Era uma vez um país tímido mas alegre, humilde e pobre, sedento de progresso, com seus menininhos negros e descalços,chutando bolas em campinhos de terra batida ou na rua.
O país que queria ter sido grande em 1950, mas que acabou chorando a ponto de ter vários suicidas no Maracanã e em toda a velha Guanabara. Que teria grandes traumas cotidianos a seguir.
E que também pagava merrecas aos seus jogadores de futebol, mesmo os que defendiam a Seleção Brasileira (com camisas improvisadas).
Há 58 anos, um país desafiava todas as definições e tomava o futebol mundial como protagonista. Daqui saiu desacreditado. Olhando para trás, como seria possível não confiar em Zito, Garrincha, Didi, Nílton Santos, Gilmar? Os tempos explicam.
O que dizer do menino Pelé em lágrimas de adolescente?
Havia um país pronto para dar um salto equivalente de meio século em três ou quatro anos. A Bossa Nova, o Cinema Novo, o grande teatro, o Concretismo, a industrialização, a construção de Brasília. Havia o Brasil pronto para se libertar das amarras, levantar do berço esplêndido e caminhar altivo pelo pátio das grandes nações.
Tudo parecia que ia dar certo. Muita coisa ia ser feita. Era a hora de decolar. No meio do caminho, a ganância dos homens pôs o barco a pique, mas ele ainda não afundou.
Poucas vezes em toda a história os brasileiros foram tão felizes quanto em 29 de junho de 1958.
Choraram, gritaram, tomaram as ruas, trocaram abraços e beijos, tudo por conta da lira do delírio contada nos aparelhos de rádio por todo o país.
Ali, eles finalmente se viram como brasileiros de verdade. Por um dia, senhores do mundo.
Enfim, um Brasil.
@pauloandel