A respeito da famosa Bola de Ouro

Colaboração de Leonardo Baptista
batistaleonardo668@gmail.com

Então, aqui estamos em meio à pandemia e muito se discute a respeito da continuação dos campeonatos ao redor de todo o mundo, com a chance real de haver um cancelamento de toda a temporada e logo se começam as especulações sobre as premiações individuais.

Em especial a famosa Bola de Ouro e o prêmio de melhor jogador do mundo eleito pela FIFA, que erroneamente são colocados às vezes como um único prêmio quando não são: apesar de em teoria premiarem a mesma coisa, não são raras as vezes em que os prêmios são dados a pessoas diferentes na mesma temporada.

Logo o brasileiro, como gosta de comentar sobre nosso esporte favorito, já começa a especular: este ano será do Neymar? Este ano Neymar ganha?

Então pergunto: para quê?

Existe uma necessidade de conquistar um troféu que até 1995 era concedido apenas a europeus jogando na Europa, ou seja, mesmo que um europeu arrebentasse pelos campos mundo afora, não estaria elegível para o prêmio por não atuar no seu continente.

Esclarecendo: o prêmio em sua característica fundadora é europeu, para europeus e para a Europa; porém já ao ano de 1995 era fácil entender que o melhor futebol do mundo, apesar de ser praticado lá não era praticado por europeus, e a premiação a contragosto de muitos passou a ser mais ampla para jogadores ao redor de todo o mundo.

Porém, vamos aos fatos: todos os grandes times europeus nas maiores Ligas do mundo têm na sua história jogadores sul-americanos; muitos só são o que são por causa de jogadores que saíram do Novo Mundo e foram palestrar em campo por lá, seja a magia de Ronaldinho Gaúcho, que refez o Barcelona, ou seu maior jogador Lionel Messi, que é argentino. É certo que este foi criado nas bases da equipe europeia, mas ainda assim, é argentino. E quem conhece de futebol vê que essa característica não se desgruda dele em campo tanto quanto a bola em seu mágico pé esquerdo.

O mesmo Barcelona ganhou sua última Champions League tendo como principais jogadores um uruguaio, um argentino e um brasileiro, sua segunda Champions League veio com um gol na final feita por, adivinhem, um brasileiro.

O Real Madrid, que se gaba por ser o maior clube do mundo, tem seu domínio iniciado com ninguém menos que Alfredo Di’Stefano, argentino.

E para não dizer que esta opinião se baseia apenas em passado e que é puro saudosismo, olhem para a década que se encerra, e apontem um time sequer, campeão no dito “melhor futebol do mundo” sem ao menos um sul-americano.

São poucos.

O que quero dizer com esses fatos é que, se hoje o futebol europeu é o maior do mundo, é graças aos sul-americanos que por lá passaram e ainda passam, seja a garra argentina, a força uruguaia ou a magia brasileira. O que acontece é um reflexo de coisas que vão além do futebol e passam longe das quatro linhas, apesar de nelas refletir diretamente, o bom e velho eurocentrismo, um continente mais rico. Pega ao redor do mundo coisas que não têm e dizem ser deles, ou você nunca ouviu um “fulano joga como europeu”, não?

Jogamos como sul-americanos, africanos e afins, afinal o dito melhor futebol do mundo é, na verdade, apenas o mais rico. Claro, com todo o mérito, eles têm suas estruturas sociais muito mais avançadas e menos desiguais que o nosso sofrido continente, mas o motivo disso não é pauta por aqui (talvez pra outro papo).

Existe uma obsessão pela Bola de Ouro porque ela teoricamente nos coloca no mesmo patamar de europeus, mas, gente, somos melhores. São fatos e dados que podem ser vistos e revistos a qualquer momento: o que sofremos por querer nos igualar ou ser bons aos olhos dos europeus não passa de um “colonialismo futebolesco”.

Ah, mas Lionel Messi não é europeu e é o maior vencedor, sim. Mas porque foi criado ali, e apesar de manter suas características argentinas como já dito neste texto, mas afinal, se ele jogasse a mesma barbaridade sem ter sido formado lá dentro teria as seis Bolas de Ouro? Talvez. Pelo nível que o craque apresenta, mas com toda a certeza não seria tão unânime quanto foi por não inspirar (nessa hipótese) tanta empatia dos europeus, (qualquer semelhança disso com acontecimentos na esfera social fora do futebol não é mera coincidência).

Enfim, a Bola de Ouro é um reconhecimento importante mas não deveria ser pilar principal para sustentar nosso orgulho pelo futebol praticado aqui e lá fora por nossos compatriotas. Somos campeões de tudo, sendo protagonistas em todo lugar e isso sim vale de muita coisa.

A Bola de Ouro é um prêmio individual em um jogo de onze contra onze e, no onze contra onze, somos penta.

Vitória da resiliência (por Thiago Constantino)

brasil bola murcha

Talvez um dia fosse difícil jogar contra o Paraguai. Mas nunca achei que fosse tanto.

Até o fim dos anos 70, nunca havíamos perdido para eles lá. Porém dos anos 2000 para cá, nunca mais tivemos o sabor da vitória em solo guarani.

Desde 2009, não ganhamos deles onde quer que seja o local de jogo. Também não perdemos. Se você vê alguma vantagem nisso, precisa rever seus conceitos.

A Seleção Brasileira, margeada pelo futebol nativo, está claramente em uma péssima safra. E não é de hoje. Desde o apito final da Copa de 2002, uma era se encerrou. Se você não consegue ver isso, insisto, precisa rever seus conceitos.

De lá para cá, quem vê futebol todos os dias sabe que a desordem total ficou evidente.

Craques em final de carreira se arrastando em campo, recordes pessoais acima dos anseios da nação e muito mais. E o que essa bagunça gerou?

Vamos aos fatos.

Planejamento

O futebol brasileiro e consequentemente a Seleção não se entendem. Não há planos sérios para o futuro e os dirigentes contam com os jargões de sempre como “Ah, na hora H os craques resolvem”.

Craques? Caem eles do céu? Oba! Hoje fui na maternidade lá em Três Corações e tive uma grande notícia: -“Nasceu outro Pelé!”

Não, não nasceu outro Pelé. Edson só foi Pelé porque Gerson foi Gerson, Garrincha foi Garrincha e tantos outros foram… coletivo.

E o que temos para hoje? Vou citar aqui os nomes convocados e mais dois possíveis substitutos. Quero provar que, por mais divergências sadias que tenhamos, vamos acabar no lugar comum. Quer apostar?

Preste bem atenção na convocação para os dois últimos jogos e, em negrito, o complemento de possíveis substitutos:

GOLEIROS

Alisson (Internacional)
Marcelo Grohe (Grêmio)
Diego Alves (Valencia)

Jeferson (Botafogo), Victor (Atlético-MG), Fábio (Cruzeiro), Cassio (Corinthians), Cavalieri( Fluminense)

ZAGUEIROS

David Luiz (PSG)
Miranda (Inter de Milão)
Marquinhos (PSG)
Gil (Shandong Luneng)

Thiago Silva (PSG), Felipe (Corinthians), Alex (Milan), Luisão (Benfica)

LATERAIS

Danilo (Real Madrid)
Daniel Alves (Barcelona)
Filipe Luis (Atlético de Madrid)
Alex Sandro (Juventus)

Marcelo (Real Madrid), Marcos Rocha (Atlético MG)

VOLANTES

Luiz Gustavo (Wolfsburg)
Fernandinho (Manchester City)
Renato Augusto (Beijing Guoan)

Elias (Corinthians), Hernanes (Juventus), Ramires(Jiangsu)

MEIA-ATACANTES

Philippe Coutinho (Liverpool)
Oscar (Chelsea)
Lucas Lima (Santos)
Willian (Chelsea)
Kaká (Orlando City)
Douglas Costa (Bayern de Munique)

Nenê (Vasco), Lucas (PSG), Ganso (São Paulo)

ATACANTES

Neymar (Barcelona)
Hulk (Zenit)
Ricardo Oliveira (Santos)

Jonas (Benfica), Pato (Chelsea), Fred (Fluminense)

E aí? Discorda de algum desses nomes?

Desafio você leitor a tirar um nome mágico da cartola que vá revolucionar as quatro linhas.

Qualquer dos nomes citados, mais uns três ou quatro que possam surgir, refletem e reforçam a unanimidade seguinte : o único craque que temos chama-se Neymar.

Mas esses que estão aí, são tão ruins assim? Não mesmo.

São todos de bons para ótimos jogadores. Quase a totalidade joga nos grandes clubes do mundo e são titulares de suas equipes. Mas o que acontece?

Em suas equipes eles são parte da engrenagem, estruturada de modo a também funcionar sem eles.

Uma vez, antes da copa de 2014, Carlos Alberto Torres cravou: “-Essa seleção terá amadurecido e provavelmente estará pronta para 2018 e 2022”. O  Capita não terá errado.

E estar pronta não significa apenas se classificar para a Copa. Para tal feito é necessário mais do que isso.

Se a técnica não nos permite alcançar algo mais, não é no grito e na base da cara feia que iremos separar os homens dos meninos.

Temos que planejar, organizar e vislumbrar algo mais moderno para que possamos extrair o melhor dos que aí estão.

Ao menos temos que tentar. Mas para que isso aconteça, é necessariamente urgente que se reconheça abertamente, a safra é ruim.

As seleções que se destacam hoje no mundo tem um coletivo muito acima da média, com um individual que colocam no bolso qualquer suposto “craque”brasileiro. E esse, definitivamente não é o caso de Uruguai e principalmente do Paraguai.

Voltando ao Paraguai de hoje, talvez se houvesse um Gamarra na zaga, ou um Chilavert no gol e o time vermelho, branco e azul poderia ter tido melhor sorte. Já que não havia, sorte nossa….ou….sorte de Dunga, que deverá sobreviver mais algum tempo sem nada de bom agregar. Tempo e vai se esvaindo pelas mãos ao passo que o “país do futebol” continua a merecer esse tão singela homenagem, mais pelo seu povo aguerrido e sempre com um fio de esperança do que pela prática do esporte Bretão.

E aí? Você precisa rever seus conceitos? Volte no tempo e reveja o futebol de 2002 até os dias de hoje.

Se não precisa rever, é porque já tomou uma boa dose de resiliência, e para o período atual, melhor remédio não há.


Resiliência é a capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças.

Imagem: letrascronicas.blogspot.com.br