Onde está aquele garoto da foto? (por Paulo-Roberto Andel)

Graças à internet, qualquer torcedor pode se divertir e até mesmo com uma quantidade incomensurável de fotos e pôsteres de times de futebol, em todo o mundo. Não é diferente no Brasil, nem no Rio.

Imagine o Maracanã. Quanta gente já jogou ali? São nomes, nomes e nomes. Muitos foram conhecidos e consagrados, outros nem tanto, alguns simplesmente não foram. E quem jogou no maior estádio do mundo num único dia ou noite? Times do interior, times de outros estados, times de menor investimento. Cada um a seu modo, eles viveram a experiência fantástica de subir as escadas dos velhos e maravilhosos túneis do mesmo jeito que Pelé e Garrincha.

Volta e meia me deparo com uma foto de time no Maraca, vejo os jogadores e, se for dos anos 1970 em diante, tenho familiaridade porque tenho sido um torcedor. É um mergulho maravilhoso ao recordar nomes e rostos de jogadores que vi quando criança, ou li nos jornais e na fabulosa Revista Placar. Para a humanidade, 40 anos não são nada, mas para a vida individual é muita coisa, são muitas lembranças. Onde foi parar fulano? E beltrano que morreu? Sicrano mudou para o interior?

Há um tipo de foto que me comove ainda mais: a dos times de juniores, à época chamados de juvenis. Em cada uma delas, você encontra ao menos um jogador conhecido e até mesmo um craque consagrado, ali registrado como um menino desconhecido. Agora, em sua maioria, as imagens mostram jovens que, tão perto do sonho da bola, simplesmente desapareceram e sequer defenderam suas equipes profissionalmente. Nomes desconhecidos, rostos sem identificação. O que foi feito de cada um deles? Muitos jogaram para mais de cem mil torcedores em preliminares dos clássicos, mas não chegaram ao topo da carreira. Outros eram grandes promessas que ficaram pelo caminho. O que será que aconteceu?

Em tempos difíceis, onde o futebol brasileiro está sendo posto à prova pelo escândalo que envolve jogadores e apostas, o que será que pensa aquele senhor maduro que, há quarenta anos, vivia o sonho juvenil do futebol no Maracanã que jamais se tornou uma realidade profissional?

Onde está aquele garoto da foto, além das vagas lembranças da nossa meninice?

Bic, cartolina e futebol (por Paulo-Roberto Andel)

Saí do trabalho, passei pelas ruas tristes que só tinham algum alento por que os flamengos estão nas calçadas – eles já comemoram! -, e resolvi passar na pequena papelaria da rua dos Inválidos para comprar uma caneta Bic.

Volta e meia faço isso. Minhas canetas somem. E também porque papelaria é um dos melhores lugares do mundo: olhe para a cartolina, a cola e logo você estará de volta ao melhor de todos os mundos – a infância.

A Bic traz de volta meu pai, que tinha uma letra bem bonita, trabalhada, e estava sempre anotando coisas, de lista de compras a tarefas do dia. Traz a mim mesmo, sonhando em passar no vestibular e estudar na UERJ – fui pra lá por amor, eu a queria desde garoto. Às vezes no corredor do estádio, olhava para o pavilhão e dizia “Um dia eu vou estudar ali”. Acabei indo.

Há 44 anos, eu comprava uma cartolina para desenhar meu estádio de futebol de botão. Ainda não tinha um Estrelão. Meu time do Fluminense tinha Wendell ou Renato, Miranda, Edinho, Rubens Galaxe, Doval, Rivellino, Paulo Emílio, Sebastião Araújo. Botões Gulliver lindos, verdes, com o escudinho do Flu pintado em fundo amarelo.

Daqui a pouco vai ter decisão no Maracanã, o mundo todo vai olhar para lá. Em condições normais eu estaria na velha arquibancada de concreto, mas quem comanda o meu time não deixou, se é que me entendem. Vida que segue.

Saio da papelaria, penso na escola que foi derrubada, nos professores todos mortos, nos colegas que nunca mais vi. Há uma longa caminhada daqueles dias até aqui. Muito longa, tão longa que o Maracanã teria 150 mil pessoas mas vai se consolar com 60 mil – e o povão, aquele povão que eu encarei de frente em Fla-Flus inesquecíveis, agora se esconde em casa ou espia a TV em biroscas para acompanhar seu time. É tudo muito diferente dos tempos dos botões verdes.

Nessa terra tão triste e devastada, que convida ao suicídio, o futebol é importante demais. Quanta gente tem no futebol sua única distração e alegria? Pode ser TV ou rádio, pode ser pelo celular, todo mundo está acompanhando o jogo.

Agora é jantar uma macarronada, deixar de lado o desespero das eleições, não pensar nas dívidas asfixiantes, descansar um pouco e ver o jogo. Claro. Adoro futebol e sempre tenho lado. Não confio em gente que não tem lado em futebol, que só não é pior do que o Zé Ovo dizendo “Não acompanho nada que não tenha o meu time” – não passa num detector de mentiras, coitado.

Nem sei se está tendo confusão no Maracanã agora, e é possível que sim, mas do nada me bateu saudade daquele estádio com cento e tantas mil pessoas, onde eu era um garotinho encantado com as bandeiras, o pó de arroz, o placar de maravilhosas lâmpadas e um monte de craques em campo. Aquilo era extremamente mágico e, se escrevi milhares de páginas sobre futebol, foi por causa da infância inesquecível.

Vou jantar. Que seja uma rara noite de paz nessa terra. Que seja uma noite de diversão para muita gente, sem ódio, sem a cólera doentia que alguns insistem em mostrar nessas ocasiões.

O anfitrião tem a faca, o queijo e o resto na mão para ser campeão no Maracanã – e, por isso mesmo, como ensina a história dos visitantes no campo imortal, tá bem arriscado da Fiel urrar num delírio. Eu vou de 13! Secar é uma das coisas mais divertidas do futebol.

Vai, Corinthians!

@pauloandel

SAF pode virar tendência no futebol brasileiro (por Robertinho Silva)

Depois de Botafogo, Cruzeiro e Vasco terem aderido o modelo da SAF, foi a vez do Bahia. O Tricolor da boa terra fechou recentemente uma parceria com o Grupo City, que tem como carro chefe o Manchester City da Inglaterra.

Outro que também sinalizou com a possibilidade de aderir o modelo da SAF, é o Atlético Mineiro. Porém, diferente da situação de outros clubes que passavam por turbulência financeira e falta de resultados esportivos, o Galo mineiro busca no clube empresa apenas uma parceria para se manter no topo. Apesar de a dívida do clube ultrapassar 1.2 Bi, o clube tem totais condições de equacionar.

O órgão colegiado composto pelos 4Rs (Rubens e Rafael Menin, Renato Salvador e Ricardo Guimarães) trabalha para manter, no mínimo 40% das ações, pois assim, o Atlético (associação) ainda seguirá como dono único de seus patrimônios (clubes sociais, Arena MRV e Cidade do Galo) podendo até negociar fatias no futuro. Os mineiros chegaram a ter conversas com o Grupo City, com Fenway Sports Group e com presidente do PSG, que possui ligações com o governo do Catar, mas as tratativas não avançaram.

Nas grandes Ligas da Europa, é comum os clubes serem administrados por empresas ou fundos de investimento. No futebol espanhol, boa parte dos clubes formados por associações civis estavam em situação calamitosa, pois tinham dívidas com o governo significativas e refinanciamentos estatais desses débitos fracassados. A “Espanholização”, que tem como pilar a MP984 praticamente assassinou a indústria do futebol pelos gramados espanhóis, pois 75% dos direitos de transmissão eram concentrados na dupla Real e Barça.

Foi neste cenário que o Governo Espanhol resolveu intervir. Em 2015, foi aprovada a Lei que regulava as vendas dos direitos de transmissão do futebol. A intervenção estatal classificada como “urgente” definiu a venda centralizada dos direitos de transmissão semelhante ao modelo Premier League. Em paralelo a isso, os clubes foram obrigados a virar empresa, pois assim, permitiriam a compra de ações. Isso fez com que os clubes se tornassem uma máquina de arrecadação, diminuindo as disparidades, e tornando o mercado estável e competitivo.

O Mallorca por exemplo, é administrado pelo americano Robert Sarver, dono também do Phoenix Suns da NBA. O Ex armador da equipe, o canadense Steve Nash é um dos acionistas do Mallorca. Barcelona, Real Madrid, Osasuna e Athletic Bilbao ficaram fora da obrigatoriedade de virar empresa, pois possuem modelos associativos bem consolidados, no qual a participação no capital do clube fica nas mãos dos sócios, e não de uma só pessoa ou grupos de investimentos.

Na Inglaterra, o final da década de 80 e início de 90 foi marcado por trocas nas propriedades de clubes. Ao contrário do Brasil, os times já tinham donos, mas eram empresários locais. Quem chegou ao país foram milionários de outros países, especialmente dos EUA, onde já estava consolidada uma indústria lucrativa de outros esportes. A formação da Premier League foi impulsionada por um grupo de cinco clubes —Everton, Manchester United, Liverpool, Arsenal e Tottenham. Atraídos por eles, os clubes de primeira divisão romperam com a Football League, que controlava todos os campeonatos, para criar uma liga independente que centralizaria todos os direitos de TV, patrocínio etc.

O fato de empresários que visavam o lucro serem donos nos principais clubes foi essencial na busca por um novo modelo. Seu objetivo, como em qualquer indústria, era maximizar as receitas de sua empresa. Para isso, precisavam reformar como o futebol se organizava e como passaria a ser comercializado. Logo de cara, fizeram uma concorrência que aumentou significativamente as receitas de televisão. Não havia mais espaço para a politicagem.

No Campeonato Mexicano a MP 984 também deixou marcas profundas. Muitos clubes chegaram a decretar falência. O rebaixamento teve que ser suspenso por 6 temporadas. Foi neste cenário que muitas das equipes resolveram adotar o sistema de franquias, tão comum nos esportes americanos. De toda a elite do futebol local, apenas o Pumas não tem um dono e é constituído por uma associação civil.

A forte presença de empresas privadas fazem o campeonato ter mais de 180 jogadores estrangeiros, cerca do triplo do Campeonato Brasileiro. Atletas sul-americanos são a maioria. “Os mexicanos pagam em dólar e a mudança do câmbio nos países sul-americanos aumentou a atratividade”, explicou o empresário Marcelo Robalinho, que atua no mercado de transferências há mais de 20 anos. Do ponto de vista esportivo, a presença de estrangeiros também eleva o nível da competição. “Aqui, a maioria (dos jogadores) é convocado para as seleções de seus países. O futebol jogado aqui é muito rápido. Eu, particularmente, evoluí muito nesse quesito de jogar mais rápido. O Campeonato Brasileiro é um pouco mais lento. Aqui é mais rápido, jogam bastante com jogadores abertos, rápidos”, afirmou ao Estadão o volante Rafael Carioca, titular do Tigres.

No futebol italiano, a SAF do Milan comandada pelo grupo americano Elliot Management é o melhor case de sucesso. Os rossoneros se encontravam em uma dívida milionária de 200 milhões de euros quando o chinês Li Yonghong comprou o clube do então antigo dono Sílvio Berlusconi. Para piorar, ainda teve uma debandada dos investidores do clube.

Diante da pressão de salvar a instituição da falência, o fundo americano precisou fazer uma escolha; ou seguia os anseios da torcida por ver o Milan de volta as glórias ou equilibrava as contas. O clube rossonero optou por equilibrar as contas, o que mostra que não é só o dinheiro que irá resolver o problema dos clubes, mas sim, um conjunto de ações que levarão a eficiência. Um clube precisará gastar menos e arrecadar mais.

No futebol existem atalhos, mas são mais caros. Por isso eu digo que scouting é o principal caminho. Em mercados mais maduros, onde tem liga, como por exemplo a Premier League, a correlação entre salários e investimentos total, compensação, atletas, bônus, valores de transferência e resultados esportivos é altíssimo. Ou seja, a correlação é muito alta e isso torna o jogo muito competitivo e muito caro para brigar entre as três ou quatro posições. Por isso, o único jeito de mudar o jogo é através de scouting.”, afirmou o CEO Jorge Braga, fazendo uma referência ao sucesso desportivo do clube italiano.

Segundo Braga, o scouting não deve servir apenas para fazer contratações, mas principalmente conseguir um resultado esportivo desproporcional ao investimento que é feito dentro da folha salarial de atletas.

“É especialmente para desenvolvimento de performance e aumento de valor. Ter bons olhos e bons números para contratação é bom, mas o que ganha jogo é poder evoluir a performance individual e pontual e naturalmente expandir o valor dos direitos econômicos e dos jogadores. Isso faz muito a diferença”, completou.

A profissionalização do futebol, como aconteceu com o Milan, vai demandar uma enorme mudança cultural dos brasileiros. Encontrar o equilíbrio entre o fluxo de caixa e a paixão do torcedor não é uma tarefa simples. Os apaixonados não têm paciência para se comprometer com o médio e o longo prazo. Haverá a necessidade, de parte dos clubes, de muita habilidade para comunicar aos associados a estratégia e a sua viabilidade. Transparência e maturidade dos dirigentes, aqui, farão a diferença; ao mesmo tempo que contratos bem firmados com as SAFs, resultantes de negociações feitas à luz do sol”, projetou.

Acredito que as SAFs no Brasil terão dois papéis importantes; um é a questão da formação da Liga, fazer o futebol ter uma visão mais empresarial. O outro, é a profissionalização das gestões dos clubes, que em maioria ainda são perdulárias e amadoras. Os clubes nas mãos de investidores terão propensão a uma maior qualidade de administração.

A grande questão é como cada clube vai gerir os gastos, como farão pra ter equilíbrio entre a parte comercial e o sucesso esportivo.

Tivemos casos de clubes que aderiram ao modelo da SAF e decretaram falência. O Málaga da Espanha foi adquirido por um xeique que pouco tempo depois desistiu do negócio. O time foi rebaixado para segunda divisão e acumulou dívidas.

O Parma da Itália, que por muito tempo foi gerido e bancado pela Parmalat, decretou falência e por conta das dívidas deixadas precisou ser refundado com um novo nome e na última divisão do Futebol italiano.

Muita gente fala em Profissionalização da Gestão, mas será que estão dispostos a pagar o preço? Os cases de sucesso mostram que a consistência vence a conveniência.

O futebol explica o mundo (por Paulo-Roberto Andel)

Há pouco, ouvi um programa na TV e falavam de futebol, não apenas pelo óbvio mas por tudo que o envolve. Muita gente só vê o jogo em si, ou pensa que todos os jogadores são milionários – um tremendo engano. O futebol explica a vida e o mundo.

Para começar, num país onde a vida é tão difícil, às vezes o futebol é a única alegria de muita gente, seja num campinho, numa calçada, num radinho de pilha ligado, numa mesa de botão, numa portaria. Nos hospitais. Na rua.

Meio de sociabilidade. Bate papo no trem, na barca, no ônibus lotado. No metrô. Numa fila de emprego ou congênere.

Por causa do futebol, passei a ler casa vez mais e isso me levou a filmes, exposições, peças e shows. Ele me levou a interagir basicamente com quase todos os meus amigos, e até os que não são propriamente fãs do esporte já me contaram ótimas histórias.

Conheci muita gente por causa de futebol – minha mulher, inclusive -, e a maioria está por aí até hoje, felizmente. Foi o que me levou a ser um escritor publicado, depois de anos de luta.

Gente que adora os escudos, os times extintos, os times modestos, os imaginários. Gente que sonha com o jogo, com a felicidade efêmera do domingo à tarde.

É claro que podres poderes estão no futebol. Muita gente se dá bem nisso. Agora, eles também não são os donos do mundo, não controlam o sentimento de bilhões de pessoas.

O futebol junta gente que jamais se reuniria noutro lugar ou circunstância. Ele agrega. E ainda vale muito a pena.

@pauloandel

Paulo Cezar Caju: um ídolo, uma lição de humanidade e um fã

Colaboração de Alberto Lazzaroni

A vida nos reserva muitas surpresas. O ano era 2016 e já começou cercado de muita expectativa. A esposa estava grávida, após inúmeras tentativas, e o tão sonhado filho estava a caminho. Tudo girava em torno desse acontecimento e estávamos muito felizes. De repente, a saúde da sogra que já vinha abalada se complica e ela é internada. Preocupação total. Mal tivemos tempo de respirar e vem outra notícia: um primo, quase um irmão, cai da laje da sua casa e também é internado com suspeitas de ficar paraplégico. Comoção total.

O tempo passou. O filhote nasceu e hoje é um meninão muito esperto e inteligente. A sogra, infelizmente nos deixou no ano passado, por conta de complicações da saúde. Hoje, o que nos resta é a saudade. E o primo? Bom, o primo José deixou o hospital mas infelizmente o diagnóstico de paraplegia se confirmou. Se aposentou por invalidez e hoje passa o tempo em sua cama, tentando encontrar motivos que o façam resgatar a alegria de viver.

Ontem, como sempre faço, falei com ele e, companheiros que éramos nas peladas de rua, a pauta quase sempre é futebol. No meio da nossa conversa recebo uma mensagem do eterno craque Paulo Cézar Lima, o PC Caju. Fiz a conexão na hora. Por que não pedir ao PC para enviar uma mensagem de conforto ao primo? Ele é botafoguense, tem o PC como um dos seus ídolos e certamente ficará feliz em receber esse carinho da parte dele. No melhor estilo “calçar a cara”, pedi o favor ao PC.

Assim o fiz mas devo confessar que não alimentei muita esperança não. E explico: PC é um ícone do futebol mundial, deve haver umas trocentas pessoas querendo falar com ele, entrevistá-lo, escreve as suas colunas, enfim, uma agenda lotada. Mas ele fez um áudio. E me enviou em menos de um minuto após o pedido. Transcrevo:

“Bom dia, salve José! Saudações botafoguenses. Muita força, muita perseverança, muita fé em Deus. Muita fé em você também que é mais importante nessa hora mas é Deus, lógico, que está ao nosso lado, todos os dias, todas as horas. Mas somos nós que temos que correr atrás e lutar, né? Que tudo corra bem, que você se recupere e vamos ver se após essa quarentena possamos tomar um café juntos aí, falou? Um grande abraço, muita saúde, tudo de bom. Um abração do tricampeão mundial Paulo Cézar Lima.”

Não preciso nem dizer o quanto esse áudio me emocionou e, de prontidão, agradeci demais a ele. Encaminhei o áudio para o José e foi algo assim muito poderoso. Ele me respondeu emocionado num primeiro áudio dizendo que não estava acreditando naquilo. O seu ídolo mandando um áudio específico para ele. Eu falei que era para acreditar e que enviasse um também que eu encaminharia para o PC. Moral da história: o PC acabou me pedindo o telefone do José, ligou para ele e, por instantes, não havia mais doença, não havia cama, não havia dor. A voz triste deu lugar à alegria. Só havia a magia do futebol a unir o ídolo e o fã, numa conversa onde ambos voltaram no tempo. O tempo em que um encantava a todos nos gramados mundo afora e o outro o imitava nas peladas de rua de seu bairro.

O que temos aqui meus amigos é a prova cabal do poder do futebol e da paixão que ele arrebata. Aquele momento em que um ídolo faz mais pelo torcedor que um psicólogo. O momento em que ele também é um remédio. Não sei se os atuais “craques” teriam tempo e vontade para fazer isso. São muitos assessores, muito estafe, muito marketing. Mas o que importa é que Paulo Cézar Lima, o grande PC Caju, o fez. E isso não tem preço. Como te disse PC: que Papai do Céu te dê em dobro! Você é gente!

Didi, o craque da Copa do Mundo de 1958

Colaboração do jornalista Luiz Paulo Silva

Reproduzo abaixo matéria da revista Manchete, de 1958, do saudoso jornalista Ney Bianchi, ao fim da Copa do Mundo daquele ano, enaltecendo as atuações de Didi, que foi considerado o craque do mundial. Teve até eleição entre os jornalistas que cobriram o evento e Didi ganhou disparado (1.350 votos). Detalhes: 1) Pelé não aparece entre os dez melhores; 2) Gilmar ficou em quarto (235); 3) Garrincha e Nilton Santos ficaram em sétimo e oitavo (com 130 e 123 votos, respectivamente); 4) Fontaine, o francês que marcou 13 gols naquele mundial, ficou em nono, com apenas 103 votos.

Eis a matéria, abaixo:

CONSAGRADOR E DEFINITIVO:

DIDI, O “CRAQUE DO MUNDO DE 58”

Estocolmo, junho (de NEY BIANCHI e JÁDER NEVES, enviados especiais)

Didi está consagrado como o maior jogador da Copa do Mundo de 1958. Equivale a dizer: é o maior astro do futebol mundial, na atualidade. A seu respeito, muita coisa tem sido escrita, reportagens inteiras. Quando, ao término das oitavas de finais Didi foi citado como o craque das eliminatórias, já havia nos afirmado:

— O que interessa é ganhar a Copa do Mundo.

Agora, quando foi consagrado como “o craque do mundo”, repetiu o refrão, mudando apenas o tempo do verbo:

— O que interessava era ganhar a Copa do Mundo.

“UMA PÉROLA NEGRA, RARA E BRILHANTE”

Gabriel Hannot não se cansou de escrever para o seu diário “L’Equipe”:

— Este homem é, em verdade, uma pérola negra muito rara e valiosa, que todo amante do bom futebol deve procurar ver e relembrar para todo o sempre. Não é muito comum aparecer um jogador de tais virtudes, em qualquer parte do mundo. Didi é, a um tempo, artista, malabarista e jogador de futebol. Um passe seu de cinquenta metros equivale a meio gol. E, quando chuta, suas bolas fazem como o mundo. Giram, giram, giram. E traçam irremediavelmente uma parábola fatídica para o melhor dos arqueiros…”

“VALE A PENA PAGAR PARA VER DIDI”

Ainda nos tempos em que não havia otimismo por aqui, com respeito à conquista da Copa, os jornais suecos se ocupavam de Didi, elogiando-o. Agora ocupam-se dele prevenindo. O “Svenska Dagen” foi um dos que escreveram:

— Qualquer “ticket”, por mais caro que seja, vale a pena ser pago, só para que possamos ver Didi jogar. Não sabemos quando virá à Suécia, outra vez, um craque de tal valor.

A verdade é essa: Didi jamais jogou tanto, em toda a sua vida, o que é, em síntese, também o caso de Gilmar, que atingiu o pleno da sua maturidade esportiva. Mas também ele nunca teve tão grande vontade de vencer. Já dissemos: rezava, quando tocavam o hino nacional, nos estádios. E olhava o céu, longe…

“DEFINITIVO: O CRAQUE DO MUNDO”

A própria enquete que o “Press Club” da Copa fez para apontar o melhor jogador da Copa foi definitiva. Didi mereceu a grande maioria dos votos de todos os jornalistas presentes, destacando-se como um craque excepcional. Eis, em síntese, a distribuição desses votos:

DIDI (Brasil)…………… 1.350 votos

Kopa (França)..………… 456

Skoglund (Suécia)…..… 436

Gilmar (Brasil)….….…. 235

B. Wright (Inglatterra)… 134

Greg (Irlanda)…………. 132

Garrincha (Brasil)…….. 130

Nilton Santos (Brasil)… 123

Fontaine (França)……… 103

Rahn (Alemanha).………. 97

E outros, menos votados, valendo acrescentar que todos os jogadores brasileiros receberam votos.

Ivan Lessa: Futebol é ciência

Publicado originalmente na BBC Brasil em 28 de junho de 2006

Acabou-se o que era doce. Ou acabou-se o que era pau puro (vide, ou relembrai, Portugal contra Holanda). Futebol agora pode virar ciência exata. Feito hóquei em patins e bacará.

A afirmação, bem dizendo, a demonstração, foi feita por um cientista, raça que – todos sabem – não respeita nada que é sagrado. Algumas horas antes do apito inicial para a contenda entre as seleções da Inglaterra e do Equador, Kenneth Bray, um teórico dos mistérios da física, atualmente cedendo suas luzes à Universidade de Bath, resolveu dedicar um pouco de seu precioso tempo ao nobre esporte bretão, como ainda o chamam aqueles que nunca viram um jogo da atual seleção inglesa.

Principalmente do jogo em questão, aquele de sábado contra os pobres dos equatorianos. Sejamos, no entanto, docemente científicos e exerçamos uma marcação corpo a corpo sobre o ilustre cientista.

Ken Bray, como é conhecido na intimidade – e mais de uma pessoa já apontou para o fato de que parece nome de lateral direito marcador de ponta esquerda — Ken Bray, dizia eu, tomou de seu computador, ou o do Universidade de Bath, não ficou claro, e utilizando-se de fotografias digitalizadas do “tanque” Wayne Rooney, a grande esperança inglesa, foi armazenando dados para sua implacável equação.

Vocês todos, coitados, já viram ao menos uma fotografia de Wayne Rooney. Sim, eu concordo. É chato. Ele é conhecido nos círculos maldosos como “Shrek”, em vista de sua extraordinária semelhança, só que em branco azedíssimo, com o personagem computadorizado daqueles dois divertidos desenhos eletronicamente animados.

O homem é uma geladeira ambulante.

Ken Bray empregou fotografias digitalizadas a um décimo de segundo durante os 90 minutos regulamentares de um jogo inteiro de futebol que tivesse contado com os esforços de Rooney. Trabalhão aborrecido esse, hein? De posse dessas preciosas fotos todas, o insigne professor (presumo que seja formado) concluiu que o jogador cobre cerca de 7,3 milhas, ou quase 12 quilômetros de distância, em uma partida normal, se normal pode ser qualquer partida que conte com os enérgicos esforços do “Shrek” retangular da redonda.

Pouco mais da metade desses quilômetros são percorridos à velocidade de um corredor profissional de meia distância. O resto como fundista, ou simplesmente caminhada, à beira-mar ou campo, como quiserem. Ken Bray passou em seguida, de calcanhar, à sua exposição (exposição? Que exposição?) tendo declarado à imprensa, como um técnico sagaz ou ponta de lança mentalmente contundido:

– Todos querem saber se Wayne Rooney é o mais perfeito dos jogadores de futebol. Resposta? Possivelmente, sim.

Embora ninguém quisesse saber nada, o físico britânico desandou a tacar equações num quadro negro para provar sua tese. Parecia o tal técnico sagaz. Aquele da Costa Rica.

Deixando afinal de lado o giz, Ken Bray encerrou sua coletiva afirmando que a Inglaterra ganharia do Equador. Isso era fato e fato científico.

Entre os jornalistas, pasmo geral. Pareciam direitinho a defesa da Sérvia e Montenegro no jogo com a Argentina. Ninguém entendeu nada. Sabiam apenas, e assim reportaram, que com a ciência não se discute, assim como não se dá cabeçada em juiz russo incompetente.

E não é que foi tiro e queda? Tiro de David Beckham. Queda do pobrezinho do Equador que merecia coisa – equação que fosse – melhor. Agora é mandar uma equação semelhante para cima de Portugal. Que, na grande tradição holandesa, bem que poderia alijar da peleja, nos primeiros cinco minutos do jogo, o inefável Wayne Rooney.

Lançamento do livro tricolor ameaçado de destruição na Justiça (da Redação)

Nesta terça-feira, dia 14/11, o escritor Paulo-Roberto Andel realiza uma noite de autógrafos de seu livro “Duas vezes no céu – os campeões do Rio e do Brasil”.

A obra se refere à trajetória vitoriosa do time do Fluminense em 2012, quando conquistou o campeonato carioca e o tetracampeonato brasileiro.

Desde 2014, o livro sofre um processo judicial que chama a atenção pela brutalidade desmedida: um funcionário do Fluminense, Nelson Nunes Peres do Santos, vulgo Nelson Perez, entrou com uma ação requerendo R$ 50.000,00, a busca, apreensão e DESTRUIÇÃO de todos os exemplares de “Duas vezes”, alegando que o autor da obra manipulou uma foto que seria de sua autoria e exclusivamente sua. No entanto, Nelson omitiu seu vínculo empregatício para a Justiça: é funcionário CLT do Fluminense e, pela Lei Pelé, o titular dos direitos patrimoniais de qualquer foto tirada em campo é o Fluminense. Não bastasse isso, o funcionário cometeu uma atitude hedionda, que é a ambição pela destruição de livros, sem contar o pedido de Justiça gratuita que fez, alegando ser fotógrafo freelancer, ganhando apenas R$ 1.500,00 mensais.

O escritor foi contratado pela editora e, por isso, não teria como fazer qualquer manipulação, dado que tinha um contrato para ceder seus originais e, em troca, receber 10% do preço de capa de cada exemplar. A editora assumiu toda a produção e contratou o artista gráfico Guis Saint-Martin, que fez uma aquarela inspirado numa bandeira de torcida organizada.

Em outubro passado, o Fluminense entrou na Justiça requerendo a condição de assistente do escritor e de sua editora à época, a 7Letras, na direção contrária de seu funcionário e afirmando categoricamente que, além de ter realizado a ação com meio ilícitos, não comunicou o clube, que é o proprietário da foto. O caso está na 15ª Vara Cível da Cidade do Rio de Janeiro.

Paulo é um dos escritores de futebol mais publicados sobre um clube no Brasil. Entre autorias e coautorias, publicou onze livros sobre o Fluminense. Há dias, disponibilizou gratuitamente seus livros “Roda Viva” – volumes I e II NESTE LINK.

 

LANÇAMENTO DO LIVRO “DUAS VEZES NO CÉU”

PAULO-ROBERTO ANDEL

TERÇA, 14/11 – A PARTIR DAS 18:30 H

CASA VIEIRA SOUTO – PRAÇA DA CRUZ VERMELHA, 9 – CENTRO – A 20 METROS DO INCA (ESTACIONAMENTO A 100 METROS, NA RUA HENRIQUE VALADARES, 71)

140 PÁGINAS

PREÇO: R$ 25,00 (SÓCIOS DO CLUBE TÊM DESCONTO de 20%)

 

Rua Tenente Possolo, 15: Jornal dos Sports (da Redação)

Em 1957, o primeiro jornal de esportes do país estava com tudo, e Mário Filho inaugurava uma espetacular sede na Rua Tenente Possolo, número 15, nas imediações da Cruz Vermelha, Centro do Rio.

O suntuoso prédio, com sua vistosa e elegante fachada cor de rosa, passou a abrigar todos os setores do jornal: administração, publicidade, redação e gráfica. A sede própria foi inaugurada em 21 de outubro daquele ano (nesse dia, o JS não foi publicado). No dia seguinte, saiu normalmente.

Ali, o Jornal dos Sports ficou por décadas, até a longa agonia da empresa, outras mudanças de endereço, do próprio nome e o fim. Na Tenente Possolo, foi registrada diariamente por décadas a época mais brilhante da história do futebol brasileiro.

Hoje, quem passa pela calçada nem pode imaginar quão marcante era a experiência de ver a sede do JS. O endereço de ouro da imprensa esportiva do Brasil virou um estacionamento. O letreiro colorido talvez lembre em alguma coisa o querido placar eletrônico do Maracanã, o primeiro, inaugurado nos anos 1970. E só.

Leia sobre o Jornal dos Sports no depoimento do jornalista Waldemar Costa

Jornal dos Sports na Wikipedia

Fotos: P. R. Andel.

“Confesso que perdi”, livro de Juca Kfouri (da Redação)

 

Testemunha vida de grandes casos da vida brasileira nos últimos 50 anos, passado pelo esporte e a política, o jornalista Juca Kfouri lança seu livro de memórias, “Confesso que perdi”.

Sócrates, CBF, Diretas Já, ditadura militar-empresarial, Corinthians, Revista Placar, Revista Playboy, Máfia da Loteria Esportiva e muito mais.

Uma degustação em PDF pode ser baixada CLICANDO AQUI.

Marcelo Rezende (1951-2017) (da Redação)

Para milhões de pessoas, a última imagem de Marcelo Rezende é a do apresentador de programas policiais. No entanto, antes disso ele foi um dos grandes jornalistas esportivos de seu tempo, cujo auge foi na chefia de redação da Revista Placar no Rio de Janeiro.

Em outubro de 1982, com a participação direta de Marcelo Rezende, a revista publicou aquela que foi sua mais impactante investigação: a do esquema da Máfia da Loteria Esportiva, que pode ser lida CLICANDO AQUI.

 

A mesma revista publicou uma matéria a respeito do tema um ano depois. CLIQUE AQUI.

Um perfil muito interessante de Marcelo está NESTE LINK.

E ainda um divertido bate bola com ninguém menos do que João Saldanha, seu ex-companheiro de redação, numa edição do programa Roda Viva da TV Cultura, falando sobre homossexualidade no futebol em 1986.

A confusão às vésperas do Brasileiro de 1987 (da Redação)

A poucos dias do início da Copa União, guerra entre os clubes: o alijado Bangu, através de Castor de Andrade (ele mesmo!) entraria com uma ação na Justiça para embargar a competição.

SOBRE CASTOR DE ANDRADE

LIVRO SOBRE CASTOR DE ANDRADE

O primeiro placar eletrônico do Maracanã, em 1979 (por Paulo-Roberto Andel)

Em 11/02/1979, Flamengo e America disputavam um clássico no Maracanã pelo Campeonato Carioca. Numa partida em que não foi brilhante, o Rubro-Negro goleou o Diabo por 4 a 0; no entanto, o grande destaque da tarde ficou por conta da estreia do placar eletrônico do Maracanã, o mais moderno do Brasil à época, e que se tornaria um verdadeiro ícone gráfico daqueles anos de ouro do futebol do Rio.

Coube ao ponta-direita Reinaldo “Ratão” (assim apelidado por conta de seu espesso bigode) marcar o primeiro gol do novo placar.

Sarriá no JB, 35 anos depois (da Redação)

Daqui a menos de um mês, completam-se 35 anos da fatídica derrota da Seleção Brasileira para a Itália na Copa do Mundo da Espanha, que alijou um dos maiores times da nossa história de um título mundial.

O tempo deu o devido valor àquele time; no entanto, aqui trazemos o calor das análises e crônicas daquele momento, publicadas no maior jornal do País.

 

 

Quando éramos reis (da Redação)

Ao som de Waldir Calmon e sua orquestra, com um verdadeiro hino do futebol brasileiro: “Na cadência do samba”, de Luiz Bandeira. A gravação é do ano de 1956. Ao ouvi-la, todos os torcedores com mais de 40 anos de idade embarcam num mundo de sonhos, gols e lances espetaculares.

Tempos em que o futebol abarrotava os estádios brasileiros de paixão, com públicos imensos.

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PUBLICO E RENDA 2

João Saldanha, 1986, Roda Vida (da Redação)

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Onde tinha João Saldanha, tinha também reflexão, humor e causos imperdíveis. É o caso desta entrevista ao programa Roda Viva, dividido em três blocos, da TV Cultura no ano de 1986. Aqui, apresentamos o segundo. Os outros dois podem ser encontrados com facilidade no YouTube. Para os mais jovens, é divertido ver o apresentador Marcelo Rezende ainda como jornalista esportivo na bancada.

Tática, técnica, as Feras do Saldanha, a Democracia Corinthiana, a incrível história do tiro no goleiro Manga, homossexualidade no futebol e muito mais.

Engenhão: uma história de explicações elásticas (da Redação)

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Em 26 de março de 2013, o estádio do Engenhão foi interditado pelo suposto risco de morte que oferecia a seus frequentadores, com o possível risco de queda de sua cobertura. Desde então, sofreu uma reforma multimilionária de modo a receber os Jogos Olímpicos de 2016.

Pelo visto, trata-se de uma história com variáveis complexas e de causar desconfiança.

Matéria divulgada pela CBN neste 4 de outubro, assinada pelo jornalista André Coelho, revela que um laudo dá como desnecessária a dita reforma.

CLIQUE AQUI.

Um novo estudo afirma que a prefeitura do Rio não precisava ter interditado o Estádio Nilton Santos, o Engenhão, por quase dois anos e que a cobertura da arena não apresentava riscos. De acordo com a análise, foi desnecessária a obra de R$ 100 milhões para o reforço da cobertura.

O laudo concluiu que as falhas encontradas eram diferenças normais para construções de grande porte e que não havia sinal de desgaste. As ferrugens nos arcos de sustentação, que se tornaram símbolo do problema, eram, na verdade, falta de manutenção da pintura.

Veja os links abaixo, que ajudam a tentar entender essa verdadeira caleidoscópio da soma de forças.

FOI UM ERRO!

AÇÃO MILIONÁRIA!

EM 2015…

 

 

Papeletas amarelas, há 30 anos (da Redação)

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Em 04 de outubro de 1986, o TJD intimava George Helal, então presidente do Flamengo, a se explicar sobre operações que ficaram conhecidas como “Papeletas Amarelas”, numa suposta ajuda de custo a árbitros que trabalhavam no Campeonato Carioca de 1986.

Tempos depois, nada ficou provado. George Helal e Leo Rabello, dois nomes de destaque na situação, foram absolvidos e até hoje atuam no mundo do futebol: Helal, nas internas do Flamengo e Rabello como empresário de jogadores.

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Refletindo sobre o Maracanã (por Paulo-Roberto Andel)

Rio de Janeiro (RJ) 15/12/1963. Futebol - RJ. Campeonato Carioca - 1963. II Turno. Foto de Arquivo / Agência O Globo. Negativo: 31818.

Feito para que o Brasil tivesse um berço esplêndido da conquista de 1950, o Maracanã mal nasceu e já carregava consigo o peso do fracasso, tudo porque a politicagem fez crer que o Mundial já estava assegurado. Mas o abalo com o Mundial conquistado pelo valentes uruguaios teria data de validade.

Menos de quinze anos depois, o Brasil já seria bicampeão do mundo, os clássicos abarrotariam o futuro estádio Mário Filho e este seria uma referência mundial do esporte e dos eventos brasileiros. Do Santos, esquadrão maior da Terra, passando pelo Botafogo de Garrincha e muitos, pela Máquina Tricolor, pelo Flamengo dos anos 1980, o Vasco dos 1990, o Maraca enfrentou dramas e, aos poucos, foi sofrendo intervenções que o descaracterizaram, até se tornar o que é hoje: um elefante branco enrustido.

O Mundial de 2014 passou, as Olimpíadas de 2016 também. Há indícios de que ele passe a ser a casa do Flamengo, como se já não tivesse sido desde o começo, embora não exclusiva. O problema é quando se abre mão dos outros protagonistas cariocas, seja pelo desinteresse deles, seja pelos altos custos, seja por outros fatores.

O Vasco tem o belo e mitológico São Januário, que não comporta sua enorme torcida em momentos culminantes. O Botafogo está satisfeito com o Engenhão, embora tenha conseguido seus últimos grandes públicos na década no Maracanã, por ocasião da disputa da Libertadores. O Fluminense anuncia o terreno para a construção de um novo estádio, sem saber o que fará com o centenário estádio das Laranjeiras, mas também dizendo que “não abrirá mão do Mário Filho”. E o Flamengo, depois de trocentos projetos de arena própria, quer o Maracanã, mas não se furta a disputar jogos em outras praças, contando com seus torcedores país afora.

A redução do Mário Filho atendeu ao projeto concebido por João Havelange à frente da FIFA, e que se espalhou pelos continentes. Novos e modernos estádios, menos público, ingressos majorados e o povo que se vire na TV, porque a elite econômica mantém as arquibancadas. Num primeiro momento, era a viabilidade de lucro máximo do mundo corporativo da bola, com êxito na Europa de capitais próximas umas das outras, com enorme malha férrea e metroviária, mas no Brasil e especificamente no Rio não deu certo: quem sempre encheu o Maraca foi o povão dos trens e ônibus. Era uma programação popular, acessível, que se perdeu. Resumindo: tiraram o povo do estádio, causaram a uma geração inteira a indiferença ao Maracanã, raras vezes a população mais abonada comprou a causa dos jogos e agora ele é um bonecão do posto, descaracterizado, artificial, sem carisma. Curioso que apontem isso como a modernidade: provavelmente nenhum executivo da NFL teria essa mesma visão. Há os que falam que o futebol mudou e é um fato, mas não precisava ser para pior.

Sem a volta do povo que realmente ama o futebol e faz dele uma procissão permanente, o Maracanã está condenado ao ocaso e a ser lembrado apenas como algo da antiga – porque o Flamengo, mesmo com toda a sua força, não terá como preenchê-lo sozinho permanentemente, se for o caso. Com tantos campeonatos, transmissões, internet, notícias fake, redes sociais e concorrência diária, o futebol começa a ser desimportante pelo fastio. Há um excesso de jogos, competições, disputas e tudo isso vai minando o aspecto principal: o interesse do público alvo, o torcedor. Se hoje há uma enorme concorrência entre o futebol e outras formas de lazer, promover e popularizar o espetáculo é fundamental.

O Brasil só se tornou pentacampeão do mundo porque a paixão pelo futebol rompeu barreiras e fronteiras, tendo o Maracanã como seu teatro maior. E se a sua utilização e finalidade não forem revistas, atendendo aos critérios de propagação do esporte e integração social, provavelmente todos veremos um tiro no pé da nossa maior paixão. Mesmo desfigurado e trucidado pelos podres poderes, ele tem boas chances de cura. É preciso trazer o povo de volta, de todas as bandeiras e para ontem, antes que seja tarde e o Maracanã perca sua finalidade essencial, se já não for.

As pessoas estão cansadas das novelas da TV, e o futebol está se tornando uma delas.

@pauloandel

Imagem: ffc

Meio século sem Mário Filho (da Redação)

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Neste sábado, 17 de setembro, completa-se meio século do falecimento de Mário Filho, uma das figuras mais importantes do jornalismo esportivo brasileiro.

CLIQUE AQUI.

Assim noticiou o Jornal do Brasil na referida data.

Colaboração do jornalista Luiz Paulo Silva.

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Alegria em dia de golpe (da Redação)

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Em 31 de março de 1964, o Jornal do Brasil noticiava que as equipes do America e do Bonsucesso estavam em ritmo europeu: o primeiro, às vésperas de embarcar para a então Tchecoslováquia, enquanto o segundo tinha 30 partidas amistosas para jogar em gramados da Europa, Oriente Médio e África.

Vejam a contradição dos números: por cada partida disputada, o Bonsuça levaria 500 dólares. Já o Mecão cogitava contratar o atacante Paulo Leão por 20 milhões de cruzeiros.

 

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As coisas não andavam muito fáceis pelo Brasil e pelo mundo, de modo que o America só viajaria no dia 13 de abril. Madureira e Vitória também marcariam presença no exterior.

 

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Geneton: Dossiê 50 (da Redação)

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Geneton Moraes Neto, um dos maiores jornalistas brasileiros de todos os tempos, saiu de cena nesta segunda feira, aos 60 anos de idade. Muito antes do justo e razoável.

Foi um dos maiores desbravadores daquilo que se convencionou ser um dos temas mais “malditos” da história do futebol brasileiro: a Copa de 1950, com sua final trágica, destruindo carreiras e reputações para sempre por motivos exagerados.

Graças a Geneton, pudemos olhar para trás e tentar entender melhor o que foi a estupidez tão covarde em massacrar midiaticamente os jogadores da Seleção – vários morreram na miséria.

O documentário abaixo foi realizado com base no livro “Dossiê 50”.

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O grande legado olímpico (por Paulo-Roberto Andel)

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Definitivamente, a herança maior que os Jogos do Rio 2016 podem deixar para o Brasil não tratam exatamente de equipamentos, recursos e outros bens de consumo, públicos ou não.

Está em algo que parecia perdido no tempo.

A fidalguia.

Houve quem reclamasse – com razão – das torcidas em esportes que não têm os costumes do nosso football, que transformamos em futebol para o muito bem e o muito mal.

Mas a maioria está em paz, reconhecendo que também há valor numa medalha de bronze. Até mesmo sem o desejado pódio. Em práticas desportivas muitas vezes ignoradas pelos clubes e pelo Estado Brasileiro, como não valorizar um sexto ou oitavo lugar? É estar entre os maiores do planeta.

Há um detalhe que ajuda a perceber tudo: reparem, por exemplo, nas emocionadas comemorações dos atletas brasileiros em diversos momentos, bem diferentes do nosso futebol. Quando finalmente fizemos gols nas Olimpíadas, o alívio veio através de chutes, palavrões e ira. Muita ira.

Para alguns, demonstração de garra e vontade. Para outros, a carência de senso esportivo que ainda vitimiza um povo marcado por bruscas transformações sociais, econômicas e afetivas.

E por falar em afeto, o show de luta contra a homofobia, tão visto nestes dias de disputa, é mais uma lição dos Jogos ao nosso esporte mais querido, falado e divulgado, marcado permanentemente por armários de ferro trancados com correntes, contrariando o óbvio ululante, como diria Nelson Rodrigues.

É claro que ninguém treina anos a fio para perder e que a História é sempre mais destacada pelos vencedores, mas a vida não pode ser apenas o “perdeu, sai” instantâneo que se vê, por exemplo, na quantidade de treinadores demitidos a cada edição do Brasileirão.

Se os Jogos Olímpicos do Rio não foram capazes de transformar a Cidade Maravilhosa numa terra de paz, o que sabíamos ser quase impossível, é inegável que sua presença nos serve como uma verdadeira universidade de respeito a outros valores, ao harmonioso viver entre divergências, à diversidade em todas as instâncias.

Viver o respeito. Entender que o esporte é mais do que um jogo. Que não ser campeão não é vergonha, mas pode ser símbolo de reconhecimento, dependendo do que tenha sido feito – e como.

Eis aí um mar de lições para jogadores, torcedores, profissionais do futebol e seus “abnegados” dirigentes pendurados em vultosos grupos políticos de ocasião.

O espírito olímpico tem muito a ensinar ao país das chuteiras. Basta querer entender.

Olhar as comemorações dos gols da Seleção de Futebol e compará-las com as de Pelé já seria um exercício de franca humildade.

@pauloandel

Na grande área: Armando Nogueira 1966 (da Redação)

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Em 08 de agosto de 1966, um dos decanos da crônica esportiva no Brasil publicava uma coluna que ainda serve de reflexão para o nosso futebol.

armando nogueira 08 08 1966

Reprodução do Jornal do Brasil sem finalidade lucrativa.

Brasil 1966, há exatos 50 anos

Em 13 de julho de 1966, o Jornal do Brasil noticiava a preocupação dos húngaros com a possível evolução da Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Inglaterra, depois de estrear na véspera com uma vitória sobre a Bulgária por 2 a 0, com gols de Pelé e Garrincha.

Tudo seria diferente das preocupações húngaras dois dias depois: Hungria 3 x 1 Brasil e o encaminhamento para aquela que, desde então, foi a pior participação do escrete canarinho numa Copa, com a eliminação na primeira fase da competição. Eram claros os reflexos de tudo o que acontecia no país em termos políticos, com claros reflexos em nosso futebol.

Em tempos em que o jornalismo anda rareando, era um verdadeiro luxo a escalação dos correspondentes internacionais do JB na Inglaterra: José Inácio Werneck, João Máximo, Oldemário Touguinhó e grande elenco. Outras palavras.

BRASIL 1966 HUNGRIA

Fraude no futebol paulista (da Redação)

FRAUDE NO FUTEBOL PAULISTA

“Sete pessoas foram presas em operação da Polícia Civil que investiga fraudes em resultados de jogos de futebol na manhã desta quarta-feira (6) em São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará. Entre os presos, está Carlos Luna, ex-goleiro do América de São José do Rio Preto, no interior paulista. Além de Luna, outros alvos da operação foram presos em Bauru, interior do estado de São Paulo, uma capital paulista, e um em Fortaleza, Ceará. Ainda há ao menos mais três mandados de prisão a serem cumpridos. Equipes também fazem buscas no Rio de Janeiro.”, informou o portal G1.

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