Numa das esquinas do centro nevrálgico do Rio, no encontro das ruas Carlos Carvalho e Carlos Sampaio, a cinco minutos da Central do Brasil, reside um par de traves.
Passam a semana acorrentadas, de segunda a sábado, até que finalmente são libertadas: nas imediações da Cruz Vermelha é liberada uma área de lazer aos domingos. Um bom e velho futebol de rua, de asfalto, come solto. Crianças, jovens e adultos praticam o esporte que apaixona a bilhões de pessoas mundo afora.
No domingo, o simpático e descascado par de traves é uma das nossas maiores expressões culturais populares.
Durante a semana, poética e involuntariamente ele exerce outro papel.
Percebam a sutileza das imagens num sentido figurado. O futebol aprisionado, acorrentado, dominado pelos interesses econômicos que se sobrepõem aos esportivos. O feudo que comanda e oprime a voz da massa.
Qualquer semelhança com um país da América do Sul é mera coincidência.
Bem perto das traves, dois outros itens completam a divagação: uma caçamba de lixo fétida, não fotografada, e a pichação do muro próximo ao poste carcereiro, que cerca as instalações da Cruz Vermelha Brasileira: “Muro das lamentações”.
Que o domingo ainda possa ser sempre o alívio de semanas de angústia e ilusão.
O futebol acorrentado quer ser livre para sempre.
Mas como?
@pauloandel