Definitivamente, a herança maior que os Jogos do Rio 2016 podem deixar para o Brasil não tratam exatamente de equipamentos, recursos e outros bens de consumo, públicos ou não.
Está em algo que parecia perdido no tempo.
A fidalguia.
Houve quem reclamasse – com razão – das torcidas em esportes que não têm os costumes do nosso football, que transformamos em futebol para o muito bem e o muito mal.
Mas a maioria está em paz, reconhecendo que também há valor numa medalha de bronze. Até mesmo sem o desejado pódio. Em práticas desportivas muitas vezes ignoradas pelos clubes e pelo Estado Brasileiro, como não valorizar um sexto ou oitavo lugar? É estar entre os maiores do planeta.
Há um detalhe que ajuda a perceber tudo: reparem, por exemplo, nas emocionadas comemorações dos atletas brasileiros em diversos momentos, bem diferentes do nosso futebol. Quando finalmente fizemos gols nas Olimpíadas, o alívio veio através de chutes, palavrões e ira. Muita ira.
Para alguns, demonstração de garra e vontade. Para outros, a carência de senso esportivo que ainda vitimiza um povo marcado por bruscas transformações sociais, econômicas e afetivas.
E por falar em afeto, o show de luta contra a homofobia, tão visto nestes dias de disputa, é mais uma lição dos Jogos ao nosso esporte mais querido, falado e divulgado, marcado permanentemente por armários de ferro trancados com correntes, contrariando o óbvio ululante, como diria Nelson Rodrigues.
É claro que ninguém treina anos a fio para perder e que a História é sempre mais destacada pelos vencedores, mas a vida não pode ser apenas o “perdeu, sai” instantâneo que se vê, por exemplo, na quantidade de treinadores demitidos a cada edição do Brasileirão.
Se os Jogos Olímpicos do Rio não foram capazes de transformar a Cidade Maravilhosa numa terra de paz, o que sabíamos ser quase impossível, é inegável que sua presença nos serve como uma verdadeira universidade de respeito a outros valores, ao harmonioso viver entre divergências, à diversidade em todas as instâncias.
Viver o respeito. Entender que o esporte é mais do que um jogo. Que não ser campeão não é vergonha, mas pode ser símbolo de reconhecimento, dependendo do que tenha sido feito – e como.
Eis aí um mar de lições para jogadores, torcedores, profissionais do futebol e seus “abnegados” dirigentes pendurados em vultosos grupos políticos de ocasião.
O espírito olímpico tem muito a ensinar ao país das chuteiras. Basta querer entender.
Olhar as comemorações dos gols da Seleção de Futebol e compará-las com as de Pelé já seria um exercício de franca humildade.
@pauloandel