O futebol explica o mundo (por Paulo-Roberto Andel)

Há pouco, ouvi um programa na TV e falavam de futebol, não apenas pelo óbvio mas por tudo que o envolve. Muita gente só vê o jogo em si, ou pensa que todos os jogadores são milionários – um tremendo engano. O futebol explica a vida e o mundo.

Para começar, num país onde a vida é tão difícil, às vezes o futebol é a única alegria de muita gente, seja num campinho, numa calçada, num radinho de pilha ligado, numa mesa de botão, numa portaria. Nos hospitais. Na rua.

Meio de sociabilidade. Bate papo no trem, na barca, no ônibus lotado. No metrô. Numa fila de emprego ou congênere.

Por causa do futebol, passei a ler casa vez mais e isso me levou a filmes, exposições, peças e shows. Ele me levou a interagir basicamente com quase todos os meus amigos, e até os que não são propriamente fãs do esporte já me contaram ótimas histórias.

Conheci muita gente por causa de futebol – minha mulher, inclusive -, e a maioria está por aí até hoje, felizmente. Foi o que me levou a ser um escritor publicado, depois de anos de luta.

Gente que adora os escudos, os times extintos, os times modestos, os imaginários. Gente que sonha com o jogo, com a felicidade efêmera do domingo à tarde.

É claro que podres poderes estão no futebol. Muita gente se dá bem nisso. Agora, eles também não são os donos do mundo, não controlam o sentimento de bilhões de pessoas.

O futebol junta gente que jamais se reuniria noutro lugar ou circunstância. Ele agrega. E ainda vale muito a pena.

@pauloandel

Flu x Corinthians, o que esperar? (por Robertinho Silva)

Nesta quinta-feira, Corinthians e Fluminense se enfrentam na Arena Itaquera pela partida de volta da Copa do Brasil. No primeiro duelo, empate em 2 a 2 no Maracanã. Por um lado, o Tricolor tem motivos de sobra para se manter otimista. Venceu por 2 a 1 o bom time do Fortaleza no Maracanã pelo Brasileiro.

Por outro lado, o Flu tem muito a lamentar. O time tem tido queda de rendimento, especialmente na segunda etapa dos jogos. É nítido que o time está esgotado fisicamente, e para este jogo decisivo não poderá contar com o meia André, um dos pilares do time tanto na marcação, quanto na construção de jogadas ofensivas. Fernando Diniz terá que escolher entre manter seus jogadores em campo até o limite da ruptura física, ou fazer alterações mais cedo e ter uma queda vertiginosa de rendimento.

Apesar dos pesares, o Fluminense deixa razões para deixar o torcedor esperançoso. O Fluminense é o segundo time mais eficiente nas finalizações, ficando atrás apenas do Inter de Mano Menezes. Vem apresentando bons números fora de casa, sendo o segundo melhor visitante no Brasileiro, e tendo vencido todas longe de seus domínios na Copa do Brasil. O retrospecto de Fernando Diniz jogando contra treinadores estrangeiros que até o momento é de 73,8%. Germán Cano fez as pazes com as redes, fez os dois diante do Fortaleza e retomou a artilharia do campeonato. O goleiro Fábio é o único do atual elenco a ter vencido o Corinthians na Arena Itaquera. Na ocasião, foi campeão da Copa do Brasil em 2018, vencendo por 2 a 1 e garantindo o hexacampeonato da competição para o time celeste.

Outro ponto que me chama bastante atenção nesse Fluminense, é como o time melhorou na construção das jogadas, na compactação de marcação. Isso justifica a tamanha eficiência durante a temporada.

O Fluminense se inspira no épico e memorável jogo de 1984 diante do mesmo Corinthians, válido pela semifinal do Brasileiro daquele ano. Naquela partida, o ex-zagueiro Ricardo Gomes apontou que a classificação a decisão após um jogo que classificou como “tecnicamente perfeito”.

Na final, o Fluminense enfrentou o Vasco, que havia eliminado o Grêmio. No primeiro jogo, vitória por 1 a 0, gol do craque Romerito. Na segunda partida, empate sem gols e título garantido para o time das Laranjeiras.

Foto: UOL

A Taça Rio do America, 40 anos depois (por Paulo-Roberto Andel)

Entre setembro e novembro de 1982, aconteceu a primeira edição do segundo turno do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro com nova nomenclatura, batizado como Taça Rio. Começava uma nova era de charme que duraria vários anos, em contrapartida à consagrada Taça Guanabara, criada em 1965.

O futebol do Rio fervilhava. Os times possuíam muitos jogadores de qualidade, os clássicos eram sinônimo de Maracanã lotado. Apesar da natural disparidade de forças entre as grandes equipes e as de menor investimento, é correto dizer que todos os times da Primeira Divisão do Rio em 1982 tinham valor. Além dos chamados quatro grandes, brigavam America e Bangu, além do Campo Grande (campeão da Série B do Brasileirão naquele ano), o atrevido Bonsucesso e os sempre incômodos Americano e Volta Redonda. Até mesmo a Portuguesa, que fez uma campanha ruim, aprontou contra Fluminense e Flamengo, vencendo os dois clubes respectivamente por 2 a 1 e 3 a 2 – este, num jogo épico na Ilha do Governador.

Já consagrado na temporada pelo título do Torneio dos Campeões, que tem o peso de uma competição nacional, o America conseguiu apenas o sexto lugar na Taça Guanabara. Entretanto, reagiu no returno e marcou seu nome na história da Taça Rio como seu primeiro campeão, apesar de começar a jornada com uma derrota.

A campanha rubra na Taça Rio 1982:

America 1 x 3 Botafogo (Maracanã)
America 4 x 1 Volta Redonda (Wolney Braune)
Americano 0 x 1 America (Godofredo Cruz)
Bonsucesso 0 x 0 America (Moça Bonita)
America 2 x 0 Campo Grande (Wolney Braune)
Vasco 0 x 2 America (Maracanã)
Bangu 2 x 2 America (Maracanã)
Flamengo 0 x 2 America (Maracanã)
Portuguesa 1 x 3 America (Caio Martins)
America 5 x 0 Madureira (Wolney Braune)
Fluminense 2 x 4 America (Maracanã)

A Taça Rio deu ao America a oportunidade de disputar o título estadual de 1982 contra Flamengo (campeão da Taça Guanabara) e Vasco (time com a maior soma de pontos nos dois turnos do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro), num triangular final. Duas derrotas por 1 a 0 alijaram o time do título esperado desde 1960, mas a bela campanha da Taça Rio é uma doce lembrança dos tempos em que o America era protagonista e admirado.

A vitoriosa campanha americana na Taça Rio contou com nomes como os de Gasperin, Chiquinho, Eve­raldo, Zedílson, Aírton, Pires, João Luís, Moreno, Gilberto, Luisinho Tombo, César, Serginho, Gilson, Donato, Jorginho, Adilson, Duílio e Elói, mais os treinadores Dudu e Edu.