Dinizismo assina supremacia tricolor (por Robertinho Silva)

Os números estatísticos da partida entre Fluminense e Botafogo comprovam a superioridade tricolor. A equipe comandada por Fernando Diniz teve mais posse, finalizou mais vezes sem se preocupar com os riscos que a postura ofensiva poderia oferecer. O Botafogo recheado de desfalques adotou uma postura mais defensiva, postura também adotada por outros clubes (América Mineiro, Juventude e Flamengo) sem muito sucesso. Isso porquê o Time de Guerreiros conseguiu encontrar espaços na defesa do time do português Luís Castro, que adotou um 5-4-1.

O Time de Guerreiros fez uma partida muito próxima da perfeição. Preencheu bem os espaços, jogou com intensidade, marcou no campo de ataque, fez um jogo vertical e de muita aproximação entre os setores. Um verdadeiro nó tático. O herói deste domingo foi o zagueiro Manoel.

Na humilde opinião deste que vos escreve, o Botafogo tentou jogar mais recuado, preencher os espaços entre as linhas, e apostava em uma transição rápida para surpreender o adversário. A ideia inicial até era boa, mas na prática, esbarrou nos expressivos méritos do Fluminense, que executou muito bem a ocupação de espaço, na pressão ofensiva e na recomposição defensiva.

O Fluminense assumiu os riscos dessa postura mais agressiva, diante de um oponente que saiu fortalecido de uma situação muito mais controversa na rodada passada diante do Internacional. O “Dinizismo” é 8 ou 80. Com certeza em algum momento fez o coração do torcedor acelerar e quase ter um infarto naquelas saídas de bola perigosíssimas. Porém, já fez o torcedor abrir um largo sorriso quando a jogada foi bem executada, vide a jogada que resultou em gol contra o Palmeiras no Allianz Parque.

As ressalvas que alguns da crônica esportiva especializada tinham com relação a Diniz, muito era por conta dos resultados. As boas ideias do técnico, nunca foram condizentes com os resultados. Em 2019, o treinador deixou o Fluminense perto da zona do rebaixamento no Brasileiro. O torcedor tricolor se cansou de ver, um time com 90% de posse, 30 finalizações, e a derrota no final.

Acredito que o que mudou foi que agora o treinador consegue ser ofensivo e ter um pouco mais de equilíbrio e consistência. O Fluminense joga em um 4-2-3-1, com saída de bola bem construída, tendo como ponto alto a aproximação entre os jogadores. Um jogo posicional, físico e de muita obediência tática. As melhores chances do Tricolor carioca surgiram nos momentos em que todo o time se aproximou do setor onde estava a bola e deu opção de passe para quem estava com ela.

O Botafogo teve raras oportunidades de contragolpe no jogo. O lado esquerdo tricolor ainda tem uma certa fragilidade, visto Caio Paulista ter muita vocação ofensiva, atua quase como um ponta, e por ali acaba surgindo espaços pro adversário. Não foi por acaso que a chance mais clara de gol do escrete de Luís Castro surgiu justamente de uma bola longa no lado direito de ataque. Fato é que o Glorioso tinha superioridade numérica no ataque, mas não conseguiu usar esse ponto a seu favor.

As entradas de John Kennedy e Matheus Martins nas vagas de German Cano e Ganso deram mais mobilidade ao Fluminense. O gol saiu aos 36 minutos do segundo tempo pelo zagueiro Manoel, que recebeu passe de Caio Paulista após lançamento primoroso do volante André

A sensação que o Tricolor sai de campo é que o resultado poderia ter sido maior, dado o volume de jogo que teve. Diniz tem participação efetiva no excelente rendimento do meia Nonato, e na grande atuação de Jhon Árias. Como se afinaram no meio de campo Ganso e Gustavo Nonato na meia cancha. Vale destacar também a atuação de Luiz Henrique. A despedida do camisa 11 do Fluminense teve mais uma vitória e mais uma boa apresentação da jovem promessa no Brasileirão. Diniz recuperou o sorriso desse garoto, e o jovem sairá pela porta da frente, deixando saudade nos corações tricolores.

Foto: Vitor Silva/BFR

Inter x Bota: uma virada memorável (por Robertinho Silva)

Foto: Vitor Silva/BFR

Com um a menos desde o início da primeira etapa, o Botafogo venceu de virada o Internacional no Estádio Beira-Rio na semana passada.

A gelada noite de Porto Alegre presenciou uma partida histórica entre Inter e Botafogo. Peleia daquelas que entram para a galeria de “Jogos para Sempre” do nosso esporte bretão. O Inter começou marcando pressão, dificultando o adversário na saída de bola. No primeiro lance contundente do jogo, logo aos 4 minutos, Edenilson tentou a jogada por dentro e a bola sobrou para Alan Patrick. O meia chutou em direção ao zagueiro Philipe Sampaio. A bola bateu na barriga e depois resvalou no braço. Pela regra, não seria pênalti. Mas, depois de consultar o VAR, o árbitro Sávio Pereira Sampaio assinalou pênalti equivocadamente e alegou que a bola tocou no braço do jogador.

Além disso, ele também expulsou o atleta Philipe Sampaio, e fez com que os cariocas ficassem com menos um desde os 4 minutos do primeiro tempo. A ação causou revolta justíssima por parte dos jogadores do Glorioso, que reclamaram bastante, e o técnico Luís Castro também acabou expulso.

Na cobrança da penalidade, o volante Edenílson abriu o placar para os gaúchos. Com um a mais em campo, o Inter foi empilhando chances. Em uma delas, Fabrício Bustos tabelou com Alan Patrick e estufou as redes de Gatito: Inter 2 a 0.

Estando o Inter com vantagem no placar, jogando em casa, tendo um jogador a mais em campo e empilhando chances, tudo indicava que a partida seria mais um mero protocolo, uma formalidade. Mas, há coisas que só acontecem com o Botafogo. Mesmo sem Luís Castro a beira do gramado, o clube de General Severiano se recusou a ser mero espectador da partida.

Por incrível que pareça dizer, o Botafogo teve uma excelente postura justamente após ter um jogador a menos em campo. A adversidade, a situação dramática, fez com que o time jogasse de forma mais compacta; os atletas estavam mais bem agrupados, defendendo em linha, mas com uma excelente e rápida transição quando tinham a bola em seus domínios. O Glorioso fez com excelência o que lhe cabia naquelas circunstâncias.

Vinícius Lopes descontou e renovou as esperanças do Alvinegro carioca, superando qualquer prognóstico desfavorável. O gol mudou a dinâmica do jogo. Mano Menezes colocou 5 homens em linha no campo de ataque, mas mesmo com a superioridade numérica o Inter não conseguiu mostrar consistência defensiva. O Botafogo sempre tinha algum jogador aberto pela ponta como uma flecha ou uma bola alçada na área, como a que resultou no gol de empate de Erison.

Ainda com metade do segundo tempo pela frente, o Alvinegro se vestia com as roupas daqueles heróis urbanos que contrariam as estatísticas, que não se abatem perante a injustiça. Gabriel Mercado fez um gol para o Inter em uma cabeçada catedrática, e comemorou como se não houvesse amanhã. Mas o gol foi anulado corretamente. O Glorioso foi rebelde, passou a noite recusando o papel que lhe ofereceram logo após o apito inicial, e assim como toda saga de heroísmo, o capítulo final foi apoteótico.

No último e derradeiro lance, aos 55 minutos do segundo tempo, um contragolpe certeiro e mortífero. Matheus Nacimento tentou o passe para Jeffinho, Kayke como um maratonista ganhou na velocidade da defesa colorada, e em dividida com Vitão, a bola sobrou para Hugo sacramentar a vitória épica, no Beira-Rio. Depois do gol, ocorreu uma confusão entre os jogadores com pancadaria generalizada, mas que foi contida. Na briga, Lucas Piazon foi agredido pelo atacante David e saiu com o ombro imobilizado.

Muito mais que três pontos, vitória da justiça. Partida épica, memorável, eternizada na história dos Campeonatos Brasileiros, com a marca da Estrela Solitária.

Em cima do laço, há 40 anos (da Redação)

Vasco e Botafogo duelaram pelo Campeonato Carioca de 1978, no dia 29 de outubro. O Machão da Gama levou a melhor: aos 45 minutos, Paulinho marcou o gol da vitória por 2 a 1.

Local: Maracanã
Juiz: Arnaldo César Coelho;
Renda: Cr$ 1.603.340.00;
Público. 41.978;
Gols: Roberto 16 e Dé 43 do 1.º: Paulinho 45 do 2.º:
Cartão amarelo: Gaúcho

Vasco: Leão, Orlando, Abel, Gaúcho, Marco Antônio, Helinho, Guina, Wilsinho, Paulo Roberto (Washington Oliveira), Roberto e Ramón (Paulinho); Técnico: Orlando Fantoni

Botafogo: Zé Carlos, Perivaldo, Osmar, René. Rodrigues Neto, Wescley (Ademir Vicente), Mendonça, Gil, Dé, Luisinho e Ademir Lobo; Técnico: Danilo Alves

As cotas de TV e as dívidas dos grandes cariocas (da Redação)

Tema recorrente nos últimos tempos, a questão das receitas e dívidas dos clubes de futebol é fruto de longos debates em tempos que o esporte e o business tornaram-se inseparáveis.

No caso particular do  futebol carioca, muito se fala sobre as gestões e a administração financeira dos clubes. Por muito tempo, todos viveram verdadeiras cirandas administrativas. Hoje, cada um a seu modo e receitas disponíveis, estão lutando contra o problema.

Alguns dados abaixo, produzidos a partir do excelente blog de Cássio Zirpoli no Diário de Pernambuco, e também de matéria de Daniel Mundim no Globoesporte, ajudam a entender as manchetes atuais sobre o tema.

A principal receita dos clubes cariocas (e brasileiros) advém das cotas de TV pagas pela emissora que detém a exclusividade dos direitos de transmissão das partidas no Brasil.

Diário de Pernambuco – CLIQUE AQUI

Globoesporte – CLIQUE AQUI.

Uma avaliação de 2016 – CLIQUE AQUI

 

 

Renato Sá, o demolidor de invencibilidades (por Paulo-Roberto Andel)

Os recordes de invencibilidade no futebol brasileiro pertencem ao Botafogo e ao Flamengo, cada um com 52 partidas.

Em 1978, o Botafogo teve sua série interrompida pelo Grêmio, que o venceu por 3 a 0 no Maracanã com grande exibição de Renato Sá, marcando dois gols.

No ano seguinte, o Flamengo perderia sua invencibilidade ao enfrentar o Botafogo, e quem era o algoz rubro-negro? O mesmo Renato Sá, que marcou o único gol daquela partida. Um demolidor de invencibilidades.

Valtencir, uma estrela solitária (por Paulo-Roberto Andel)

Valtencir Pereira Senra, nascido em Juiz de Fora, é o terceiro jogador que mais vezes vestiu a camisa do Botafogo, tendo jogado pelo clube da Estrela Solitária em 453 partidas entre 1967 e 1976, ficando abaixo apenas dos mitológicos Garrincha e Nílton Santos.

Foi bicampeão carioca em 1967 e 1968, além de campeão brasileiro em 1968. Jogou uma vez pela Seleção, numa vitória por 4 a 1 sobre a Argentina em 1968, fazendo um gol.

Originariamente lateral esquerdo, passou para a zaga quando da chegada de Marinho Chagas ao clube, também jogando como lateral direito.

Ao deixar o Botafogo, teve uma breve passagem pelo futebol venezuelano e, a seguir, foi para o Colorado do Paraná (que tempos depois se fundiria com o Pinheiros, dando vida ao Paraná Clube). Lá, infelizmente encontraria a morte precoce, aos 31 anos, em pleno campo: num jogo entre sua equipe, o Colorado, e o Grêmio Maringá, Valtencir dividiu uma bola com o meio-campista Nivaldo, da equipe maringaense, quando foi atingido com uma joelhada involuntária e sofreu uma ruptura na coluna cervical. Socorrido às pressas, não resistiu e morreu antes de chegar ao hospital.

Abalado com a morte do colega de profissão, Nivaldo foi internado em estado de choque na mesma unidade hospitalar. Desesperado, anunciou o fim de sua carreira, mas foi persuadido pelos colegas do Maringá e acabou voltando atrás. O jovem jogador depois teria uma trajetória de sucesso em times do Paraná, com destaque para o Atlético.

Sobre Valtencir.

Sobre Nivaldo.

Nivaldo em 2014

Carioca de 1971: a visão de Oldemário Touguinhó (da Redação)

Há 46 anos, uma discussão se mantém no ar: o gol da final do Campeonato Carioca de 1971, vencida pelo Fluminense por 1 a 0 com um gol do ponta-esquerda Lula.

À época, com enorme manchetes e a crônica firme de alguns dos melhores textos da imprensa brasileira, casos de Armando Nogueira e João Saldanha por exemplo, estampou-se a versão de falta do lateral Marco Antônio sobre o goleiro Ubirajara Mota, sendo o Tricolor beneficiado por um erro crasso de José Marçal Filho. No entanto, além da discussão sobre aquela mesma falta, no mesmo lance Lula finalizou caindo porque supostamente sofrera pênalti de Mura.

A decisão de 1971 já provocou debates acalorados, análises profundas, livros e matérias.

Um dos maiores jornalistas da história do futebol brasileiro – e botafoguense de corpo e alma -, Oldemário Touguinhó assim escreveu na capa do Caderno B do Jornal do Brasil em 29 de junho de 1971, dois dias após a decisão:

Mendonça, uma página eterna do Botafogo (por Paulo-Roberto Andel)

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Ele jogou muito, muito e muito, às vezes ao lado de grandes jogadores e, em outras oportunidades, com futebolistas de qualidade discutível. No entanto, sempre brilhou. Num tempo em que seu time passava uma longa época sem conquistas, em várias oportunidades ele personificou a Estrela Solitária: Milton da Costa Mendonça, o Mendonça.

Filho de Mendonça, zagueiro do Bangu que teve a perna quebrada num lance com Didi, em 1951, para se aposentar, Mendonça chegou ao time principal do Botafogo pelas mãos do supertreinador Telê Santana, que o viu nos juvenis e imediatamente o alçou à equipe de profissionais.

Jogou por oito temporadas com a camisa alvinegra, nos tempos da recessão do clube, então mudado de General Severiano para Marechal Hermes. Um camisa 10 clássico, talentoso, especialista em passes e na bola parada. Assim como Heleno de Freitas, não precisou de conquistas para ser uma página eterna do livro dos dias do Botafogo.

Mendonça teve grandes jornadas no tempo em que o Maracanã facilmente recebia mais de cem mil torcedores. Agora, se perguntarem pelo jogo mais marcante, a resposta é inevitável: quartas de final do Campeonato Brasileiro de 1981, com o Botafogo vencendo o Flamengo (que seria campeão mundial meses depois) por 3 a 1. Seu drible no craque Júnior por ocasião do terceiro gol é uma legenda para todos os que acompanhavam o grande futebol brasileiro naquele tempo.

Mazolinha e Camilo (por Paulo-Roberto Andel)

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Minhas desculpas aos leitores.

Meu objetivo aqui era saudar o golaço fantástico marcado por Camilo, jogador do Botafogo, na tarde de ontem contra o Grêmio.

Cheguei a fazer um rascunho de texto para tal. Basicamente o seguinte:

Só o golaço redime, só o golaço liberta. Foi assim que um dia o futebol brasileiro chegou a ser o melhor do mundo: com golaços. E grandes passes. E dribles estonteantes.

O golaço marcado por Camilo na partida Botafogo x Grêmio é daqueles que não se esquece. Remete aos melhores momentos do nosso esporte predileto, quando eles pipocavam aos montes em todas as rodadas.

Ontem, depois do gol, as redes sociais repercutiram imediatamente a obra de arte. Gente de todas as torcidas. Um sinal claro de que, rivalidades à parte, o torcedor brasileiro tem verdadeira adoração pelo futebol bem jogado, bonito, elegante.

Camilo prestou um enorme serviço ao seu Botafogo e a todos os que, desde sempre, fazem do domingo o dia de suas procissões sagradas da bola.

E começaria a ajustá-lo, quando meu amigo Rafael me mandou há pouco pelo Whatsapp a notícia da morte precoce de Mazolinha, ídolo alvinegro campeão de 1989 e um dos protagonistas da decisão contra o Flamengo e do gol eterno marcado por Maurício.

Sobre aquela noite inesquecível, meu amigo Fagner Torres, jornalista e blogueiro ESPN, tricolor, disse o seguinte no Facebook: “Por conta da notícia, revi os melhores momentos daquela decisão. Valter Senra dando o apito final. Jogadores se jogando ao chão sem saber o que fazer. Torcida ensandecida. Valdir Espinosa chorando. Emil Pinheiro dizendo ao repórter que podia morrer a partir dali. Eu era muito moleque, mas tenho flashes de ter visto o jogo na TV, acho que na Manchete. E o empurrão do Maurício no Leonardo é a cereja do bolo. Coisas que só o futebol do Rio de Janeiro era capaz de nos proporcionar.”

E repliquei: “Cara, um dia eu farei um conto sobre tudo o que vi naquele dia. Eu estava do lado do estádio a uma hora da partida. Fui embora para economizar grana, achando que a decisão acabasse adiada para domingo. Vi o jogo em casa. Nos minutos finais da partida,eu e meus pais, todos tricolores, choramos. O tempo todo víamos pessoas chorando. No dia seguinte, de manhã, eu fui para a UERJ, ao chegar em Botafogo, no viaduto, vi uma das cenas de futebol mais bonitas de toda a minha vida: centenas de botafoguenses deitados no gramado, no asfalto (também do viaduto), pessoas chorando, gritando, rolando no chão às seis e quinze da manhã. Uma cena que só superei quando vi o gol de barriga na arquibancada. Eu tenho saudade demais daqueles anos, das pessoas e daquele futebol. Eu tenho saudades do Maracanã e de ir com amigos só para secar o Flamengo de zoação. É duro olhar para trás e ver que o melhor já passou. Aquele foi o dia do Botafogo, mas pode ter certeza: o Rio de Janeiro quase todo veio abaixo.”

Zeh Augusto Catalano, também cronista deste PANORAMA, comentou em seguida. O jornalista Expedito Paz, idem. O primeiro, vascaíno. O segundo, santista. Fagner e eu, tricolores. Rafael, que deu a notícia, rubro-negro.

Poderia falar muitas coisas a respeito, mas o simples fato da interação entre tantos torcedores de clubes diferentes mostra o que é a memória de futebol, daquele futebol que estava outro dia aí mesmo, coisa de trinta ou vinte e cinco anos atrás.

Bastou dizer “Mazolinha” e todo mundo já soube de quem se tratava.

Morreu jovem e de forma inesperada. Ficou pobre. Teve uma carreira errante. Mas, naquele dia da grande final entre Botafogo e Flamengo, com o time de General Severiano há 21 anos sem títulos, ele foi um dos protagonistas de um grande dia da história do Rio de Janeiro e do Brasil. Eu tinha 21 anos de idade, estou perto dos 50 e me lembro daquilo como se fosse ontem: Zico, substituído, descendo a escada do túnel do Maracanã, a jogada pela esquerda e um gol que emocionou milhões de torcedores país afora, do Botafogo e de vários times. Um deles está aqui escrevendo.

Naquela noite, eu olhei para o rival como um amigo querido, um fraterno irmão. E essa é a minha dor: onde está aquele amor, aquele humor, aquele Maracanã?

Ao Mazolinha, meu muito obrigado. E também ao Camilo, que fez um gol tão bonito ontem a ponto de me fazer voltar à infância, quando esperávamos a TV para vermos os grandes gols, dos nossos times e dos outros.

Mazolinha e Camilo. H

Há coisas que só acontecem ao Botafogo, tais como a estrela solitária que navega pelas glórias na Via Láctea.

O quê? Virou casaca? (por Paulo-Roberto Andel)

No Brasil, o ato de “virar casaca”, involuntariamente ou não – até mesmo por causas nobres, homenagem a amigos, ações comunitárias e filantrópicas – é condenado como se estivesse previsto no Código Penal.

Também vale para jogadores muito identificados com um clube e que passam a atual num rival, ou mesmo um clube de outro estado, e enfrentam a antiga casa.

Mas será que é possível realmente identificar os personagens abaixo pelas camisas que vestem/mostram nas imagens, às vezes de forma pontual e única?

Parece claro que não.

1)  Zico

zico camisa do vasco

2) Pedro Bial, supertricolor (homenageando Armando Nogueira)

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3) Pelé no Fluminense

pelé camisa do fluminense

4) O Rei do Futebol no Flamengo

pelé camisa do flamengo

5) O mito botafoguense Garrincha

garrincha camisa do flamengo

6) Tita, criado na Gávea e com passagem por diversos clubes brasileiros

tita

7) Roberto Dinamite, símbolo vascaíno

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8) O cantor Fagner, que já foi Ceará, Fortaleza, Fluminense etc

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9) O cantor botafoguense Agnaldo Timóteo, também um torcedor firme do América

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10) Nunes, intimamente vinculado ao Flamengo

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11) Biro-Biro, eterno ídolo da Fiel

biro biro portuguesa

12) Casagrande, marca registrada do Corinthians

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13) Serginho Chulapa, muito ligado ao Santos e com passagem marcante pelo Sâo Paulo

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14) Adílio, o “cobra criada” da Gávea, apelidado pelo locutor Waldyr Amaral

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Sobre o clássico na Ilha do Governador (por Thiago Constantino)

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Enfim, o grande e esperado retorno do futebol aos palcos da Cidade Maravilhosa.

Sofrimento 1 – O eterno desrespeito

Mas peraí? Sábado à tarde? Bom, meu primeiro sofrimento já começa por aí. A insensibilidade de dirigentes, CBF e TV de organizar um clássico dessa magnitude no sábado. Nada mais tradicional do que uma cidade inteira acordando em clima de clássico naquele domingão, e a bola rolando após aquele belo almoço em família. Bom, deixa isso pra lá, pois é um papo que dá para a gente continuar a eternidade discutindo…Futebol, CBF, Clubes, TV, horários, blá, blá, blá.

Vamos ao segundo sofrimento? Desde que anunciaram a Arena Botafogo na Portuguesa, eu fiquei bem animado. Me considero sócio-morador (risos): minha casa fica a 20 passos do clube/estádio, fui criado lá dentro e tudo o que sei na prática sobre futebol desenvolvi na Lusa. Minha habilidade razoável me rendeu algumas medalhas como peladeiro-criança.

Só que o destino está sempre nos pregando peças. Desde o ido ano de 2005, com a finada Arena Petrobrás, os grandes clubes não jogavam aqui. Mas era hora de retomar o protagonismo do futebol carioca. E lá vem a inauguração da nova Arena e o primeiro jogo vai ser… Botafogo x Flamengo. Putz, euforia e tristeza ao mesmo tempo. Como flamenguista, sabia que seria impossível comprar os 1.500 ingressos disponibilizados. E minha teoria foi confirmada quando a diretoria do clube colocou-os à venda apenas a sócios. Ué, mas não vai ter torcida mista? É com muita tristeza que digo que nós, brasileiros, ainda não chegamos a esse nível de educação. E a polícia, ciente disso, corrobora o atestado de incompetência do povo brasileiro.

 

Sofrimento 2 – O Infiltrado

Bom. E agora, o que fazer?

Em um mix de saudades do Flamengo e euforia pelo jogo na porta de casa. E, apesar de minha sogra quase arrancar os cabelos de medo, respirei fundo e decidi: vou comprar ingresso na torcida do Botafogo! Para minimizar o risco, me infiltrei no covil do “inimigo” pela parte social do clube. Mas vou te dizer, R$ 100,00 pelo ingresso nesse momento de crise do país e para um esporte considerado popular…êta mundo cão!

Ao entrar no clube, uma emoção única: meu estádio de infância todo bonitinho e arrumadinho. Passada a primeira emoção, a missão era, óbvio, encontrar algum amigo flamenguista também infiltrado. E não tardou muito para isso. Mas como “copiar” o comportamento da torcida adversária sem deixar a emoção pelo Flamengo transparecer? Missão difícil, mas não impossível. Nada que uma dose de sangue frio e muita tremedeira interna não resolvesse. O fato é que, se eu e meu amigo conseguimos passar pelos 90 minutos ileso, mesmo levantando os braços timidamente nos gols do Botafogo, alguns outros flamenguistas não tiveram tanto êxito. Antes de rolar a bola, um foi descoberto e conduzido pela segurança não sei para onde, ao coro hostil de Via… Filho da P… e uma sonora vaia. No primeiro gol do Fla, outro foi visto comemorando. Emoção e diversão garantidas.

PS: Um elogio sincero à diretoria do Botafogo. A organização foi quase impecável, apesar do “migué” em dizer um dia antes do jogo que os ingressos estavam esgotados. A Arena tem o espaço de 17 mil lugares e 15 mil foram liberados para o clássico, sendo que a torcida do Flamengo ficou com 10%. Com 11.600 presentes, foi fácil perceber vários clarões na torcida do Botafogo.

Torcedor botafoguense, pode chegar e veja se lota a Arena, pô! O futebol carioca merece e seu time precisa do seu apoio.

Aí vai um vídeo interessante sobre o Estádio, apesar do louco dizendo que a Ilha do Governador é distante, mais afastado do Rio de Janeiro. De onde esse cara saiu? De Marte? Só podia ser botafoguense mesmo. Brincadeira.

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Sofrimento 3 – O nível técnico

Vamos falar do jogo? Na hora da bola rolar, vi o técnico da seleção Tite e seu auxiliar Edu Gaspar nas cabines e a pergunta foi “O que esse louco fazia aqui?”. Ele mesmo disse em entrevista, que não veio necessariamente assistir ao jogo e que também tem conversado com os técnicos dos clubes, fazendo uma espécie de troca de experiências. Bom, se foi para isso, ok. Porque em campo, lamentavelmente é nítida a carência de nível técnico no Brasil de hoje. O gramado ainda está ralo e, por isso, duro e fazendo a bola quicar de forma irregular – dos seis gols do jogo, pelo menos quatro foram em falhas individuais bisonhas. O nível técnico foi sofrível, com destaque apenas para o Camilo pela técnica e os estrangeiros Salgueiro e Canales mais, do lado do Fla, William Arão pela movimentação e Mancuello pela visão de jogo (parece uma tartaruga esse menino!). E foi só.

O primeiro tempo foi horroroso e a segunda parte da pelada só foi mais agradável pelos gols e pela alegria da torcida botafoguense com o empate. Teve até gente chorando de emoção, bem ao meu lado.

O Flamengo batia o Botafogo facilmente, por conta dos erros individuais em excesso da equipe alvinegra. Mas o tio Zé “Ricardiola” quando faz um gol bota os onze atrás. Imagine quando está com dois gols à frente no placar. Colocou quatro cabeças de área e o aguerrido time do Botafogo conseguiu o empate. E tem gente que ainda chamava papai Joel Santana de retranqueiro. Sabe de nada, inocente…

É isso aí, pessoal. Ricardo Gomes tentando fazer milagre e tirar o Botafogo do sufoco, acho que os estrangeiros podem ajudar bastante e o Flamengo continuando a namorar o G4, mas olhando com frieza, este amor está mais para Platônico ou Crush, como chama a galera da nova geração. (Vejam esse vídeo, achei muito engraçado!)

Ah, esqueci. A saída foi muito tranquila e com mais 20 passos estava de volta ao espírito rubro-negro, dentro do meu sacrossanto lar.

Imagem: globoesporte

Era para ter sido tudo muito diferente com Jobson (da Redação)

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Num momento terrível como esse, sem fazer julgamentos antecipados, o drama de Jobson já era visível de longe. Muito longe.

O craque precisava mais do que talento com a a bola nos pés, desde jovem.

Os clubes, cada vez mais preocupados em produzir, lucrar, naming rights, “gestão”, “trabalho” e outras quinquilharias da gramática, na verdade são menos profissionais do que as manchetes e as coletivas de TV sugerem. Muito mais gado do que gente, muito mais números do que nomes.

Muitas vezes se fala que as divisões de base têm a missão de “moldar caráteres” ou “forjar homens”.

Quantas vezes estamos vendo o mesmo problema? Carreiras jogadas na lama, drogas, confusões, acidentes automobilísticos, mortes.

Longe de paternalismos ou passar a mão na cabeça de quem comete crimes.

Se foi o caso de Jobson, que a lei seja estritamente cumprida.

Mas não é de se pensar que, enquanto ainda sentimos a bordoada dos 7 a 1, num país onde a cada dia cada manchete é uma outra bordoada, continuamos jogando talentos e talentos fora pela total incapacidade de lapidá-los?

Até 1958, perdíamos para outras escolas de futebol. Desde 2002, perdemos para nós mesmos. E nossa indiferença. Afinal, o mercado é livre.

O caso de Jobson é marcante. Uma decomposição a céu aberto, que poderia ter sido evitada. Por ele mesmo e pelos que lucraram financeriamente com sua efêmera carreira.

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Há 20 anos, sobre o difícil fim de Heleno de Freitas (da Redação)

Em 03 de junho de 1996, O Rio de Janeiro vivia sob forte comoção, em virtude do falecimento de dezenas de idosos na Clínica Santa Genoveva, em Santa Teresa, num acontecimento que repercutiu nacionalmente.

Na ocasião, o Jornal do Brasil publicou uma longa matéria sobre a agonia de Heleno de Freitas em seus últimos anos de vida, tendo em vista que ele também viveu em uma casa de repouso e, no fim, num sanatório.

Abaixo, as tristes memórias dos momentos finais de um dos maiores craques da história do futebol brasileiro.

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Escudos e famosos (da Redação)

Otto – Náutico

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Joanna Maranhão – Sport

joanna maranhão sport

Zeca Baleiro – Maranhão

zeca baleiro maranhão

Nathália Dill e Érica Mader – Botafogo

nathalia dill e erica mader

Monarco – America

monarco america

Guta Stresser – Coritiba

guta stresser coritiba

Cláudio Venturini – Cruzeiro

claudio venturini cruzeiro

Nasi – São Paulo

nasi são paulo

Chorão – Santos

chorão santos

Emerson Fittipaldi – Corinthians

emerson fittipaldi corinthians

Renato Teixeira – Taubaté

renato teixeira taubaté

Ivete Sangalo – Vitória

ivete sangalo vitoria

“O verdadeiro torcedor”, uma crônica de Ivan Lessa (por Paulo-Roberto Andel)

ivan lessa foto

O verdadeiro torcedor não se dá a conhecer. Embora um conoisseur, prefere trabalhar – seu ofício é duro – em silêncio. Tem razão. Sua prática é feroz, exige disciplina e nem todos o compreenderiam.

O verdadeiro torcedor não pinta a cara ou qualquer outra parte de seu corpo, não veste a camisa de seleção alguma, não agita bandeiras, não ergue a voz em coro com outros. O verdadeiro torcedor é um animal pensante doméstico. Não vai aos jogos. Principalmente os da Copa do Mundo. Escolhe, no entanto, torneios importantes que propiciem amplo espaço na imprensa, televisão ou mesmo rádio.

O verdadeiro torcedor gasta seu dinheiro em jornais, publicações especializadas, cadernos em espiral e canetas esferográficas. E uma tesoura razoável. No seu quarto, um território proibido a estranhos, tem colado nas paredes tabelas coloridas e algumas fotos e recortes pregados com uma massinha azul que não deixa marca ou mancha. Na mesa de trabalho, ao lado do computador, o caderno de notas, a tesoura (“Recortar é viver”, este seu lema) e uma Bic, de preferência azul.

O verdadeiro torcedor passa entre 2 a 3 horas por dia folheando os jornais em busca de colunas relativas aos diversos jogos. Degusta análises, com ênfase naquelas que ousem previsões. Não são difíceis de encontrar: o peixe morre pela boca, o jornalista esportivo pelo texto. O verdadeiro torcedor passa pelo menos uma hora vendo e ouvindo, com atenção, as observações feitas pelos bem pagos comentaristas profissionais durante os intervalos e as versões compactas dos jogos da Copa. O verdadeiro torcedor ri fácil e, sério, toma notas.

O verdadeiro torcedor é um perfeccionista. O verdadeiro torcedor sabe, como os mais desbragadamente apaixonados, o nome e a ficha completa de jogadores mais populares como Cristiano Ronaldo, Messi, Robinho, Maicon, Eto’o, Casillas, Rooney e Dempsey, como também daqueles menos cotados, como Zigic, Özil, M’bohir, Yussuf e Park-Ji-Sung.

Até mesmo os técnicos não fogem a seus olhos dourados de atenção: Otto Rehhagel, Huh Jung-moo, Gerardo Mantino e Rajevac são magos feiticeiros de sua intimidade. O verdadeiro torcedor desconhece limites para o esporte das multidões em sua modalidade máxima, pois sabe de cor e salteado até mesmo o nome de todos os estádios sul-africanos, dos quais prefere citar, em voz baixa e a sós, como se recitando uma incantação, os de Koftus Versfeld, Peter Mokaba, Mbombela e o de Moses Mabhida.

O verdadeiro torcedor tem, por vezes, seus exageros, pois é humano, nada mais que humano. Saber uma linha do hino nacional da Argélia, sob qualquer ponto de vista, não deixa de ser levar a idiossincrasia a seus mais desvairados limites (É assim: Qassaman Binnazzilat Ilmahigat e quer dizer “Juramos pelo raio que destrói”).

O verdadeiro torcedor freme e goza de prazer é quando encontra, como foi o caso, um comentário-prognóstico de David Hytner, doGuardian, na mesma manhã em que, algumas horas depois, a Alemanha foi perder de 1 a 0 para a Sérvia:

“Joachim Löw revitalizou sua equipe (a alemã, frise-se) com uma abordagem técnica audaz, saudável e multicultural”. E, mais abaixo, “A formação por ele escolhida a dedo abunda com a exuberância e o frescor da juventude”. Assim prosseguiu o notável David Hytner, sem sequer esquecer do trema sobre o “o”de Löw, jabuzelando e vuvulanando por umas três colunas.

A Sérvia? Sob a batuta de Raddy Antic? A Sérvia definitivamente não estava à altura de conter as feras de Löw que, até então, já haviam desembestado ganhando de 4 (de quatro!) da – seria manhosa, David Hytner? – Austrália, orquestrada sob a batuta do – seria capcioso, David Hytner? – Pim Verbeek.

O verdadeiro torcedor, assim como quem não quer nada, quer tudo. O verdadeiro torcedor é pela zebra e o circo pegando fogo fora de campo. O verdadeiro torcedor pouco liga para milionários dando pontapés e estragando gramados.

O negócio do verdadeiro torcedor é ver os outros milionários, os da mídia, quebrando a cara. Momentaneamente, ao menos. O verdadeiro torcedor sabe que os outros torcedores, coitados, logo vão embora e de tudo se esquecer depois de cantarem seus estribilhos, soprarem nisso ou naquilo outro e voltar a esperar outros quatro anos..

O verdadeiro torcedor não carece de matéria. N’est-ce pas, cari amici italiani?

(Publicado originalmente na BBC Brasil em 21 de junho de 2010)

Um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos – e um torcedor fanático do Botafogo -, Ivan Lessa fez parte do grupo que colaborou e que, durante muito tempo, fez sucesso no jornal “O Pasquim”. Carioca, filho de Orígines Lessa e Elsie Lessa, escreve valendo-se de um humor cheio de ironias. Auto-asilado na Inglaterra, segundo ele por ter-se desencantado com o Brasil, trabalhava na BBC de Londres. Publicou em praticamente todos os grandes veículos da imprensa brasileira.

Ivan faleceu aos 77 anos, em Londres, onde vivia, em 09/06/2012.

O rei do caô do futebol brasileiro: Carlos “Kaiser” (da Redação)

rei do cao carlos kaiser

Carlos Henrique Raposo foi um jogador brasileiro que atuou por diversos clubes brasileiros e do exterior. Ganhou o apelido “Kaiser” devido à semelhança com o alemão Franz Beckenbauer.

Em 2011, o programa “Esporte Espetacular”, da Rede Globo, exibiu uma matéria que contava com detalhes como ele por mais de 20 anos conseguiu ludibriar diversos clubes brasileiros (Botafogo, Flamengo, Bangu, Fluminense, Vasco da Gama, America) e do exterior (Puebla do México, Independiente da Argentina – há controvérsias a respeito -, El Paso dos EUA e Gazélec Ajaccio da França), fazendo parte de seus elencos, mesmo sem praticamente ter disputado partidas oficiais. Entre seus supostos feitos notáveis, Kaiser alegou ter sido campeão Mundial Interclubes pelo Independiente em 1984, fato negado pela diretoria do clube argentino. Por este fato, Carlos ganhou a alcunha de “Forrest Gump” do Futebol Brasileiro. O rei do caô.

Após aposentar-se(?) da carreira profissional no futebol, Carlos tornou-se personal trainer. 

Confira também o incrível programa “Provocações” com Antonio Abujamra entrevistando o atleta 342.

Casa vazia, audiência cheia (por Paulo-Roberto Andel)

fluminense 0 1 botafogo 24 04 2016 semifinal crioca

No fim de semana passado, dois pontos me chamaram a atenção nas disputas regionais do futebol brasileiro, em seus dois principais centros.

1

No clássico disputado no Rio de Janeiro, na cidade de Volta Redonda, o Botafogo venceu o Fluminense por 1 a 0, classificando-se para a final do Carioca 2016, diante de apenas 5.182 torcedores presentes, dos quais 3.562 foram pagantes.

Cerca de 31% do público foi beneficiado pelas leis de gratuidade – se elas não existissem, o resultado do comparecimento talvez fosse ainda mais catastrófico.

Trata-se do mais antigo clássico do futebol brasileiro.

Foram disponibilizados 14.933 ingressos para a decisão da vaga. Cerca de 35% dos ingressos foram utilizados, somando-se os pagos e as gratuidades. O Raulino de Oliveira teve sua capacidade ociosa em 65% ao receber o confronto.

Domingo, 19 horas, fora da capital, crise etc.

Em 2010, a população de Volta Redonda era estimada em 257.686 habitantes. Supondo que 10% dela tivesse interesse por futebol, um número muito modesto, algo como 26.000 pessoas.

É possível supor que o grosso do público presente à decisão no Clássico Vovô seja composto por torcedores cariocas que se deslocaram do Rio de Janeiro até Volta Redonda, em caravanas organizadas. Porque o público local está totalmente alheio à frequência no estádio. Basta ver os números e a frequência histórica no Raulino.

Em 2013, há três anos, na decisão da Taça Rio que também valia vaga para a final do campeonato, Fluminense e Botafogo levaram ao Estádio da Cidadania 12.485 torcedores pagantes e 15. 516 torcedores presentes.

Comparando-se a totalização dos presentes em 2016 contra 2013, queda de 67%.

Futebol virou minissérie de TV. E pouca gente atentou para a gravidade dessa situação.

2

Em São Paulo, o Santos bateu o Palmeiras nos pênaltis e se classificou para a decisão do Paulistão 2016.

Em jogo de torcida única, com a chancela do Estado na declaração de incompetência para combater a violência, o Peixe atuou diante de 13.690 torcedores pagantes.

Mais do que o dobro do público presente à disputa de Fluminense e Botafogo, mas muito pouco para um clássico.

Entende-se que há uma limitação em função dos lugares disponíveis na Vila Belmiro, sem dúvida, além do direito natural do Santos como mandante da partida, tendo em vista a classificação no Paulistão.

Os dois casos fazem pensar.

Quatro dos times mais expressivos do futebol brasileiro jogando para plateias modestas nas arquibancadas, ainda que por motivos diferentes.

O futebol perde sua magia e passa a ser um mero produto de grade de TV. A novela que, se perdermos um capítulo, não muda muito.

Em Santos, um caso normal: o Peixe disputará a final contra o Audax na Vila Belmiro.

No Rio de Janeiro a final será disputada no Maracanã entre Vasco e Botafogo, com TV aberta. Com muita sorte, os dois jogos somados terão 100 mil torcedores presentes.

Há quem diga que o futebol mudou, o jeito de acompanhá-lo mudou e é claro que tudo isso deve ser avaliado. Mas o esporte precisa de coração, de sentimento, de chama, e isso não será pavimentado no futuro com relações distantes, sem presença ao lado da equipe.

Os chamados times grandes aos poucos perdem seu principal ativo: o torcedor presente. E as crianças cada vez mais vestem as camisas do Barcelona, do PSG, do Real Madrid e de outros times europeus porque veem estes times durante a semana, à tarde, em horários adequados aos torcedores mirins.

Alguém vai dizer que Vasco e Flamengo tiveram lotação máxima na outra semifinal do Carioca 2016, disputada no calor equatorial às quatro da tarde em Manaus. É uma outra discussão. Outra demais.

@pauloandel