Faz muito tempo, a gente perdeu pro Corinthians num sábado à noite no Maracanã. Era o Torneio dos Campeões. Teve velório na geral de protesto e tudo, eu saí correndo. O Maracanã era minha segunda casa, e eu contava as horas para voltar lá. Fui sozinho. Eu gostava de ir sozinho aos jogos, fato que se repetiu inúmeras vezes.
Eu era bom jogador de botão. Sem falsa modéstia, jogava pacarai. Então era a minha vingança: se o Flu perdesse, eu tinha que ganhar todos os jogos da semana para compensar. Deixa estar.
O jogo teve pouco público e, por isso, poucos ônibus na saída – não havia metrô. Eu me lembro que aos pés do Viaduto dos Marinheiros o 434 estava bem cheio e apertado. Já devia ser quase meia noite. Estávamos chateados, mas alguns batucavam, outros ouviam a resenha no radinho e alguns até riam. A gente sempre esperava o próximo jogo, o próximo jogo, sempre em frente.
Quando passamos pela Rua do Riachuelo, teve alguma confusão sem gravidade, algo de gozação. O ônibus ficou parado uns cinco minutos, depois ficou tudo bem.
Meia hora depois saltei na Siqueira Campos. Estava tudo fechado, com exceção da Bella Blú. Lanchei uma fatia de pizza. O Sniff’s já estava sendo lavado, todo mundo tinha se mandado. Fui pra casa. Meus pais já estavam dormindo. Entrei de fininho com zero barulho, tomei banho e fui deitar. Logo seria domingo. Não ia ter Fluminense mas eu sonhava com um bom café e almoço. Lasanha da Torna. Conversa de Arquibancada na TV, depois minha mãe ia ver o Silvio Santos – como ela gostava!
As coisas não eram assim tão boas, longe disso, mas eu tinha um negócio a meu favor: o tempo. Todo o tempo do mundo. Ele sempre vence, mas na juventude a gente sempre tem chances de virar o jogo. No futebol então, onde tudo pode mudar a cada três dias, imagine. Eu ficava esperando chegar a hora de ir ao Maracanã: juntava moedas, todos os trocos possíveis, era um programa muito barato.
Bom, desta vez eu não cheguei em casa, porque vi o jogo na TV. São duas da manhã. Estou sozinho e muito longe da juventude. Não há jornais para se comprar neste domingo, nem frios na padaria, nem lasanha da Torna nem nada. Sem pai nem mãe.
O que sobrou?
Alguns botões estão perto da TV, uma saudade que me rasga da testa aos pés.
E o Fluminense, claro, que não pode esperar e já tem uma decisão na próxima terça. Futebol é assim: não se pode esperar.
@p.r.andel