Futebol e Carnaval (por Paulo-Roberto Andel)

O preconceito contra o futebol é tão estúpido como qualquer outro, especialmente quando comparado/associado com outras manifestações populares, feito o carnaval.

Nos dois casos, são paixão de milhões de pessoas e também alvo de grupos inescrupulosos que deles se aproximam/ocupam para lucrar ilicitamente e se locupletar. Mas é bom que se diga: são os mesmos grupos que, de alguma forma, se assemelham aos que estão envolvidos nas grandes corporações, entidades de classe, partidos políticos etc. Ou seja, por toda parte.

As duas temáticas são riquíssimas, cheias de contradições, tensões e flutuações que merecem não somente debates, mas estudos aprofundados. Por sinal, muita gente séria costuma orbitar pelos dois focos.

Interessante lembrar que futebol e carnaval também são divididos praticamente em castas. A série A do futebol brasileiro tem muito mais privilégios que a C ou D, assim como existe a clara distinção econômica entre os desfiles da Sapucaí e da Intendente Magalhães, por exemplo.

Os que minimizam a importância do futebol e do carnaval não percebem que, para milhões de brasileiros, estas são as únicas diversões possíveis, às vezes numa TV velha ou um radinho. Há muito em jogo. Não é exagero afirmar que, em ambos os casos, talvez aconteça a única possibilidade de cidadania real num país que, hoje, luta para se erguer dos escombros do fascismo.

Ninguém é obrigado a gostar de futebol nem de carnaval, é óbvio, mas desprezar a importância destes movimentos na cidade, no estado e no país é, de alguma forma, exercer a ignorância sobre dois polos fundamentais para se entender o próprio Brasil, pelos aspectos sociais, econômicos, geográficos, políticos e humanos. Ambos estão há mais de cem anos tatuados no cotidiano brasileiro e, muitas vezes, se misturam de maneira maravilhosa.

Há muitos livros sobre os dois assuntos, juntos e separados. Para quem se interessar, os temas são vastos e ainda precisam de mais gente estudando, filmando, gravando, entrevistando, escrevendo. Dois motores que explicam e podem impulsionar muita coisa boa pelo Brasil afora.

@pauloandel

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