Por quem os sinos ainda dobram?
E vocês, velhos amigos, onde moram agora que não mandam sequer um sinal de fumaça?
Alô, alô, marcianos: aqui quem fala é da Terra. Para variar, estamos em guerra, debaixo de violência, desonestidade, hipocrisia, mentira e injustiça.
Nosso futebol já foi uma espécie de entorpecente do bem: o mundo desabava, mas tínhamos o porto seguro nas tardes de domingo do falecido Maracanã.
Brigamos pelo Didi, discutimos por 1971 e também por 1957. Ah, os clássicos! O perfeito contraste entre o mundo das cores especiais contra o branco e preto. As histórias, as memórias, o drama. Do complexo de vira-latas ao triunfo definitivo no México, foram vinte anos de luta até a batalha final.
Mais dez, Nelson fechou a máquina de escrever.
Mais outros dez, Saldanha desligou o microfone.
Ficou um mar de histórias e recordações, tudo escoado para o lado, porque o que vemos aqui e agora sem vocês é a CBF, a opressão global, os escândalos da Fifa, o mundo corporativo do futebol, cheio de pose e arrogância, que não ousa dizer seu nome para não cerrar fileiras atrás das grades.
Os craques foram ficando cada vez menos craques. Paixão ainda existe, sentimento é terra liberta, mas acontece de vez em quando um sentimento de desolação…
Os sinos ainda dobram por vocês.
A pátria amada, cheia de lágrimas, soluça e ora por dias melhores.
Mas afinal, onde é que vocês foram parar?
Precisávamos de vocês por aqui, ensinando aos prepotentes o óbvio ululante até pararam de fazer tantas besteiras e apresentá-las como coisa importante e duradoura, a começar pelas Laranjeiras. Mas vai dar trabalho, porque será preciso visitar muitos outros logradouros de respeito.
O Brazil não entende o Brasil. É claro que mudamos, mas no âmago ainda mora aquele velho sentimento de que somos iguaizinhos aos nossos antepassados.
Um dia vamos todos nos encontrar e rir disso tudo. Mas já que vai demorar um tempo, que tal vocês nos darem umas dicas de como podemos sair deste lamaçal em que nos metemos? Pode ser carta registrada mesmo. Psicografada, pois.
Se o velho Ivan Lessa estiver aí por perto, será um favor mandarem um abraço a ele também, recordando dois de seus melhores escritos:
“Conseqüentemente: aí está, viva e atuante, a crônica do cronista brasileiro.
Pouco importa que o cronista ou a cronista limite-se a relatar seu encontro no bar ou sua ida ao cabeleireiro.
Tanto faz que seja elitista ou literariamente limitador.
E daí que tenha menos profundidade que mergulhadores mais audazes como Milan Kundera e Marion Zimmer Bradley?
A crônica vai registrando, o cronista vai falando sozinho diante de todo mundo.”
“O verdadeiro torcedor, assim como quem não quer nada, quer tudo. O verdadeiro torcedor é pela zebra e o circo pegando fogo fora de campo. O verdadeiro torcedor pouco liga para milionários dando pontapés e estragando gramados.
O negócio do verdadeiro torcedor é ver os outros milionários, os da mídia, quebrando a cara. Momentaneamente, ao menos. O verdadeiro torcedor sabe que os outros torcedores, coitados, logo vão embora e de tudo se esquecer depois de cantarem seus estribilhos, soprarem nisso ou naquilo outro e voltar a esperar outros quatro anos.”
@pauloandel