Talvez um dia fosse difícil jogar contra o Paraguai. Mas nunca achei que fosse tanto.
Até o fim dos anos 70, nunca havíamos perdido para eles lá. Porém dos anos 2000 para cá, nunca mais tivemos o sabor da vitória em solo guarani.
Desde 2009, não ganhamos deles onde quer que seja o local de jogo. Também não perdemos. Se você vê alguma vantagem nisso, precisa rever seus conceitos.
A Seleção Brasileira, margeada pelo futebol nativo, está claramente em uma péssima safra. E não é de hoje. Desde o apito final da Copa de 2002, uma era se encerrou. Se você não consegue ver isso, insisto, precisa rever seus conceitos.
De lá para cá, quem vê futebol todos os dias sabe que a desordem total ficou evidente.
Craques em final de carreira se arrastando em campo, recordes pessoais acima dos anseios da nação e muito mais. E o que essa bagunça gerou?
Vamos aos fatos.
Planejamento
O futebol brasileiro e consequentemente a Seleção não se entendem. Não há planos sérios para o futuro e os dirigentes contam com os jargões de sempre como “Ah, na hora H os craques resolvem”.
Craques? Caem eles do céu? Oba! Hoje fui na maternidade lá em Três Corações e tive uma grande notícia: -“Nasceu outro Pelé!”
Não, não nasceu outro Pelé. Edson só foi Pelé porque Gerson foi Gerson, Garrincha foi Garrincha e tantos outros foram… coletivo.
E o que temos para hoje? Vou citar aqui os nomes convocados e mais dois possíveis substitutos. Quero provar que, por mais divergências sadias que tenhamos, vamos acabar no lugar comum. Quer apostar?
Preste bem atenção na convocação para os dois últimos jogos e, em negrito, o complemento de possíveis substitutos:
GOLEIROS
Alisson (Internacional)
Marcelo Grohe (Grêmio)
Diego Alves (Valencia)
Jeferson (Botafogo), Victor (Atlético-MG), Fábio (Cruzeiro), Cassio (Corinthians), Cavalieri( Fluminense)
ZAGUEIROS
David Luiz (PSG)
Miranda (Inter de Milão)
Marquinhos (PSG)
Gil (Shandong Luneng)
Thiago Silva (PSG), Felipe (Corinthians), Alex (Milan), Luisão (Benfica)
LATERAIS
Danilo (Real Madrid)
Daniel Alves (Barcelona)
Filipe Luis (Atlético de Madrid)
Alex Sandro (Juventus)
Marcelo (Real Madrid), Marcos Rocha (Atlético MG)
VOLANTES
Luiz Gustavo (Wolfsburg)
Fernandinho (Manchester City)
Renato Augusto (Beijing Guoan)
Elias (Corinthians), Hernanes (Juventus), Ramires(Jiangsu)
MEIA-ATACANTES
Philippe Coutinho (Liverpool)
Oscar (Chelsea)
Lucas Lima (Santos)
Willian (Chelsea)
Kaká (Orlando City)
Douglas Costa (Bayern de Munique)
Nenê (Vasco), Lucas (PSG), Ganso (São Paulo)
ATACANTES
Neymar (Barcelona)
Hulk (Zenit)
Ricardo Oliveira (Santos)
Jonas (Benfica), Pato (Chelsea), Fred (Fluminense)
E aí? Discorda de algum desses nomes?
Desafio você leitor a tirar um nome mágico da cartola que vá revolucionar as quatro linhas.
Qualquer dos nomes citados, mais uns três ou quatro que possam surgir, refletem e reforçam a unanimidade seguinte : o único craque que temos chama-se Neymar.
Mas esses que estão aí, são tão ruins assim? Não mesmo.
São todos de bons para ótimos jogadores. Quase a totalidade joga nos grandes clubes do mundo e são titulares de suas equipes. Mas o que acontece?
Em suas equipes eles são parte da engrenagem, estruturada de modo a também funcionar sem eles.
Uma vez, antes da copa de 2014, Carlos Alberto Torres cravou: “-Essa seleção terá amadurecido e provavelmente estará pronta para 2018 e 2022”. O Capita não terá errado.
E estar pronta não significa apenas se classificar para a Copa. Para tal feito é necessário mais do que isso.
Se a técnica não nos permite alcançar algo mais, não é no grito e na base da cara feia que iremos separar os homens dos meninos.
Temos que planejar, organizar e vislumbrar algo mais moderno para que possamos extrair o melhor dos que aí estão.
Ao menos temos que tentar. Mas para que isso aconteça, é necessariamente urgente que se reconheça abertamente, a safra é ruim.
As seleções que se destacam hoje no mundo tem um coletivo muito acima da média, com um individual que colocam no bolso qualquer suposto “craque”brasileiro. E esse, definitivamente não é o caso de Uruguai e principalmente do Paraguai.
Voltando ao Paraguai de hoje, talvez se houvesse um Gamarra na zaga, ou um Chilavert no gol e o time vermelho, branco e azul poderia ter tido melhor sorte. Já que não havia, sorte nossa….ou….sorte de Dunga, que deverá sobreviver mais algum tempo sem nada de bom agregar. Tempo e vai se esvaindo pelas mãos ao passo que o “país do futebol” continua a merecer esse tão singela homenagem, mais pelo seu povo aguerrido e sempre com um fio de esperança do que pela prática do esporte Bretão.
E aí? Você precisa rever seus conceitos? Volte no tempo e reveja o futebol de 2002 até os dias de hoje.
Se não precisa rever, é porque já tomou uma boa dose de resiliência, e para o período atual, melhor remédio não há.
Resiliência é a capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças.
Imagem: letrascronicas.blogspot.com.br