A decadência dos campeonatos estaduais no plano esportivo (por Diogo Barreto)

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Que os campeonatos estaduais estão rumo à extinção, já sabemos.

Mas nem sempre foi assim.

Até os anos 1980, os estaduais eram competições valorizadas pelos grandes clubes e seus torcedores. Não eram tratadas com o menosprezo que só aumenta ano após ano.

Os motivos para esta perda de espaço e interesse dos estaduais são muitos, abordados diariamente em inúmeros espaços da imprensa esportiva brasileira. Contudo, há um enfoque pouco abordado, que é o valor desportivo; ou seja, com o passar dos anos, os estaduais foram perdendo o seu valor frente às outras competições que surgiram ao longo dos últimos 25 ou 30 anos. Os defensores das competições locais podem dizer que, nesse período, dentre as disputas que surgiram, quase nenhuma resistiu, enquanto os estaduais continuam aí.

Para que se tenha ideia do que estou falando, vou exemplificar. Em 1987, o Campeonato Carioca foi disputado por 14 clubes entre os meses de fevereiro e julho. Vasco, Flamengo e Bangu, que chegaram à fase final da competição fizeram 31 jogos ao todo. Enquanto isso, o Campeonato Brasileiro (Copa União) foi disputado por 16 clubes no período de setembro a dezembro, e o Flamengo, por ter chegado à final, fez 19 jogos. Quer dizer, naquele ano, o time rubro-negro fez 50 jogos nas duas competições oficiais disputadas.

Em 2015, dentro de um cenário hipotético, já que nenhum clube do Rio de Janeiro esteve na Copa Libertadores do mesmo anos, um clube carioca poderia disputar até 83 jogos, um aumento de 66% em relação a 1987 – e, nesse contexto, o estadual seria a competição menos importante, uma vez que esta agremiação disputaria também a Copa do Brasil, o Campeonato Brasileiro, a Copa Libertadores e o Mundial de Clubes da FIFA.

Nesse contexto, com o calendário dos clubes mais apertado, o Estadual acaba ficando em segundo plano e, por ser a competição menos importante da temporada, os grandes clubes deixam de escalar seus jogadores  para que eles possam render o máximo nos jogos das outras frentes paralelas.

E onde está o valor desportivo nisso tudo?

Atualmente, os estaduais não possuem nenhum valor desportivo para os grandes clubes, pois não dependem do seu resultado para se classificar para outra competição, o que não acontece nas outras competições, que são classificatórias para outras, até chegar ao topo, que é o Mundial de Clubes da FIFA.

Para que os estaduais recuperem uma parte de seu valor, seja para clubes, torcedores e mídia esportiva, eles deveriam ser classificatórios para a Copa do Brasil. Mas, para isso, esta competição precisaria sofrer um enxugamento e ter, no máximo, 46 clubes, todos classificados com base no resultado do campeonato estadual do ano anterior. Cada estado teria um ou dois representantes e a CBF arbitraria o critério para apontar os estados que classificariam uma ou duas equipes para a Copa do Brasil.

É evidente que apenas uma medida isolada não resolve o problema dos estaduais, mas pode ajudar a reerguer essas competições que muito ajudaram na formação do outrora melhor futebol do mundo.

Imagem: Sandro Vox/America

O clássico carioca no Pacaembu (por Paulo-Roberto Andel)

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O Fla-Flu de ontem no Pacaembu não foi nenhum jogão e, de certa forma, revela certo clima insosso na temporada 2016 do nosso futebol. Chegamos ao fim de março e conta-se nos dedos o rol de partidas empolgantes que foram vistas pelos gramados Brasil afora.

No entanto, alguns fatores positivos chamaram atenção.

Primeiro, o interesse do público. Talvez, apenas talvez, se esta partida tivesse sido disputada no Maracanã, talvez não conseguisse atrair 30 mil torcedores ao estádio – uma lástima quando falamos de um clássico, mas a triste realidade local: TV, desinteresse por parte do público, preços caros et cetera. Há quem aponte a televisão como a principal causa do afastamento dos torcedores do estádio e é justo refletir sobre isso, mas não creio que se trate do único motivo. Antes, 100 mil presentes era uma estatística até simplória; hoje, no máximo 95 mil e em Camp Nou. As modernas arenas brasileiras foram encolhidas em seus tamanhos originais, tendo o grosso de seu público – as classes populares – “devidamente” apartado para biroscas e afins. Mas o que não tem remédio, remediado está.

Segundo, o charme inquestionável do Pacaembu. Pensando nas arenas gourmetizadas, assépticas, frias até, o velho estádio tem realmente cara de estádio. Reparem que nem de longe sou contra modernidades; o que quero dizer é que, se precisavam trazer os campos de futebol para o futuro, não precisavam alijar o passado nem os principais focos de atração para uma partida. O Pacaembu tem história, tradição, imponência e ao lado de outras casas como São Januário e o Mundão do Arruda, ainda mantém certa aragem do que foram as nossas melhores épocas no futebol brasileiro.

Jogar em São Paulo passou a ser uma boa oportunidade para Flamengo e Fluminense. Mas não custa lembrar que isso só veio a acontecer porque ambos não se prepararam devidamente para o fechamento dos estádios no Rio de Janeiro, primeiro por ocasião da Copa de 2014 e, agora, com os Jogos Olímpicos. O que pode ser vendido como estratégia foi, na verdade, improvisação. Boa, mas improvisação.

Reitero: o Pacaembu é lindo demais, mas um Fla-Flu merecia público de Morumbi lotado. De toda forma, isso já é outra história.

@pauloandel

Imagem: Ricardo Nogueira/Folhapress