Amaral jogava demais, demais! (por Paulo-Roberto Andel)

São quatro da manhã e acabo de saber que Amaral morreu. Tinha 69 anos.

Ele jogou demais.

Aos quinze anos, já era titular no Guarani. Só não foi campeão brasileiro pelo Bugre porque já tinha sido negociado com o Corinthians.

Salvou o Brasil diante da Espanha na Copa de 1978, num dos lances de mais talento já vistos em todos os Mundiais de Futebol. Tirou a bola em cima da linha de gol. Só quem viu, sabe o que foi. Oscar e Amaral, uma tremenda dupla de zaga.

Na vila perto da minha casa, todo mundo queria ser Amaral. Essa tarefa coube ao Renato, que também era um monstro da bola e a conduzia igualzinho ao ídolo.

Amaral tinha muito talento, muitos recursos técnicos. Saía jogando com toda a calma do mundo, como se aquilo fosse simplório. Era um digno representante de nomes como Domingos da Guia e Zózimo. Gente que tratava a bola como se dissesse “oi, meu bem”.

Depois dele, um nome de tanta elegância na defesa foi Ricardo Gomes. Altair também. Mestres do futebol, da técnica do jogo, do futebol onde a bola é o estandarte.

Amaral jogava de cabeça erguida, olhando para a frente. A bola deslizava nos seus pés, como se o granado fosse uma mesa de snooker. Cada passe era uma degustação refinada.

Que craque!

Meu sobrinho santista (por Lello Di Sarno)

Estava com três sobrinhos na praia e decidimos comprar um pipa pra cada um.

Primeira aula: um pipa. UM pipa. Nesse caso, três Maranhão.

A Bibi pediu uma de águia bem cabulosa. Ela é mesmo uma guria de rapina e voa. O Cuca escolheu a dele e o vendedor disse que era “de menina”. Eu sou daltônico, então não entendi a frase do amigo, até meu irmão intervir e dizer que isso era babaquice e comprar a rosa pro filho dele. Eu não enxergo mas admiro essa cor que estimula próstatas ou pior… Nem dá esse prazer pros babaca…

E meu sobrinho mais novo e muito meu chegado gostou da que tinha o brasão do time local. Sabia do que se tratava e mesmo assim escolheu. Eu mostrei a contradição mas não vetei. Ele pegou outra e saiu correndo. Mas aquilo ficou nas nossas ideias. Amor a gente não escolhe. E esse mulecote leva maior jeito pra lambari mesmo…

Passou o tempo e a hora que eu esperava chegou. Ele decidiu pelo Peixe. Confesso que foi mais uma das suas lições. E aí, Tio Lello? Você, que tem o futebol como algo tão importante na vida. Que tem seu time como algo mais importante ainda.

Confesso que nunca imaginei tal situação.

Confesso que fiquei emocionado ao ver o primeiro contato de uma criança com aquele que pode ser um amor pra toda a vida. Assim, encontrado através de uma pipa. Ando meio orgulhoso de mim. Somos pessoas em construção.

E como posso negar esse momento dele? Outrora eu sabotaria? E com um filho… E se a opção fosse por um dos outros dois times rivais?

Não sei como seria…

Pensei em argumentar mas não vi como fazer isso sem ser desonesto. Minha relação com meu time é totalmente pessoal e arbitrária. Tudo de indiscutivel, absoluto e colossal que ele tem é assim quando visto por mim. E amor a gente não escolhe. Sentimento não se compra na farmácia. Não há glória, história, pressão externa ou manto sagrado que possa ficar entre uma criança e o rumo do seu coração. Sendo assim. Não posso mentir pro meu sobrinho. O MEU VERDE É O MEU VERDE PORQUE É O “MEU” VERDE.

Ele é e sempre será assim PRA MIM.

Ele sabe que o Palmeiras anda ganhando tudo. Não sabe que até ter o dobro da sua idade eu nunca tinha visto um título e nem sabia se ia ver.

Não é disso que se trata.

Paciência, mulecote!

Admiro sua sensibilidade em reconhecer o encontro. Se decidiu ser freguês, vou defender seu mau gosto até o fim!

Um dia te conto sobre o Camanducaia.

Te amo.

Aílton Lira e Sócrates

Se tem um dia em que se pode celebrar o talento do futebol brasileiro, ao menos daquele que conhecemos no passado, esse 19 de fevereiro cai perfeitamente na celebração.

Os aniversários de Sócrates, que infelizmente não está mais entre nós, e de Aílton Lira, firme por aí.

Dois cracaços, daqueles que dava gosto ver um simples passe, um lançamento – nada de assistências. Dos maiores da história do futebol brasileiro.

Sócrates é mais conhecido nacionalmente por causa de sua longa trajetória na Seleção Brasileira, enquanto Lira se manteve como uma fera do futebol paulista. Mas não custa lembrar: naquele tempo a camisa 10 do Brasil tinha como potenciais candidatos Rivellino, Paulo Cezar Lima, Dicá, os próprios Aílton Lira e Sócrates, Zico, Mendonça, Jorge Mendonça… e mais um monte. Falcão era volante, para vocês terem uma ideia.

Em fins dos anos 1970, Aílton Lira era o decano do timaço de 1978 do Santos, o dos famosos Meninos da Vila. O maestro que teve como sucessor ninguém menos do que Pita – e que, como Lira, também jogaria pelo São Paulo. E Sócrates era a sensação corintiana com seus passes de calcanhar, seus chutes certeiros, sua elegância discreta que iria muito além do futebol. O Santos e o Corinthians, dois gigantes.

Cobrança de falta. Aílton Lira na bola. O terror dos goleiros adversários. Várias vezes a torcida santista vibrou antes da bola entrar. É que a trajetória já era certa.

Anos depois, o Doutor também vestiu a camisa sagrada da Vila Belmiro.

Os dois passaram pela casa de Pelé. Justo e compreensível.

Aílton Lira e Sócrates desfilaram em campo o melhor do futebol brasileiro, aquele que fez os garotos se apaixonarem para sempre pelo jogo de futebol. O autêntico, dos passes e dribles, dos chutes e miras, da precisão e do talento.

Uma coisa é certa: 19 de fevereiro é dia de craque.

Almir Pernambuquinho (da Redação)

Almir Morais de Albuquerque, o Almir Pernambuquinho, nasceu em Recife, em 28/10/1937, vindo a falecer no Rio de Janeiro em 06/02/1973.

Um dos maiores jogadores da história do futebol brasileiro, de personalidade forte e explosiva, com justa fama de encrenqueiro, protagonizou algumas das maiores polêmicas do futebol de sua época. Envolveu-se em diversas brigas, normalmente provocadas por ele mesmo. Entre essas brigas, destacam-se uma batalha campal entre os jogadores do Brasil e do Uruguai em partida realizada em 1959 entre as seleções dos dois países e, principalmente, a briga provocada por ele na final do Campeonato Carioca de 1966.

Almir morreu assassinado, em 1973, aos 36 anos, numa briga no bar Rio-Jerez, em frente à famosa Galeria Alaska, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Segundo testemunhas, ao ver que alguns atores-bailarinos do grupo Dzi Croquettes, ainda maquiados depois de uma apresentação, estavam sendo achincalhados por um grupo de portugueses, o jogador interveio em defesa de atores. Houve uma discussão, Almir agrediu um dos portugueses, e começou um tiroteio no calçadão da avenida Atlântica. No final, Almir estava morto, com uma bala na cabeça.

Seu livro “Eu e o futebol” é um marco da literatura esportiva do Brasil.

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Escudos e famosos (da Redação)

Otto – Náutico

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Joanna Maranhão – Sport

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Zeca Baleiro – Maranhão

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Nathália Dill e Érica Mader – Botafogo

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Monarco – America

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Guta Stresser – Coritiba

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Cláudio Venturini – Cruzeiro

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Nasi – São Paulo

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Chorão – Santos

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Emerson Fittipaldi – Corinthians

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Renato Teixeira – Taubaté

renato teixeira taubaté

Ivete Sangalo – Vitória

ivete sangalo vitoria

Casa vazia, audiência cheia (por Paulo-Roberto Andel)

fluminense 0 1 botafogo 24 04 2016 semifinal crioca

No fim de semana passado, dois pontos me chamaram a atenção nas disputas regionais do futebol brasileiro, em seus dois principais centros.

1

No clássico disputado no Rio de Janeiro, na cidade de Volta Redonda, o Botafogo venceu o Fluminense por 1 a 0, classificando-se para a final do Carioca 2016, diante de apenas 5.182 torcedores presentes, dos quais 3.562 foram pagantes.

Cerca de 31% do público foi beneficiado pelas leis de gratuidade – se elas não existissem, o resultado do comparecimento talvez fosse ainda mais catastrófico.

Trata-se do mais antigo clássico do futebol brasileiro.

Foram disponibilizados 14.933 ingressos para a decisão da vaga. Cerca de 35% dos ingressos foram utilizados, somando-se os pagos e as gratuidades. O Raulino de Oliveira teve sua capacidade ociosa em 65% ao receber o confronto.

Domingo, 19 horas, fora da capital, crise etc.

Em 2010, a população de Volta Redonda era estimada em 257.686 habitantes. Supondo que 10% dela tivesse interesse por futebol, um número muito modesto, algo como 26.000 pessoas.

É possível supor que o grosso do público presente à decisão no Clássico Vovô seja composto por torcedores cariocas que se deslocaram do Rio de Janeiro até Volta Redonda, em caravanas organizadas. Porque o público local está totalmente alheio à frequência no estádio. Basta ver os números e a frequência histórica no Raulino.

Em 2013, há três anos, na decisão da Taça Rio que também valia vaga para a final do campeonato, Fluminense e Botafogo levaram ao Estádio da Cidadania 12.485 torcedores pagantes e 15. 516 torcedores presentes.

Comparando-se a totalização dos presentes em 2016 contra 2013, queda de 67%.

Futebol virou minissérie de TV. E pouca gente atentou para a gravidade dessa situação.

2

Em São Paulo, o Santos bateu o Palmeiras nos pênaltis e se classificou para a decisão do Paulistão 2016.

Em jogo de torcida única, com a chancela do Estado na declaração de incompetência para combater a violência, o Peixe atuou diante de 13.690 torcedores pagantes.

Mais do que o dobro do público presente à disputa de Fluminense e Botafogo, mas muito pouco para um clássico.

Entende-se que há uma limitação em função dos lugares disponíveis na Vila Belmiro, sem dúvida, além do direito natural do Santos como mandante da partida, tendo em vista a classificação no Paulistão.

Os dois casos fazem pensar.

Quatro dos times mais expressivos do futebol brasileiro jogando para plateias modestas nas arquibancadas, ainda que por motivos diferentes.

O futebol perde sua magia e passa a ser um mero produto de grade de TV. A novela que, se perdermos um capítulo, não muda muito.

Em Santos, um caso normal: o Peixe disputará a final contra o Audax na Vila Belmiro.

No Rio de Janeiro a final será disputada no Maracanã entre Vasco e Botafogo, com TV aberta. Com muita sorte, os dois jogos somados terão 100 mil torcedores presentes.

Há quem diga que o futebol mudou, o jeito de acompanhá-lo mudou e é claro que tudo isso deve ser avaliado. Mas o esporte precisa de coração, de sentimento, de chama, e isso não será pavimentado no futuro com relações distantes, sem presença ao lado da equipe.

Os chamados times grandes aos poucos perdem seu principal ativo: o torcedor presente. E as crianças cada vez mais vestem as camisas do Barcelona, do PSG, do Real Madrid e de outros times europeus porque veem estes times durante a semana, à tarde, em horários adequados aos torcedores mirins.

Alguém vai dizer que Vasco e Flamengo tiveram lotação máxima na outra semifinal do Carioca 2016, disputada no calor equatorial às quatro da tarde em Manaus. É uma outra discussão. Outra demais.

@pauloandel

Galos de briga (da Redação)

escudos bragantino ituano paulista etc

A badalada classificação do time do Audax à final do Paulistão 2016 causa entusiasmo aos fãs de futebol, devido ao bom desempenho técnico do time. Em outras ocasiões, outros times de menor investimento já chegaram a momentos decisivos de campeonatos regionais e até nacionais, com pleno êxito. Relembre aqui alguns momentos.

Operário-MS x São Paulo – Semifinal do Campeonato Brasileiro de 1977 (1º jogo)

Palmeiras x Internacional de Limeira – Final do Campeonato Paulista de 1986 (2º jogo)

Bragantino x Novorizontino – Final do Campeonato Paulista de 1990 (2º jogo)

Grêmio x Criciúma – Final da Copa do Brasil de 1991 (1º jogo)

Botafogo x Juventude – Final da Copa do Brasil de 1999 (2º jogo)

Flamengo x Santo André – Final da Copa do Brasil de 2004 (2º jogo)

São Caetano x Santos – Final do Campeonato Paulista de 2004 (2º jogo)

Fluminense x Paulista – Final da Copa do Brasil de 2005 (2º jogo)

Botafogo x Madureira – Final do Campeonato Carioca de 2006 (2º jogo)

Santos x Ituano – Final do Campeonato Paulista de 2014 (2º jogo)