Não, não era para ser nada assim.
Nada disso.
Aí está o velho e querido America numa manhã de sol tímido, debaixo do tom preto e branco da foto, tirada pelo escritor Nelson Borges nesta quinta.
Em 1979, essa fachada significava o clube mais moderno do Brasil, erguido sobre o saudoso campo da rua Campos Sales. De saudade em saudade, o Diabo passou a jogar no Andaraí, Wolney Braune. E lá também a força da grana imperou. O sangue mudou de cidade – e não mais se encontrou, por mais que Edson Passos mereça o apreço.
De certa forma, essa linda fachada abandonada e vandalizada é uma espécie de símbolo desses tempos que vivemos: o Rio de Janeiro largado, indiferente, violento por todos os lados, caixa de percussão de um Brasil perdido, estuprado, alheio à maioria.
O America não é apenas o simpático segundo time dos cariocas que gostam de futebol. Ele é um dos pilares do esporte no Brasil.
Dia desses, num evento, tive a oportinidade de ouvir um breve discurso de um de seus dirigentes, falando das maravilhas contemporâneas produzidas recentemente pelo clube. Algo como tratar os interlocutores como perfeitos idiotas.
O America não é isso. Não é nem poderia ser um time de três rebaixamentos no campeonato carioca em dez anos. Mas aconteceu e aí está.
A triste imagem da fachada da sede de Campos Sales é a história oficial, bem distante da conversa para boi dormir de quem podia impedir isso mas, estranhamente, não o fez.
O America de Belford Duarte, de Pompéia, de Alarcón e também dos gêmeos Zó e Kel, de Moreno, Bráulio, Flecha, País, Ernâni, o incansável Luisinho Lemos, Edu, Romário e um milhão de glórias nos gramados.
Um dia tudo será diferente.
Gostaria de estar vivo para assistir.
Na modestíssima parte que me cabe, a de uma formiguinha diante do mundo, eu tentei ajudar, mas a ganância e a prepotência de terceiros brecaram tudo.
Vida que segue.
@pauloandel
Imagem: Nelson Borges