Tiros à queima-roupa, gritos, dor, morte. Oito baleados na torcida do Botafogo, um morto, outro em estado gravíssimo até o fechamento desta edição.
Em condições normais de razoabilidade, o clássico entre Botafogo e Flamengo jamais teria sido realizado neste domingo no Engenhão. Mas, pensando bem, condições normais de razoabilidade são algo bastante raro no Brasil de hoje, em qualquer temática.
A banalização da violência acabou endurecendo os corações. As pessoas olham com indiferença, passam e a vida segue. Quarta-feira tem outro jogo, eu não tenho nada com isso, não fui eu quem inventou a violência. E assim, um clássico para colocar 40 mil pessoas põe a metade disso.
Uma parte dos torcedores simplesmente desistiu. O cardápio de sandices que cercam a ida a um jogo de futebol não é para qualquer estômago. Alguns ficam nos bares, outros vendo o jogo na TV em casa e outros passaram a ignorar o esporte – as pesquisas apontam a gravidade deste último fato, aumentando a cada nova medição.
Em dois finais de semana seguidos, o Rio testemunhou dois atos de selvageria contra pessoas que cometiam o crime de acompanhar seus times de futebol. Não é coisa propriamente de hoje: nos anos 1970, era comum alguém ser morto na geral do Maracanã por “assalto” (sempre repercutiu a desconfiança de que alguns mortos eram militantes de esquerda, acompanhando o jogo no setor mais popular do estádio). Tal como hoje, ninguém ligava. E aqui se fala do Rio, mas podia ser em São Paulo, Belo Horizonte, Goiânia ou outra cidade qualquer.
A TV foi a primeira a bancar a realização da partida. Seu compromisso é com os números da audiência e do caixa. Não vai ter ninguém na rua protestando contra a violência no futebol, nem com boneco gigante de presidiário, nem com camisa da CBF – e aqui, usar a palavra que designa um apenado pode parecer até deselegância.
A Federação? Depois ela publica uma nota de repúdio.
Morreu mais um.
E daí? O carnaval está chegando.
Uhu!
@pauloandel