Memórias do Torneio dos Campeões (por Paulo-Roberto Andel)

Olha, eu gosto muito de futebol, muito mesmo. Gosto de jogar e de ver. Ir ao Maracanã é uma coisa muito boa, e está mais fácil porque meus pais agora me deixam vir sozinho, inclusive à noite. Só o passeio já valeria a pena: eu pego o 434 na Figueiredo Magalhães e faço uma viagem pelo Rio. É um percurso muito bonito que serve de roteiro turístico pela zona sul do Rio, o Centro e, logo depois, Praça da Bandeira e São Cristóvão até chegar ao maior estádio do mundo.

Praticamente todo o meu dinheiro eu gasto com futebol. Também não tenho muito, é a mesada que meu pai me dá. E também vou ao cinema. Só que o futebol é sagrado. Para poder ir a mais jogos, eu vou de geral que é bem mais barato, quase o preço da passagem de ônibus. Se estiver com tempo de chuva, aí a geral é certa, porque você aguenta o primeiro tempo e, no intervalo, o pessoal da Suderj abre uma escada que vai até a arquibancada.

Eu sou Fluminense desde que nasci, gosto demais do Fluzão, mas venho ver jogos de outros times. Já assisti Vasco, Botafogo, Flamengo, America e Bangu.

Não sei por que, mas uma coisa que eu gosto muito é de chegar ao Maracanã ainda vazio, bem silencioso. Esse silêncio me faz muito bem, é como se acalmasse tudo. Gosto de ver o campo, bem verdinho, mesmo quando tem alguns defeitos. Ah, e eu gosto também de me deitar na geral vazia e ficar olhando o céu. A cobertura de concreto do Maracanã faz o desenho de um círculo, o céu parece um disco voador, é muito bonito. Claro que o estádio cheio é maravilhoso também, mas eu gosto dele deserto. É um jeito diferente de ver.

Outra coisa ótima da geral: a gente pode jogar bola antes do jogo. Outro dia teve Vasco e Botafogo, então viemos com uns amigos da escola. A gente marcou o golzinho e ficou três para cada lado. Tinha o Luiz Cláudio, que é Flamengo, o Bolaman também. O Chico, vascaíno. Não me lembro se tínhamos um botafoguense na trupe. Nossa bola oficial, a Dente de Leite. Acho que foi num sábado à tarde.

Foi uma ótima ideia fazerem o Torneio dos Campeões. Vários jogos excelentes, tem Maracanã quase todo dia. Logo mais eu vou de novo pra ver Vasco e São Paulo. Sempre alguém me pergunta por que eu vou numa partida que não tem o meu time. É que futebol é bom demais. Só de subir a rampa e passar pelo tunelzinho da arquibancada, já é uma emoção enorme.

O Maracanã é grande, é gigante. Espero poder acompanhar o futebol pelo resto da vida. Toda vez que vou ao jogo, é como se eu continuasse um sonho que nunca termina. Há pouco, o Fluminense quase foi campeão brasileiro, mas deixamos escapar a vaga pro Grêmio de virada. Foi um jogão. Perdemos, paciência. A coisa não está fácil para o Flu, mas espero que em breve a gente tenha um time que possa ser campeão. Eu tenho fé que isso vai acontecer.

SAF pode virar tendência no futebol brasileiro (por Robertinho Silva)

Depois de Botafogo, Cruzeiro e Vasco terem aderido o modelo da SAF, foi a vez do Bahia. O Tricolor da boa terra fechou recentemente uma parceria com o Grupo City, que tem como carro chefe o Manchester City da Inglaterra.

Outro que também sinalizou com a possibilidade de aderir o modelo da SAF, é o Atlético Mineiro. Porém, diferente da situação de outros clubes que passavam por turbulência financeira e falta de resultados esportivos, o Galo mineiro busca no clube empresa apenas uma parceria para se manter no topo. Apesar de a dívida do clube ultrapassar 1.2 Bi, o clube tem totais condições de equacionar.

O órgão colegiado composto pelos 4Rs (Rubens e Rafael Menin, Renato Salvador e Ricardo Guimarães) trabalha para manter, no mínimo 40% das ações, pois assim, o Atlético (associação) ainda seguirá como dono único de seus patrimônios (clubes sociais, Arena MRV e Cidade do Galo) podendo até negociar fatias no futuro. Os mineiros chegaram a ter conversas com o Grupo City, com Fenway Sports Group e com presidente do PSG, que possui ligações com o governo do Catar, mas as tratativas não avançaram.

Nas grandes Ligas da Europa, é comum os clubes serem administrados por empresas ou fundos de investimento. No futebol espanhol, boa parte dos clubes formados por associações civis estavam em situação calamitosa, pois tinham dívidas com o governo significativas e refinanciamentos estatais desses débitos fracassados. A “Espanholização”, que tem como pilar a MP984 praticamente assassinou a indústria do futebol pelos gramados espanhóis, pois 75% dos direitos de transmissão eram concentrados na dupla Real e Barça.

Foi neste cenário que o Governo Espanhol resolveu intervir. Em 2015, foi aprovada a Lei que regulava as vendas dos direitos de transmissão do futebol. A intervenção estatal classificada como “urgente” definiu a venda centralizada dos direitos de transmissão semelhante ao modelo Premier League. Em paralelo a isso, os clubes foram obrigados a virar empresa, pois assim, permitiriam a compra de ações. Isso fez com que os clubes se tornassem uma máquina de arrecadação, diminuindo as disparidades, e tornando o mercado estável e competitivo.

O Mallorca por exemplo, é administrado pelo americano Robert Sarver, dono também do Phoenix Suns da NBA. O Ex armador da equipe, o canadense Steve Nash é um dos acionistas do Mallorca. Barcelona, Real Madrid, Osasuna e Athletic Bilbao ficaram fora da obrigatoriedade de virar empresa, pois possuem modelos associativos bem consolidados, no qual a participação no capital do clube fica nas mãos dos sócios, e não de uma só pessoa ou grupos de investimentos.

Na Inglaterra, o final da década de 80 e início de 90 foi marcado por trocas nas propriedades de clubes. Ao contrário do Brasil, os times já tinham donos, mas eram empresários locais. Quem chegou ao país foram milionários de outros países, especialmente dos EUA, onde já estava consolidada uma indústria lucrativa de outros esportes. A formação da Premier League foi impulsionada por um grupo de cinco clubes —Everton, Manchester United, Liverpool, Arsenal e Tottenham. Atraídos por eles, os clubes de primeira divisão romperam com a Football League, que controlava todos os campeonatos, para criar uma liga independente que centralizaria todos os direitos de TV, patrocínio etc.

O fato de empresários que visavam o lucro serem donos nos principais clubes foi essencial na busca por um novo modelo. Seu objetivo, como em qualquer indústria, era maximizar as receitas de sua empresa. Para isso, precisavam reformar como o futebol se organizava e como passaria a ser comercializado. Logo de cara, fizeram uma concorrência que aumentou significativamente as receitas de televisão. Não havia mais espaço para a politicagem.

No Campeonato Mexicano a MP 984 também deixou marcas profundas. Muitos clubes chegaram a decretar falência. O rebaixamento teve que ser suspenso por 6 temporadas. Foi neste cenário que muitas das equipes resolveram adotar o sistema de franquias, tão comum nos esportes americanos. De toda a elite do futebol local, apenas o Pumas não tem um dono e é constituído por uma associação civil.

A forte presença de empresas privadas fazem o campeonato ter mais de 180 jogadores estrangeiros, cerca do triplo do Campeonato Brasileiro. Atletas sul-americanos são a maioria. “Os mexicanos pagam em dólar e a mudança do câmbio nos países sul-americanos aumentou a atratividade”, explicou o empresário Marcelo Robalinho, que atua no mercado de transferências há mais de 20 anos. Do ponto de vista esportivo, a presença de estrangeiros também eleva o nível da competição. “Aqui, a maioria (dos jogadores) é convocado para as seleções de seus países. O futebol jogado aqui é muito rápido. Eu, particularmente, evoluí muito nesse quesito de jogar mais rápido. O Campeonato Brasileiro é um pouco mais lento. Aqui é mais rápido, jogam bastante com jogadores abertos, rápidos”, afirmou ao Estadão o volante Rafael Carioca, titular do Tigres.

No futebol italiano, a SAF do Milan comandada pelo grupo americano Elliot Management é o melhor case de sucesso. Os rossoneros se encontravam em uma dívida milionária de 200 milhões de euros quando o chinês Li Yonghong comprou o clube do então antigo dono Sílvio Berlusconi. Para piorar, ainda teve uma debandada dos investidores do clube.

Diante da pressão de salvar a instituição da falência, o fundo americano precisou fazer uma escolha; ou seguia os anseios da torcida por ver o Milan de volta as glórias ou equilibrava as contas. O clube rossonero optou por equilibrar as contas, o que mostra que não é só o dinheiro que irá resolver o problema dos clubes, mas sim, um conjunto de ações que levarão a eficiência. Um clube precisará gastar menos e arrecadar mais.

No futebol existem atalhos, mas são mais caros. Por isso eu digo que scouting é o principal caminho. Em mercados mais maduros, onde tem liga, como por exemplo a Premier League, a correlação entre salários e investimentos total, compensação, atletas, bônus, valores de transferência e resultados esportivos é altíssimo. Ou seja, a correlação é muito alta e isso torna o jogo muito competitivo e muito caro para brigar entre as três ou quatro posições. Por isso, o único jeito de mudar o jogo é através de scouting.”, afirmou o CEO Jorge Braga, fazendo uma referência ao sucesso desportivo do clube italiano.

Segundo Braga, o scouting não deve servir apenas para fazer contratações, mas principalmente conseguir um resultado esportivo desproporcional ao investimento que é feito dentro da folha salarial de atletas.

“É especialmente para desenvolvimento de performance e aumento de valor. Ter bons olhos e bons números para contratação é bom, mas o que ganha jogo é poder evoluir a performance individual e pontual e naturalmente expandir o valor dos direitos econômicos e dos jogadores. Isso faz muito a diferença”, completou.

A profissionalização do futebol, como aconteceu com o Milan, vai demandar uma enorme mudança cultural dos brasileiros. Encontrar o equilíbrio entre o fluxo de caixa e a paixão do torcedor não é uma tarefa simples. Os apaixonados não têm paciência para se comprometer com o médio e o longo prazo. Haverá a necessidade, de parte dos clubes, de muita habilidade para comunicar aos associados a estratégia e a sua viabilidade. Transparência e maturidade dos dirigentes, aqui, farão a diferença; ao mesmo tempo que contratos bem firmados com as SAFs, resultantes de negociações feitas à luz do sol”, projetou.

Acredito que as SAFs no Brasil terão dois papéis importantes; um é a questão da formação da Liga, fazer o futebol ter uma visão mais empresarial. O outro, é a profissionalização das gestões dos clubes, que em maioria ainda são perdulárias e amadoras. Os clubes nas mãos de investidores terão propensão a uma maior qualidade de administração.

A grande questão é como cada clube vai gerir os gastos, como farão pra ter equilíbrio entre a parte comercial e o sucesso esportivo.

Tivemos casos de clubes que aderiram ao modelo da SAF e decretaram falência. O Málaga da Espanha foi adquirido por um xeique que pouco tempo depois desistiu do negócio. O time foi rebaixado para segunda divisão e acumulou dívidas.

O Parma da Itália, que por muito tempo foi gerido e bancado pela Parmalat, decretou falência e por conta das dívidas deixadas precisou ser refundado com um novo nome e na última divisão do Futebol italiano.

Muita gente fala em Profissionalização da Gestão, mas será que estão dispostos a pagar o preço? Os cases de sucesso mostram que a consistência vence a conveniência.

Lançamento do livro “Da lama à grama”, de Kleber Monteiro, nesta quinta-feira

Na próxima quinta-feira (16), o escritor Kleber Monteiro lança o livro “Da lama à grama” no Rio de Janeiro. A obra é a descrição de todo o campeonato da terceira divisão do futebol carioca no ano de 2019. Para realizá-la, Kleber fez viagens quilométricas de modo a assistir todos os times da competição pelo menos uma vez, contando tudo sobre jogadores, treinadores, dirigentes e torcedores.

Além dos jogos, que por si somente formam um livro único, o autor captou toda a atmosfera que cercava as partidas, desde fatos engraçados e até jocosos como dramáticos e reflexivos, captando uma realidade muito diferente da vivida pelos grandes clubes brasileiros. “Da lama à grama” é, desde já, um registro histórico.

O livro foi produzido pela Vilarejo Metaeditora, com a participação direta do PANORAMA: produção de nosso fundador e cronista Zeh Augusto Catalano, mais revisão e prefácio do nosso cronista Paulo-Roberto Andel. E para ficar tudo em casa, o lançamento será no Sebo X, apoiador desta casa.

OBS: atendendo aos protocolos necessários, não é permitido acessar o prédio onde fica o Sebo X sem o uso de máscara. A presença no evento deve ser confirmada antes pelo Whatsapp (21) 99791-5589.

SERVIÇO

“Da lama à grama: uma viagem pela terceira divisão do futebol carioca”

Lançamento: 16/07/2020 (quinta)

Horário: agendado pelo Whatsapp (21) 99791-5589

previamente entre 13 e 17h.

Local: Sebo X – Praça Tiradentes, 9/sala 601 – sexto andar – Centro – RJ

Preço: R$ 50,00. Débito, crédito e dinheiro.

Produção: Vilarejo Metaeditora

Tamanho: 14 x 21 cm

Páginas: 186

Todo juiz é ladrão; Cabelada, não! (por Paulo-Roberto Andel)

Nesta quinta-feira começa a campanha de crowdfunding para financiar o documentário “Todo juiz é ladrão; Cabelada, não!”, com direção de Leandro Araújo.

Abaixo, o texto da campanha em sua página.

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Luiz Carlos Gonçalves, o Cabelada, foi um dos árbitros mais populares e folclóricos da história do futebol carioca. Cunhou o bordão “Todo juiz é ladrão, Cabelada não!”

Cabelada tem tantas histórias incríveis que decidimos fazer um documentário sobre ele. A ideia é contar com muito bom-humor os “causos” da época de árbitro e da vida boêmia, com imagens de acervo de TV, notícias de jornal, áudios de rádio, fotos antigas, além de entrevistas com:

– Ex-jogadores
– Dirigentes de clubes cariocas
– Personalidades do samba
– Jornalistas esportivos
– Amigos e familiares

O filme já começou a ser produzido com recursos pessoais e já temos até teaser trailer. Mas para dar prosseguimento a este projeto precisamos levantar mais uma graninha. Por isso vamos lançar um financiamento coletivo no Catarse.

O financiamento coletivo funciona assim: cada um contribui com o quanto puder na página do filme no site do Catarse. Dependendo do valor da contribuição você terá direito a uma ou mais recompensas. Teremos link para ver o filme online, livros, DVD e muito mais.

A arrecadação começa nesta quinta ao meio-dia. Chame a galera para apoiar. Convide ao menos três amigos para esse evento e nos ajude a fazer o documentário do Cabelada acontecer!

Equipe:
Leandro Araújo – direção e pesquisa
Maria Fernanda Quintela – câmera
Fabricio Barros – câmera
Yanieska Shanah Genaro – Fotografia e som
Victor Viana – entrevista

As cotas de TV e as dívidas dos grandes cariocas (da Redação)

Tema recorrente nos últimos tempos, a questão das receitas e dívidas dos clubes de futebol é fruto de longos debates em tempos que o esporte e o business tornaram-se inseparáveis.

No caso particular do  futebol carioca, muito se fala sobre as gestões e a administração financeira dos clubes. Por muito tempo, todos viveram verdadeiras cirandas administrativas. Hoje, cada um a seu modo e receitas disponíveis, estão lutando contra o problema.

Alguns dados abaixo, produzidos a partir do excelente blog de Cássio Zirpoli no Diário de Pernambuco, e também de matéria de Daniel Mundim no Globoesporte, ajudam a entender as manchetes atuais sobre o tema.

A principal receita dos clubes cariocas (e brasileiros) advém das cotas de TV pagas pela emissora que detém a exclusividade dos direitos de transmissão das partidas no Brasil.

Diário de Pernambuco – CLIQUE AQUI

Globoesporte – CLIQUE AQUI.

Uma avaliação de 2016 – CLIQUE AQUI

 

 

“Maré, maré; jacaré, jacaré!” e outras histórias (da Redação)

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O futebol já foi mais simples, divertido e espirituoso.

Há vinte anos, a sensação do futebol carioca estava nas frases espirituosas do treinador Jair Pereira, daquela vez comandando o Botafogo.

Jair trabalhou em mais de 30 clubes, foi campeão mundial de juniores pela Seleção Brasileira e bem antes disso, brilhou com a camisa do Vasco dentro de campo.

Profissional de respeito, querido por todos, divertido e competente, muito diferente do tom professoral que muito se vê hoje à beira do campo.

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O Jornal do Brasil relembrava em 19 de setembro de 1996 os casos curiosos de alguns treinadores brasileiros.

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Moisés, zagueiro de trocentos times, depois treinador (citado na matéria) e uma figura marcante do Rio de Janeiro, ao lado de mitos do futebol como Joel Santana, Brito e o falecido Alcir Portela.

Era o Bloco das Piranhas, famoso em Madureira por receber jogadores de futebol vestidos de mulher no Carnaval.

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Jair Pereira e Moisés jogaram juntos no Bonsucesso. Na imagem abaixo, do livro “Vai dar zebra”, do jornalista José Rezende, Moisés é o quarto em pé da esquerda para a direita. Jair Pereira é o terceiro agachado, do meio.

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