em toda a sua volta, quase uma sanca, onde jaziam em pé garrafas de vinho tinto barato. Sabe aquelas garrafas engorduradas, imundas, que não vêem um pano sequer há anos? Pois é.
O garçom se afastou e, minutos depois, voltou com uma escada. Eu tinha entendido certo. Joel havia pedido pra beber uma das garrafas da decoração da sala. Na época, não existiam essas mini adeguinhas. O garçom subiu e pegou uma por cima de uma mesa na qual não havia clientes. Na mesa, já preparado, um balde de gelo, saca-rolhas, taça e o indefectível pano de prato aguardavam o vinho. O garçom limpou a garrafa imunda com o pano, abriu-a e serviu um pouco do vinho na taça de Joel.
O vinho estava quase marrom. Âmbar, uma cor próxima de um doce de leite, rapadura. Aquilo estava cozido. Visivelmente estragado.
Joel cheirou, provou… e pra minha surpresa, gostou! O garçom completou a taça, deitou o vinho podre no balde de gelo e deixou Joel, solitário, degustando seu vinho.
Saímos de lá antes da garrafa acabar, infelizmente. Queria ter ficado para ver o que viria depois, mas minha mulher e a amiga não entenderam o momento sensacional que eu estava testemunhando. De qualquer maneira, já tinha a história pra contar.
Tomara que Joel volte logo à ativa. O futebol precisa de suas tiradas.
Como pode um estádio de Copa do Mundo, um dos três mais importantes do país, estar há 20 dias sem manutenção do gramado, sabendo que abrigaria o maior clássico do Rio de Janeiro?
Como pode um clássico da grandeza de Flamengo x Vasco ser realizado em uma quarta-feira à noite?
Como pode os dois melhores jogadores em campo serem estrangeiros?
Como pode Guerrero ser a estrela maior de uma nação?
Como pode Martin Silva ser reserva na seleção do Uruguai?
Como pode num jogo de tamanha tradição no cenário nacional faltar tanta inspiração e sobrar transpiração?
Ao menos na quarta, de volta à medíocre realidade do futebol brasileiro, sobrou transpiração. Porque, ainda sob os efeitos do clássico, continuamos a ver camisas solitárias, chuteiras sedentárias e cabeças milionárias. O único a enxergar diferente disso foi o nosso comandante. Mas se todos nós não estamos certos, ao menos nos resta entender o célebre Nelson Rodrigues com sua unanimidade burra.
Do Flamengo, ressalto novamente a transpiração. Pode ser que o ano tenha começado, pode ser pelo fim do cansaço, medo da torcida ou porque o adversário era o Vasco.
Ainda diria que o Rubro-Negro esteve mais de perto de vencer e pôr fim à incômoda série de insucessos diante do rival, mas esbarrou na ótima atuação do goleiro Martín Silva, que salvou o Cruz-Maltino algumas vezes na partida. Também para pôr fim à crise instalada e conseguir se manter na briga pela classificação, só resta ao Flamengo vencer o Botafogo no sábado. O gol já voltou, mas as vitórias… aguardem as cenas dos próximos capítulos…
O Vasco não jogou bem, tentou controlar o jogo e explorar os contra-ataques; foi punido pela sua postura em campo mas logo se redimiu, manteve a liderança e a invencibilidade no campeonato.
Ontem à noite, eu estava com meus amigos Fagner Torres, Paulo Tibúrcio, Nelson Borges e Leo Prazeres na Casa Vieira Souto, coração do centro do Rio. Vimos os jogos do Fluminense e do Flamengo pela Primeira Liga. Teve de tudo: grandes risos, acepipes, a bela Gabrielle nos atendendo, tudo de bom. E muita conversa sobre política, arte e futebol.
Em dado momento, falamos das listas que os grandes jogadores costumam fazer com seus craques preferidos. Claro, discordamos muito. Num dado momento, vociferei pela defesa de Pelé, considerando inaceitável qualquer rol de craques da bola que não inclua seu nome no topo.
Em algum momento, lembramos da devastadora Holanda de 1974. O Carrossel Holandês. A Laranja Mecânica. Um monte de craques loucos (dentro e fora de campo) que atacavam, defendiam e trocavam de posição, a ponto de consagrarem a tática do impedimento – só eles fizeram isso com perfeição absoluta, o que requer talento, destreza e principalmente inteligência. Naqueles tempos, as camisas indicavam quem jogava onde: o 2 era lateral direito, o 11 era ponta esquerda, o 9 era centroavante. Na Holanda, não.
E no meio daquelas feras, o grande lider era Johan Cruyff. Uma das feras da minha infância.
Eu e Fagner vibrando com jogadores fantásticos que, um dia, deram um nó na nossa seleção tricampeã mundial. Os opacos diriam que a Holanda não ganhou nada. E precisava?
Poucas horas depois de uma grande mesa de bar da nossa turma, acabei de saber que Cruyff faleceu. É o caminho inevitável para a morte, percorrido diariamente nessa estranha Terra em que vivemos.
A Holanda dos anos 1970 era reflexo direto do time do Ajax, da genialidade de Rinus Michels, de gigantes como o goleiro Jongbloed (que jogava sem luvas), o zagueiro Rudi Krol, o fantástico Neeskens. Tome Rensenbrink, os irmãos Van Der Kherkof, Suurbier, Rep e mais uma tonelada de gente que abriu caminho para as novas gerações – Gullit, Van Basten, Rijkaard, Bergkamp e tantos outros.
Os garotos de hoje precisam ver a Holanda de Cruyff no YouTube. É o único jeito de entender como nasceu o Barcelona de hoje – onde o craque jogou e posteriormente foi treinador -, e o que foi um pouco do Brasil de 1958, 1962 e 1970. Ou ainda a espetacular Hungria de 1954 – também não campeã, também maravilhosa. Todos estes caminhos deságuam naqueles loucos geniais de um timaço que disputou duas finais de Copa do Mundo, não foi campeão e nem precisou para ser eternamente vencedor.
Cruyff em português significa craque, monstro, fabuloso, genial.
Pompéia foi um dos grandes goleiros do futebol brasileiro. Tinha o apelido de “Constellation”, um grande e elegante avião dos tempos em que encantou a milhares de torcedores num Maracanã que já não existe.
Marcou presença no time do America entre os anos de 1954 e 1965, levando a equipe rubra ao seu último título carioca conquistado no ano de 1960.
Repetindo a história de muitos dos ídolos do nosso futebol, ao término da carreira mergulhou numa vida de drama e miséria, morrendo em 1996.
A seguir, texto de autoria de Antonio Edmilson Rodrigues, torcedor do America, livre docente em História, professor da UERJ e da PUC-RJ, pesquisador de História do Rio de Janeiro, escritor de temas vinculados à história urbana, coordenador do projeto Conversa de Botequim e autor de “João do Rio, a cidade e o poeta”, originalmente publicado na revista Carta Capital em 2013.
“Sou torcedor do America F.C. do Rio de Janeiro desde pequeno e isso quer dizer muita coisa para quem começa 2013 com 64 anos. Posso dizer que sou americano de coração, embora isso pareça anacronismo para as gerações de hoje, que olham para os times do Rio e só veem Flamengo, Fluminense, Botafogo e Vasco. Mesmos alguns antigos torcedores do mequinha deixaram de lado as tradições do pavilhão rubro, abdicaram de sua história e bandearam-se para um dos grandes do Rio.
Minha atenção para o America veio de meu pai. Nos domingos, lá em Vila Isabel, meu pai e meu tio disputavam, quase a tapa, eu e meu irmão. Eu recebi, de meu pai, o uniforme do América, comprado na Superball e meu irmão, de meu tio, o do Vasco. No quintal brincávamos de América e Vasco, o clássico da paz, assim denominado por ter selado a pacificação no futebol carioca em 1937.
Mais tarde, já com oito anos, levado por meu pai, via os jogos do America no estádio da Rua Campos Sales. Sentia-me importante sentado na arquibancada junto com aquele mar de camisas vermelhas. Olhava com aflição e atenção os jogos. Notava a elegância de Amaro, a velocidade de Nilo, a classe de João Carlos. E o que falar da emoção dos gols de cabeça de Quarentinha, da calma de Djalma Dias ao desfazer, dentro da área, as jogadas dos adversários?
Mas quem mais me impressionava era o goleiro. Diferente do restante do time, que usava a camisa vermelha e o calção branco, Pompéia se vestia de negro ou de cinza e trazia no peito o escudo do mequinha. Era esguio, alto, de uma flexibilidade ímpar. Sua elasticidade chamava a atenção. Eu não tirava os olhos dele, entusiasmado com os seus voos, as suas defesas mirabolantes que levaram o narrador esportivo Waldir Amaral a apelidá-lo de Constellation. Outros apelidos se seguiram: Ponte Aérea, Caravelle, Fortaleza Voadora. Todos cabiam como uma luva naquele homem simples, nascido em Itajubá, Minas Gerais.
Esse extraordinário goleiro iniciou carreira no circo, onde desenvolveu sua capacidade de impulsão, experiência que deu a ele a condição de ser um goleiro acrobático. Suas defesas mexiam com a plateia e mereceram de Nelson Rodrigues uma crônica em um America e Bangu:
“Foi, então, que surgiu Pompéia, como uma bastilha inexpugnável. Pompéia! Eis o que o América tem e os outros clubes, não: − um Pompéia. Que bela e emocionante figura! É o goleiro mais plástico, mais elástico, mais acrobático do mundo. Nada tem de simples: − ele complica tudo. Em primeiro lugar, não sabe defender sem um salto ou, mais do que isso, sem um vôo. Pompéia voa, amigos. Pompéia voa! E enfeita, dramatiza, dinamiza tanto suas intervenções que o público tem a sensação de que todas as suas defesas foram geniais. (…) Ele é o espetáculo.”
O apelido Pompéia vem da sua infância. Desatento aos estudos, gostava mesmo era de desenhar e o fazia bem, colocando no papel os personagens Popeye e Olívia Palito. Os colegas que viam os desenhos passaram a chamá-lo de Pompéia, pela dificuldade de pronunciar o nome do marinheiro. Pompéia nasceu José Valentim da Silva, em 27 de setembro de 1934, dia de São Cosme e Damião.
Iniciou sua carreira esportiva como centroavante no clube Itajubá, time composto de funcionários de uma fábrica de material bélico que participava do campeonato da Segunda Divisão mineira. Mais tarde, se transferiu para outro clube da cidade, o São Paulo, ainda como centroavante. Em um jogo em Três Pontas, o goleiro do São Paulo adoeceu e Pompéia foi escalado no gol. Saiu-se tão bem que chamou a atenção de todos, foi a grande sensação do jogo. Mais tarde, numa partida contra o Bonsucesso do Rio, o goleiro titular do São Paulo entusiasmou a todos, inclusive ao juiz da partida, também olheiro dos times do Rio, que convidou-o para treinar no Bonsucesso e jogar na Cidade Maravilhosa.
Atraído pelo convite, o goleiro não pestanejou e decidiu ir para o Rio. Apresentou-se em Teixeira de Castro e assinou seu primeiro contrato profissional em abril de 1953. No ano seguinte, transferiu-se para o América, onde permaneceu por 11 anos. Seu aprendizado da profissão foi feito com a ajuda do seu primeiro técnico. Alfinete, técnico do Bonsucesso, levava-o para assistir aos jogos do Vasco e do Fluminense, para ver Barbosa e Castilho atuarem. Mas não copiou o estilo de nenhum deles. Construiu um perfil próprio, no qual a estética das defesas se sobrepunha às dificuldades dos chutes. Em qualquer bola desenhava uma cena entre o belo e o rocambolesco, lançando-se sobre a bola de maneira espetacular. Para uns, era presepeiro, para outros, excelente goleiro.
Quando estava no seu dia, tomava conta do espetáculo e não tinha para ninguém, fazia das tardes de domingo o seu momento de fama e os comentários das resenhas do dia seguinte eram elogiosos. Com a estética do goleiro criada por ele, deixou como herança uma jogada, a ponte aérea. O nome vinha da novidade da época que era a ponte aérea entre Rio e São Paulo. Inventada por ele, hoje se tornou em jogada comum dos goleiros. Essa é apenas uma das contribuições de Pompéia. Porém, mais importante do que isso é a construção de uma nova forma de agarrar no futebol, trazendo para as partidas momentos de comédia de arte ou de tragédia cômica, subvertendo a forma tradicional de comportamento dos goleiros e alegrando a plateia, que ria e sofria com seus voos.
Essa marca particular de Pompéia levou-o à consagração como goleiro titular do America Futebol Clube (campeão carioca de 1960), atuando também como titular, em 1957, pela seleção carioca.
Pompéia chegou à seleção brasileira, quando a CBD montou um combinado para defender o Brasil em jogos contra seleções sul-americanas.
Diversas vezes ficava patente o racismo, quando associava-se sua elasticidade a dos macacos.
Em seu primeiro jogo pelo America já despertou entusiasmo. O América jogava um torneio quadrangular em Lima, no Peru, do qual também participa o Santos de São Paulo e, no jogo final entre os dois clubes, Pompéia defendeu um pênalti batido por ninguém menos que Pepe, que assustava com a potência de seu chute todos os goleiros. Com essa apresentação de gala passou a dividir o gol do mequinha com Ari em diversas jornadas, mas sendo o titular em 16 das 22 partidas disputadas pelo America no campeonato de 1960.
Seu nome era dito, cantado, anunciado nas bancas da cidade nas segundas e sua estética de goleiro ganhou fama. Vários Pompéias surgiram no Brasil e seus voos levaram-no longe. Jogou no Porto de Portugal e em vários clubes da Venezuela.E foi na Venezuela que terminou sua carreira de goleiro esteta.
Em 1969, num jogo entre o seu clube, o Desportivo Português, e o Real Madrid, depois de agarrar um chute difícil, que no rebote a bola foi novamente chutada contra a sua cabeça, perdeu uma de suas vistas, deixando a outra também prejudicada. O chute foi dado por ninguém menos que Di Stefano. Com isso, teve que abandonar o futebol.
Com a impossibilidade de continuar a atuar, Pompéia perdeu a alegria. Seu colega Amaro ainda tentou levá-lo para o Bonsucesso como preparador de goleiros, mas nada mais deu certo na vida do grande Constellation. Na rua da amargura, sozinho e perdido, voltou-se para a bebida e morreu em maio de 1996, em um quarto de um manicômio, olhando para uma bola.
Amargou na vida e na morte a sina dos goleiros, ditada na célebre máxima de autoria desconhecida: “o goleiro é tão maldito que onde ele joga não nasce nem grama”.
Já faz muito tempo, acho que durante a guerra, os jogadores do Posto 4 FC, campeoníssimo da praia, dirigido pelo “Trenier” mais famoso da Costa do Atlântico, Neném Pé de Prancha, tinham resolvido dar uma festa de fim de ano, na garagem da casa de um tio do Renato Estelita. O Lá Vai Bola FC aderiu ao baile e compraram três barris de chope.
Eu não topei e disse na esquina do Café do Baltazar: “Não vou. Na festa do ano passado, na garagem do Pé de Chumbo, quebraram tudo e até hoje o clube não pagou a cristaleira da avó dele que estava guardada lá. Não vou mesmo. Chega de encrenca.”
Meu irmão Aristides, o Hélio Caveira-de-Burro e o Orlando Cuíca me acompanharam na idéia de não ir ao baile e fomos tomar um chope, sossegados, num bar vazio, na esquina da Avenida Atlântica com Rua Constante Ramos. A noite estava boa e o papo também. Mais tarde, passou por ali o Jaime Botina e disse: “Caí fora do baile. Tem gente demais e muito nego bêbado. Vai dar galho.” E eu emendei: “Não disse?”
Lá pelas duas horas da manhã, parou um táxi daqueles grandes e saltou o doutor A. Coruja, esfregando os óculos, nervoso. O doutor Coruja era um impetuoso lateral direito. Só dava bico na bola de borracha e Neném Prancha decretou: “Só joga se cortar as unhas. Uma bola está custando cinco pratas.” Seu controle de bola não era dos melhores, mas quebrava o galho na lateral direita. O galho ou o ponta-esquerda adversário.
Mas chegou e foi falando incisivo: “Se vocês são machos e meus amigos, têm de ir lá comigo. Fui desacatado mas eram muitos.” E foi logo dando ordens: “Entrem aqui no táxi e vamos lá.”
Lá aonde?” disse o Hélio. Coruja explicou: “E na Rua Joaquim Silva. A mulher me desacatou, ofendeu minha mãe e não pude reagir porque ela estava com três caras na mesa. Vocês têm de ir comigo ou não são meus amigos.” Repetiu isto umas cinco vezes e completou: “Como é, poetas? Vamos ou não vamos? Vocês agora deram para medrar?”
Eu cochichei para o Cuíca: “O Coruja está de porre. Não vou me meter nisto.” O Cuíca respondeu: “Ele vai chatear a gente o ano inteiro por causa disso. O Coruja quando bebe é assim. Fica remoendo os troços. Olha, ele veio de lá até aqui e gastou meia hora. Para voltar, outra meia hora. Os caras já não estão mais lá, a pensão já deve estar fechada e a mulher dormindo com alguém.” E virando-se para o doutor Coruja: “Tá bem, nós vamos, mas vem tomar um chopinho com a gente.” Coruja topou e mandou o português do táxi esperar.
Tomamos o chope bem devagarinho e fomos, ainda devagar, para a Rua Joaquim Silva. O táxi “disse” que não esperava mais e foi embora. Subimos a escada de madeira, comprida e estreitinha, e demos numa sala de uns três metros por quatro, se tanto. Quatro mesinhas, só duas ocupadas por fregueses, e, nas outras, umas três mulheres com cara de sono. O diabo é que numa das mesas estava a tal mulher papeando com os três caras. Doutor Coruja partiu direto e foi dizendo: “Repete agora, sua vaca.”
Os homens levantaram, o que estava mais perto levou um soco do doutor e o pau comeu solto. O lugar era apertado e eu me lembrei da cristaleira da avó do Renato. Um dos caras era uma parada, brigava bem. O garçom não parecia homem mas era e as mulheres fizeram uma gritaria dos diabos. As mesas e as cadeiras foram para o vinagre, um dos caras se mandou escada abaixo, quando alguém apagou a luz. Escutei a voz de Hélio Caveira-de-Burro, que era muito experiente: “Vamos dar o fora.”
Saímos rápido e ainda levei com uns detritos atirados pelas mulheres da janela. Um guarda apitou e saímos pelas ruas da Lapa. Uns se mandaram pela Conde Laje e outros pela Glória. Eu fui parar no Passeio Público, arrumei um táxi e voltei para o ponto de saída. Quando cheguei, Orlando Cuíca já estava e disse: “O guarda começou a dar tiro e quase me pega. Tive sorte.”
Depois chegaram Hélio e meu irmão, que vieram noutro táxi. Hélio falou: “O grande era uma parada. Mas peguei ele bem com a perna da cadeira. Senão a gente não ganhava.” Meu irmão estava com a camisa rasgada e disse que foi a mulher que se atracou nele. “Não bati mas tive de dar uma ‘banda’ nela. Juntou pé com cabeça. Depois que Hélio dominou o grandalhão, foi barbada. Dei uma no de terno marrom que ele se mandou pela escada.” E eu disse: “Ficou tudo quebrado e a mulher que o Coruja bateu não levantou, mas eu não vi sangue.”
E ficamos relaxando um pouco quando chegou um táxi e o doutor Coruja saltou esfregando os óculos com um lanho no rosto. Hélio perguntou: “Como é doutor, se machucou?” “Nada, um arranhãozinho à toa.” E prosseguiu: “Puxa, agora estou satisfeito. Há mais de três meses que eu estava para ir a esta forra.”
“O quê?” — berramos em coro — “O negócio foi há três meses!?” E Coruja explicou, calmamente: “Foi sim e eu não bati nela porque estava acompanhada.” Então meu irmão perguntou: “Quer dizer que os caras que apanharam não eram os mesmos?” Coruja respondeu: “Claro que não, meus poetas, mas o que tem isto demais?”
Nesta altura, o sol já estava aparecendo lá na Ponta do Boi, iluminando o primeiro dia do ano e desejando boas entradas para a excelentíssima senhora mãe do doutor A. Coruja.
JOÃO SALDANHA era gaúcho e nasceu em 1917 na cidade de Alegrete. Jornalista combativo, treinador, apaixonado pelo futebol, conseguiu unir o Brasil — então politicamente dividido — em 1969, por ocasião das eliminatórias para aquela que seria a Copa do tricampeonato no México. De temperamento difícil, extremamente corajoso, fez muitos inimigos na vida. Mas todos admiravam aquele homem (ainda que muitas vezes não o perdoando pelas aventuras que dizia — e acreditava — ter vivido) que assistiu a todas as Copas do Mundo de futebol; que, como jornalista, cobriu a guerra da Coréia; que desembarcou na Normandia com Montgomery e que fez a grande marcha com Mao Tse-Tung. Faleceu no dia 12 de julho de 1990, durante a Copa do Mundo. O texto acima consta do livro “Nelson Rodrigues e João Saldanha – a crônica e o futebol”, compilado por Ivan Candido Proença, – Rio de Janeiro – Educom – 1976, págln96-98, e extraído do livro “As cem melhores crônicas brasileiras”, Editora Objetiva – Rio de Janeiro – 2007 – pág. 206, organização e introdução de Joaquim Ferreira dos Santos.
SOBRE NENÉM PRANCHA
Antonio Franco de Oliveira (Resende-RJ, 16 de junho de 1906 — Rio de Janeiro-RJ, 17 de janeiro de 1976), mais conhecido como Neném Prancha, foi um roupeiro, massagista, olheiro e técnico de futebol brasileiro. Ganhou a alcunha de “O Filósofo do Futebol” de Armando Nogueira, por suas frases engraçadas.
Neném iniciou sua carreira no futebol como jogador, no pequeno time Carioca. Não obtendo sucesso, abriu uma escolinha de futebol para crianças nas areias de Copacabana. Ao mesmo tempo, trabalhava como roupeiro, massagista e olheiro do time do coração, o Botafogo. Entre os jogadores que descobriu, estão Heleno de Freitas, e o ex-jogador e hoje comentarista Junior.
Por ser especialista no trato com os jogadores, principalmente os mais jovens, foi técnico das divisões de base do Botafogo.