Enfim, o futebol voltou. Não havia outro jeito, os contratos exigem e, segundo dizem, o show tem que continuar.
Mas há um vazio absoluto, provocado pela trágica pandemia que continua matando muito no Brasil. Sim, afinal é impossível que se tenha público nas partidas. Paciência.
De toda forma, é impossível não se sensibilizar com a desgraça que é uma arquibancada no completamente vazia numa partida de futebol. Sem a torcida, a televisão oferece um sentimento de solidão, de ausência, de lacuna evidente.
O cenário já é triste para os times da elite do futebol brasileiro. Imagine quem não está nela? Campeonatos que não vão se realizar, times que podem desaparecer, tristeza, desemprego, miséria. Quatro quintos ou mais dos jogadores brasileiros ganham pouco mais do que um salário mínimo, isso para quem recebe. E como vai ser daqui por diante?
É certo que prever a catástrofe provocada pela Covid19 era impossível mas, se pensarmos bem, o cotidiano dos jogos sem público na arquibancada já se desenhava de alguma forma, ora pela gentrificação dos estádios transformados em arenas, ora pelo desprezo às equipes que não figuram nas principais competições nacionais, ora pela própria espanholização do futebol através das cotas de TV, ora pelo combate hipócrita aos verdadeiros agentes da violência entre torcidas. Numa reflexão sincera, a TV sempre pretendeu fazer do futebol uma atração como um jornal diário ou uma novela, pouco se importando sobre a necessidade vital de formar público presente aos jogos.
Copiamos a péssima fórmula de Havelange: arenas gourmetizadas, com ingressos caros, privilegiando carros em vez dos velhos trens enchendo os estádios com seus tipos populares.
A pandemia foi apenas (mais) uma pá de cal nos degraus de concreto que antes ofereciam emoção, mas que passaram a exalar “experiências”. Por enquanto temos a justificativa para o deserto de espectadores. Mas o que será do futuro? A torcida vai sobreviver depois que a tragédia do novo Coronavírus for debelada?