Um vai, outro fica (por Mauro Jácome)

16-06-2006, DUITSLAND.  JOHAN CRUIJFF. FOTO BAS CZERWINSKI 16-06-2006, DUITSLAND. JOHAN CRUIJFF.
FOTO BAS CZERWINSKI[/caption]

Johan Cruyff e Rinus Michels, um dentro e outro fora de campo, formaram uma dupla que ajudou a revolucionar o futebol a partir dos anos 70. As ideias e a forma de jogar refletiram no que aconteceu a partir da união dos dois no Ajax, no Barcelona e, principalmente, na Laranja Mecânica da Copa de 1974.

Para muitos, a influência foi positiva, principalmente para os países vizinhos. Até então, percebia-se um forte investimento europeu no futebol-força para concorrer com a técnica latina, com destaque para os sul-americanos. O surgimento do futebol-total de Michels, que era a convergência das diversas características do futebol praticado na Europa, com a técnica de Cruyff, despertou o mundo para algo que parecia impossível: futebol com ciência e técnica, ou seja, preparo físico e tático com qualidade técnica. Hoje, podemos perceber equipes, seleções e jogadores que assimilaram e desfilam esses conceitos.

Disse anteriormente que muitos adquiriram essas influências e cresceram, no entanto, teve quem não compreendeu o que estava presenciando e fez da Copa de 1974 o divisor de águas. A derrota para a Holanda e, posteriormente, para a Polônia, que não tinha a qualidade da Holanda, mas jogava em alta velocidade, levou o Brasil a um entendimento equivocado. Sob a justificativa de que precisávamos de mais competitividade para não sermos engolidos novamente, era necessário desenvolver um jogador mais bem preparado fisicamente, mais educado taticamente e com mais preocupações defensivas. A partir daí, foi dada a largada para a nossa decadência técnica. Em nome de um “futebol consistente” descambamos para menos craques e mais volantes, menos dribles e mais bola aérea, menos toques e mais chutões, menos gols e mais faltas. E os novos paradigmas inundaram as categorias de base. Tudo ficou contaminado.

Ao contrário dos outros centros do futebol, a técnica passou a ser vista por aqui, digo, pelos treinadores, até como sinal de irresponsabilidade. Garrincha não ficaria cinco minutos numa peneira qualquer. Talvez, o auge desse declínio técnico, pelo menos para fins didáticos e midiáticos, tenha sido a Seleção de Lazaroni. Tanto é que, após a Copa de 90, decretou-se o estágio do nosso futebol de Era Dunga. O volante, que não era um craque, mas também não era nenhum cabeça-de-bagre, pagou o pato, afinal, na nossa sociedade maniqueísta, alguém tem que assumir a responsabilidade pelas tragédias.

Desde então, tivemos suspiros, por exemplo, a Seleção de Telê Santana. Os 7×1 representam bem o contraste que o Carrossel Holandês ajudou a criar: de um lado, um time com diversas características do legado que Michels e Cruyff deixaram e, do outro, o exemplo acabado do erro de interpretação desse mesmo legado.

Para onde vamos? Infelizmente, Dunga está mais preocupado em vencer suas quedas de braço com a lógica do que, efetivamente, iniciar uma nova era no futebol brasileiro.

@MauroJacome

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