Uma rua sem nome (por Paulo-Roberto Andel)

Pode não ter sido o primeiro jogo que fui, mas é o primeiro jogo que me lembro de ter ido ao Maracanã. Foi em 1974, quando eu tinha cinco para seis anos de idade.

Eu não me lembro de nada da partida, mas do campo vazio quando o jogo acabou. Era noite, muito provavelmente de domingo.

Quando olhei o placar, tenho quase certeza de que foi um zero a zero. O Fluminense contra alguém, lógico.

Achei os degraus da arquibancada muito altos. Claro, eu era pequenininho, minhas pernas eram bem pequenas. Aí meu pai veio me dar a mão e desci para o túnel de acesso, bem escuro e estreito. Parecia uma aventura secreta por trinta segundos.

Então vinha a saída pelo corredor do Maracanã. Não era um jogo de muito público. Várias pessoas caminhavam na mesma direção que nós, outras vinham no sentido contrário. E um certo silêncio prevalecia dos dois lados, o que reforça minha impressão de empate.

Andávamos tranquilos, eu e meu pai de mãos dadas. Não me recordo de outro pai e filho por ali, não feito a gente. Éramos únicos.

Para mim, aquele corredor que levava à grande rampa de saída, imensa, gigantesca para mim, era como se fosse uma rua. Uma rua de futebol, com as pessoas indo e vindo depois de um jogo.

Depois da descida, havia carroças de cachorro quente com vários fregueses, e vendedores de laranja oferecendo uma promoção. Em frente ao portão do Maracanã, tinha uma grande estrutura de concreto, bem grande, com peças vazadas que me lembravam um palito plástico de picolé Chicabon.

E então pegávamos o trem para a Central e, de lá, o ônibus 154 para Copacabana, que nos deixava na porta de casa na rua Santa Clara.

Essa é uma lembrança de 1974, prestes a completar 50 anos. Infelizmente, meu pai não está mais aqui para me dar a mão e ninguém mais dará. Muito tempo se passou. O Maracanã agora é outro, super outro.

De toda forma, eu ainda procuro o túnel escuro e ínfimo, ainda espio a rua sem nome cheia de gente indo e vindo, todos ansiosos pelo próximo encontro, o próximo domingo no Maracanã, os altos degraus da arquibancada.

É que cinquenta anos não são nada diante do sonho de uma criança, descobrindo seu lugar preferido no mundo.

@pauloandel

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