Memórias do Torneio dos Campeões (por Paulo-Roberto Andel)

Olha, eu gosto muito de futebol, muito mesmo. Gosto de jogar e de ver. Ir ao Maracanã é uma coisa muito boa, e está mais fácil porque meus pais agora me deixam vir sozinho, inclusive à noite. Só o passeio já valeria a pena: eu pego o 434 na Figueiredo Magalhães e faço uma viagem pelo Rio. É um percurso muito bonito que serve de roteiro turístico pela zona sul do Rio, o Centro e, logo depois, Praça da Bandeira e São Cristóvão até chegar ao maior estádio do mundo.

Praticamente todo o meu dinheiro eu gasto com futebol. Também não tenho muito, é a mesada que meu pai me dá. E também vou ao cinema. Só que o futebol é sagrado. Para poder ir a mais jogos, eu vou de geral que é bem mais barato, quase o preço da passagem de ônibus. Se estiver com tempo de chuva, aí a geral é certa, porque você aguenta o primeiro tempo e, no intervalo, o pessoal da Suderj abre uma escada que vai até a arquibancada.

Eu sou Fluminense desde que nasci, gosto demais do Fluzão, mas venho ver jogos de outros times. Já assisti Vasco, Botafogo, Flamengo, America e Bangu.

Não sei por que, mas uma coisa que eu gosto muito é de chegar ao Maracanã ainda vazio, bem silencioso. Esse silêncio me faz muito bem, é como se acalmasse tudo. Gosto de ver o campo, bem verdinho, mesmo quando tem alguns defeitos. Ah, e eu gosto também de me deitar na geral vazia e ficar olhando o céu. A cobertura de concreto do Maracanã faz o desenho de um círculo, o céu parece um disco voador, é muito bonito. Claro que o estádio cheio é maravilhoso também, mas eu gosto dele deserto. É um jeito diferente de ver.

Outra coisa ótima da geral: a gente pode jogar bola antes do jogo. Outro dia teve Vasco e Botafogo, então viemos com uns amigos da escola. A gente marcou o golzinho e ficou três para cada lado. Tinha o Luiz Cláudio, que é Flamengo, o Bolaman também. O Chico, vascaíno. Não me lembro se tínhamos um botafoguense na trupe. Nossa bola oficial, a Dente de Leite. Acho que foi num sábado à tarde.

Foi uma ótima ideia fazerem o Torneio dos Campeões. Vários jogos excelentes, tem Maracanã quase todo dia. Logo mais eu vou de novo pra ver Vasco e São Paulo. Sempre alguém me pergunta por que eu vou numa partida que não tem o meu time. É que futebol é bom demais. Só de subir a rampa e passar pelo tunelzinho da arquibancada, já é uma emoção enorme.

O Maracanã é grande, é gigante. Espero poder acompanhar o futebol pelo resto da vida. Toda vez que vou ao jogo, é como se eu continuasse um sonho que nunca termina. Há pouco, o Fluminense quase foi campeão brasileiro, mas deixamos escapar a vaga pro Grêmio de virada. Foi um jogão. Perdemos, paciência. A coisa não está fácil para o Flu, mas espero que em breve a gente tenha um time que possa ser campeão. Eu tenho fé que isso vai acontecer.

A Copa União e a grande ilusão (por Paulo-Roberto Andel)

(Com a colaboração fundamental de Flávio Souza e Edgard Freitas Cardoso)

A gente via os campeonatos brasileiros cheios de times e jogos. Nos anos 1970 houve exagero, com quase 100 clubes. Nos 1980 passou para 40. Todo mundo reclamava do calendário, do excesso de jogos, que só devia ter partidas no final de semana. De toda forma, o esporte era uma paixão popular que dominava nosso país continental, com estádios abarrotados.

Veio a TV. As cotas. Numa grande costura, na virada de 1987 veio a Copa União. Todos os problemas do nosso futebol estavam resolvidos: criou-se uma divisão de elite, cópia do então Campeonato Italiano, para dominar a atenção do país inteiro. O resto já não importava. Ao mesmo tempo, começou timidamente um lote de movimentos para que os estádios tivessem menos gente, compensada por ingressos majorados – luta encampada pelo então diretor de futebol da CBF, Eurico Miranda.

Se a Copa União deu folga no calendário, por outro lado nasceu a interessante Copa do Brasil. No Continente, a Supercopa dos Campeões da Libertadores e a Copa Conmebol. A folga, claro, foi para o espaço.

Pouca gente percebeu que ali poderíamos ter embarcado numa verdadeira canoa furada. Não por causa das novas competições, que fique claro.

Com a elitização do futebol brasileiro, clubes importantes do cenário nacional foram jogados aos tubarões e nunca mais retornaram à órbita original. Podemos falar do Pará, da Bahia, de Pernambuco, cujos principais times passaram ao comportamento de gangorra nas séries, ou mesmo nunca mais voltando à tona. Estados como Mato Grosso do Sul e Amazonas, que tinham cenários locais disputados, naufragaram. E mesmo nos Estados onde prevaleciam os grandes clubes brasileiros, os campeonatos locais foram esvaziados e as equipes de menor investimento despencaram. O resultado foi nefasto, porque afetou diretamente a formação em larga escala de jogadores talentosos – e não é à toa que desde 2002 os fora de série desapareceram do futebol brasileiro.

Mais tarde, outros movimentos como a espanholização provocada pela desigualdade nas cotas de TV afetaram a própria Série A.

Hoje, o calendário continua extremamente apertado. Nada mudou nesse sentido. As competições se amontoam, os clubes abandonam as campanhas para focar em uma única. As dívidas se acumulam. E curiosamente, um dos xodós dos torcedores brasileiros é a Copa Libertadores, que tem um formato de grupos e mata-mata que lembra os antigos certames brasileiros.

Durante a semana, à tarde, em qualquer boteco que tenha um aparelho de televisão, torcedores acompanham atentos os jogos da Champions League, também no mesmo formato dos Brasileiros de outrora.

Pensemos no America, no Bangu, na Portuguesa de Desportos, em Guarani e Ponte Preta, em Operário de Campo Grande e Comercial, no Nacional de Manaus e no Rio Negro. Em Sport, Náutico e principalmente o Santa Cruz. Em Tempo, Paysandu e Tuna Luso. No Paraná Clube e até mesmo no Coritiba. No Juventude. No Vitória.

O sonho da Copa União pode ter gerado muitas fortunas pessoais, mas para a maioria dos jogadores e dos clubes brasileiros, parece ter sido uma grande ilusão.

America, agosto de 2023 (por Paulo-Roberto Andel)

O futebol não é a minha vida, definitivamente (para surpresa de muitos), mas ele é uma parte bastante considerável da minha vida. Talvez a parte mais sonhadora e romântica, ao mesmo tempo que tem todas as mazelas da vida real. À essa altura, o que tento fazer é algo que lembro de uma letra de Renato Russo: viver pequenos momentos divertidos.

Há mais de quarenta anos, quando mal era adolescente, meu sonho era o Maracanã permanente. Lá eu me sentia bem – lá, na praia, em acampamentos e no cinema. Além do Fluzão eu ia ver outros jogos sempre que dava, especialmente do América. Vi quase todo o Torneio dos Campeões e a Taça Rio. Tempos depois, sacaneado pela força da grana covardemente, o America entrou num buraco de onde nunca mais saiu. Primeiro, alijado das competições nacionais e, a seguir, fora da primeira divisão do Rio onde, nos últimos anos, faz uma espécie de gangorra.

Recebi notícias de colegas americanos há pouco. Soube que, ao ser eliminado da fase final da segunda divisão carioca, o America viveu uma situação que beira o inacreditável: torcedores, jogadores e o treinador Alfredo Sampaio promoveram uma briga campal. O fato ocorreu nesta quarta (2/8) em Saquarema, após a derrota para o Sampaio Corrêa por 4 a 3.

Há anos, o America tem verdadeiros tumores dentro de si. Posso falar bem: há dez anos, ofereci meu trabalho para o clube junto com meu sócio, quando fomos ridicularizados por um cidadão que utiliza o codinome de “Professor”. Nosso objetivo era trabalhar com redes sociais e história, criar uma grande rede de apoio ao clube, captar sócios etc. Em pouco mais de uma hora de reunião, o sujeito se propôs a rir das nossas ideias e interromper nossos argumentos, perguntando “Mas que dinheiro você vai trazer para o clube?”. Depois da terceira intervenção grosseira, disse-lhe que fomos lá para oferecer nossa mão de obra e nossas ideias, e que dinheiro se consegue em bancos. Enfim, uma reunião inútil mas que nos serviu de lição e que talvez traduza muito do sofrimento do America: gente que vê o clube e sua história apenas como um banco, mesmo que sob escombros, sugando o que puder até o fim. O final da reunião foi patético: o cidadão pediu meu cartão de visitas e o recomendei a procurar meu nome no Google…

Nestes dez anos, o America já caiu várias vezes, viu sua sede se transformar em ruínas e vive uma agonia de paciente terminal, respirando por aparelhos. Para os garotos dos anos 1980 como eu, é uma derrota pavorosa. A gente tinha nossos times, mas adorava o America, assim como outras agremiações cariocas que vivem à míngua. Para nós, o Diabo era grandão, atrapalhava a gente e especialmente os rivais. Não ganhava mais títulos, mas estava na briga. Quantos de nós, já adultos, estivemos na arquibancada rubra em 2006, pela final da Taça Guanabara contra o Botafogo?

Eu e meu sócio fomos ridicularizados naquele dia da reunião. O “Professor” continua espetado no America. Resta saber que aulas estão sendo dadas no clube. Uma tristeza.

@pauloandel

America e Madureira, Luisinho e Wolney Braune (por Paulo-Roberto Andel)

Acordei com a cara no celular. Ainda meio zonzo, espio e a primeira postagem é da boa página Primos Pobres do Futebol. Opa, tem um vídeo de America e Madureira, vitória por três a zero, disputada no antológico estádio Wolney Braune.

Clico no vídeo e volto mais de quarenta anos no tempo. Dia 30 de agosto de 1981, um sábado à tarde em Vila Isabel ou Andaraí, conforme o gosto do freguês. Até então, o mandante rubro não conquistava um título estadual desde 1960 e não decidia um turno desde a Taça Guanabara de 1975.

Numa partida de maior brilho no segundo tempo, o grande americano foi o artilheiro Luisinho Lemos. Ele fez um golaço em cobrança de falta, que abriu o placar do jogo, chegando a 13 gols no Campeonato Carioca de 1981.

Algumas lembranças admiráveis. Aquela tarde foi gloriosa para os pouco mais de 2.000 americanos presentes. Na preliminar de juniores, o America venceu por impiedosos 5 a 0. No jogo de fundo, além do destaque de Luisinho, a classe do meia Manoel “Português” com excelente qualidade, afora o goleiro Ernâni, o volante Pires (ex-Palmeiras) e o jovem atacante Porto Real.

Será que os torcedores presentes naquele sábado sabiam que o estádio Wolney Braune trazia consigo uma longa história de futebol desde os tempos do Andarahy, depois passando pela Portuguesa, até chegar ao America?

Pelo Carrossel Suburbano, vale lembrar o experiente atacante Jorge Demolidor, com passagens em várias equipes cariocas.

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AMERICA 3 x 0 MADUREIRA
30/08/1981

Local: Wolney Braune (Rio de Janeiro);
Árbitro: Artur Ribeiro Araujo;
Renda: Cr$ 420.800,00;
Público: 2.104;
Gols: Luisinho 36 do 1.º; Lima (contra) 12 e Zé Paulo 42 do 2.°;
Cartão amarelo: Rogério

AMERICA: Ernani, Zé Paulo, Osmar, Heraldo e Alcir; Pires, Nélio e Manuel; João Carlos, Luisinho e Porto Real. Treinador: Marinho Peres

MADUREIRA: Gilson, Ramiro, Ivã, Rogério e Lima; Luis Carlos, Edson (Manfrini) e Tita; Chiquinho, Jorge Demolidor e César. Treinador: Jorge Ferreira

A Taça Rio do America, 40 anos depois (por Paulo-Roberto Andel)

Entre setembro e novembro de 1982, aconteceu a primeira edição do segundo turno do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro com nova nomenclatura, batizado como Taça Rio. Começava uma nova era de charme que duraria vários anos, em contrapartida à consagrada Taça Guanabara, criada em 1965.

O futebol do Rio fervilhava. Os times possuíam muitos jogadores de qualidade, os clássicos eram sinônimo de Maracanã lotado. Apesar da natural disparidade de forças entre as grandes equipes e as de menor investimento, é correto dizer que todos os times da Primeira Divisão do Rio em 1982 tinham valor. Além dos chamados quatro grandes, brigavam America e Bangu, além do Campo Grande (campeão da Série B do Brasileirão naquele ano), o atrevido Bonsucesso e os sempre incômodos Americano e Volta Redonda. Até mesmo a Portuguesa, que fez uma campanha ruim, aprontou contra Fluminense e Flamengo, vencendo os dois clubes respectivamente por 2 a 1 e 3 a 2 – este, num jogo épico na Ilha do Governador.

Já consagrado na temporada pelo título do Torneio dos Campeões, que tem o peso de uma competição nacional, o America conseguiu apenas o sexto lugar na Taça Guanabara. Entretanto, reagiu no returno e marcou seu nome na história da Taça Rio como seu primeiro campeão, apesar de começar a jornada com uma derrota.

A campanha rubra na Taça Rio 1982:

America 1 x 3 Botafogo (Maracanã)
America 4 x 1 Volta Redonda (Wolney Braune)
Americano 0 x 1 America (Godofredo Cruz)
Bonsucesso 0 x 0 America (Moça Bonita)
America 2 x 0 Campo Grande (Wolney Braune)
Vasco 0 x 2 America (Maracanã)
Bangu 2 x 2 America (Maracanã)
Flamengo 0 x 2 America (Maracanã)
Portuguesa 1 x 3 America (Caio Martins)
America 5 x 0 Madureira (Wolney Braune)
Fluminense 2 x 4 America (Maracanã)

A Taça Rio deu ao America a oportunidade de disputar o título estadual de 1982 contra Flamengo (campeão da Taça Guanabara) e Vasco (time com a maior soma de pontos nos dois turnos do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro), num triangular final. Duas derrotas por 1 a 0 alijaram o time do título esperado desde 1960, mas a bela campanha da Taça Rio é uma doce lembrança dos tempos em que o America era protagonista e admirado.

A vitoriosa campanha americana na Taça Rio contou com nomes como os de Gasperin, Chiquinho, Eve­raldo, Zedílson, Aírton, Pires, João Luís, Moreno, Gilberto, Luisinho Tombo, César, Serginho, Gilson, Donato, Jorginho, Adilson, Duílio e Elói, mais os treinadores Dudu e Edu.

O americano de Santo Cristo

Naquele tempo os times só conseguiam dinheiro se jogassem. A arquibancada era a principal fonte de receita financeira. E por isso, em plena Copa do Mundo de 1982, com a Terra inteira olhando para Sócrates, Falcão e companhia, o Maracanã abriu várias vezes para as partidas do Torneio do Campeões de 1982, praticamente uma versão reduzida do Campeonato Brasileiro.

Gostando de futebol e querendo ver outras partidas além das do meu Fluminense, o que me restava? Administrar a mesada e dividir direitinho para poder ver o máximo de jogos na geral, o setor mais popular e barato do Maracanã. Foi o que fiz.

Além do Flu, vi também o Vasco num 0 a 0 com o São Paulo. Jogo ruim para os vascaínos num raro domingo à noite – antigamente só no Sul é que se tinha partidas neste horário -, vaias e um pênalti perdido pelo poderoso artilheiro Roberto Dinamite, cuja cobrança vi atrás do gol, bem de pertinho como a geral permitia. Se era difícil enxergar os lances, por outro lado a gente tinha a sensação de que fazia parte do jogo, de que estava dentro do campo. Quando o gol saía, lá estava a gente na televisão feito os figurantes mais felizes do mundo.

Eu gostava do America. Gostava bastante. Talvez fosse meu segundo time, talvez eu tivesse ficado encantado pelo bandeirão vermelho que abriram num empate com o Flu em 1979. E então veio um jogo contra o Atlético Mineiro, decisão de vaga na competição.

Tinha um garoto que era fanático pelo America. Estava sempre com sua camisa e escudo rubros, bandeira na mão, boné e radinho. Gostava de ficar na geral entre o escanteio invertido à direita da Tribuna de Honra e a primeira trave. Num jogo vazio nos conhecemos e vimos algumas partidas juntos. Eu tinha treze anos, ele já devia ter uns dezesseis por conta do bigodinho que usava. E torcia, torcia, torcia demais. Eu achava bacana que ele torcesse tanto por seu time, que não ganhava títulos há tempos, era bonito aquilo. Com o tempo, entendi que todos querem ser campeões mas torcer não tem a ver com a obrigação de títulos e sim com a paixão.

Oi. Beleza? Legal você estar aqui. Vamos torcer. Sangueeeeeee!

Jogo duro, pouca gente, frio de domingo. Quando as partidas começavam às cinco da tarde, geralmente o segundo tempo tinha cara de noite. Não foi diferente.

Meu amigo com caras e bocas de sofrimento atroz, eu torcendo pelo America, por ele, pelas pessoas que ali estavam. O Flu ia jogar noutro dia, podia esperar. Ali era tudo ou nada para o Diabo da Campos Sales. Zero a zero, zero a zero. Zero a zero.

No último minuto, aconteceu um bate-rebate na área. Alguém furou. A gente estava no lugar de sempre: escanteio invertido à direita da Tribuna. Elói chutou. Francisco Chagas Eloia, não esqueço o nome. Gol. Gol! Gol de Elói no último minuto, America classificado.

Meu amigo me deu um abraço, outro e começou a chorar. Eu nunca tinha visto um garoto chorar de alegria, nem eu mesmo tinha chorado. Chorou muito e gritou muito quando o árbitro logo encerrou o jogo. Foi uma lição para mim: eu me sentia tão triste porque o meu time mal tinha dois anos sem título e, ali, o meu amigo que nunca tinha visto uma volta olímpica mostrava todo o seu amor pelo seu grande clube. Então aprendi que, no futebol, títulos são importantes mas não são eles que determinam o amor de alguém por aquele jogo fascinante que, há dois séculos – e desde muito antes – mexe com a alma da gente pelo mundo inteiro.

Havia pouca gente no Maracanã, mas lembro das pessoas gritando muito na saída, tanto no corredor soturno da geral quanto na rua. Trocamos outro abraço. Ele me agradeceu porque via os jogos sozinho e, segundo sua opinião, quando nos conhecemos, eu tinha trazido sorte para o nosso America. Eu devia ter contado a ele que era Fluminense, mas acabei não falando. Então nos despedimos e ele seguiu para a estação de trem, para depois chegar em Santo Cristo. Estava muito feliz. Qual será seu nome? Não sei dizer.

Virei à direita na Avenida Maracanã e, quando passei pela majestosa Estátua do Bellini, quase não havia gente, exceto um vendedor de cachorro quente e umas três pessoas. Então resolvi fazer um lanche antes de atravessar a rua, pegar o 434 e fazer uma viagem até Copacabana.

O America seguiu em frente e acabou campeão, Campeão dos Campeões. A Seleção, que era o grande assunto daquele Brasil, acabaria eliminada pela Itália. Ainda voltei muitas e muitas vezes à geral, aí praticamente só pelo meu amor tricolor. Um dia, a força da grana e da ganância destruiria o palco dos meus sonhos de garoto.

Tomara que meu amigo americano de Santo Cristo continue vivendo aquele sonho permanente do futebol, o choro, o gol. As coisas estão difíceis para o America mas o sonho não pode morrer. Estão difíceis para o futebol brasileiro na verdade. O Maracanã era o sonho de dois garotos abraçados, que nem precisavam torcer pelo mesmo time para saber o que é que um jogo significava.

Lembro dele indo para a estação de Derby Club. Faz muito tempo.

Nunca mais o vi.

@pauloandel

A Família Lemos (por Paulo-Roberto Andel)

Provavelmente a de maior artilharia na história do futebol, ou uma das, a Família Lemos tem histórias de sobra para contar. Dentre os irmãos, César Maluco foi um monstro no Palmeiras, Caio Cambalhota marcou muitos gols pelo Flamengo e vários outros times, Luisinho Tombo foi o maior artilheiro da história do America. Confira.

Luisinho Lemos (da Redação)

Luiz Alberto Silva Lemos, mais conhecido como Luizinho Lemos ou Luizinho Tombo, é o maior artilheiro da história do America F.C., com 311 gols. É irmão dos também atacantes Caio Cambalhota e César Maluco.

No Brasil, marcou 434 gols, afora os que assinalou jogando no exterior. Marcou época no futebol carioca dos anos 1970 e 1980. Passou por Flamengo, Internacional, Palmeiras, Botafogo e outras equipes.

É o terceiro artilheiro da história do Maracanã, ficando atrás apenas de Roberto Dinamite e Zico.

A FAMÍLIA LEMOS E SEUS ARTILHEIROS

America 6 x 1 Mixto: uma noite rara no Maracanã (por Paulo-Roberto Andel)

Em 22 de novembro de 1979, numa quinta-feira à noite, o America recebia o time do Mixto de Mato Grosso para uma partida pelo Campeonato Brasileiro daquele ano. Embora o tradicional time rubro ainda tivesse uma boa torcida presente à maioria de suas apresentações, esta contou com apenas 1.236 pagantes, num Maracanã deserto.

Depois de um primeiro tempo ruim, o Mecão acabou goleando o adversário (este com um uniforme muito parecido com o do Vasco da Gama) pelo placar de 6 a 1. O grande destaque da partida no segundo tempo foi o ponta-esquerda Silvinho. Era ainda o America de Uchoa, o eterno zagueiro Alex, o volante Merica, o meia Nelson Borges e o centroavante César.

Pela equipe de Mato Grosso, o destaque era o centroavante Bife, o maior artilheiro da história do futebol do Estado, com passagem pelos times do Porto e Belenenses de Portugal, tendo falecido em 2007 aos 57 anos. E também o veloz jogador Gonçalves.

Foi a maior goleada do America na história do Maracanã e também em jogos do time pelo Campeonato Brasileiro. Alijado da disputa nacional em 1987 por conta de sua bárbara exclusão da primeira divisão, não se recuperou até hoje. O Mixto ainda disputaria outros campeonatos brasileiros da primeira divisão até 1985.

Qual a razão do apelido de Bife, que se chamava José Silva Oliveira?

Segundo o historiador Reinaldo Queirós, o apelido do craque deu-se quando ele tinha 12 para 13 anos, já era um bom jogador entre a molecada e sua mãe era vendedora de marmitas para os soldados de um quartel. A entrega era em três viagens numa velha caminhonete de um tio. Bife viajava atrás segurando as marmitas para que a comida não derramasse. Em certo dia, as marmitas estavam muito cheirosas, ele então abriu uma e comeu o bife que ficava em cima do arroz e do feijão. Estava tão bom que comeu 15 bifes. Entrega feita, os soldados, famintos, “sorteados” pela ausência da preciosa mistura, chiaram com o sargento. Na entrega seguinte, o moleque foi detida e confessou. A mãe dele não foi destituída do fornecimento, o garoto continuou fazendo as entregas e nunca mais aprontou, mas ficou com o apelido de Bife.

Alegria em dia de golpe (da Redação)

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Em 31 de março de 1964, o Jornal do Brasil noticiava que as equipes do America e do Bonsucesso estavam em ritmo europeu: o primeiro, às vésperas de embarcar para a então Tchecoslováquia, enquanto o segundo tinha 30 partidas amistosas para jogar em gramados da Europa, Oriente Médio e África.

Vejam a contradição dos números: por cada partida disputada, o Bonsuça levaria 500 dólares. Já o Mecão cogitava contratar o atacante Paulo Leão por 20 milhões de cruzeiros.

 

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As coisas não andavam muito fáceis pelo Brasil e pelo mundo, de modo que o America só viajaria no dia 13 de abril. Madureira e Vitória também marcariam presença no exterior.

 

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A história oficial (por Paulo-Roberto Andel)

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Não, não era para ser nada assim.

Nada disso.

Aí está o velho e querido America numa manhã de sol tímido, debaixo do tom preto e branco da foto, tirada pelo escritor Nelson Borges nesta quinta.

Em 1979, essa fachada significava o clube mais moderno do Brasil, erguido sobre o saudoso campo da rua Campos Sales. De saudade em saudade, o Diabo passou a jogar no Andaraí, Wolney Braune. E lá também a força da grana imperou. O sangue mudou de cidade – e não mais se encontrou, por mais que Edson Passos mereça o apreço.

De certa forma, essa linda fachada abandonada e vandalizada é uma espécie de símbolo desses tempos que vivemos: o Rio de Janeiro largado, indiferente, violento por todos os lados, caixa de percussão de um Brasil perdido, estuprado, alheio à maioria.

O America não é apenas o simpático segundo time dos cariocas que gostam de futebol. Ele é um dos pilares do esporte no Brasil.

Dia desses, num evento, tive a oportinidade de ouvir um breve discurso de um de seus dirigentes, falando das maravilhas contemporâneas produzidas recentemente pelo clube. Algo como tratar os interlocutores como perfeitos idiotas.

O America não é isso. Não é nem poderia ser um time de três rebaixamentos no campeonato carioca em dez anos. Mas aconteceu e aí está.

A triste imagem da fachada da sede de Campos Sales é a história oficial, bem distante da conversa para boi dormir de quem podia impedir isso mas, estranhamente, não o fez.

O America de Belford Duarte, de Pompéia, de Alarcón e também dos gêmeos Zó e Kel, de Moreno, Bráulio, Flecha, País, Ernâni, o incansável Luisinho Lemos, Edu, Romário e um milhão de glórias nos gramados.

Um dia tudo será diferente.

Gostaria de estar vivo para assistir.

Na modestíssima parte que me cabe, a de uma formiguinha diante do mundo, eu tentei ajudar, mas a ganância e a prepotência de terceiros brecaram tudo.

Vida que segue.

@pauloandel

Imagem: Nelson Borges

Escudos e famosos (da Redação)

Otto – Náutico

otto náutico

Joanna Maranhão – Sport

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Zeca Baleiro – Maranhão

zeca baleiro maranhão

Nathália Dill e Érica Mader – Botafogo

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Monarco – America

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Guta Stresser – Coritiba

guta stresser coritiba

Cláudio Venturini – Cruzeiro

claudio venturini cruzeiro

Nasi – São Paulo

nasi são paulo

Chorão – Santos

chorão santos

Emerson Fittipaldi – Corinthians

emerson fittipaldi corinthians

Renato Teixeira – Taubaté

renato teixeira taubaté

Ivete Sangalo – Vitória

ivete sangalo vitoria

O rei do caô do futebol brasileiro: Carlos “Kaiser” (da Redação)

rei do cao carlos kaiser

Carlos Henrique Raposo foi um jogador brasileiro que atuou por diversos clubes brasileiros e do exterior. Ganhou o apelido “Kaiser” devido à semelhança com o alemão Franz Beckenbauer.

Em 2011, o programa “Esporte Espetacular”, da Rede Globo, exibiu uma matéria que contava com detalhes como ele por mais de 20 anos conseguiu ludibriar diversos clubes brasileiros (Botafogo, Flamengo, Bangu, Fluminense, Vasco da Gama, America) e do exterior (Puebla do México, Independiente da Argentina – há controvérsias a respeito -, El Paso dos EUA e Gazélec Ajaccio da França), fazendo parte de seus elencos, mesmo sem praticamente ter disputado partidas oficiais. Entre seus supostos feitos notáveis, Kaiser alegou ter sido campeão Mundial Interclubes pelo Independiente em 1984, fato negado pela diretoria do clube argentino. Por este fato, Carlos ganhou a alcunha de “Forrest Gump” do Futebol Brasileiro. O rei do caô.

Após aposentar-se(?) da carreira profissional no futebol, Carlos tornou-se personal trainer. 

Confira também o incrível programa “Provocações” com Antonio Abujamra entrevistando o atleta 342.

O destino do America (por Paulo-Roberto Andel)

america rebaixado 2016

Rebaixado ontem pela terceira vez à série B do Campeonato Carioca em menos de dez anos, o America infelizmente deixa dúvidas quanto ao seu futuro.

Segundo time de considerável parcela dos torcedores cariocas, com uma bela história, aos poucos, o importante clube foi dando passos rumo ao ostracismo a partir dos anos 1980. Bem verdade que o alijamento à caneta do campeonato brasileiro de 1987 contou muito neste sentido, mas não foi o único fator. As sucessivas diásporas com a mudança dos campos, a falta de verba, as dívidas e o descaso ajudam a explicar o processo.

A decomposição foi avançando, a torcida fanática foi encolhendo de tamenho e um dos orgulhos da cidade foi ficando de lado.

Que o America pode voltar ao cenário local da primeira divisão estadual, é fato.

Resta saber se, um dia, ele poderá retomar sua posição de grande clube do futebol brasileiro e símbolo do Rio de Janeiro.

Num domingo tão deprimente para o país, a terceira queda do simpático Diabo parece infelizmente fazer sentido.

Fica a torcida para que a recuperação aconteça, por mais difícil que seja.

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@pauloandel