O campeonato mais difícil do mundo? (por Robertinho Silva)

Daqui a alguns dias daremos início a mais uma edição do Campeonato Brasileiro. Em 2023, comemora-se 20 anos do sistema de pontos corridos no Brasil. Mas será que temos algo a comemorar?

Em homenagem ao 1° de abril, vamos relembrar algumas das maiores mentiras do futebol brasileiro, que são diariamente fomentadas pela “clarividente” imprensa esportiva.

1- Campeonato mais equilibrado e disputado do mundo com, pelo menos 10 equipes favoritas ao título. Pois bem, vejamos:

Quem acompanha os bastidores do futebol brasileiro, sabe bem que após a destituição do Clube dos 13, a divisão de cotas se transformou. Um projeto de hierarquização artificial denominado “eapanholização” foi elaborado, e hoje funciona a todo o vapor.

Limitamos a disputa a apenas dois ou três clubes, enquanto o restante luta pelas migalhas que caem da mesa, se limitando a brigar por vagas ou a permanência, ou quem sabe, ter uma sorte nas Copas. Perdemos em competitividade, perdemos em abrangência.

Ao contrário do ecossistema europeu, onde se tem quatro clubes grandes por país, e no máximo cinco clubes de médio porte, no Brasil acontece o oposto. Tínhamos os ditos 12 grandes, e cerca de ao menos 20 clubes médios. Com a diminuição do número de participantes, mais a disparidade nas receitas, os clubes de médio porte precisaram conviver com acessos e descensos constantes, o que dificulta qualquer tipo de planejamento.

2- O sucesso é fruto de projeto de grande gestão:

O discurso de gestão inteligente é repetido exaustivamente na imprensa esportiva para justificar o duopólio do Campeonato Brasileiro. É óbvio que a administração dos recursos importa, mas o dinheiro importa muito mais.

Se o problema fosse tão somente a gestão, Ceará, Fortaleza, América Mineiro seriam potências. São bem organizados e possuem eficiência administrativa em vários setores, mas têm receitas de direitos de transmissão muito inferiores àquelas dos adversários. Avaliar uma gestão nessas condições exige a elaboração de critérios um pouco mais sofisticados. Esses clubes não lutarão por títulos porque a disparidade financeira basicamente inviabiliza a competitividade. Duas ou três décadas de contas organizadas serão incapazes de alterar isso substancialmente.

Do outro lado, na ponta da pirâmide, temos o Flamengo e o Corinthians, que sozinhos concentram 24% dos direitos de transmissão. Um campeonato que já começa com times ganhando 20 vezes mais que outros, já começa praticamente decidido.

O futebol brasileiro precisa se reinventar. Hoje, somos a Série D do futebol mundial. Perdemos para a Segunda Divisão Alemã em média de público… perdemos, aliás, em média de público pra um país onde football é outra coisa. O mundo hoje se interessa muito mais pela Segunda Divisão Inglesa ou Espanhola do que pelo Brasileirão. E isso não se deve ao poder econômico, como muitos insistem em dizer. Sul-americana? Libertadores? Isso ainda faz sentido na nossa aldeia.

Por exemplo, nos últimos 10 mundiais de clubes, o futebol brasileiro ficou de fora de cinco finais. Se estendermos pra nível Sul-americano, aumenta para sete. Isso não é “papo de colonizado”. É simplesmente constatar o óbvio. África, Ásia, Oriente Médio, América Central, escolas que em outrora eram marginais, evoluíram. O Japão foi pioneiro, le mais recentemente veio a explosão dos mercados chinês e árabe, muitas vezes levando nossas revelações direto pra lá.

Falando de seleção, o Brasil chega a próxima Copa com 24 anos de jejum. Dos últimos oito finalistas de Copa do Mundo, sete europeus e apenas a Argentina em 2014 e 2022. Há 15 anos, o Brasil não tem um jogador eleito o melhor do mundo.

Até o início dos anos 2000, os times brasileiros eram extremamente competitivos. Muitas vezes superavam os europeus na raça. Mas, hoje, é hora da famosa autocrítica. Estamos habituados a perder. Estamos nos contentando com o simples fato de jogar de igual para igual.

Quem se interessa por um campeonato onde temos mais tempo de bola parada que bola em jogo? Quem se interessa em ir pro estádio ver jogador simulando contusão, saindo de maca e “milagrosamente” se levantando pra voltar ao gramado? Quem vai continuar se interessando por um campeonato onde dois ou três times detêm mais da metade das cotas de TV de todo o campeonato? Quantos outros 7 a 1 em casa ou Mazembes, Casablancas, Tigres e Al-Ahlys teremos que passar pra aprender?

Pronto… agora podemos voltar à nossa aldeia.

Os 24 anos do Gol Monumental (por Robertinho Silva)

O dia 22 de julho é mais que especial para todo torcedor vascaíno. Há exatos 24 anos, Juninho marcava um gol que virou música. Um gol tão marcante, a ponto de ser o mais lembrado daquela conquista da Libertadores. Nem os quatro gols marcados na final da competição, contra o Barcelona do Equador, recebem tanto destaque quanto o de Juninho contra o River Plate.

O Vasco começou aquela Libertadores de 1998 de forma claudicante. Passou da primeira fase de forma conturbada, conquistando a vaga na segunda colocação. Já nas oitavas de final, um adversário duríssimo: o Cruzeiro, atual campeão, na penúltima vez em que o regulamento previa que o atual campeão já entrasse direto na segunda fase. O Vasco venceu por 2 a 1 em São Januário e empatou por 0 a 0 em Belo Horizonte. A seguir, nas quartas o Cruz-maltino enfrentou o Grêmio, adversário que já tinha enfrentado na fase de grupos. Empate heroico por 1 a 1 em Porto Alegre no jogo de ida, e vitória por 2 a 0 no jogo da volta.

Veio então a semifinal. Vasco e River Plate se enfrentariam em uma espécie de final antecipada da Libertadores. No jogo de ida em São Januário, o Vasco sabia que teria que fazer uma boa vantagem sobre a excelente equipe do River Plate, que ainda contava em seu plantel com a base do time que fora campeão da Libertadores em 1996. O Gigante da Colina demonstrou sua força. Em um São Januário abarrotado de gente, fez 1 a 0 com Donizete Pantera logo aos 10 minutos de partida e decretou a vitória brasileira no primeiro confronto. Era pouco? Sim, era. Mas o time teria a vantagem do empate no jogo de volta em Buenos Aires.

No jogo da volta, o River começou na pressão. O time argentino fez 1 a 0 com Juan Pablo Sorín de cabeça, ainda na primeira etapa, após cobrança de falta de Marcelo Gallardo. A partir daí,o River se animou e tentou de todas as formas o segundo gol, visando obter a classificação ainda no tempo normal.

Mas aí, Juninho Pernambucano entrou em campo na segunda etapa. O Vasco perdia por 1 a 0. Surge uma falta para o time brasileiro cometida por Montserrat em cima de Vagner aos 37 minutos. Posição preferida de Juninho. Ele se preparou para a batida. O goleiro Burgos armou a barreira. Juninho partiu… Bateu… E gol! Golaço! Pintura, poseia! Era o gol de empate e da classificação vascaína na épica batalha diante do River. O Gigante da Colina mostrou sua força e calou o Monumental na base da raça e do coração. E de quebra, eliminou o terceiro campeão continental recente, afinal, além do River (Campeão de 96), eliminou Cruzeiro (campeão de 1997) e Grêmio (Campeão de 1995).

O golaço de Juninho sacramentou a vaga e abriu o caminho para a conquista da Glória Eterna. Um momento marcante, épico, que deu mais moral para o Gigante da Colina erguer o troféu continental diante do Barcelona de Guayaquil.

Não à toa, este gol espetacular virou cântico da torcida vascaína.

Algumas breves palavras sobre futebol

Para mim e muita gente, futebol tem muitos significados. Um deles é a esperança de, a cada quarta e domingo, voltar a ter onze anos de idade, rever um Maracanã que já não existe e, no campo, espiar uma hora e meia do melhor futebol do mundo. Doces ilusões que, às vezes, se materializam.

Foi o caso desta quarta. Fluminense e Atlético fizeram um jogaço, daqueles que não se parecem com o futebol de hoje, nem deste século. Golaços, grandes lances, disputas, lambanças, garra e talento.

Antes da partida, eu caminhava para casa com certa tristeza por problemas que aqui não cabem, meus, dos outros, da minha cidade e do meu país. Tão triste que desisti de ir para o Maraca e resolvi ver o jogo em casa, sozinho. Esperava um clássico normal, rigoroso, até careta como os atuais, mas aí é futebol, amigos: a surpresa aparece a cada esquina.

Eu, meu copo de refrigerante gelado, a tela da TV praticamente como se fosse dentro do campo, os amigos no WhatsApp sofrendo com suas TVs e também na arena. E tome gols, tome lances bonitos e jogadas que remetiam ao velho UUUUUUHHHHH de muito tempo atrás.

Quando o Fluminense joga, meu mundo para e tudo se mistura. É assim há quase cinquenta anos. Eu me lembro do dia em que conheci Félix no álbum de figurinhas do meu pai. Eu me lembro do time de botão do Flu que ele me deu em 1975 em plena Estrada de Botafogo no terreiro de Dona Nininha e Seu Arlindo – que tinha um Aero Wyllis com banco vermelho. E também me lembro de Paulo Cezar Lima, craque campeão do mundo e colunista deste Museu da Pelada, cobrando três escanteios mortíferos contra o Flu em 1980 – todos fora da marca de cal.

[Então, bate uma saudade imensa dos meus pais e do meu irmão. Eu choro

Outro dia o Edinho fez 67 anos. Eu estava lá quando ele bateu o pênalti numa quarta-feira de chuva, fez o gol e ganhamos por 4 a 0. Fez 40 anos. Na volta, eu e meu amigo Floriano Romano, hoje artista consagrado, esperamos o ônibus por um tempão. Dois garotos de treze anos.

O jogo é quente, Luiz Henrique arrebenta, André corre por toda parte, o Atlético dá suas pancadas, Hulk fica nervoso sem trocar de cor e o Turco faz besteira. Cano faz um gol de barriga e todos os tricolores choram por um instante, lembrando aquele gol de barriga inesquecível em 1995. O primeiro tempo terminou 3 a 2 pro Flu, o segundo fechou em 5 a 3. Luiz Henrique é o melhor em campo, um garoto simples que sorri feliz e já está a caminho da Europa. Para muitos, foi o melhor jogo do Brasileirão. Para outros, o melhor de 2022.

Em duas horas, eu me esqueci da tristeza, dos problemas, das dívidas, das ameaças, das falsidades que encontramos a todo instante, da empáfia oca e só pensei no futebol. Na bolinha que sobe no tiro de meta, se perde no figurino da arquibancada e logo quica na grama. Nos uniformes em campo. Sonhei que meu pai estava ao meu lado, que minha mãe me dava um beijo, que meu irmão sorria. Sonhei com a Marina. Sonhei com a nuvem espessa de pó de arroz que me fez perseguir o Fluminense para sempre.

Acaba o jogo e a insônia vem forte. A emoção da vitória se junta a fotos, memes e gozações porque o rival Flamengo perdeu. Os gols são reprisados no telejornal, nas resenhas e, perto de uma hora da manhã, duas cerejas do bolo: Leo Batista aparece na televisão e fala de coisas belas. Depois, o VT de Flu e Galo. O Leo é voz obrigatória para qualquer torcedor que tem 50 anos ou mais – ele nos dá a falsa e maravilhosa sensação de eternidade. O VT é para ter aquele gostinho inesquecível das reprises da TVE aos domingos à meia-noite, e isso remete a Luiz Orlando, Achilles Chirol e outras feras.

A doce ilusão me oferece uma madrugada de 1980 ou 1983. A realidade é 2022, onde nem toda quarta-feira irá me sorrir com um grande jogo de verdade, mas para quem chegou aos 53 anos como eu, os versos de um gênio – tricolor – como Belchior são contestados: por duas horas de futebol, sonhar é melhor que viver. Quando a anestesia da paixão para, a gente espera o próximo jogo e o próximo sonho. Deve ser assim com meu amigo Edgard, que me contou de como seu pai estaria feliz com o 5 a 3.

Duas e quinze da manhã. Meu pai me puxa pela mão enquanto andamos pelo corredor lotado, até que chegamos à rampa da UERJ e descemos saboreando cada passo de uma tarde qualquer de futebol. Um dia eu ainda vou estudar lá, podem acreditar. E vou jogar campeonatos lá com meu time de botão.

Agora, como se dorme olhando para o teto e trocando os problemas pelas imagens do gol de barriga? É o Renato, é o Cano, é o sentido da vida.

[Esta coluna é dedicada a Edgard Freitas Cardoso, à memória de seu pai e da família Andel

@pauloandel

O fantástico mundo dos escudinhos

Anos atrás, quando tive a oportunidade ímpar de entrevistar Gilberto Gil, ele me disse da fascinação que tinha ao preparar seu jogo de botões com o escudo do Fluminense, motivo de sua paixão pelo clube. Depois pensei bastante e cheguei à mesma conclusão: não sei quando me tornei tricolor, mas eu já adorava o escudo do Flu. Curioso é que a afeição de Gil pelo time do Bahia vinha dos ídolos e não primordialmente pdo escudo, tais como o ágil ponta Marito e o goleiro Lessa. E eu, que sempre gostei do escudo do Bahia, logo cedo colecionei botões de galalite do clube.

Paixão, paixão mesmo, sempre foi só uma – o Fluzão -, mas gosto de escudos de times desde criança. Duas situações foram decisivas para isso.

A primeira quando passei a fazer as apostas de meu pai na loteria, algo em torno de 1978. Eu mal tinha dez anos de idade, mas fazia os jogos para ele. Vibrava quando me pedia para que fosse apostar, vejam vocês como é ser criança: eu torcia para que tivesse muita gente na fila de apostas, só para ficar vendo a parede da agência lotérica com calma. Era abarrotada por escudinhos de ponta a ponta. Eu adorava. Foi na parede da loteria, que pertencia ao Seu Carlos e funcionou por muitos anos no Shopping dos Antiquários, em Copacabana, que vi pela primeira vez o CSA, o Sampaio Correia, o Guarany de Sobral, o América do Recife e tantos outros times.

A segunda, quando passei a ler a revista Placar semanalmente. Além de ter tudo sobre futebol, ela sempre disponibilizou cartelas de escudinhos para os botões, que você recortava e colava. Na seção de cartas, volta e meia alguém pedia “Publiquem o escudo do Chuteirense”. A Placar atendia todo mundo sem falta. Tempos depois, a revista disponibilizou um álbum com os grandes clubes do mundo, cujas fotos eram os próprios escudos dos clubes. Imagine descobri-los num tempo sem internet e que por vários motivos, não eram publicados em nenhum outro lugar.

Tive uma decepção quando descobri que, nos anos 1970/80, vários times europeus não usavam o escudo do time em suas camisas de jogo. Como era possível? Pois é, mas com o tempo isso acabou, felizmente.

Já experimentou passar por uma banca de jornal de antigamente, daquelas que vendem jornais, revistas e miscelânea? Invariavelmente tem uma parede de adesivos e, claro, os escudos de times de futebol estão presentes.

Ver os escudinhos passeando no antigo placar eletrônico do Maracanã era um barato para qualquer criança, não somente dos times tradicionais mas também das equipes que raramente jogavam por aqui. O antigo Campeonato Brasileiro, com dezenas de times, favorecia essas descobertas, assim como é hoje nas fases iniciais da Copa do Brasil.

Curiosamente, eu não tenho uma coleção de escudos, exceto pelos meus times de botão. Adoro olhar tabelas antigas e atuais de campeonatos de todos os tipos. A Sul-americana é um barato porque volta e meia traz algumas equipes quase desconhecidas no Brasil – e, claro, tem sempre um escudo novo. O Google é um oceano de escudos.

Outra fonte para minha diversão é meu amigo Kleber Monteiro, grande escritor de futebol que faz um trabalho excepcional com camisas e livretos de clubes extintos. É fascinante ver escudos de times que nunca vi em ação, que já não existem mas, de algum modo, escreveram páginas da história. É um poço sem fundo de descobertas. Imagine o futebol do Rio nos anos 1910 e 1920, com a febre da formação de times e campos espalhados por toda a capital da República? Quantos e quantos times, quantas e quantas narrativas?

Por trás de cada escudo há vida, construção e luta, há dedicação e história. Tanto faz se é de um time de grande porte ou humílimo, se está em plena forma ou se foi extinto, se é familiar a milhões ou desconhecido: cada escudo traz uma referência própria, até mesmo quando foi claramente inspirado em outro. Se um dia tivermos uma exposição sobre escudos de times brasileiros, por exemplo, ali estará não apenas uma representação do esporte que tanto amamos, mas também um desenho da nossa própria vida brasileira desde o início do século XX.

Eu amo todos os escudinhos.

@pauloandel

O Íbis voltou

Uma da manhã, madrugada de sábado para domingo, aquela insônia de doer e o controle remoto à mão. Nenhum filme interessante, nenhum show legal, o jornal 24 horas com as mesmas notícias da primeira hora (repetidas 23 vezes).

O destino determina procurar o primeiro jogo de futebol que apareça na seleção de canais. Subitamente ele se apresenta: Náutico versus Íbis, abertura do Pernambucano 2022. É reprise mas vale: se você não viu nada e se nada chegou do jogo à sua tela do smartphone, é um jogo novinho em folha.

Cheguei atrasado e o Náutico já vencia por 2 a 0, com dois bonitos gols de fora da área no castigado gramado do belo Estádio dos Aflitos. Interessante é que o jogo era divertido de se ver, mesmo com a limitação técnica dos dois times: ambos procuravam o ataque e tocando a bola, sem chutões nem ligações diretas. Mas olhando as camisas dos times e sabendo que elas são familiares, achei que tinha algo estranho, diferente, que eu não sabia explicar direito, até que a ficha caiu: qual tinha sido o último jogo que eu tinha visto do Íbis?

Nenhum. Mas como assim?

É fácil entender: o rubro-negro de Paulista estava voltando à primeira divisão pernambucana depois de 22 anos. Ou seja, o Íbis nunca tinha sido transmitido pela TV no século XXI até este jogo.

Gosto de jogos com a presença de times de menor investimento. Gosto da sensação de localidade, de raiz. É claro que o futebol bem jogado, de alto nível técnico (e cada vez mais raro no Brasil), é maravilhoso, só que para muitos apaixonados pelo esporte o enredo vai muito além das quatro linhas. O próprio Íbis é uma prova material desse conceito: de volta à primeira divisão de seu estado, o que lhe importa é se manter nela custe o que for. O Pássaro Negro não está em busca de títulos, mas da sua sobrevivência como “pior time do mundo”, só que na elite pernambucana. É bonito saber que a luta deles tem 80 anos.

E o jogo? Divertido no segundo tempo, até que perto do fim o garoto Júlio faz um golaço para o Náutico e decreta os 3 a 0 finais da partida. Mesmo assim, o Íbis teve duas oportunidades de gol desperdiçadas. E continuou tentando tocar a bola, mesmo sem qualquer esperança de um empate.

Quando a partida terminou, o Estádio dos Aflitos me lembrou dos jogos que vão começar daqui a pouco pelo Cariocão e Paulistão. E bateu a saudade de Moça Bonita, Ítalo Del Cima e Bariri, os velhos e queridos alçapões que sempre atrapalhavam o Big Four carioca mais os amados America e Bangu. A gente sabe que o melhor futebol está na Champions, mas quem viveu esses estádios que falei e outros sabe da importância disso. Importância que nutre um torcedor insone em plena madrugada de sábado para domingo. Ou lembrar de seu goleiro Félix, de seu time de botões cristal, de seus amigos da escola.

À beira do campo, Helio dos Anjos grita para consolidar a vitória do Náutico. Quem se lembra de que ele foi goleiro do Flamengo? Eram tempos de Raul e Cantarele, de Catinha e Zandonaide, de Mendonça, de Abel, de tanta gente que passou tão rápido mas deixou saudade.

O mascote do Íbis, um pássaro bem grande, aparece cabisbaixo atrás do gol no fim do jogo. No meio de campo, torcedores do Náutico celebraram o adversário: “Vocês subiram o Íbis. Agora façam um gol no Santa Cruz!”. A derrota dói, mas para quem estava há mais de duas décadas na segunda divisão, entrar em campo pela série A é uma vitória. E quem nunca é protagonista pode ter seu lugar ao sol como figurante. Quantas e quantas vezes a gente já se divertiu com o Íbis sem que ele vencesse um jogo ou marcasse um gol? De alguma forma ele sempre faz falta.

Duas e meia da manhã, daqui a pouco tem Avaí versus Figueirense. Já estou contando as horas para ver o Fluminense contra o Bangu na Ilha do Governador. Só me falta um radinho e três colegas de arquibancada que eu já tive, mas um dia eu chego lá.

O Íbis voltou porque o futebol é muito mais do que um jogo.

PS: o destaque negativo nos Aflitos foi um idiota que se gabava de não ter se vacinado ao entrar. O xilindró lhe deu a resposta merecida.

Ainda sobre a Taça de Prata

Eu estava no berço. Tinha dois anos de vida.

A decisão foi o acontecimento do fim do ano na Guanabara. Um dia de festa tricolor num país que vivia tempos trágicos.

Meu pai foi ao jogo. Eu torci de casa, mesmo sem saber. Já tinha uma camisa do Fluminense, uma camiseta de algodão com o escudo bem grandão, que cobria todo o peito, e os simples dizeres “Sou Fluzão”.

Dez anos depois, em 1980, o futebol já era uma rotina diária em minha vida. Num domingo quente como o de hoje, eu ia à padaria, depois passava pela banca de jornal, trazia tudo que meu pai pedia e depois ficava na fila para ler os cadernos de esportes. Isso certamente me ajudou como cronista. O Dia, O Globo, Jornal do Brasil, Jornal dos Sports, tudo. Mas como era em 1970?

Provavelmente meu pai é que foi à padaria, porque minha mãe não saía de perto de mim. Ele tinha 29 anos e deve ter ficado que nem um louco, sonhando em chegar logo ao Maracanã. Um jovem ainda, pai de família, com o irmão recém-exilado, com uma criança de colo, administrando duas lojas, lutando para vencer. E muito perto de ter uma alegria incomensurável, que era a de ver seu time campeão do Brasil.

Fico imaginando aquele Maracanã abarrotado. Longe de desrespeitar a garotada de agora, mas quem viu aquela praça com mais de 130 mil pessoas sabe o que estou falando.

O Fluminense venceu o campeonato com um empate com o Atlético Mineiro. Foi um sonoro campeão. Superou o Palmeiras de Ademir da Guia, o Santos de Pelé, o Cruzeiro de Tostão, o Botafogo de Paulo Cezar Caju, o São Paulo de Gerson e muito mais. Ganhou um dos títulos mais difíceis de sua história e o campeonato brasileiro mais difícil de todos os tempos.

Meu pai era calado. Não sei se foi sozinho ao jogo ou com algum amigo. Não sei se chorou, o que vi pouquíssimas vezes. Não sei se cantou. Eu só imagino as cenas que não vivi, mas tudo aquilo resultou em coisas que repercutem até hoje.

O primeiro jogador que vi na vida foi o Félix, num álbum de figurinhas da Copa de 1970. Eu devia ter perto de cinco anos. Meu pai adorava álbuns e fez vários. A gente os perdeu nas mudanças, é duro ser pobre. Mas a cena eu não esqueço: estava deitado na minha cama quando ele veio, me chamou e mostrou. Félix, Félix, nunca mais esqueci – isso tem mais de 47 anos e eu me lembro como se fosse agora.

Samarone, Galhardo, Marco Antônio, Oliveira. Didi. Denílson, o Rei Zulu. Flávio, Mickey, Lula. São todos nomes familiares para mim. Não precisei vê-los para adorá-los, saber como foram e são tão importantes para o Fluminense. Sei como eles deixaram meu pai feliz, e felicidade é algo tão raro que a gente precisa sempre valorizar. É um grãozinho de areia com o qual sonhamos sempre.

A volta do jogo? Ele deve ter abraçado minha mãe, ligado o rádio para ouvir a repercussão do título e planejar o próximo álbum de figurinhas.

Já comprei o pão hoje. A banca de jornais está fechada. O rádio está desligado. Há um enorme silêncio, exceto pelo ventilador que lembra uma turbina de avião. Então é ficar deitado, olhar para cima e se sentir em pleno voo.

Hoje não tem jogo. O Fluminense de agora é incerteza no campo e devastação fora dele, mas há cinquenta anos, meus amigos, o mundo era pequeno para as três cores da vitória, cores de um título supremo que sempre estará representado pelo V da vitória de Mickey, o artilheiro inesperado que supriu a ausência do esplêndido Flávio e levou o Flu a um de seus títulos mais arrebatadores.

Um dia, depois de tanto ouvir as histórias tricolores de meu pai, comecei a escrever as minhas, mas nunca deixei de lado o que aprendi e vivi. Tudo passou rápido demais. Quem me dera estar no berço outra vez com minha camiseta do Fluzão! Na impossibilidade, deixo um grande abraço a todos os tricolores vivos ou mortos que, naquele dia, no campo, na arquibancada, na geral e nos radinhos Brasil afora, ajudaram o Fluminense a se mostrar em seu real tamanho: gigantesco, gigantesco.

Viva os campeões brasileiros de 1970!

@pauloandel

Nascido em 1968, Paulo-Roberto Andel é autor de 30 livros, sendo 16 deles sobre o Fluminense. Formado em Estatística pela UERJ, é editor e cronista do Panorama Tricolor, cronista colaborador do Museu da Pelada e do Correio da Manhã. No Panorama, assinou mais de 1.000 colunas desde 2012. Por conta de seus esforços literários, foi declarado torcedor ilustre do clube em sessão solene do Conselho Deliberativo do Fluminense em 21/07/2014.

A máquina laranja

Colaboração de Leonardo Baptista
batistaleonardo668@gmail.com

Muito se discute sobre o futebol que, de vez em tempos, vem à tona encantando o mundo com passes certeiros, dribles e uma função tática reconfortante para os que assistem, capaz de calar até mesmo a mais acalorada discussão em mesa de bar sobre como se deve ou não jogar o esporte bretão. Porém, muito do que se fala pouco se imagina sobre como se sentiram os fãs e torcedores que tiveram contato pela primeira vez na história com um futebol como esse.

Estamos falando, é claro, da famosa laranja mecânica de 1974, que não começou naquele ano, tampouco terminou, mas que é referência ainda hoje em toda seleção que se destaca pelo toque de bola e futebol virtuoso; a seleção holandesa se destaca como revolucionária apenas quatro anos depois de um Brasil tricampeão mundial ocupar este “trono” de inventores de uma nova forma de jogar futebol. Ainda a Alemanha Ocidental supercampeã, que seria seu algoz na fatídica final da Copa de 1974, não seria tão bem lembrada pelo seu jeito de jogar: o carrossel holandês, como foi chamado, ao ficar com o vice do Mundial, mostrou que naquela edição em específico trazia algo que ia muito além das quatro linhas.

Não é necessário procurar muito para encontrar relatos de jogadores que enfrentaram aquela seleção totalmente horrorizados, pelo fato de não saberem o que fazer ou como agir diante de tal espetáculo dentro de campo, um futebol que vinha das bases holandesas multicampeãs em torneios de clubes, comandada por Rinus Michels e liderada (como se não pudesse faltar) por um craque bem ao estilo da época – Johan Cruijff -, que deixava os espectadores tão embasbacados quanto os jogadores que a enfrentavam, com toque de bola, marcação no campo adversário, zagueiros atacando, atacantes defendendo, três, quatro holandeses em cima de cada adversário que tentava ao mínimo ficar com a bola, sem entender como ou quem era o time que os atropelava com uma sutileza e a sensação de facilidade como se praticassem outro esporte.

Logo ao início da Copa um susto: o Uruguai, tradicional e poderoso em competições foi massacrado pela inovadora seleção, que nunca havia tido destaque no cenário mundial quando se fala em seleções. Naquele jogo as próprias palavras do meia uruguaio Pedro Rocha descreviam o sentimento dos adversários frente a
à seleção de Cruijff:

“Por duas vezes, em campo, quis chamar a minha mãe: a primeira, com 17 anos, na minha estreia no clássico Peñarol e Nacional, em pleno Centenário. Na segunda, com 32 anos, quando enfrentei a Holanda na Copa de 1974. Quando peguei a bola pela primeira vez, quatro jogadores vieram para cima de mim e me tiraram a bola. Não entendi nada, mas na segunda vez, a cena se repetiu, e foi assim o jogo todo. Ali, eu quis a minha mãe”.

E foi assim que o mundo viu, de fato, a “sombra laranja” que assolava a Europa sendo tricampeã consecutiva do campeonato continental (1971,1972,1973). Daquele momento em diante o futebol como era jogado pela seleção holandesa seria chamado de “futebol total”, e não seria por menos, pois nunca antes havia se visto forma tão bela de jogar futebol. Mesmo o lendário Brasil tricampeão do mundo, que tinha causado espanto similar, parecia apático diante daquela Holanda e, não por menos em um jogo belíssimo, o próprio Brasil de Rivellino e Jairzinho sucumbiu aos holandeses.

Coube à Alemanha Ocidental parar o carrossel holandês através de um futebol frio, tático, físico e objetivo. Mas a derrota na final não aconteceria sem a mágica dar seu último e maravilhoso suspiro naquela competição. Ao iniciar o jogo, a Holanda com seu toque de bola e movimentação em segundos chegou à área alemã, que não teve outra opção senão cometer um pênalti, cobrança feita e 1 a 0 para os holandeses. Nunca antes ou depois, na história da maior competição do maior esporte do mundo, uma final começou com uma seleção pegando pela primeira vez na bola ao fundo de sua rede. Foi assim que a Holanda deu sua cartada final, e os alemães enfim conseguiram a virada.

Muito se discute sobre como o “futebol total” impactou o mundo em sua época e depois dela. Essa filosofia se perpetuou pelos campos de futebol do mundo, principalmente da Espanha, onde Cruijff se sagrou campeão como treinador, e é dito como o precursor da filosofia de jogo que lá é praticada até hoje, sendo essa a filosofia da seleção espanhola campeã do mundo em 2010 e, pasmem, até a seleção alemã campeã em 2014 teve como referência em seu trabalho o “futebol total”, de quem fora algoz quarenta anos antes.

É complicado afirmar, de fato, qual a maior seleção dentre as que não ganharam a copa, se o Brasil de 1982 e 1986, a Hungria de 1954 e muitas outras, mas é fato dizer que em 1974 especificamente, o ouro da taça não reluziu mais do que o laranja do carrossel holândes. Em 1974 nem tudo que reluzia naquela Copa era ouro, mas laranja.

A linha do céu de Moça Bonita

Fim de tarde, fim de jogo, os admiráveis maníacos já deixaram o estádio do Bangu, o Fluminense jogou outra vez. É uma sede interminável. O jogo, o jogo, o próximo jogo, o próximo campeonato, a próxima temporada. Assim tem sido para mim e para muitos torcedores que acompanham seus times de futebol pelo mundo afora.

A diferença do Fluminense para todos os outros está no meu coração de criança. Foi dele que tudo veio, que me trouxe até aqui e que me levará para o futuro imprevisível. Meu time é meu grande companheiro da trajetória de vida. Bons e maus passaram, amores também, as pessoas amadas disseram adeus e ficaram guardadas para sempre no coração. O Fluminense não: como nos versos geniais de Caetano, ele é tensão flutuante do Rio. E por quase todo o ano, a cada três dias ele mobiliza sua gente a persegui-lo como pode: de trem, ônibus, bicicleta, pela TV do bar da esquina, pelo fone de ouvido, pelo radinho de pilha da portaria ou da barraquinha de camelô.

A linha do céu de Moça Bonita desenha um fim de dia, mas na verdade é o recomeço do eterno presente em que vivemos. O Fluminense é pensado, sonhado, desejado. Tal como a pessoa amada, ele instiga e pouco importa se está ou não em seus dias de glória, porque torcer não implica em lógica nem casuísmo, não é escolher quando se busca, mas um sonho que só termina com a morte e talvez nem isso.

O Fluminense está na linha do horizonte, com suas cores diferenciadas pela beleza da luz que abraça a Terra esférica. Ele também está no ponto de ônibus abraçando um coração sereno de volta para casa, nos carros que passam e no mistério da noite que se avizinha. A procura incessante que Bob Dylan faz desde que saiu de casa há muitas décadas e, com seu ônibus, atravessa os Estados Unidos com sua “Neverending Tour”, a turnê que nunca termina, pouco importando se os ginásios vão estar apinhados de gente ou com os gatos pingados facilmente identificáveis, porque estão sempre lá e rangem os dentes em qualquer lugar onde as três cores são nome. Perto dos 80 anos, o trovador estadunidense, o maior artista vivo de seu país, rima com o Fluminense.

Lá vai o velho escudo correndo pelo asfalto procurando a beleza das luzinhas no fim da estrada que não chega, abraçado pelo azul do céu que morre e renasce a cada dia, às vezes coberto de gris, noutras límpido e certeiro. Eu também estou lá, mesmo quando não preciso ou sequer consigo fazer a procissão do futebol ao vivo. O meu Fluminense está em todos os lugares, ganhando ou perdendo. Ele está muito acima de covardias, da vaidade dos homens maus, dos deslumbrados ovos que dele se locupletam por algum motivo – todos vão passar, só o Fluminense não passará jamais, como bem disse o maior de todos os escritores tricolor. O que está em jogo é muito acima de tudo: voar em busca do meu time e, a cada três dias, navegar por lindas noites e tarde para encontrá-lo como se fosse o beijo desejado, que não se encerra em si – ele insiste, avança, avança, sempre em busca do infinito.

Em frente à linha do céu de Moça Bonita eu penso no Fluminense. Quando me sinto miserável e abandonado, penso no Fluminense e ele me oferece acalanto. Quando saio depois de uma derrota, me irrito por trinta segundos e então penso em onde será a próxima partida do Fluminense. Meu coração não se apequena, pelo contrário: aí é que ele se agiganta em uma busca que nunca terá fim. Olho para trás, vejo mais de quarenta anos passados, sonho com mais trinta à frente, ou vinte que sejam bons, ou o que vier porque não tenho o controle disso, mas aquela velha emoção de criança ainda queima com toda fúria: é a próxima partida, é o Fluminense, onde estará o Fluminense, oxigênio do meu pensamento, água para a sede que não cessa, a força que nunca seca, a linha do horizonte que me chama e faz sentir minha mão dada à de meu pai, como se aquela linda imagem algo dissesse “Vamos! Hoje é dia de jogo, vamos perseguir o nosso time”. Eis o que nos cabe.

@pauloandel

#####

Sobre a foto espetacular de Vinicius Viana, também em homenagem ao aniversário de Leonardo Moretti e a todos os tricolores que perseguem o Fluminense por amor, cada um a seu modo, desde muito até o sempre.

Título inspirado em “A linha do céu de Barueri”, publicado em “Do inferno ao céu – a história de um time de guerreiros”, Editora 7Letras, página 127, 2010, e consequentemente em “Nashville Skyline”, Bob Dylan, Columbia Records, 04/04/1969.

Vamos apoiar o Gavião! (da Redação)

O Gavião Kyikatejê Futebol Clube é um clube profissional de futebol brasileiro.

Tem como característica marcante sua raiz indígena – anteriormente formado totalmente por indígenas, hoje um time misto – e destaque em ser o primeiro time de um povo tradicional a disputar a divisão principal de um estadual, no ano de 2014.

E precisa de apoio para poder disputar a segunda divisão do futebol paraense, visando o acesso.

Confira no link abaixo.

CLIQUE AQUI.

Renato Sá, o demolidor de invencibilidades (por Paulo-Roberto Andel)

Os recordes de invencibilidade no futebol brasileiro pertencem ao Botafogo e ao Flamengo, cada um com 52 partidas.

Em 1978, o Botafogo teve sua série interrompida pelo Grêmio, que o venceu por 3 a 0 no Maracanã com grande exibição de Renato Sá, marcando dois gols.

No ano seguinte, o Flamengo perderia sua invencibilidade ao enfrentar o Botafogo, e quem era o algoz rubro-negro? O mesmo Renato Sá, que marcou o único gol daquela partida. Um demolidor de invencibilidades.

São Cristóvão F.R., 90 anos da conquista de 1926 (da Redação)

escudo-do-sao-cristovao

Único time do mundo a ter um uniforme exclusivamente branco, dono do primeiro estádio de futebol construído no Rio de Janeiro e berço do futebol de grandes jogadores que inclusive disputaram Copas do Mundo, o São Cristóvão completou 90 anos ontem da conquista do campeonato carioca de 1926. Nas últimas décadas, assim como tantas outras equipes tradicionais do Rio e do Brasil, sobrevive com imensas dificuldades e absolutamente desprezado pelos meios de comunicação.

O Club de Regatas São Cristóvão foi fundado em 12 de outubro de 1898, para depois se fundir com em 13 de outubro de 1943 com o clube de futebol, este fundado em 5 de julho de 1909.

Nos últimos 35 anos, o popular São Cri Cri teve brilhos efêmeros, como o da cooperativa de jogadores em 1983, contando com nomes como os do goleiro Nielsen, o lateral Orlando Lelé, o zagueiro Jaime, o lateral Rodrigues Ne­to, mais os atacantes Gil, Rui Rei, Nilson Dias e Edu – um time com muitos jogadores de categoria, mas veteranos. A revelação de Ronaldo Fenômeno, que viria a se tornar um dos grandes atacantes do futebol mundial. O surgimento de Valber, zagueiro que defendeu diversos clubes do Brasil e chegou à Seleção Brasileira.

Matéria do UOL sobre os 90 anos do título de 1926.

Matéria de O Globo sobre os 100 anos do estádio de Figueira de Melo.

 

O Caso Campos: um artilheiro à própria sorte (da Redação)

campos-doping-1973-set-feature

O primeiro caso comprovado de doping no futebol brasileiro aconteceu em 1973, numa partida entre o Atlético Mineiro e o Vasco da Gama, com o atacante Cosme da Silva Campos, uma das grandes promessas dos gramados daquele tempo. O episódio teve repercussão nacional, principalmente por conta da hipocrisia que sempre cercou o tema, ainda mais em tempos de ditadura. Recuperado meses depois, Campos voltou a jogar, mas perdeu a guinada que poderia ter dado em sua carreira.

Em detalhada reportagem da revista Placar, todo o caso é apresentado por Arthur Ferreira, o saudoso Raul Quadros e o decano José Trajano, além de uma entrevista com Campos feita em 2012 por alunos de Jornalismo do Centro Universitário UNA.

campos-doping-1973-1

campos-doping-1973-2

campos-doping-1973-4

campos-doping-1973-5

 

Ainda sobre Campos, no BLOG DE MILTON NEVES

Marcelo, um goleiro (da Redação)

atuacao-marcelo-iii

Quinta-feira, 27 de agosto de 1964.

Não era uma época das mais fáceis no Brasil, mas o futebol era uma espécie de alívio para a vida sofrida de milhões de torcedores.

O Maracanã, palco maior do futebol mundial, recebia Flamengo e Vasco para o eterno clássico, por ocasião da décima rodada do campeonato carioca de futebol daquele ano.

Horário tradicional das 21 horas e 15 minutos.

Uma data marcante para Marcelo, o então goleiro da equipe vascaína, jovem de 24 anos que prometia fechar o gol da Colina, já com a bagagem de ter jogado pelos times  do Yuracan de Itajubá, São Paulo, Palmeiras, Ferroviário de Botucatu e Bonsucesso.

O resultado da partida teve efeito completamente oposto.

O goleiro acabou levando dois gols da intermediária, um deles num lance que parecia muito fácil, marcados por dois craques do Flamengo: os meio-campistas Carlinhos e Nelsinho.

No caminho do vestiário, Marcelo decidiu que nunca mais vestiria a camisa do Vasco da Gama ou de qualquer outro time. A partida se encerrou com o placar de 2 a 1 para o Rubro-Negro.

Ao final do primeiro tempo, o goleiro já havia se desentendido com o treinador Eli do Amparo, que o havia acusado de falhar no gol do empate do Flamengo, feito por Carlinhos. Os dois precisaram ser contidos pelos companheiros para não brigarem no vestiário.

Mas quem disse que só Marcelo sofria em campo? O próprio árbitro da partida chegou a desistir de arbitrar, alegando falta de condições emocionais (vide matéria abaixo), com a partida sendo paralisada e retomada.

Após o segundo gol, marcado por Nelsinho, craque da Gávea, quase do meio de campo no primeiro minuto do segundo tempo, Marcelo alegou não ter mais condições emocionais de prosseguir jogando. Depois de mais de 15 minutos de paralisação do jogo, com atletas dos dois times pedindo para que reconsiderasse a decisão, Marcelo se manteve irredutível.

O goleiro deixou o gramado aplaudido de pé por mais de 90 mil pessoas. Após esta partida, encerrou a carreira.

Em depoimento ao canal ESPN, disse Marcelo:

“Eu bati o tiro de meta a bola atravessou, o Célio deu uma cabeçada, o Nelsinho matou no peito, veio andando e chutou de longe. Eu fui abaixar pra pegar, a bola bateu no chão, bateu no meu braço e entrou. Ela nem chegou ao fundo da rede. Entrei no vestiário e quem estava me esperando era o goleiro Barbosa. Ela me disse: ‘garoto, levante a cabeça porque o que aconteceu comigo foi pior do que o aconteceu contigo’”.

À época gerou inúmeras crônicas publicadas por jornais e revistas, uma delas escrita por Dom Marcos Barbosa (monge e cronista que se tornaria imortal da Academia Brasileira de Letras em 1980), intitulada “Uma Rosa do Povo”, onde fazia uma comparação entre o goleiro e o senador americano Bob Kennedy, bastante aplaudido em um encontro nos EUA durante a campanha presidencial. Marcelo emoldurou esta crônica

No ano de 1970, ao se formar em Engenharia, Marcelo convidou Barbosa pessoalmente para prestigiar a entrega do diploma. O encontro acabou gerando inspiração ao imortal, que tempos depois escreveu outra crônica batizada como “Uma Crônica no Quadro”.

Depois do futebol, Marcelo aposentou-se como engenheiro, tendo trabalhado por 25 anos na IBM.

O Fluminense foi o campeão carioca de 1964.

flamengo-vasco-1964-1

flamengo-vasco-1964-2

marcelo-brito-e-paulinho-de-almeida

vasco-1963

marcelo-goleiro-do-vasco-1964

A agonia da Portuguesa de Desportos (da Redação)

caninde-lance

Deu no Estadão, na seção de classificados: o emblemático estádio do Canindé, a casa da Portuguesa de Desportos.

O leilão será realizado no próximo dia 18, às 14h, através da empresa Fidalgo Leilões.

O valor inicial é de R$ 74 milhões, sendo 30% no ato da compra e o restante em até 30 parcelas.

Até o momento, não houve o registro de lances.

Parte do terreno ocupado pelo Canindé (45%) pertence à Prefeitura de São Paulo.

O leilão nasceu do rol de dívidas trabalhistas acumuladas pela Portuguesa ao longo dos anos, muitas delas com ex-jogadores hoje representados pela advogada Gislaine Nunes.

As partes chegaram a fazer um acordo, mas desde a entrada de Ilídio Lico na presidência, no início de 2014, o clube parou de pagar as parcelas da dívida. Assim sendo, a área  do estádio foi oferecida como garantia.

A ação original, de 2002, é de autoria do ex-jogador Tiago de Moraes Barcellos.

HISTÓRIA

O Deutsch Sportive, clube da colônia alemã em São Paulo, possuía um imóvel no bairro do Canindé, onde praticava os mais variados esportes. Mas, com a declaração de guerra do governo brasileiro aos países do Eixo, durante a Segunda Guerra Mundial, começou uma perseguição a clubes das colônias desses países, inclusive a alemã. O Deutsch resolve vender seu imóvel temendo perdê-lo confiscado.

Por sua vez, o São Paulo Futebol Clube, que resolvera o seu problema com estádio para jogos, adotando ao Estádio do Pacaembu, ainda não tinha um local para treinamento. Comprou então o Canindé em 29 de janeiro de 1944, por 740 contos de Réis. Ainda, pelo acordo deveria permitir que os membros do clube vendedor continuassem usando as instalações. O Deutsch Sportive mudou de nome para Guarani, abrasileirando-se e fugindo de perseguições. Mais tarde, seus sócios aderiram ao São Paulo.

Em 1956, a Portuguesa adquiriu o imóvel no bairro do Canindé, do seu proprietário, Wadih Sadi. Este, um sócio do São Paulo Futebol Clube, que comprara o imóvel do próprio clube um ano antes. No local havia apenas uma pequena infra-estrutura, que incluía: um campo para treinos, um pequeno salão, vestiários e outras depeNdências de treinamento. Para que pudessem ser realizadas partidas oficiais no local e atender às exigências da Federação Paulista de Futebol, foram realizadas várias reformas, levantados alambrados e uma arquibancada provisória de madeira. Estas primeiras arquibancadas acabaram conferindo ao estádio o apelido carinhoso de “Ilha da Madeira” — título que, além de ser alusivo à condição da edificação, também se refere à ilha portuguesa.

caninde-1

caninde-2

caninde-3

Mergulhada num caos sem fim desde dezembro de 2013, no conturbadíssimo episódio conhecido como “Flamenguesa”, a querida Portuguesa de Desportos parece sem condições de reagir a uma sucessão de golpes endógenos e exógenos. Não se pode confundir os maus atos de alguns homens com a belíssima e longe história do veterano clube, recheados de nomes imortais do futebol brasileiro, tais como Félix, Djalma Santos, Denner; Julinho Botelho, Enéas de Camargo, o Príncipe Ivair, Basílio, Dicá e muitos outros.