São quatro da manhã e acabo de saber que Amaral morreu. Tinha 69 anos.
Ele jogou demais.
Aos quinze anos, já era titular no Guarani. Só não foi campeão brasileiro pelo Bugre porque já tinha sido negociado com o Corinthians.
Salvou o Brasil diante da Espanha na Copa de 1978, num dos lances de mais talento já vistos em todos os Mundiais de Futebol. Tirou a bola em cima da linha de gol. Só quem viu, sabe o que foi. Oscar e Amaral, uma tremenda dupla de zaga.
Na vila perto da minha casa, todo mundo queria ser Amaral. Essa tarefa coube ao Renato, que também era um monstro da bola e a conduzia igualzinho ao ídolo.
Amaral tinha muito talento, muitos recursos técnicos. Saía jogando com toda a calma do mundo, como se aquilo fosse simplório. Era um digno representante de nomes como Domingos da Guia e Zózimo. Gente que tratava a bola como se dissesse “oi, meu bem”.
Depois dele, um nome de tanta elegância na defesa foi Ricardo Gomes. Altair também. Mestres do futebol, da técnica do jogo, do futebol onde a bola é o estandarte.
Amaral jogava de cabeça erguida, olhando para a frente. A bola deslizava nos seus pés, como se o granado fosse uma mesa de snooker. Cada passe era uma degustação refinada.
Que craque!