Football (por Paulo-Roberto Andel)

Ah, se não fosse o futebol… Como eu ia me entorpecer em sonhos diante do mundo injusto e cruel, cheio de mortes por covardia e gente dizendo adeus muito antes do razoável? Como eu ia ter alguma alegria durante a semana ou na noite de domingo?

Escrevo sobre muitas coisas, mas futebol é essencial para mim. Ele é o álcool que pouco bebo, ele é o cigarro verde que não fumo, é o alívio para noites silenciosas e viradas por simples tensão. Há cinquenta anos o futebol me salva do suicídio, então não pode ser pouca coisa.

O jogo, o gol, o lance, a gente que faz da arquibancada aquarela, a gente que se abraça e ri ou chora, a gente que namora e deseja. Ah, o futebol, que já foi samba e rock e agora é cumbia, é ele que me tira da miséria e do desespero.

Quer uma noção da importância? Neste sábado mesmo no Nilton Santos. Em qualquer outro lugar, uma queda de luz diz pouca coisa. Agora, faltar luz durante um jogo de futebol é plantão jornalístico.

Meu futebol tem botão, dadinho, bolinha de isopor, areia da praia, figurinha, mesa de preguinho, boneco, camisa, flâmula e livros, muitos livros. Tem saudades da família, beijo da namorada, sacanagem nas cadeiras, abraço de irmãos, choro, riso, suspiro e tudo se resume num UUUUUUHHH quando a bola passa pertinho da trave ou o goleiro espalma para corner.

Meu futebol tem gente banguela, camisa rasgada, chinelo de dedo e geral abarrotada, todo mundo se apertando na chuva e torcendo para a Suderj abrir o portão que dá acesso ao alto da arquibancada, onde tem uma enorme cobertura de concreto que faz o som ecoar pela terra.

Ah, o futebol. Noites em claro, viradas impossíveis, sonhos e drama. Futebol de lembranças, que faz voltar no tempo e ver na tela momentos arrebatadores.

Talvez o meu futebol nem exista mais, mas ele é tão bom que a sua simples lembrança já alimenta muitas fantasias maravilhosas. Todas elas me fazem sentir vivo, sereno, com o coração cheio de esperança mesmo que as probabilidades sejam minúsculas.

Claro que há defeitos mis no futebol, mas o saldo positivo justifica a batalha.

@p.r.andel

Ainda sobre o Fla x Flu (por Paulo-Roberto Andel)

Racionalizando todo o processo, aí está uma parada bem difícil para o Tricolor. Em qualquer decisão, a diferença de dois gols é significativa. Contudo, só até a bola rolar; depois disso, o favoritismo precisa ser comprovado em campo. E se os fatos atuais comprometem a esperança, como a possível escalação do Flu, a história está recheada de superações tricolores que beiram o inacreditável – mesmo!

Por exemplo, fazer três gols no São Paulo tricampeão mundial em 2008 era uma tremenda façanha. Aconteceu. Muita gente não lembra que, para chegar às semifinais do Campeonato Brasileiro de 1991, o Fluminense precisava ganhar os último cinco jogos, perdendo zero pontos – e conseguiu. Nem tão longe assim, lembram do drama de 2010 no Brasileirão? Faturamos no último jogo, na luta. E lá longe, pra gente ganhar de 3 a 0 com o camisa 10 deles perdendo pênalti, em 1979, foi um suor que nunca mais esqueci. Quem se lembra do golaço do Cristóvão? E do Fla x Flu da Lagoa em 1941?

Do outro lado, está o grande rival, que tem vantagem considerável e que não perde um título por três gols de diferença há quase 60 anos.

É fácil? Claro que não. É difícil paca? Sim. É impossível? Não. Eles têm a vantagem que a gente tinha ano passado e confirmou.

Mesmo depois de ter visto a apoteose de Assis, sempre preferi o lado mais sóbrio da coisa, só que futebol vai além disso, muito além, felizmente. Tem magia, crença, passado. Todos os cadáveres vitoriosos querem entrar em campo para decidir. Todos os admiráveis mortos querem torcer feito nunca nas arquibancadas e na geral, também mortas, mas todo mundo vai lá. Um clássico decisivo nunca se resume à obviedade do momento, ainda que ela tenha naturalmente muito peso e não se possa desprezar a ciência.

Falando sobre sobriedade: eu tinha 26 anos, muitos títulos e uma seca monumental no colo quando veio a decisão de 1995. Lembro daquele dia com detalhes. O tempo, a chuva, meu ceticismo. Mas aí fizemos um primeiro tempo devastador e poderíamos ter feito 5 a 0, mas só fizemos dois gols. Na segunda etapa, o Maracanã viveu a tarde mais gloriosa de sua história e o rival, acuado o tempo inteiro, acertou uma bola no travessão, fez dois gols, incendiou sua torcida e tudo, absolutamente TUDO dizia que ia virar a partida, até porque tinha um homem a mais em campo.

Quando eles empataram, boa parte do Maracanã tricolor foi embora. Àquela altura, já era demais esperar pelo desfecho que acabaria acontecendo. Eu, anônimo, formiguinha na multidão, poderia ter ido embora também mas simplesmente não me movimentei. Não acreditava nem desacreditava; na verdade eu estava em choque pelo empate, porque havíamos jogado muito melhor e pusemos tudo a perder em cinco ou sete minutos. E lá fiquei, meio que por osmose.

Foi a decisão mais acertada de toda a minha vida. Aconteceu o apoteótico gol de barriga e, sinceramente, aquilo só se vive uma vez. Fui um dos poucos tricolores a ver tudo aquilo de perto – muitos outros que já tinham saído, voltaram a tempo e viveram experiências ímpares nas rampas do Maracanã. Eu vi gente chorando, vi um senhor de joelhos agradecendo a Deus, vi gente abraçada rolando pelas arquibancadas enlameadas. Anos mais tarde, escrevi três livros sobre aquele dia e aquele campeonato, mas considero que ainda falta alguma coisa.

Por isso tudo, perdi o direito de não acreditar. Mesmo quando tudo parece perdido – longe de ser o caso deste domingo -, eu desejo acreditar. Mesmo quando perebas inacreditáveis estão em campo, eu consigo acreditar. Mesmo quando o time é mais fraco – que também não é o caso de agora -, mesmo quando a política é uma farsa. Em mais de 120 anos, o Fluminense resistiu a um milhão de jogadores, treinadores, dirigentes e até torcedores ruins, feito esses que querem c@g@r regra sobre o que o outro deve sentir ou achar. A camisa já ganhou títulos que fizeram Deus coçar o queixo com as pontas dos dedos da mão.

Por favor, me entendam, não é fuga da realidade – nenhuma! – mas o breve sentimento de quem já viu muita coisa mesmo.

Já se passaram quase trinta anos daquele gol de barriga. O mundo mudou, o Maracanã também. Tudo mudou. Escalação é coisa muito séria para uma decisão e acho que Fernando Diniz deveria pensar nisso. Não se ganha um título só com as glórias e superações do passado, de jeito nenhum. Com o rival que temos, precisamos entrar com voo rasante em campo. Não há outra saída, mesmo com a possível escalação extraterrestre.

Agora, se abrir a cortina do passado é bom presságio, importante dizer: não são nem nove da manhã, está chovendo paca e o Fluminense não vive só de 1995. Tem 1973 também, debaixo de uma chuvarada, recentemente relembrada em livro.

Para muitos, agora é rezar. Eu vou com o patrono Chico Buarque: “minha cabeça rolando no Maracanã”.

Estão rolando os dados. Vamos ver no que dá. De toda forma, entendo que você não acredite por mais de uma razão. Entendo e respeito. Eu é que perdi o direito de não acreditar, compreende?

@pauloandel

Cano de placa! (por Paulo-Roberto Andel)

O golaço redime, o golaço liberta.

Ele desafia paradigmas e definições. Muda roteiros de forma inesperada.

E deixa sua tatuagem para sempre nos corações e memórias.

Há mais de sessenta anos, em alguma ocasião vemos os gols e a alegria de Garrincha na final carioca de 1962. Outros se emocionam com a arrancada de Rondinelli e sua cabeçada monstruosa em 1978. Outros, com o voo esguio e certeiro de Assis em 1984. Esses gols nunca vão acabar.

Mas também há os grandes gols de partidas que não necessariamente decidiram títulos, mas estão condenados à eternidade. O fantástico drible de Mendonça em Júnior em 1981, os mil dribles de Washington em 1987. O chutaço lpde Neto do meio da rua em 1991. Os golões de Roberto contra o Corinthians em 1980. São muitos e muitos gols.

Neste domingo, o argentino German Cano fez história no Maracanã. Um gol de placa, dos mais bonitos da história do estádio. Chutou do meio de campo e fuzilou o goleiro vascaíno, completamente batido. O estádio viveu um de seus grandes momentos.

Até então, Cano já estava consagrado no futebol carioca e brasileiro, por sua carreira no Vasco e agora no Fluminense, com mais de 40 gols na temporada 2022. Desta vez, assim como a bola que chutou cruzou o Maracanã até ganhar as redes, ele mesmo ganhou o mundo de vez. Não há lugar na Terra onde não se esteja falando do golaço que aconteceu no coração do Rio de Janeiro, no outrora maior estádio do mundo.

Lembram que o golaço muda roteiros? Pois é. Num jogo de muita luta, transpiração e lances razoáveis, o Vasco foi melhor do que o Fluminense no primeiro tempo, cujo destaque foi o veteraníssimo goleiro Fábio, do Tricolor. Melhor, mas sem a capacidade de definição. E no segundo tempo a coisa ficou mais equilibrada, até que o mesmo Cano aproveitou um cruzamento e marcou com oportunismo. Desesperado, o Vasco se lançou em busca do empate, sem êxito, novamente esbarrando em Fábio até que o corte final aconteceu – e a magia do futebol prevaleceu. O golaço tornou tudo pequeno no Maracanã.

As crianças tricolores que estavam no Maraca hoje vão perseguir o Fluminense para sempre, assim como outros garotos perseguiram por causa de Assis e Washington e eu, criança, vi Pintinho e Cristóvão destruírem o Fla x Flu de 1979, mais Paulo Goulart pegando pênalti. E Edinho e Rivellino. Eu ainda persigo o Fluminense.

Não precisa ser um título, uma decisão. Às vezes, não precisa nem ser um clássico. Basta que num segundo surja a magia do grande momento do futebol: ela explode e encanta pelo resto da vida.

@pauloandel

Algumas palavras sobre Pelé (por Paulo-Roberto Andel)

O ano está acabando, o Natal está aí. No hospital, Pelé joga a partida mais difícil de sua longa e vitoriosa vida.

Como é sabido publicamente, seu estado de saúde piorou e o Rei está à base de medicação paliativa. Em português direto e reto, o câncer é incurável, já se alastrou e não há nada a fazer.

Já li, escrevi e debati muito sobre Pelé. Fui chamado de alienado por conta da questão de sua filha Sandra, até hoje sem a devida luz pública. Novamente alienado porque Pelé não teve posições combativas à ditadura no Brasil, nem se colocou de maneira antirracista.

Queiram desculpar. Nada tenho de alienado. Nem aqui, nem na China.

Sobre a questão de Sandra, filha de Pelé, não me cabe julgar nem apedrejar, apenas tentar entender o problema, explicado ao jornalista Milton Neves, sabendo também que, anos depois de Sandra, Pelé reconheceu outra filha, Flávia.

A respeito da ditadura, cabia a Pelé o papel de líder revolucionário para derrubá-la? Faça-me o favor. Sou filho e sobrinho de pessoas presas e torturadas pela ditadura. Deixo aqui uma expressão simples mas que, para mim, traduz a questão: o buraco é mais embaixo.

A simples presença de Pelé como ídolo maior do Brasil era uma postura antirracista, mesmo que involuntária. Desde fins dos anos 1950, ele é uma presença permanente no imaginário brasileiro. Se Pelé não tinha o domínio antropológico e científico do combate ao racismo, o fez do seu jeito. Sim, há 60 anos temos um ídolo negro permanentemente na TV, jornais, rádio e internet. Ok, Pelé nunca assumiu o discurso antirracista? Mas será que ele mesmo, com todo seu poder e dinheiro, também não foi vítima de racismo?

Pelé não foi apenas o maior jogador de todos os tempos, mas o Atleta do Século XXI, supremo na comparação com todos os esportes. Para quem tiver dúvidas, está tudo no YouTube e nos livros.

Dele, nunca se viu em público um único ato de rispidez, grosseria ou prepotência. Nunca. Ciente de seu lugar no topo, sempre respeitou outros grandes craques e até errou feio ao indicar seus sucessores nos gramados. Seria compreensível que fosse um homem até arrogante, com empáfia decorrente de seus feitos, mas nunca agiu assim. Nunca. Podem pesquisar.

Pelé ajudou muita, mas muita gente. Amigos como Altair, lateral campeão mundial de 1962, no tratamento de sua filha, que exigia medicação importada por longo tempo, a milhares de vítimas das chuvas em 1979, quando Flamengo e Atlético Mineiro fizeram um amistoso com renda revertida para a causa dos desabrigados. Ao jogar meio tempo para o Fla, Pelé provocou a quebra do recorde nacional de renda à época, mais um bom dinheiro para a reconstrução das casas perdidas.

Para aplaudir Maradona – gênio -, Cristiano Ronaldo – fenomenal – e mais recentemente Messi – monstruoso -, não é necessário diminuir o tamanho colossal de Pelé. Mbappé já é gigantesco, mas Pelé é Pelé. Ele está entre os gênios da raça, assim como Pablo Picasso, Miles Davis, Glauber Rocha, Jimi Hendrix e outros. Podemos gostar de futebol, apreciar novos craques, mas tendo a consciência de que Pelé, nem de longe, foi superado. Podemos ouvir o novo jazz, gostar, mas sabendo que Miles é Miles.

Aconteça o que acontecer nos próximos dias ou semanas – nunca sabemos -, eu só espero que respeitem Pelé. O Atleta do Século XX, o maior jogador de futebol de todos os tempos, o único jogador da Terra a ganhar três Copas do Mundo, é um idoso de 82 anos no que Gilberto Gil versou como o caminho inevitável para a morte. Criticá-lo não pode ser apedrejá-lo, e muitos dos que sonham com esse apedrejamento carregam muita hipocrisia nas costas.

A verdade é que, perto do que fez para o Brasil, Pelé nunca foi devidamente respeitado. Garrincha morreu bem mais jovem, mas também desprezado e ridicularizado. Pelé tem vivido mais tempo, com uma vida infinitamente mais confortável, mas com toda a carga de desmerecimento de sua trajetória, o que significa uma grande estupidez. Poderíamos ter aproveitado e não repetido duas vezes o mesmo erro.

Por fim, não adianta brigar com os fatos ou apadrinhar achismos. É inútil. Goste-se ou não de Pelé, ele ainda é o maior jogador de futebol da história. Reconhecer isso é apenas um exercício de lucidez. Só.

##########

Para os que insistem no terraplanismo futebolístico de reduzir os feitos numéricos de Pelé como Atleta do Século XX, proponho um simplório exercício de Estatística Documentária.

Vejamos os dez maiores artilheiros da história do Santos, excetuando-se o próprio Pelé, mais Feitiço (artilheiro nas décadas de 1920-30) e Araken Patuska (artilheiro nos anos 1920). Assim, são sete os maiores artilheiros santistas que jogaram ao lado do Rei.

2) Pepe, 405 gols em 750 jogos (1954-1969). Jogou 13 anos ao lado de Pelé.

3) Coutinho – 370 gols em 457 jogos (1958-1970). Jogou 12 anos ao lado de Pelé.

4) Toninho Guerreiro – 283 gols em 373 jogos (1963-1969). Jogou seis anos ao lado de Pelé.

6) Dorval – 198 gols em 612 jogos (1956-1967). Jogou 11 anos ao lado de Pelé.

7) Edu – 183 gols em 584 jogos (1966-1976). Oito anos ao lado de Pelé.

9) Pagão – 159 gols em 612 jogos (1955-1963). Sete anos ao lado do Rei.

10) Tite – 151 gols em 475 jogos (1951-1963). Sete anos ao lado de Pelé.

Nenhum dos nomes desta lista jogou menos de seis anos com Pelé de camisa 10, fazendo tabelas e recebendo passes. Somados, eles chegam à impressionante marca de 1.749 gols. Não é nenhum absurdo imaginar que Pelé tenha sido o principal responsável por municiar todos esses artilheiros. Que tenha sido por baixo em 40% das jogadas de gol (sabemos que foi mais): falamos de 700 gols pra começar a conversa. É claro que a lista contém vários dos maiores jogadores da história do Peixe, mas é impossível negar a participação direta de Pelé nas estatísticas de gol de seus companheiros.

Obs: apenas a título de curiosidade, dos dez maiores artilheiros da história do Barcelona, o espetacular Messi jogou apenas com Luisito Suárez (198 gols, o terceiro maior, seis anos jogando com Messi) e Samuel Eto’o (131 gols, o oitavo maior, cinco anos ao lado de Messi). Somados, dão 329 gols. Provavelmente Messi também teve expressiva participação em assistências para os colegas de equipe.

(Números sujeitos a retificações mínimas)

@pauloandel

@pauloandel

Está chegando a Copa (por Paulo-Roberto Andel)

Parecia tão longe que ainda demoraria muito, mas o tempo é implacável e aí está a Copa do Mundo, diante de todos os corações. Começará em menos de quinze dias e trará de volta um turbilhão de emoções para todos que amam o futebol.

Eu olho para trás e penso nas Copas que vivi. Uma Copa do Mundo sempre tem muitas Copas do Mundo nas costas, uma bagagem especial.

Nós sonhamos em reviver nossos melhores momentos sempre. Agora mesmo me divido: a criança vendo a chuva de papel picado na rua em 1978, o menino vendo os golaços do Brasil 1982.

E os grandes jogos? E os craques? Quem serão os verdadeiros protagonistas do Mundial do Catar?

Será que vamos ter outra “Mano de Dios”?

Quem vai ser o novo Gordon Banks, voando baixo para fazer o impossível?

Sonhos de um futebol mágico e eterno, tal como o de Garrincha no Chile, acertando o possível e o impossível. Quem sonhará?

Ou aqueles malucos geniais e maravilhosos da Holanda, trocando passes e trocando de posição, deixando os adversários embasbacados a todo instante? Ou ainda mais longe, do super timaço da Hungria em 1954?

A Copa é eterna. Ela abre a cortina. Falei aqui de lances que vi na TV muito depois de terem acontecido, bem como outros que sequer vi ao vivo, só ouvi falar. Tudo fica muito vivo, pulsante.

Estão abertas as vagas para o grande espetáculo do futebol na Terra. Estamos à espera de grandes lances definitivos, de jogos para se sentir o coração na boca. Uma coisa é certa: durante um mês, todos os corações do mundo vão perseguir o sonho do futebol. Bares cheios, churrascos, tevês cercadas por olhos atentos. Seleções clássicas e humildes. Jogos simples e apoteóticos. O sonho, o drama, a paixão.

Se não der pra rever o fantástico Pelé atormentando os goleiros Viktor e Mazurkiewicz, que seja o Ronaldinho fuzilando Oliver Kahn. Cercado de jovens, o já veterano Neymar terá sua oportunidade derradeira. Thiago Silva, decano de quatro Copas, também.

O sonho brasileiro da Copa é igualzinho àquela tarde já distante de 1994, quando Jorginho fez um cruzamento perfeito e Romário, sempre ele, subiu três metros de altura para cabecear de forma indefensável, deixando o goleiro sueco Ravelli sem pai nem mãe. A seguir, Romário abre os braços, seguro da vitória imortal, e a gente faz um país, daqueles que casam a voz de Marina Lima com os versos de Antônio Cícero.

Está chegando a Copa!

@pauloandel

Félix, Fluminense, a gênese (por Paulo-Roberto Andel)

A primeira lembrança que tenho sobre futebol está em vias de completar meio século. No entanto, lembro dela como se tivesse dez ou quinze anos de distância. De uma vez só, me encontrei com o esporte, o ídolo e o meu time.

Em algum lugar do primeiro semestre de 1973 – e depois vocês vão entender a precisão -, era noite em Copacabana, no alto da rua Santa Clara. Nós morávamos num prédio de quatro andares, sem elevador, que já não existe mais – foi derrubado para a construção de um apart-hotel.

Nosso apartamento era grande e confortável. Para mim, era gigante. Eu sempre me lembro de ficar no quarto. No do meus pais, também tinha uma cama pequena para mim, onde dormia às vezes, geralmente de tarde. E tinha a saleta, onde eu brincava de Polly e outras coisas.

Naquela noite, eu estava no quarto dos meus pais, na minha segunda cama, enquanto eles estavam na sala, acho que com visitas. Num súbito, meu pai abriu a porta e vem falar comigo. Todo orgulhoso, ele trazia consigo outra descoberta para mim: um álbum de figurinhas. Ele os adorava, e é uma lástima para mim que todos tenham se perdido com nossas mudanças. Os álbuns eram uma declaração de amor do meu pai pelo futebol.

“Paulo, olha aqui. Esse é o Félix, ele é do Fluminense. É o goleiro do Fluminense e do Brasila”.

Parei e olhei com atenção. Eram duas palavras completamente novas para mim, Félix e Fluminense. Eu as decorei de imediato, então posso dizer que naquele momento, cercado pela felicidade de meu pai ao me mostrar o álbum, num só instante eu me tornei Fluminense – se é que já não era -, fã do Félix e, inevitavelmente, do futebol. Foi tudo um furacão de sentimentos, vejam vocês: eu era Fluminense, já era torcedor mas nem sabia as cores do time ou como era seu escudo. Numa cena de quinze segundos, eu tinha um time, um ídolo, mais um esporte para seguir pelo resto da vida. Não me apaixonei primeiro pelas cores, pela torcida, pelas bandeiras ou pelos jogadores: meu amor pelo Tricolor nasceu da palavra escrita, falada, num supetão. Ploft: Fluminense!

Félix veio junto. Eu começava a decorar as letras e palavras, e aquele nome foi tão marcante para mim que Félix e Fluminense significavam a mesma coisa, uma coisa só. Faz sentido: Félix é um dos maiores ídolos da história do clube. Cheguei a vê-lo, ainda muito criança e ele como a muralha da Máquina 1975, quando já era um personagem mítico e multicampeão das Laranjeiras.

De onde veio minha certeza sobre o primeiro semestre de 1973? Porque meu aniversário de cinco anos era em julho e, nele, eu já tinha uma bolinha com o escudo do Fluminense, já sabia que era tricolor e que meu time também tinha um lindo uniforme branco. No ano seguinte, 1974, tenho a minha primeira lembrança do Maracanã, olhando o antigo placar em 0 a 0. Enquanto o grande Gerson dava seus últimos passos na carreira e o Fluminense recebia Francisco Horta como presidente – o mais emblemático da história tricolor – e maquinista de um dos maiores times do mundo, eu já era Fluminense de alma, palavra, escudo e sentimento.

Desde então, se passaram muitos anos e aquelas palavras ficaram comigo para sempre. Há quase cinquenta anos, é muito difícil eu passar dias sem lembrar do nome de Félix – e imediatamente do meu pai. O do Flu passou de paixão: virou ofício, trabalho e parte da minha carreira como escritor. Chega a ser incrível pensar que tudo parecia escrito lá atrás, quando passei a amar o clube pelo som e grafia de seu nome.

Félix é um dos grandes heróis tricolores da história, um vencedor supremo, uma fera, um paradigma, um campeão do mundo. Para mim, ele ainda consegue ser mais do que isso: olhando esse longo tempo para trás, ele é a primeira lembrança de uma longa estrada que veio até aqui, sem previsão de término. Félix é Fluminense, as duas palavras são a felicidade de Helio Andel abrindo a porta e, todo orgulhoso, mostrando seu ídolo num álbum de figurinhas para o pequeno filho. É a eles que tenho perseguido por todos os anos. O Fluminense é, a cada três dias, meu sonho de reencontro com aquela noite da infância.

Aquele apartamento não existe mais, nem meu pai, nem Félix, mas a força das palavras atravessou os tempos de tal forma que eles parecem eternos. Agora está escuro aqui no quarto e a TV mostra um noticiário na madrugada, mas me basta uma breve espiada no teto escuro e ele me sugere aquele outro quarto, onde em segundos pai, filho, goleiro e time fizeram involuntariamente – mas nem tanto – um pacto para a eternidade.

@pauloandel

Algumas breves palavras sobre futebol

Para mim e muita gente, futebol tem muitos significados. Um deles é a esperança de, a cada quarta e domingo, voltar a ter onze anos de idade, rever um Maracanã que já não existe e, no campo, espiar uma hora e meia do melhor futebol do mundo. Doces ilusões que, às vezes, se materializam.

Foi o caso desta quarta. Fluminense e Atlético fizeram um jogaço, daqueles que não se parecem com o futebol de hoje, nem deste século. Golaços, grandes lances, disputas, lambanças, garra e talento.

Antes da partida, eu caminhava para casa com certa tristeza por problemas que aqui não cabem, meus, dos outros, da minha cidade e do meu país. Tão triste que desisti de ir para o Maraca e resolvi ver o jogo em casa, sozinho. Esperava um clássico normal, rigoroso, até careta como os atuais, mas aí é futebol, amigos: a surpresa aparece a cada esquina.

Eu, meu copo de refrigerante gelado, a tela da TV praticamente como se fosse dentro do campo, os amigos no WhatsApp sofrendo com suas TVs e também na arena. E tome gols, tome lances bonitos e jogadas que remetiam ao velho UUUUUUHHHHH de muito tempo atrás.

Quando o Fluminense joga, meu mundo para e tudo se mistura. É assim há quase cinquenta anos. Eu me lembro do dia em que conheci Félix no álbum de figurinhas do meu pai. Eu me lembro do time de botão do Flu que ele me deu em 1975 em plena Estrada de Botafogo no terreiro de Dona Nininha e Seu Arlindo – que tinha um Aero Wyllis com banco vermelho. E também me lembro de Paulo Cezar Lima, craque campeão do mundo e colunista deste Museu da Pelada, cobrando três escanteios mortíferos contra o Flu em 1980 – todos fora da marca de cal.

[Então, bate uma saudade imensa dos meus pais e do meu irmão. Eu choro

Outro dia o Edinho fez 67 anos. Eu estava lá quando ele bateu o pênalti numa quarta-feira de chuva, fez o gol e ganhamos por 4 a 0. Fez 40 anos. Na volta, eu e meu amigo Floriano Romano, hoje artista consagrado, esperamos o ônibus por um tempão. Dois garotos de treze anos.

O jogo é quente, Luiz Henrique arrebenta, André corre por toda parte, o Atlético dá suas pancadas, Hulk fica nervoso sem trocar de cor e o Turco faz besteira. Cano faz um gol de barriga e todos os tricolores choram por um instante, lembrando aquele gol de barriga inesquecível em 1995. O primeiro tempo terminou 3 a 2 pro Flu, o segundo fechou em 5 a 3. Luiz Henrique é o melhor em campo, um garoto simples que sorri feliz e já está a caminho da Europa. Para muitos, foi o melhor jogo do Brasileirão. Para outros, o melhor de 2022.

Em duas horas, eu me esqueci da tristeza, dos problemas, das dívidas, das ameaças, das falsidades que encontramos a todo instante, da empáfia oca e só pensei no futebol. Na bolinha que sobe no tiro de meta, se perde no figurino da arquibancada e logo quica na grama. Nos uniformes em campo. Sonhei que meu pai estava ao meu lado, que minha mãe me dava um beijo, que meu irmão sorria. Sonhei com a Marina. Sonhei com a nuvem espessa de pó de arroz que me fez perseguir o Fluminense para sempre.

Acaba o jogo e a insônia vem forte. A emoção da vitória se junta a fotos, memes e gozações porque o rival Flamengo perdeu. Os gols são reprisados no telejornal, nas resenhas e, perto de uma hora da manhã, duas cerejas do bolo: Leo Batista aparece na televisão e fala de coisas belas. Depois, o VT de Flu e Galo. O Leo é voz obrigatória para qualquer torcedor que tem 50 anos ou mais – ele nos dá a falsa e maravilhosa sensação de eternidade. O VT é para ter aquele gostinho inesquecível das reprises da TVE aos domingos à meia-noite, e isso remete a Luiz Orlando, Achilles Chirol e outras feras.

A doce ilusão me oferece uma madrugada de 1980 ou 1983. A realidade é 2022, onde nem toda quarta-feira irá me sorrir com um grande jogo de verdade, mas para quem chegou aos 53 anos como eu, os versos de um gênio – tricolor – como Belchior são contestados: por duas horas de futebol, sonhar é melhor que viver. Quando a anestesia da paixão para, a gente espera o próximo jogo e o próximo sonho. Deve ser assim com meu amigo Edgard, que me contou de como seu pai estaria feliz com o 5 a 3.

Duas e quinze da manhã. Meu pai me puxa pela mão enquanto andamos pelo corredor lotado, até que chegamos à rampa da UERJ e descemos saboreando cada passo de uma tarde qualquer de futebol. Um dia eu ainda vou estudar lá, podem acreditar. E vou jogar campeonatos lá com meu time de botão.

Agora, como se dorme olhando para o teto e trocando os problemas pelas imagens do gol de barriga? É o Renato, é o Cano, é o sentido da vida.

[Esta coluna é dedicada a Edgard Freitas Cardoso, à memória de seu pai e da família Andel

@pauloandel

Futebol Cards, uma onda irresistível

Entre 1978 e 1981, a garotada que curtia futebol foi tomada por uma verdadeira febre que até hoje repercute no mundo adulto: a coleção de cartões Futebol Cards.

O lançamento veio na esteira da Copa da Argentina e logo mobilizou uma multidão. Pela primeira vez, o futebol não era lançado em figurinhas para um álbum, mas em cartões de papelão de ótima qualidade – mais de 40 anos depois, colecionadores ostentam peças impecáveis.

Cada cartão vinha com a foto do jogador vestido com a camisa do clube e, em seu verso, uma pequena ficha de apresentação com dados pessoais, gostos e trajetória na carreira. A venda era em pacotinhos com três cartões e o chiclete Ping Pong, também chamado de Magrão pelo seu formato retangular finíssimo. Bem, o chiclete não era grande coisa (…), mas o fato é que a garotada invadia as bancas de jornal – que, acredite, vendiam jornais naquele tempo – com suas moedas para a arrebatar os pacotes. Num mundo sem internet, o Futebol Cards era uma das raras oportunidades de se conhecer um pouco mais os ídolos.

Como em toda coleção, Futebol Cards tinha os cartões mais populares, que acumulavam repetições e eram usados em trocas, enquanto os mais raros eram disputados a tapa. Todo mundo tinha um Fred do Botafogo, zagueiro e irmão de Paulo Cezar Caju. Abel, o Abelão, hoje treinador consagrado, era um símbolo permanente do Vasco nos pacotinhos. Pelo Fluminense, o cartão popular era do multitarefa Rubens Galaxe. Do Flamengo, Rondinelli. E das equipes de outros estados? Quem não teve vários Iúra do Grêmio, Victor do Santos, Odirlei da Ponte Preta e o cracaço Zé Carlos do Guarani?

Num primeiro momento, a coleção se limitava aos grandes clubes, mas rapidamente abrigou equipes expressivas de outros estados e, numa segunda etapa, algumas equipes de menor investimento. Um caso típico foi a simpática Caldense de Minas Gerais, que ganhou projeção nacional com a coleção. Já incensado pela bela campanha em 1977 e o grandioso Estádio Santa Cruz, o Botafogo de Ribeirão Preto também teve grande visibilidade graças à coleção, que incluía nomes como os de João Carlos Motoca, o do goleiro Aguilera e do veteraníssimo Zito.

Alguns cartões ficaram muito valorizados por erros de edição. Por exemplo, no Guarani, os cartões dos pontas Capitão e Bozó, campeões brasileiros de 1978, saíram trocados. Em outras situações, os jogadores que mudaram de clube possuem cartões diferentes. É o caso de Nunes, que tem dois cartões quando jogava pelo Fluminense (um de camisa branca e o outro com uma camisa tricolor estranhíssima) e depois um pelo Flamengo, com a camisa rubro-negra. Também é o caso do xerife Moisés, com cartões pelos dois clubes. No Grêmio, o goleiro Remi não tirou a foto com a camisa da posição, mas sim a do time.

A Futebol Cards também lançou a série Grandes Jogos, registrando partidas importantes dos anos 1970, com fotos maravilhosas. Clássicos como Atlético e Cruzeiro, Fla x Flu e o incrível Fluminense x Corinthians de 1976 estão na lista.

Mais de quarenta anos depois, a coleção mexe com os torcedores cinquentões. Negociações na internet alimentam o sonho de se conseguir um cartão que faltou à época. Lá estão muitos e muitos nomes que ajudaram a escrever a história cotidiana do futebol brasileiro. Que tal o Helinho do Vasco? Ou o trio Vanderlei, Marco Aurélio e Dicá da Ponte Preta? Juari e Nilton Batata no Santos. Zé Carlos, Renato e Zenon no Guarani. Marinho, Jair Gonçalves e Pires no Palmeiras. Você sabia que Ancheta, zagueiro símbolo do Grêmio, depois virou cantor na noite de Porto Alegre?

Ah, o meu time com Wendell e Renato, Gilson Gênio e Zezé, Pintinho e Cleber, que saudade!

@pauloandel

Download gratuito do livro digital “Pedacinhos da Copa”

O escritor Paulo-Roberto Andel, decano de publicações sobre o Fluminense F. C., disponibilizou gratuitamente seu mais novo e-book, intitulado “Pedacinhos da Copa”, onde relata suas impressões e lembranças a respeito do Mundial da Rússia.

 

LIVRO “PEDACINHOS DA COPA” – CLIQUE AQUI

 

 

Lançamento do livro tricolor ameaçado de destruição na Justiça (da Redação)

Nesta terça-feira, dia 14/11, o escritor Paulo-Roberto Andel realiza uma noite de autógrafos de seu livro “Duas vezes no céu – os campeões do Rio e do Brasil”.

A obra se refere à trajetória vitoriosa do time do Fluminense em 2012, quando conquistou o campeonato carioca e o tetracampeonato brasileiro.

Desde 2014, o livro sofre um processo judicial que chama a atenção pela brutalidade desmedida: um funcionário do Fluminense, Nelson Nunes Peres do Santos, vulgo Nelson Perez, entrou com uma ação requerendo R$ 50.000,00, a busca, apreensão e DESTRUIÇÃO de todos os exemplares de “Duas vezes”, alegando que o autor da obra manipulou uma foto que seria de sua autoria e exclusivamente sua. No entanto, Nelson omitiu seu vínculo empregatício para a Justiça: é funcionário CLT do Fluminense e, pela Lei Pelé, o titular dos direitos patrimoniais de qualquer foto tirada em campo é o Fluminense. Não bastasse isso, o funcionário cometeu uma atitude hedionda, que é a ambição pela destruição de livros, sem contar o pedido de Justiça gratuita que fez, alegando ser fotógrafo freelancer, ganhando apenas R$ 1.500,00 mensais.

O escritor foi contratado pela editora e, por isso, não teria como fazer qualquer manipulação, dado que tinha um contrato para ceder seus originais e, em troca, receber 10% do preço de capa de cada exemplar. A editora assumiu toda a produção e contratou o artista gráfico Guis Saint-Martin, que fez uma aquarela inspirado numa bandeira de torcida organizada.

Em outubro passado, o Fluminense entrou na Justiça requerendo a condição de assistente do escritor e de sua editora à época, a 7Letras, na direção contrária de seu funcionário e afirmando categoricamente que, além de ter realizado a ação com meio ilícitos, não comunicou o clube, que é o proprietário da foto. O caso está na 15ª Vara Cível da Cidade do Rio de Janeiro.

Paulo é um dos escritores de futebol mais publicados sobre um clube no Brasil. Entre autorias e coautorias, publicou onze livros sobre o Fluminense. Há dias, disponibilizou gratuitamente seus livros “Roda Viva” – volumes I e II NESTE LINK.

 

LANÇAMENTO DO LIVRO “DUAS VEZES NO CÉU”

PAULO-ROBERTO ANDEL

TERÇA, 14/11 – A PARTIR DAS 18:30 H

CASA VIEIRA SOUTO – PRAÇA DA CRUZ VERMELHA, 9 – CENTRO – A 20 METROS DO INCA (ESTACIONAMENTO A 100 METROS, NA RUA HENRIQUE VALADARES, 71)

140 PÁGINAS

PREÇO: R$ 25,00 (SÓCIOS DO CLUBE TÊM DESCONTO de 20%)

 

2014 – O espírito da Copa (por Zeh Augusto Catalano)

Um dos principais objetivos deste PANORAMA DO FUTEBOL é ser uma memória não seletiva do mundo do futebol. Em nossas pesquisas para os livros que estamos escrevendo – projetos a serem lançados em 2016 – ficou claro para nós que alguns eventos fundamentais do nosso futebol, dos anos 1970, 80 e 90, foram simplesmente esquecidos das matérias televisivas ou dos sites na internet. Com isso, é quase certo que pessoas na casa dos seus 20, 25 anos, simplesmente desconheçam por completo tais fatos. Isso ajuda, e muito, na criação de mitos e na assimilação de inverdades.

Tempos atrás, numa discussão sobre o meu Vasco da Gama, lembrei um “ilustre” vascaíno do seu esquecimento do título brasileiro da segunda divisão de 2009, quando este listava os feitos do Vasco de 2000 pra cá. A resposta foi surpreendente: Isso é pra ser esquecido – Como a visita e vitória na 2a divisão fossem algo vergonhoso, a ser omitido da história do clube.

Esse raciocínio se estende às derrotas e fracassos, principalmente na literatura. Os livros se concentram nos grandes craques, grandes títulos, grandes vitórias. Com isso, personagens fantásticos são esquecidos. Grandes histórias são perdidas no tempo, exatamente porque elas não têm como pano de fundo uma grande vitória, um título. E se as editoras operam com a teoria de que “Livro sobre futebol não vende”, que dirá um livro que traga em sua alma uma derrota épica.

Imaginem a quantidade de livros ufanistas teríamos se Neymar Jr e companhia tivessem ganho a Copa? Talvez até alguns mais corajosos se aventurassem a lançar algum se o Brasil tivesse sido derrotado nos pênaltis ou se, por exemplo, a bola do último minuto de Pinilla, do Chile, ao invés de beijar a trave, fosse pra estopa.

Mas não foi isso que aconteceu. Ocorreu a hecatombe que todos viram, o apocalipse do Mineirão, os minutos mais vergonhosos da história do futebol brasileiro. Ali, naqueles minutos, certamente vários projetos foram postos de lado, apagados, esquecidos, pois ninguém daria mais um centavo por aquilo. Neymar não iria mais erguer a taça e os brasileiros só queriam apagar da memória aquela vergonha.

Quantos livros você viu lançados sobre a Copa de 2014? Pois é…

Copa12tela

Só que a gente não pensa assim. “2014, o Espírito da Copa” foi escrito por Paulo Roberto Andel, João Garcez, por mim e por mais dezessete pessoas que, no calor dos acontecimentos, relataram aquilo que viveram na mais espetacular das Copas. Os textos, de até três páginas, são publicados na ordem cronológica dos fatos, e acompanham desde as manifestações anteriores à Copa até a coroação da grande campeã. Todos, sem exceção, foram escritos durante o evento, e são datados. São textos com resenhas de jogos, comportamento das torcidas e dos “gringos” dentro e fora dos estádios, crônicas sobre personagens, por autores no Rio, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Salvador. Várias visões e textos completamente distintos daqueles dias sensacionais.

Muitas páginas são dedicadas aos famosos 7 x 1. Principalmente a capa do livro. A foto que a ilustra foi feita minutos depois da “tragédia”, pelo Paulo Andel. Ao sair de casa, no Centro do Rio, eternizou a cena. Dois meninos, vestindo a camisa dez amarelinha, jogavam uma animada pelada, acompanhados pelo olhar vago do cidadão das ruas que, sentado ao fundo, assistia a tudo inerte. Apesar da maior derrota da história do futebol brasileiro, a vida continuava. O amor à bola seguia incólume.

Na contracapa, o projeto original previa o número 14 da camisa da seleção, representando o ano do certame. Depois daquele dia, decidimos trocar pelo 7, o número que vai assombrar o futebol brasileiro por longa data.

Nosso objetivo foi imprimir um retrato vivo do que foi a Copa. Acredito que tenhamos conseguido.

Caso tenha interesse em adquirir um exemplar, ele custa R$ 40,00 e pode ser comprado diretamente com um dos autores. Por favor, contacte Paulo-Roberto Andel – pauloandel@gmail.com

 

Nossa proposta com o PANORAMA DO FUTEBOL (da Redação)

panorama do futebol logo

Caros amigos, o PANORAMA DO FUTEBOL pretende ser um espaço de resgate das discussões sobre o que cerca boa parte do futebol que não se vê na televisão.

Para isso, utilizaremos texto, imagem vídeo e som, na tentativa de agregar torcedores em geral que estejam dispostos a uma reflexão mais profunda sobre este esporte que encanta e inebria, mas também caminha com frustrações, falhas e anonimato.

Esteja em casa, feito um estádio de antigamente. Ou outro desses que a TV nem sempre se lembra de mostrar.

A equipe.