Fair Play financeiro ou uma conveniência? (por Robertinho Silva)

Essa turma que agora faz defesa ostensiva de Fair Play financeiro está me fazendo voltar no tempo. Me lembro do ano de 2002, onde o Santos da segunda geração de “Meninos da Vila” se classificou em oitavo e depois, nos mata-matas, se sagrou campeão brasileiro.

Logo após isso, me lembro das mesas de dabate falando em mudanças na fórmula de disputa do campeonato. O argumento era de que o mata-mata, dava chance ao “imponderável de Almeida”, que não premiava a “regularidade”. Por outro lado, diziam que “ponto corrido era mais justo” que era “a vitória da regularidade e do planejamento”, que “na Europa era assim” e que aqui também tinha que ser.

O “Na Europa é assim” serviu pra mudar a fórmula de disputa. Mas, pra ter uma equidade/paridade nas receitas, aí o argumento mudou pra “Na Europa é na Europa, Brasil é Brasil”…

Dentro desse falso conceito de “meritocracia” (leia-se dar privilégios individuais a alguns em detrimento dos demais) instaurou-se a falácia de “Fulano tem mais torcida, dá mais audiência” e por isso “tem que receber mais dinheiro da TV”.

Todas as mudanças que são impostas na base da politicagem, vem acompanhadas de belos discursos, narrativas psicodélicas, dando conta de que tudo vai ser muito bom. Vinte anos depois, podemos dizer que o futebol brasileiro decaiu como um todo. Tivemos uma concentração absurda de receitas em um cartel de clubes, fulminando o equilíbrio técnico e financeiro da competição.

A pergunta que fica é: isso tudo foi bom pra quem?

Obviamente a questão aqui não é entrar no debate sobre mata-mata x pontos corridos. O caso é outro.

O que fica explícitoné que todas as mudanças que são impostas, que sempre vêm camufladas de “bem coletivo”, na real são só para privilegiar o umbigo de alguns.

A “Espanholização” está no formato de disputa, está na tabela que montam, que é sempre mais interessante pra A e B do que para os C, D, E e Fs que compõem o mesmo certame. Está na grade de horários, para gerar mais matchday pra uns e menos para outros. Está no noticiário sempre mais animado pra um e no cenário de terra arrasada para os demais.

É o famoso “aos amigos, tudo, aos inimigos a lei”. Nos tribunais desportivos, a gente já observa isso, onde as decisões são tomadas com a mesma parcialidade que se distribui as cotas de televisão.

Hoje, estamos vendo quem defende FAIR PLAY FINANCEIRO vindo com discurso bonito de “Não pode gastar mais do que arrecada” e “que é pra proteger os clubes”…

O Cruzeiro ficou três anos na Série B. O Bahia chegou a Série C. O Botafogo caiu três vezes. O Vasco disputou cinco vezes a Série B. Qual foi o mecanismo criado para salvar esses clubes?

Esse discurso obviamente está enviesado, é uma coisa que só vai até a página 2. Aqui, assim como nos principais países da Europa, estão visando manter a hegemonia de um seleto grupo.

Quando você faz interdição de investimentos, basicamente condena times médios e pequenos a sempre serem médios e pequenos. Você interdita possibilidade de crescimento.

Futebol não é monopólio. Ele vive da rivalidade. Da disputa. Da livre concorrência.

A Copa União e a grande ilusão (por Paulo-Roberto Andel)

(Com a colaboração fundamental de Flávio Souza e Edgard Freitas Cardoso)

A gente via os campeonatos brasileiros cheios de times e jogos. Nos anos 1970 houve exagero, com quase 100 clubes. Nos 1980 passou para 40. Todo mundo reclamava do calendário, do excesso de jogos, que só devia ter partidas no final de semana. De toda forma, o esporte era uma paixão popular que dominava nosso país continental, com estádios abarrotados.

Veio a TV. As cotas. Numa grande costura, na virada de 1987 veio a Copa União. Todos os problemas do nosso futebol estavam resolvidos: criou-se uma divisão de elite, cópia do então Campeonato Italiano, para dominar a atenção do país inteiro. O resto já não importava. Ao mesmo tempo, começou timidamente um lote de movimentos para que os estádios tivessem menos gente, compensada por ingressos majorados – luta encampada pelo então diretor de futebol da CBF, Eurico Miranda.

Se a Copa União deu folga no calendário, por outro lado nasceu a interessante Copa do Brasil. No Continente, a Supercopa dos Campeões da Libertadores e a Copa Conmebol. A folga, claro, foi para o espaço.

Pouca gente percebeu que ali poderíamos ter embarcado numa verdadeira canoa furada. Não por causa das novas competições, que fique claro.

Com a elitização do futebol brasileiro, clubes importantes do cenário nacional foram jogados aos tubarões e nunca mais retornaram à órbita original. Podemos falar do Pará, da Bahia, de Pernambuco, cujos principais times passaram ao comportamento de gangorra nas séries, ou mesmo nunca mais voltando à tona. Estados como Mato Grosso do Sul e Amazonas, que tinham cenários locais disputados, naufragaram. E mesmo nos Estados onde prevaleciam os grandes clubes brasileiros, os campeonatos locais foram esvaziados e as equipes de menor investimento despencaram. O resultado foi nefasto, porque afetou diretamente a formação em larga escala de jogadores talentosos – e não é à toa que desde 2002 os fora de série desapareceram do futebol brasileiro.

Mais tarde, outros movimentos como a espanholização provocada pela desigualdade nas cotas de TV afetaram a própria Série A.

Hoje, o calendário continua extremamente apertado. Nada mudou nesse sentido. As competições se amontoam, os clubes abandonam as campanhas para focar em uma única. As dívidas se acumulam. E curiosamente, um dos xodós dos torcedores brasileiros é a Copa Libertadores, que tem um formato de grupos e mata-mata que lembra os antigos certames brasileiros.

Durante a semana, à tarde, em qualquer boteco que tenha um aparelho de televisão, torcedores acompanham atentos os jogos da Champions League, também no mesmo formato dos Brasileiros de outrora.

Pensemos no America, no Bangu, na Portuguesa de Desportos, em Guarani e Ponte Preta, em Operário de Campo Grande e Comercial, no Nacional de Manaus e no Rio Negro. Em Sport, Náutico e principalmente o Santa Cruz. Em Tempo, Paysandu e Tuna Luso. No Paraná Clube e até mesmo no Coritiba. No Juventude. No Vitória.

O sonho da Copa União pode ter gerado muitas fortunas pessoais, mas para a maioria dos jogadores e dos clubes brasileiros, parece ter sido uma grande ilusão.

As cotas de TV e as dívidas dos grandes cariocas (da Redação)

Tema recorrente nos últimos tempos, a questão das receitas e dívidas dos clubes de futebol é fruto de longos debates em tempos que o esporte e o business tornaram-se inseparáveis.

No caso particular do  futebol carioca, muito se fala sobre as gestões e a administração financeira dos clubes. Por muito tempo, todos viveram verdadeiras cirandas administrativas. Hoje, cada um a seu modo e receitas disponíveis, estão lutando contra o problema.

Alguns dados abaixo, produzidos a partir do excelente blog de Cássio Zirpoli no Diário de Pernambuco, e também de matéria de Daniel Mundim no Globoesporte, ajudam a entender as manchetes atuais sobre o tema.

A principal receita dos clubes cariocas (e brasileiros) advém das cotas de TV pagas pela emissora que detém a exclusividade dos direitos de transmissão das partidas no Brasil.

Diário de Pernambuco – CLIQUE AQUI

Globoesporte – CLIQUE AQUI.

Uma avaliação de 2016 – CLIQUE AQUI