1958, há 58 anos (por Paulo-Roberto Andel)

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Era uma vez um país tímido mas alegre, humilde e pobre, sedento de progresso, com seus menininhos negros e descalços,chutando bolas em campinhos de terra batida ou na rua.

O país que queria ter sido grande em 1950, mas que acabou chorando a ponto de ter vários suicidas no Maracanã e em toda a velha Guanabara. Que teria grandes traumas cotidianos a seguir.

E que também pagava merrecas aos seus jogadores de futebol, mesmo os que defendiam a Seleção Brasileira (com camisas improvisadas).

Há 58 anos, um país desafiava todas as definições e tomava o futebol mundial como protagonista. Daqui saiu desacreditado. Olhando para trás, como seria possível não confiar em Zito, Garrincha, Didi, Nílton Santos, Gilmar? Os tempos explicam.

O que dizer do menino Pelé em lágrimas de adolescente?

Havia um país pronto para dar um salto equivalente de meio século em três ou quatro anos. A Bossa Nova, o Cinema Novo, o grande teatro, o Concretismo, a industrialização, a construção de Brasília. Havia o Brasil pronto para se libertar das amarras, levantar do berço esplêndido e caminhar altivo pelo pátio das grandes nações.

Tudo parecia que ia dar certo. Muita coisa ia ser feita. Era a hora de decolar. No meio do caminho, a ganância dos homens pôs o barco a pique, mas ele ainda não afundou.

Poucas vezes em toda a história os brasileiros foram tão felizes quanto em 29 de junho de 1958.

Choraram, gritaram, tomaram as ruas, trocaram abraços e beijos, tudo por conta da lira do delírio contada nos aparelhos de rádio por todo o país.

Ali, eles finalmente se viram como brasileiros de verdade. Por um dia, senhores do mundo.

Enfim, um Brasil.

@pauloandel

Era para ter sido tudo muito diferente com Jobson (da Redação)

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Num momento terrível como esse, sem fazer julgamentos antecipados, o drama de Jobson já era visível de longe. Muito longe.

O craque precisava mais do que talento com a a bola nos pés, desde jovem.

Os clubes, cada vez mais preocupados em produzir, lucrar, naming rights, “gestão”, “trabalho” e outras quinquilharias da gramática, na verdade são menos profissionais do que as manchetes e as coletivas de TV sugerem. Muito mais gado do que gente, muito mais números do que nomes.

Muitas vezes se fala que as divisões de base têm a missão de “moldar caráteres” ou “forjar homens”.

Quantas vezes estamos vendo o mesmo problema? Carreiras jogadas na lama, drogas, confusões, acidentes automobilísticos, mortes.

Longe de paternalismos ou passar a mão na cabeça de quem comete crimes.

Se foi o caso de Jobson, que a lei seja estritamente cumprida.

Mas não é de se pensar que, enquanto ainda sentimos a bordoada dos 7 a 1, num país onde a cada dia cada manchete é uma outra bordoada, continuamos jogando talentos e talentos fora pela total incapacidade de lapidá-los?

Até 1958, perdíamos para outras escolas de futebol. Desde 2002, perdemos para nós mesmos. E nossa indiferença. Afinal, o mercado é livre.

O caso de Jobson é marcante. Uma decomposição a céu aberto, que poderia ter sido evitada. Por ele mesmo e pelos que lucraram financeriamente com sua efêmera carreira.

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Sobre Alberto Léo (por Paulo-Roberto Andel)

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Decano do jornalismo esportivo do Rio de Janeiro, Alberto Léo saiu de cena nesta quinta-feira fria e triste. Esperou até o último momento pelo seu Fluminense, mas as coisas não deram certo diante do Santos.

Há 16 anos, pertencia ao time da antiga TVE e, posteriormente, EBC – TV Brasil.

Pioneiro dos esportes da Rede Bandeirantes, começou em 1980, onde esteve ao lado de outras feras como Márcio Guedes, Paulo Stein e José Roberto Tedesco. Mais tarde, boa parte dessa equipe foi para a antiga TV Manchete, reforçada simplesmente por João Saldanha.

Na TVE, trabalhou como comentarista do programa Ataque, mesa-redonda exibida no domingo à noite. Depois, foi editor-chefe do programa, que hoje se chama No Mundo da Bola. Há três anos, havia assumido a Gerência de Esportes da EBC no Rio de Janeiro, sendo responsável pela programação esportiva da TV Brasil e da Rádio Nacional.

Não bastasse a carreira admirável de Alberto Léo, era uma pessoa extremamente afável, educada, elegante. Acompanhei-o como torcedor por décadas e nunca vi uma rusga sua com quem quer que fosse. Não apenas um profissional da antiga, qualificado, pausado, mas também um ser humano admirável. Gente que a gente precisa ver mais nas ruas, nos transportes públicos, nas repartições, nas mesas e rodas, no Fluminense também.

Em 2007, tive a oportunidade de entrevistá-lo na TVE para um livro, pronto, inédito, que um dia será publicado. Foram horas muito agradáveis e de simpatia, com muitas histórias legais. Alberto Léo era um tricolor 100% fidalgo na acepção da palavra, desses que andam faltando por aí.

Gostaria de falar muito mais, mas desculpem-me por favor a brevidade.

O tempo vai passado e as pessoas da minha geração vão perdendo as peças dos seus quebra-cabeças da infância. Alberto Léo era uma referência fundamental.

Penso no título “O Fluminense que eu vivi” e a tristeza é inevitável.

Em certas horas, o silêncio fala mais alto do que tudo.

Imagem: PRA

Colaborou Fernando Borges

O dia em que conheci minha primeira derrota (por Fagner Torres)

21 Jun 1986: Zico (right) of Brazil takes on Batiston of France during the World Cup quarter-final at the Jalisco Stadium in Guadalajara, Mexico. France won 4-3 on penalties. Mandatory Credit: David Cannon/Allsport

A última terça-feira era para ser um dia comum, não marcasse a data na qual, há 30 anos, este colunista foi apresentado à palavra derrota.

Apesar disso, guardo na memória o 21 de junho de 1986 com imenso carinho. Deve se considerar felizardo aquele que descobre as perdas da existência com o futebol, pois, convenhamos, não há forma mais leve de se conhecer o fracasso. A vida é dura e pode nos reservar formas de ausência piores que aquela que vem pelo descaminho da bola. Ela, a redonda, ao contrário da vida, gira ao ponto de quase sempre se colocar diante de nós em outras ocasiões, louca para ser chutada ou agarrada.

Foi bonito aquele 21 de junho. E são tantas lembranças, que como eu haveria de esquecer? Era um menino vestido quase a caráter, com a camisa amarela que tinha a Jules Rimet na frente e o número 10 às costas (daí o ‘quase’). Completava o uniforme, um shortinho azul, um par de meiões brancos e um surrado Ki-Chute amarrado na canela.

As ruas naquele 21 de junho pulsaram, repletas de enfeites. A família esteve reunida em torno da churrasqueira, atenta à voz que vinha da tela. Era do Osmar Santos.

Naquele dia tinha o Araken, o Show-Man. O tema, que eu adorava, era “Mexe coração”. Na hora do gol, a TV tocava um tal de “ginga pra lá, ginga pra cá!”, que naquele 21 de junho, me lembro de ter cantado junto.

Meu time tinha muitos craques. Mas apenas mais tarde é que eu vim a escolher um deles como herói, graças ao seu braço direito erguido e seu punho cerrado!

E como não podia deixar de ser, coube à minha mãe o afeto recebido após aquela primeira derrota.

Por fim, a última lembrança. Ainda chorando, avistei, na porta de meu apartamento, um inseto, que após o susto inicial, descobri se chamar Esperança, devido a sua cor verde.

Eram tempos incríveis! Lamento que nada daquilo exista mais.

Ou melhor, a Esperança ainda não morreu.

Imagem: David Canon/Allsport

O jornalista Fagner Torres responde pelo blog Laranjeiras ESPN FC, além de colaborar com o blog Panorama Tricolor e este PANORAMA DO FUTEBOL

Chacrinha versus Renato Gaúcho (da Redação)

chacrinha e renato gaucho pincel

Eleito como o jogador mais simpático do Brasil, o atacante Renato Gaúcho recebe o Troféu Velho Guerreiro das mãos do apresentador Abelardo Chacrinha Barbosa, além de uma coroa de rei do futebol daquele momento.

Na ocasião, o jogador atuava pelo Flamengo e havia sido campeão brasileiro em 1987.

Renato também respondeu às perguntas de um júri especialmente composto por estrelas da época, tais como Márcia Gabrielle (Miss Brasil), Simone Carvalho (atriz), Vanessa de Oliveira (modelo da Dijon), Terezinha Sodré (atriz), Monique Evans (modelo e atriz), Cláudia Raia (atriz), Alcione Mazzeo (atriz) e Elke Maravilha (mito).

Originalmente exibido no programa Cassino do Chacrinha em março de 1988. Chacrinha faleceria três meses depois, em junho do mesmo ano.

Fla, Flu e Bangu: as cores de cada paixão (da Redação)

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O cronista Paulo Rocha, decano de várias redações e ex-editor do Jornal dos Sports, atualmente titular dos sábados no site Panorama Tricolor, lança em julho o livro “Fla, Flu e Bangu: as cores de cada paixão”, de sua coautoria ao lado dos também jornalistas Carlos Molinari e Sergio Du Bocage, onde cada um dos escritores aborda seu time de coração.

O livro já se encontra em pré-venda no SITE DA EDITORA NOVA TERRA.

O Jornalismo Esportivo tem uma característica que o diferencia de todos os demais. Ele fala de paixão, principalmente quando trata de futebol. Mais que isso: quem o pratica é um apaixonado pelo que faz. E como falar de futebol, sem ter um clube de preferência para torcer? Misture tudo isso e veja o quanto é difícil, para um jornalista esportivo, ser imparcial e transmitir esse sentimento para leitores, ouvintes e telespectadores. Mas eles conseguem.

“Fla, Flu e Bangu – as cores de uma paixão” é uma chance que a Editora Novaterra oferece aos jornalistas Sergio du Bocage, Paulo Rocha e Carlos Molinari de colocarem para fora essa paixão. E o que vemos são crônicas informativas, curiosas, pessoais e que certamente vão mexer com o coração dos milhões de torcedores desses três clubes.

Você está convidado a participar desse autêntico triangular. Temos certeza de que cada capítulo será um jogo inesquecível para você. Boa leitura.

Formato: 14 x 21 cm – Brochura
Número de páginas: a definir
ISBN 978-85-61893-50-7

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La mano de Dios? (por Thiago Constantino)

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Uma síntese do Brasil na Copa América Centenário.

 

Acabou o jogo. De vez!

Devolvemos o 7 a 1 e só.

E o Peru, que não tem nada com isso, aproveitou.

Esperamos que La mano possa ter sido realmente de Dios, porque ele e só ele pode iluminar a cabeça das pessoas que comandam o nosso futebol.

Continuamos a sonhar em voltar a ser Alemanha, mas enquanto nada muda no futebol, no país e na sociedade…o Haiti continua a ser aqui.

A canção pode ser retórica. Você já leu ou ouviu algo parecido, não?

Mas enquanto nada se muda, a retórica é modernidade.

Imagem: el60abelen.blogspot.com

Legenda: Artesanato peruano – A mão de Deus como suporte para o nascimento do menino Jesus.

Acabou o jogo (por Thiago Constantino)

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Acabou o jogo! Ele agora está empatado.

Devolvemos o 7 x 1. #sqn

A Alemanha está para o Brasil assim como o Brasil está para o Haiti.

Sonhamos em ser Alemanha, mas enquanto nada muda no futebol, no país e na sociedade…o Haiti continua a ser aqui.

A canção pode ser retórica.

Mas enquanto nada se muda, a retórica é modernidade.

Imagem: Carta Capital

O Mané Garrincha e seus perigos

Muito se falou sobre a pancadaria que as torcidas de Flamengo e Palmeiras protagonizaram em Brasília no fim de semana passado. Infelizmente, no entanto, não se está falando dos verdadeiros problemas que afligem o estádio e que, como já disse em textos anteriores no Panorama Vascaíno, podem sim levar a uma tragédia.

O estádio é um espetáculo. Dos melhores nos quais já pisei em toda a minha vida. Confortável, com uma visão perfeita de campo, tanto do anel superior quanto do inferior.

Seus problemas estão todos do lado de fora. E no policiamento despreparado.

 

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Estádio Mané Garrincha – imagem: Google Maps

Para quem não o conhece, esse é o estádio, visto de cima. A linha verde é o chamado Eixo Monumental, uma das duas vias mais importantes de Brasília, literalmente o “corpo” do avião, que é a cidade. Andando cerca de dois quilômetros para a direita, estão os ministérios, congresso, planalto. O estádio é explendidamente bem localizado. Seu acesso se dá por essa área asfaltada à direita, já que ele é cercado pelo ginásio Nilson Nelson e outros prédios menos conhecidos. No topo da foto, um pedaço do Autódromo, vizinho de fundos. Por essa via marcada em verde chega grande parte do público.

Então, os problemas:

 

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Estádio Mané Garrincha – imagem: Google Maps

A linha verde, agora, serve para mostrar o “muro” do estádio: na verdade, uma grade de tela rígida, de uns dois metros de altura, que durante a Copa do Mundo parecia ser uma estrutura temporária. O temporário virou definitivo. Acompanhe o trajeto irregular e inexplicável da tal grade. Dois ou três homens dispostos a derrubam.

A área interna à grade era onde ficavam, na Copa, bares oficiais e as lojinhas de Coca-Cola, Adidas e demais patrocinadores. Hoje em dia é apenas um espaço vazio, escuro e inútil. As catracas – que lêem os ingressos – para acesso ao estádio estão no próprio corpo do estádio, ou seja, a conferência do ingresso para acesso a este pátio interno depende do pessoal de recepção e que organiza as filas de entrada. Nos dois últimos jogos a que fui (Vila Nova x Vasco e Flamengo x Palmeiras) ninguém me pediu ingresso para estar nessa área interna. Ouvi relatos de conhecidos que usaram desse expediente para assistirem ao jogo do Vasco de graça.

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Estádio Mané Garrincha – imagem: Google Maps

Essa terceira imagem serve para mostrar a real dimensão do problema que é esse entorno. Pelo tamanho dos carros, na foto, dá pra se ter uma imensidão do pátio e do caos que se estabelece nesse estacionamento e seu entorno imediatamente após um jogo das proporções do de domingo passado. Repare que há uns míseros postes com uma única lâmpada cada, para iluminar essa monstruosidade de espaço.

A foto seguinte é minha, tirada às 18:10, na saída do jogo. Repare que estamos no crepúsculo, que o céu ainda não está totalmente escuro e que há dois postes iluminando toda a frente da foto. Um mais próximo e o outro mais distante. Eles ficam sobre estes calçamentos em meia-lua que dividem o pátio em setores. A iluminação forte, paralela à cabeça das pessoas, abaixo à direita é a iluminação do Eixo Monumental, a pista destacada em verde na 1a foto. O resultado prático disso é que todo esse pátio asfaltado mergulha numa perigosa penumbra, de você não conseguir ver direito o rosto de uma pessoa a uns dez passos de você. Policiamento? Duas tropas montadas (cavalo). E só.

Não há iluminação. Não há marcação de vagas. Não há policiamento a pé. Não há placas de sinalização para orientar ou dividir o pátio. Não há orientação para a saída. Cada um por si.

Cinco minutos após o fim do jogo, esse local é um caos, com todos que já estão em seus carros querendo sair na frente dos outros, e pessoas perdidas, andando em todas as direções, à procura de seus veículos e familiares.

Se o tumulto que aconteceu no estádio acontece durante essa saída, teremos uma carnificina.

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Estádio Mané Garrincha – a escuridão do lado de fora – imagem: JAC

Por último, deixei para falar do policiamento. O maior risco que o público presente no estádio domingo passado correu foi protagonizado pela Polícia Militar de Brasilia. Ao usarem gás de pimenta para tentar resolver o conflito no qual estavam metidos, os policiais transformaram um conflito localizado em um setor do hall do anel superior do estádio num caos generalizado em todo o Mané Garrincha. Embaixo, onde as pessoas calmamente esperavam o segundo tempo do jogo, as pessoas começaram a passar mal com a nuvem de gás de pimenta que – óbvio! – desceu do conflito. Mulheres, crianças, deficientes, pais desesperados para fugir do gás. Jogadores vomitando em campo.

Para quem nunca sentiu ao vivo, o gás não tem cheiro. Começa uma inexplicável ardência na garganta que te leva a tossir loucamente e que te dá a sensação de que sua garganta vai se fechar e você vai sufocar. Eu estava no estádio com casal de amigos (pai, mãe e dois pirralhos, de seis e dois anos de idade). O pai queria correr pro campo, como fizeram várias pessoas. Gente saiu carregada.

Não é possível que os responsáveis pelo policiamento não tenham a noção da (não) dissipação de um gás em um ambiente fechado. Passamos perigosamente perto de uma tragédia, que só não se consumou porque a quantidade de gás não foi suficiente para consolidar o pânico que se estabeleceu no anel inferior. Suponho que no anel superior tenha sido ainda pior. Fato é que o gás não pode ser usado ali.

Isso se repetiu nos dois últimos jogos no Mané Garrincha. No terceiro, as consequências podem vir a ser piores. Que os responsáveis tenham consciência. E que possamos ir assistir a um jogo de futebol em paz.

 

Até quando? (por Rods e Fabíola Lima)

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Fabíola ama futebol. Um amor herdado de seu pai tricolor, que a levava aos estádios já com apenas cinco anos de idade. Calhou de não seguir o time paterno e, apesar do enorme carinho pelo Fluminense, acompanha e investe sua torcida no Atlético Mineiro. É torcedora no âmago da palavra. Fica nervosa, chora, ri e comemora. Se emociona.

Morou e viajou por diversas cidades. Em cada uma, fez questão de conhecer e vivenciar seus estádios. Maracanã, Mineirão, Independência, Rei Pelé, Castelão, Santiago Bernabéu, Vicente Calderón, Camp Nou e foi até ao Stade de Marrakech acompanhar o seu Galo. Justamente no Mané Garrincha, em Brasília, ela presenciou o pior do futebol. Justamente na cidade onde mora e viveu a maior parte da vida, na cidade que ela escolheu para criar seus filhos.

Sua filha mais velha, já com dezesseis anos, escolheu seguir o avô e torcer pelo Fluminense. O mais novo, com cinco anos, ainda não despertou para o futebol e, apesar de jogar bola na escola, diz que não tem time, que não gosta muito. Os dois cresceram acompanhando a paixão da mãe e Fabíola quis trazê-los um pouco mais para esse universo. Uma chance para isso apareceu quando foi anunciado o confronto entre Flamengo e Palmeiras na cidade.

De ingressos comprados, os três partiram ainda cedo para o Mané Garrincha, para evitar qualquer problema. A fila já estava grande, porém não se encontrava policiais ou funcionários do estádio para dar qualquer informação. Logo surgiram filas entre filas e muitos “fura-filas”. Mas ainda assim, a entrada foi relativamente tranquila, afinal o jogo só começaria em duas horas. Ah sim, finalmente apareceram policiais e funcionários. Era o momento da revista.

A alegria de estar com os filhos dentro do estádio era tudo para Fabíola. Nem o perrengue na entrada ou água, pipoca e batatinhas superfaturadas estragariam aquele momento. A área escolhida foi a mais cara, justamente para evitar possíveis confusões.

O jogo foi bem disputado e o empate em um a um chegava ao intervalo. Foi então que o programa família se tornou pesadelo. Exatamente no lugar onde estavam, começaram a aparecer homens sem camisa e muito vermelhos, machucados. Esse pessoal passou ao lado deles, na arquibancada. Estavam na saída da passagem que levava para o anel onde ficam lanchonete e banheiros. Ponto onde todas as áreas se cruzam. Nenhum segurança, nenhum policial, apenas funcionários e torcedores. De repente, a gritaria.

Ditos representantes da Mancha Verde foram para cima dos flamenguistas em um local cheio de crianças e família comprando água e comida ou indo ao banheiro. Foi um Deus nos acuda com gente pulando para dentro da lanchonete e se escondendo nos banheiros. Lixeiras e extintores de incêndio viraram armas. Entre várias pessoas, Fabíola e seus filhos se tornaram reféns da situação, presos na arquibancada. Pela proximidade da confusão, sequer tinham para onde fugir.

Alheio à confusão, o jogo foi reiniciado enquanto as pessoas gritavam por polícia. Até que tudo o que se ouvia era o barulho das bombas de efeito moral. O spray de pimenta utilizado rapidamente chegou às arquibancadas e, pouco depois, também ao campo. Fabíola cobriu os rostos dos filhos com uma blusa de frio e tentou se proteger com a própria camisa. Em volta, cada um tentava se proteger de alguma forma. Ainda assim, todos sofreram. Tosse, olhos lacrimejando, dificuldade em respirar e dor de cabeça.

Sem ter o que fazer, Fabíola abraçou seus filhos e deu sua proteção de mãe até que tudo se acalmasse. Pela primeira vez sentiu medo em um estádio de futebol.

Quando finalmente, acabou o corre-corre e a polícia liberou a área da lanchonete, Fabíola decidiu levar seus filhos embora. Medo da situação se repetir, medo que um gol reacendesse a briga. Medo.

Deixando o Mané Garrincha, Fabíola se sentiu atravessando uma zona de guerra. Gol do Palmeiras? Colocou o menino de cinco anos no ombro e apertou o passo antes que outra confusão acontecesse. O sentimento ruim superou o medo. Agora ela sentia terror.

Já dentro do carro, voltando para casa, uma dose extra de tristeza. Seu filho pequeno, justamente quem ela tanto queria que tomasse gosto por futebol, pediu que ela nunca mais o levasse a um estádio. Pediu que nunca o fizesse assistir a um jogo de futebol.

Fabíola sabe que pode contornar essa situação. Não pode deixar o filho acreditar que o futebol se resume a selvageria. Quer passar a ele todo o sentimento que recebeu do pai pelo esporte. Mas ela tem consciência de que será uma luta difícil.

Ela ainda quer acreditar. O país do futebol não pode ser o país da impunidade. O Brasil sediou uma Copa e, em menos de dois meses, o Mané Garrincha receberá jogos pelas Olimpíadas, receberá a Seleção Brasileira. Vai ser assim também? Com ingressos para três jogos, ainda não sabe se correrá o risco de voltar lá.

Bandidos fantasiados de torcedores e polícia com total despreparo colocam em risco o futebol brasileiro. É assim há anos e é difícil de enxergar o fim disso. Só em Brasília, Capital Federal, é o terceiro caso recente.

O problema são as organizadas? O problema é a falta de preparo da polícia? É a falta de condições para o evento? A cada acontecimento como o do Mané Garrincha, além dos danos (pessoas e estruturas), o futebol morre um pouco.

Pensem como foi dolorido para a Fabíola passar por essa situação com seus filhos. Pensem como foi ouvir do seu mais novo que não o faça ver futebol novamente.

Fabíola ama o futebol. Até quando?

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O futebol derrotado (da Redação)

Neste domingo, o Palmeiras venceu o Flamengo por 2 a 1 no Estádio Nacional de Brasília, pelo Brasileirão 2016.

Mas a grande derrota aconteceu fora do gramado: por conta de uma confusão envolvendo torcedores do Palmeiras, a polícia local utilizou gás de pimenta e este se espalhou.

Numa das cenas mais lamentáveis, um pai teve que carregar rapidamente no colo seu filho cadeirante, também intoxicado.

A partida demorou mais de dez minutos além do intervalo normal entre os tempos, com muitas pessoas passando mal, inclusive jogadores.

Independentemente do que deveria ser feito ou não, o fato é que a cada dia que passa é mais dificil frequentar um estádio de futebol no Brasil, o que parece agradar quem vê na transmissão dos jogos um mero exercício de lucro.

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Copa União, 1987: Stein, Saldanha e cia. (da Redação)

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Num programa especial da antiga TV Manchete, resenhando o ano de 1987 no futebol brasileiro, personagens como Nabi Abi Chedid, Márcio Braga, Rubens Hoffmeister, Octávio Pinto Guimarães em cenas curiosas, mais os comentários imperdíveis de João Saldanha e a apresentação de Paulo Stein.

Em destaque, um clássico dos tempos da homofobia e da porrada:

Há 20 anos, sobre o difícil fim de Heleno de Freitas (da Redação)

Em 03 de junho de 1996, O Rio de Janeiro vivia sob forte comoção, em virtude do falecimento de dezenas de idosos na Clínica Santa Genoveva, em Santa Teresa, num acontecimento que repercutiu nacionalmente.

Na ocasião, o Jornal do Brasil publicou uma longa matéria sobre a agonia de Heleno de Freitas em seus últimos anos de vida, tendo em vista que ele também viveu em uma casa de repouso e, no fim, num sanatório.

Abaixo, as tristes memórias dos momentos finais de um dos maiores craques da história do futebol brasileiro.

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Sobre os boias-frias do futebol e os geraldinos do Maracanã (da Redação)

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Nesta sexta-feira (03/06), a prorrogação do CINEFOOT 2016 traz dois filmes importantes no sentido de se debater a estrutura do futebol brasileiro dentro e forma de campo: “Os boias-frias do futebol”, de Luciano Pérez Fernández, e “Geraldinos”, de Pedro Asbeg e Renato Martins.

A exibição será no Centro Cultural da Justiça Federal, com entrada franca, sujeita à lotação da sala, às 19 horas.

Avenida Rio Branco, 241 – Centro – Rio de Janeiro – em frente ao Amarelinho da Cinelândia.
OS BOIAS-FRIAS DO FUTEBOL

Atrasos de salários; jogadores que não recebem, outros que pagam para jogar; promessas não cumpridas; jornadas duplas ou triplas para complementar a renda familiar; falta de estrutura; contratos curtos de trabalho; ausência de calendário anual. Essas são algumas das dificuldades e obstáculos da dura realidade do mercado de trabalho dos atletas da base da pirâmide do futebol brasileiro. “Os boias-frias do futebol” revela os sonhos e as incertezas de dois jogadores da Série C do Campeonato estadual do Rio, a divisão mais operária do futebol fluminense.

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GERALDINOS

Conta a história da Geral do Maracanã, carinhosamente conhecida como “o espaço mais democrático do futebol carioca”, que foi extinta em 2005. O nome do filme é baseado no termo Geraldinos, criado pelo radialista Washington Rodrigues para referir-se aos torcedores que assistiam aos jogos na Geral do Maracanã.

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