Fim de jogo ontem, Fluminense 2 x 0 Cruzeiro em Edson Passos, na Baixada Fluminense.
A repórter aborda o goleiro Fábio, do Cruzeiro, que acabava de completar 700 jogos pelo time mineiro justamente na derrota para o Flu.
A pergunta foi um pedido de explicações sobre a péssima atuação de seu time.
Fábio não soube explicar. Falou por dois minutos sem dizer nada de muito coerente.
Nem uma única letra sobre deus (assim mesmo, com letra minúscula).
Quando das vitórias, Fabio é um desses jogadores que dizem que foi tudo para glória de Jesus. “Jesus nos abençoou e ganhamos a partida”. Curiosamente, na hora das derrotas, Jesus é esquecido. Será que o time do Cruzeiro anda pecando? Será que não é “em nome de Jesus” que o time adversário tenha jogado infinitamente melhor que seu time e vencido, sem senões, a partida? Deus só vence?
O que acontece, então, quando dois times “ungidos pela fé” se encontram? Só o que vence glorifica de joelhos? E se empatar?
Aqui, no Panorama, temos representantes de todas as religiões. E da falta delas também. Umbandistas, evangélicos, ateus. Eu sou católico. E digo, com orgulho, que não faço orações pedindo vitórias, gols ou sucesso em uma disputa de pênaltis. Tenho vergonha de pedir pra Deus que uma bola entre quando tem gente passando fome pertinho de onde vejo confortavelmente um jogo de futebol. E mesmo que eu rezasse, do outro lado do campo, teríamos um bando de gente rezando pro outro lado. Isso não significa que eu desmereça quem reze. De forma alguma. Me irrita é ver jogador de futebol ganhar milhares de reais na realidade em que vivemos e só lembrar d’Ele nas horas boas.
Imaginem o pobre Deus, no conforto do seu céu, olimpo ou seja lá como a sua religião chame a Sua casa, num dia de Fla-Flu. Milhões de cidadãos acendendo velas, fazendo despachos, orações, oferendas, pagando dízimo, fazendo promessas.
Aí um dos lados vence e os vencedores louvam a Deus – como se Ele fosse o autor dos gols ou das pixotadas que conduziram os números do placar – e os perdedores… O ignoram!
Fábio, por que você não glorificou a Deus na derrota? Será que, no futebol, só a vitória é de Jesus?
Parece piada, mas não é. Quando só menciona a religião nas vitórias, o goleiro (que é o exemplo da vez, mas poderia ser qualquer jogador, inclusive algum do Fluminense ou de qualquer time do futebol brasileiro) deprecia a própria profissão e o esforço de todos os profissionais que o cercam e que trabalham para que o time ganhe. Deus pode influência nos resultados e mover montanhas, mas sem treino, dedicação, vontade firme e – suponho seja o caso – confiança e obediência ao técnico e líder, a bola não vai entrar e o time não vai ganhar.
Deus ajuda quem cedo madruga. E treina, e se dedica, e luta. O time pode até perder, mas, se for dedicado, o torcedor dará apoio.
Parece que o Fluminense rezou muito neste domingo. Daí graças!
Imagem: globoesporte