Rodada dupla… mesmo! (por Paulo-Roberto Andel)

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Nesta quarta-feira, dia 08, a Chapecoense tem um confronto com o Cruzeiro pela Primeira Liga. Até aí, tudo bem; no entanto, o time da Chape também tem um jogo contra seu rival Avaí pelo Campeonato Catarinense. Os dois jogos no mesmo dia.

Inicialmente o confronto contra o Avaí estava marcado para dia 14 deste mês, mas foi adiado. Assim que soube das modificações na tabela, o clube entrou em contato com a Primeira Liga e também com a Federação Catarinense de Futebol para a alteração de uma das datas, sem sucesso nos dois casos.

Está longe de ser a primeira vez que isso acontece no futebol brasileiro.

O mais surreal dos casos aconteceu com o Grêmio em 1994. Segue reprodução do site Cenas Lamentáveis:

“Em 1994, a Federação Gaúcha de Futebol criou um campeonato estadual de pontos corridos, conhecido até hoje como “Gauchão Interminável”. Começou em 5 de março e terminou em 17 de dezembro, com 23 clubes duelando em turno e returno.

A ideia da federação era diminuir o número de clubes na Primeira Divisão Gaúcha. Para isso, o regulamento determinou que nove equipes seriam rebaixadas. As consequências de um campeonato longo foram uma baixa média de público e uma das páginas mais curiosas da história do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense.

Em 11 de dezembro de 1994, uma tórrida tarde de domingo, foram realizadas três partidas no Estádio Olímpico, válidas pelo Gauchão daquele ano. O Grêmio já estava sem chances de título, mas por que precisou jogar três vezes no mesmo dia?

Acontece que esta foi a forma encontrada de “zerar” os jogos do clube no Gauchão, já que o time de Luiz Felipe Scolari estava disputando várias competições: Copa do Brasil, Brasileiro, Supercopa e Conmebol. A temporada do Grêmio teria quase cem partidas em 1994.

Para aguentar os 270 minutos correspondentes das partidas, que iniciariam às 14, 16 e 18 horas, Felipão concentrou 42 jogadores, colocando em campo 34 deles, além de ceder a casamata a Zeca Rodrigues nas duas primeiras partidas, ficando à beira do gramado apenas no confronto final.

A torcida tinha a mesma impressão, tanto que protagonizou um dos menores públicos da história do Olímpico. Havia até promoção de ingressos: cadeiras e social a R$ 3,00. Estudante pagava R$ 1,50. No total, 758 pessoas sentaram no duro concreto do estádio, e apenas 247 eram pagantes. A renda, portanto, seria de irrisórios 690 reais.

Apesar das enormes dificuldades, o aproveitamento do Grêmio foi bom: um empate e duas vitórias. A primeira partida, às 14 horas, com sensação térmica de 48 ºC, foi diante do Aimoré. Juniores e juvenis formaram a equipe tricolor, com uniforme azul celeste. Destaque para o goleiro Murilo, que evitou a derrota ao defender um pênalti aos 34 minutos do segundo tempo.

O calor era tanto que o árbitro interrompeu a partida para hidratação dos atletas. Atualmente, consta até no regulamento de certas competições, mas, em 1994, isso sequer era cogitado, pois os  jogos nunca eram disputados à época em horários de maior incidência de raios solares. A decisão de Willy Tissot arrancou aplausos dos torcedores.

A primeira vitória do Grêmio no dia viria na partida seguinte, disputada às 16 horas. Só que, mesmo com sete titulares, o Grêmio, usando o tradicional uniforme tricolor, só conseguiu vencer o Santa Cruz aos 47 minutos do segundo tempo. O único gol da partida foi marcado pelo atacante Fabinho. Além disso, o zagueiro Agnaldo Liz desperdiçou um pênalti para o Grêmio.

A maratona de futebol no Estádio Olímpico chegaria ao fim com o confronto das 18 horas, diante do Brasil de Pelotas. Émerson, jovem meia, havia entrado no segundo tempo diante do Santa Cruz, e seria titular no jogo final, por isso, precisou ser rápido no vestiário para trocar o uniforme tricolor que estava usando pelo branco.

“Lembro que as palestras pré-jogo foram muito rápidas. O clima também era de descontração, era fim de ano e pouco valiam as partidas. Aquela tarde foi uma experiência única”, recorda Emerson.

O Xavante chegou ao Olímpico às 15 horas, e se deparou com os vestiários todos ocupados. O jeito foi a delegação ir para a providencial sombra do setor das sociais. O tempo livre foi regado a picolés, pagos pelo técnico Ernesto Guedes.

Em campo, sem picolé e com o calor um pouco menos impiedoso, mais uma vitória do Grêmio, pelo placar mínimo. O gol saiu aos 22 minutos do segundo tempo. Jaques, de cabeça, foi o autor do tento. “Foi no improviso. Antes, a gente dava risada, brincava que conseguiria jogar as três partidas, mas não foi fácil. Três jogos, no mesmo estádio, da mesma equipe, no mesmo campeonato. Pelo que eu já vi sobre futebol, não conheço nenhum caso no mundo”, disse o atacante.

Na época em que vitória valia dois pontos, que o Plano Real começava a dura empreitada de remediar a economia nacional, e Felipão ainda era apenas um gaúcho de bigode e pouco conhecido no Brasil, o Grêmio, enfim, conseguiu completar 270 minutos em campo numa mesma tarde. Curiosidade com cara de façanha. Mais uma história que o Olímpico levou consigo, depois que cedeu seus jogos à Arena do Grêmio.

O fato colocou o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense no Guinness Book: foi o primeiro time a disputar três partidas oficiais em um mesmo dia. Jaques, Emerson e Ciro foram os que mais correram pelo tricolor gaúcho: atuaram em duas das três partidas.”

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Em 1993, sem datas para realização da Recopa (duelo entre vencedores da Libertadores e da Supercopa do ano anterior), a Conmebol e a CBF concordaram que o duelo entre São Paulo e Cruzeiro, marcado para o dia 25 de setembro, poderia valer por duas competições.

Assim, o jogo disputado no Morumbi, reuniu o São Paulo campeão da Libertadores e o Cruzeiro campeão da Supercopa. A partida valia pelo Campeonato Brasileiro, mas o resultado foi considerado também como o jogo de ida da Recopa, após acordo entre as entidades. A partida terminou empatada sem gols.

Na volta, quatro dias depois, no Mineirão, o duelo valeu somente pelo curto torneio internacional. Novo placar de 0 a 0 e decisão nos pênaltis. Melhor para o São Paulo, que venceu por 4 a 2. Então no começo de carreira, Ronaldinho ainda não era Ronaldo Fenômeno e perdeu uma das cobranças, defendida por Zetti.

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Ah, e acabou de acontecer com o Gre-Nal outro dia também pela Primeira Liga.

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Imagem: sirli freitas/chape

Madureira: o futebol suburbano para o mundo (da Redação)

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Sob direção e produção de Pedro von Krüger e Felipe Nepomuceno, o documentário “A Incrível Volta ao Mundo do Tricolor Suburbano”

A história da atração é contada no início da década de 1960, época onde os principais torneios de futebol disputados no Brasil eram os estaduais, já que o Campeonato Brasileiro nunca havia sido realizado. As equipes, após o término destas competições, ficavam um período grande sem jogar, que utilizavam com frequência para realizar excursões nacionais e internacionais. Essas viagens eram muito comuns entre os clubes de maior tradição.

Em 1961, o empresário José da Gama, conhecido como um dos primeiros negociadores de jogadores do país, resolveu levar o Madureira Atlético Clube para viajar pelo mundo. Ele planejava, desde o começo, não apenas fazer uma simples excursão, mas sim rodar o planeta inteiro com o Tricolor Suburbano.

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O documentário, feito em sua grande parte de imagens de arquivo, se relaciona intimamente com o tema “Memórias” por relembrar a grande viagem realizada pelo Madura. No momento em que era vivida guerra fria, o Madureira levou o futebol do Brasil até países como Cuba, Rússia e Japão. Todo o material foi buscado com os ex-jogadores e suas famílias.

O futebol acorrentado (por Paulo-Roberto Andel)

Numa das esquinas do centro nevrálgico do Rio, no encontro das ruas Carlos Carvalho e Carlos Sampaio, a cinco minutos da Central do Brasil, reside um par de traves.

Passam a semana acorrentadas, de segunda a sábado, até que finalmente são libertadas: nas imediações da Cruz Vermelha é liberada uma área de lazer aos domingos. Um bom e velho futebol de rua, de asfalto, come solto. Crianças, jovens e adultos praticam o esporte que apaixona a bilhões de pessoas mundo afora.

No domingo, o simpático e descascado par de traves é uma das nossas maiores expressões culturais populares.

Durante a semana, poética e involuntariamente ele exerce outro papel.

Percebam a sutileza das imagens num sentido figurado. O futebol aprisionado, acorrentado, dominado pelos interesses econômicos que se sobrepõem aos esportivos. O feudo que comanda e oprime a voz da massa.

Qualquer semelhança com um país da América do Sul é mera coincidência.

Bem perto das traves, dois outros itens completam a divagação: uma caçamba de lixo fétida, não fotografada, e a pichação do muro próximo ao poste carcereiro, que cerca as instalações da Cruz Vermelha Brasileira: “Muro das lamentações”.

Que o domingo ainda possa ser sempre o alívio de semanas de angústia e ilusão.

O futebol acorrentado quer ser livre para sempre.

Mas como?

@pauloandel

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Diretas já! (da Redação)

Ano de 1984. Dia 22 de abril.

O Brasil em efervescência política por conta da luta por eleições diretas, esperadas há 20 anos.

No Maracanã, Flamengo e Santos.

O velho e inesquecível placar do então maior estádio do mundo, com suas lâmpadas, não se fazia de rogado e entrava na militância em prol da democracia no Brasil.

O placar terminou empatado em 2 a 2.

Três dias depois, a esperança de milhões de brasileiros era enterrada temporariamente, com a rejeição da PEC (proposta de emenda constitucional) Dante de Oliveira pela Câmara dos Deputados, que previa as eleições diretas.

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No vídeo com os gols do jogo, duas curiosidades: a narração de Fernando Vanucci e a enorme propaganda dourada na camisa do Flamengo.

Preliminares do Maracanã (por Paulo-Roberto Andel)

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Quando o Maracanã era o Maracanã, mesmo com a bagunça que era o futebol brasileiro, o encontro semanal da bola acontecia de forma especial – mas não exclusiva – às cinco da tarde no maior estádio do mundo. E invariavelmente duas horas antes, acontecia a preliminar de juvenis, que depois foram transformados em juniores. Bem antes disso tudo, havia o campeonato de aspirantes, com jovens jogadores que ainda não eram aproveitados nos times principais.

Você conhecia os futuros craques do seu time – porque eles continuavam no clube, eram profissionalizados e jogavam algumas temporadas antes de serem negociados. E também engolia a seco as ferinhas dos times adversários. Todo mundo sabia tudo com um ou dois anos de antecedência, e aqueles jogadores iam formar a base dos times cariocas, salvo uma ou outra transação. Quando eram efetivados nos profissionais, poucos jogadores não estavam acostumados ao Maraca lotado – e quem jogou nele, joga em qualquer lugar. Anos depois, a euforia pela consagração de atletas ou a tristeza pelo fracasso de promessas tão aguardadas.

Um belo dia, inventaram que o gramado ficava desgastado demais com partidas preliminares. O homem aperfeiçoou o avião, o computador, criou o telefone móvel, a TV a cabo, as novas armas de guerra e acreditem: a única coisa que não evoluiu foi a grama dos estádios. Ela piorou. Então podia ter preliminar nos anos 1950, 1960, 1970, 1980, 1990 e… não deu mais.

Os jogos dos juniores passaram a ser disputados em horários alternativos, em dias alternativos e, apesar da farta informação que hoje temos por causa da internet, muito pouco noticiados. Resultado: há uma vida no mundo do futebol que pouquíssimos conhecem, porque é disputada nas sombras. No mínimo, gera a desconfiança de que tal arranjo é proposital: quanto menos forem vistos os jogadores da base, mais fácil é negociar direitos federativos sem que os torcedores exerçam poder de pressão.

@pauloandel

Refletindo sobre o Maracanã (por Paulo-Roberto Andel)

Rio de Janeiro (RJ) 15/12/1963. Futebol - RJ. Campeonato Carioca - 1963. II Turno. Foto de Arquivo / Agência O Globo. Negativo: 31818.

Feito para que o Brasil tivesse um berço esplêndido da conquista de 1950, o Maracanã mal nasceu e já carregava consigo o peso do fracasso, tudo porque a politicagem fez crer que o Mundial já estava assegurado. Mas o abalo com o Mundial conquistado pelo valentes uruguaios teria data de validade.

Menos de quinze anos depois, o Brasil já seria bicampeão do mundo, os clássicos abarrotariam o futuro estádio Mário Filho e este seria uma referência mundial do esporte e dos eventos brasileiros. Do Santos, esquadrão maior da Terra, passando pelo Botafogo de Garrincha e muitos, pela Máquina Tricolor, pelo Flamengo dos anos 1980, o Vasco dos 1990, o Maraca enfrentou dramas e, aos poucos, foi sofrendo intervenções que o descaracterizaram, até se tornar o que é hoje: um elefante branco enrustido.

O Mundial de 2014 passou, as Olimpíadas de 2016 também. Há indícios de que ele passe a ser a casa do Flamengo, como se já não tivesse sido desde o começo, embora não exclusiva. O problema é quando se abre mão dos outros protagonistas cariocas, seja pelo desinteresse deles, seja pelos altos custos, seja por outros fatores.

O Vasco tem o belo e mitológico São Januário, que não comporta sua enorme torcida em momentos culminantes. O Botafogo está satisfeito com o Engenhão, embora tenha conseguido seus últimos grandes públicos na década no Maracanã, por ocasião da disputa da Libertadores. O Fluminense anuncia o terreno para a construção de um novo estádio, sem saber o que fará com o centenário estádio das Laranjeiras, mas também dizendo que “não abrirá mão do Mário Filho”. E o Flamengo, depois de trocentos projetos de arena própria, quer o Maracanã, mas não se furta a disputar jogos em outras praças, contando com seus torcedores país afora.

A redução do Mário Filho atendeu ao projeto concebido por João Havelange à frente da FIFA, e que se espalhou pelos continentes. Novos e modernos estádios, menos público, ingressos majorados e o povo que se vire na TV, porque a elite econômica mantém as arquibancadas. Num primeiro momento, era a viabilidade de lucro máximo do mundo corporativo da bola, com êxito na Europa de capitais próximas umas das outras, com enorme malha férrea e metroviária, mas no Brasil e especificamente no Rio não deu certo: quem sempre encheu o Maraca foi o povão dos trens e ônibus. Era uma programação popular, acessível, que se perdeu. Resumindo: tiraram o povo do estádio, causaram a uma geração inteira a indiferença ao Maracanã, raras vezes a população mais abonada comprou a causa dos jogos e agora ele é um bonecão do posto, descaracterizado, artificial, sem carisma. Curioso que apontem isso como a modernidade: provavelmente nenhum executivo da NFL teria essa mesma visão. Há os que falam que o futebol mudou e é um fato, mas não precisava ser para pior.

Sem a volta do povo que realmente ama o futebol e faz dele uma procissão permanente, o Maracanã está condenado ao ocaso e a ser lembrado apenas como algo da antiga – porque o Flamengo, mesmo com toda a sua força, não terá como preenchê-lo sozinho permanentemente, se for o caso. Com tantos campeonatos, transmissões, internet, notícias fake, redes sociais e concorrência diária, o futebol começa a ser desimportante pelo fastio. Há um excesso de jogos, competições, disputas e tudo isso vai minando o aspecto principal: o interesse do público alvo, o torcedor. Se hoje há uma enorme concorrência entre o futebol e outras formas de lazer, promover e popularizar o espetáculo é fundamental.

O Brasil só se tornou pentacampeão do mundo porque a paixão pelo futebol rompeu barreiras e fronteiras, tendo o Maracanã como seu teatro maior. E se a sua utilização e finalidade não forem revistas, atendendo aos critérios de propagação do esporte e integração social, provavelmente todos veremos um tiro no pé da nossa maior paixão. Mesmo desfigurado e trucidado pelos podres poderes, ele tem boas chances de cura. É preciso trazer o povo de volta, de todas as bandeiras e para ontem, antes que seja tarde e o Maracanã perca sua finalidade essencial, se já não for.

As pessoas estão cansadas das novelas da TV, e o futebol está se tornando uma delas.

@pauloandel

Imagem: ffc

Mendonça, uma página eterna do Botafogo (por Paulo-Roberto Andel)

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Ele jogou muito, muito e muito, às vezes ao lado de grandes jogadores e, em outras oportunidades, com futebolistas de qualidade discutível. No entanto, sempre brilhou. Num tempo em que seu time passava uma longa época sem conquistas, em várias oportunidades ele personificou a Estrela Solitária: Milton da Costa Mendonça, o Mendonça.

Filho de Mendonça, zagueiro do Bangu que teve a perna quebrada num lance com Didi, em 1951, para se aposentar, Mendonça chegou ao time principal do Botafogo pelas mãos do supertreinador Telê Santana, que o viu nos juvenis e imediatamente o alçou à equipe de profissionais.

Jogou por oito temporadas com a camisa alvinegra, nos tempos da recessão do clube, então mudado de General Severiano para Marechal Hermes. Um camisa 10 clássico, talentoso, especialista em passes e na bola parada. Assim como Heleno de Freitas, não precisou de conquistas para ser uma página eterna do livro dos dias do Botafogo.

Mendonça teve grandes jornadas no tempo em que o Maracanã facilmente recebia mais de cem mil torcedores. Agora, se perguntarem pelo jogo mais marcante, a resposta é inevitável: quartas de final do Campeonato Brasileiro de 1981, com o Botafogo vencendo o Flamengo (que seria campeão mundial meses depois) por 3 a 1. Seu drible no craque Júnior por ocasião do terceiro gol é uma legenda para todos os que acompanhavam o grande futebol brasileiro naquele tempo.

Nos tempos da lasanha (por Paulo-Roberto Andel)

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Há pouco, tive uma pequena e inevitável melancolia que todos os órfãos sentem, sem importar a idade. Coisa das onze da manhã de domingo. Pensei no meu pai, que está irremediavelmente morto há oito anos, e quando eu era um menino cheio de sonhos e de futuro em 1979, com dez anos de idade.

O meu domingo de torcedor mirim era acordar cedo, ouvir o programa do Valdir Vieira no rádio, esperar dar onze da manhã para que a TV Bandeirantes transmitisse alguma partida do campeonato paulista. No intervalo do jogo, geralmente almoçávamos lasanha, frango assado ou bife. Terminado o jogo, entrava no ar o programa Conversa de Arquibancada, apresentado pelo jornalista Hamílton Bastos, com representantes das torcidas dos clubes cariocas discutindo o futebol.

Fim de programa, descíamos para o ponto de ônibus da rua Figueiredo Magalhães, em Copacabana. Vinha o ônibus 434, branco, com uma faixa cor de vinho e a outra, azulada. Então fazíamos o mais charmoso percurso de transporte coletivo da cidade do Rio de Janeiro: Zona Sul, Lapa, Praça XI, Praça da Bandeira e logo ali já se via o cenário dos sonhos – centenas de pessoas caminhando em direção ao estádio do Maracanã.

Rapidamente comprávamos nossos ingressos – quando tinha algum sobrando, meu pai comprava outros para dar aos meninos pobres que ficavam perto da bilheteria pedindo. Vi vários deles chorarem por isso. Passávamos pela apertadíssima roleta e logo a rampa do Maracanã desfraldava o espetáculo – as camisas das torcidas organizadas, em exposição para venda, presas nas colunas de sustentação.

Três da tarde, muita gente em muitos jogos e a preliminar de juvenis, depois denominada de juniores. Os grandes craques do futuro desfilavam a valer no gramado do Maracanã. Eu olhava tudo: o jogo, o campo, as arquibancadas, as bandeiras, os cantos. Era uma experiência multisensorial. Quando surgia uma imensa nuvem dos céus nos abraçando, quando o nosso time entrava em campo, eu já sabia que um grande jogo estava acionado para decolar. Fiquei tão encantado por aquilo tudo que investi boa parte de minhas mesadas, moedas e congêneres vendo partidas e partidas, do time do meu coração e dos demais.

Nem sempre ganhamos. Perder fazia parte do jogo. Mas era bom demais ver o jogo no estádio naqueles tempos. Vinha gente de todos os lados, as pessoas confraternizavam, eu não via batalhas de ódio. É claro que havia problemas, mas o saldo era altamente positivo. E assim foi por anos e anos, por mais de trinta deles, até o dia em que em nome da modernidade, resolveu-se que o Maracanã seria posto abaixo, mantendo sua fachada. E os gols do Fantástico? E a resenha da TVE?

O tempo passou. Os torcedores foram alijados da grade da TV. As preliminares acabaram para preservar o gramado – leia-se ocultar os craques mais jovens e facilitar transações. O rádio perdeu força. Meu pai disse adeus para sempre. Lasanha em família, nunca mais. Nem o 434, que depois virou laranja e agora é cor de prefeitura – com trajeto encurtado.

Quatro da tarde, mudo os canais de futebol no controle remoto. Há muitas opções, nenhuma delas dotada de plena qualidade. O Maracanã morreu: virou um trambolho sem alma. Hoje está fechado.

Acabou de sair um belo gol do Corinthians contra o Santos, disputado na Vila Belmiro. Nos tempos da lasanha, era Morumbi cheio. Agora tem torcida única, vinte mil torcedores em vez de cinco vezes mais.

Os estádios são lindos, corfortáveis, assépticos, diferenciados. Na televisão, ficaram todos iguais. É difícil distinguir um do outro. Só lhes faltam a alma, o charme, o encanto. O narrador acaba de dizer que o futebol é um espetáculo para a família. Tudo bem, mas não seria melhor que fosse para o torcedor?

O meu time é um arsenal de mentiras e falsas promessas. Ainda o amo, torço muito por ele e espero que vença amanhã.

Onde foi que meu domingo acabou?

Tenho um palpite: quando a ganância corporativa engoliu o futebol.

@pauloandel

Mazolinha e Camilo (por Paulo-Roberto Andel)

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Minhas desculpas aos leitores.

Meu objetivo aqui era saudar o golaço fantástico marcado por Camilo, jogador do Botafogo, na tarde de ontem contra o Grêmio.

Cheguei a fazer um rascunho de texto para tal. Basicamente o seguinte:

Só o golaço redime, só o golaço liberta. Foi assim que um dia o futebol brasileiro chegou a ser o melhor do mundo: com golaços. E grandes passes. E dribles estonteantes.

O golaço marcado por Camilo na partida Botafogo x Grêmio é daqueles que não se esquece. Remete aos melhores momentos do nosso esporte predileto, quando eles pipocavam aos montes em todas as rodadas.

Ontem, depois do gol, as redes sociais repercutiram imediatamente a obra de arte. Gente de todas as torcidas. Um sinal claro de que, rivalidades à parte, o torcedor brasileiro tem verdadeira adoração pelo futebol bem jogado, bonito, elegante.

Camilo prestou um enorme serviço ao seu Botafogo e a todos os que, desde sempre, fazem do domingo o dia de suas procissões sagradas da bola.

E começaria a ajustá-lo, quando meu amigo Rafael me mandou há pouco pelo Whatsapp a notícia da morte precoce de Mazolinha, ídolo alvinegro campeão de 1989 e um dos protagonistas da decisão contra o Flamengo e do gol eterno marcado por Maurício.

Sobre aquela noite inesquecível, meu amigo Fagner Torres, jornalista e blogueiro ESPN, tricolor, disse o seguinte no Facebook: “Por conta da notícia, revi os melhores momentos daquela decisão. Valter Senra dando o apito final. Jogadores se jogando ao chão sem saber o que fazer. Torcida ensandecida. Valdir Espinosa chorando. Emil Pinheiro dizendo ao repórter que podia morrer a partir dali. Eu era muito moleque, mas tenho flashes de ter visto o jogo na TV, acho que na Manchete. E o empurrão do Maurício no Leonardo é a cereja do bolo. Coisas que só o futebol do Rio de Janeiro era capaz de nos proporcionar.”

E repliquei: “Cara, um dia eu farei um conto sobre tudo o que vi naquele dia. Eu estava do lado do estádio a uma hora da partida. Fui embora para economizar grana, achando que a decisão acabasse adiada para domingo. Vi o jogo em casa. Nos minutos finais da partida,eu e meus pais, todos tricolores, choramos. O tempo todo víamos pessoas chorando. No dia seguinte, de manhã, eu fui para a UERJ, ao chegar em Botafogo, no viaduto, vi uma das cenas de futebol mais bonitas de toda a minha vida: centenas de botafoguenses deitados no gramado, no asfalto (também do viaduto), pessoas chorando, gritando, rolando no chão às seis e quinze da manhã. Uma cena que só superei quando vi o gol de barriga na arquibancada. Eu tenho saudade demais daqueles anos, das pessoas e daquele futebol. Eu tenho saudades do Maracanã e de ir com amigos só para secar o Flamengo de zoação. É duro olhar para trás e ver que o melhor já passou. Aquele foi o dia do Botafogo, mas pode ter certeza: o Rio de Janeiro quase todo veio abaixo.”

Zeh Augusto Catalano, também cronista deste PANORAMA, comentou em seguida. O jornalista Expedito Paz, idem. O primeiro, vascaíno. O segundo, santista. Fagner e eu, tricolores. Rafael, que deu a notícia, rubro-negro.

Poderia falar muitas coisas a respeito, mas o simples fato da interação entre tantos torcedores de clubes diferentes mostra o que é a memória de futebol, daquele futebol que estava outro dia aí mesmo, coisa de trinta ou vinte e cinco anos atrás.

Bastou dizer “Mazolinha” e todo mundo já soube de quem se tratava.

Morreu jovem e de forma inesperada. Ficou pobre. Teve uma carreira errante. Mas, naquele dia da grande final entre Botafogo e Flamengo, com o time de General Severiano há 21 anos sem títulos, ele foi um dos protagonistas de um grande dia da história do Rio de Janeiro e do Brasil. Eu tinha 21 anos de idade, estou perto dos 50 e me lembro daquilo como se fosse ontem: Zico, substituído, descendo a escada do túnel do Maracanã, a jogada pela esquerda e um gol que emocionou milhões de torcedores país afora, do Botafogo e de vários times. Um deles está aqui escrevendo.

Naquela noite, eu olhei para o rival como um amigo querido, um fraterno irmão. E essa é a minha dor: onde está aquele amor, aquele humor, aquele Maracanã?

Ao Mazolinha, meu muito obrigado. E também ao Camilo, que fez um gol tão bonito ontem a ponto de me fazer voltar à infância, quando esperávamos a TV para vermos os grandes gols, dos nossos times e dos outros.

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Há coisas que só acontecem ao Botafogo, tais como a estrela solitária que navega pelas glórias na Via Láctea.

Joãozinho, um craque celeste (por Paulo-Roberto Andel)

Joãozinho, do Cruzeiro, disputando lance com jogador do River Plate, durante o último jogo da final da Taça Libertadores da América de Futebol, no Estádio Nacional.

Ele foi um dos maiores jogadores da história do Cruzeiro, e marcou época no futebol brasileiro ao lado de outros craques da ponta esquerda entre a segunda metade dos anos 1970 e a primeira dos 1980 – uma posição que incrivelmente não existe mais – como Zé Sérgio, Zezé, João Paulo, Julio César “Uri Geller”, Ziza e Éder, entre outros.

João Soares de Almeida Filho, o Joãozinho, nascido em Belo Horizonte, 15 de fevereiro de 1954)

Disputou 482 jogos com a camisa celeste entre 1973 e 1982, sendo o oitavo jogador que mais a vestiu na história. Marcou 116 gols e é o décimo primeiro maior artilheiro da história do clube. Foi dele o gol que levou o Cruzeiro ao título da Copa Libertadores da América em 1976.

Colaborou Bruno Steinberg – FTT

O tiro de meta (por Paulo-Roberto Andel)

 

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Fiquei observando a televisão de forma ocasional.

Era um jogo de bola, desses de garotos pelos quais ninguém dá nada ainda e, quando ninguém espera, oferece jogadores para ainda manter viva a chama do nosso futebol, tão combalido nos dias atuais.

Jogo num estádio do interior, transmitido pela rede pública, reprisado numa madrugada, João Gilberto tocando no CD player e a partida correndo enquanto eu também lia jornais.

Interrompi a leitura por instantes, fitei a tela e me deparei com um tiro de meta.

Não era uma jogada qualquer, era um tiro de meta.

No instante, o único ser vivo na tela focada a grande distância era o goleiro, um solitário goleiro com a responsabilidade de reconduzir o jogo carente de torcedores, repórteres e outros participantes – imagem que permaneceu por muitos segundos, dado um bloqueio momentâneo na transmissão.

Eis que a televisão me pareceu como um grande quadro, uma monumental aquarela, com aquele solitário menino estático a observar a bola e pensar em como iria chutá-la, para onde e com que força, tudo cercado pelo silêncio que só a voz de João é capaz de fazer ecoar.

Mais segundos, mais silêncio e a brutal solidão do goleiro na tela, como se ninguém mais estivesse no estádio a apreciar sua intenção, exceto eu.

Quando se pensa em futebol, é certo que muitos imaginam o grande gol, a jogada mirabolante, o passe apurado, o domínio com categoria, o drama do pênalti.

O tiro de meta, meus amigos, é um importante momento marginalizado: é difícil a sua consecução terminar em algum dos lances anteriormente descritos. Entretanto, não sei se pelas substâncias e solidão a mais ou alegria de menos, fiquei a contemplar aquela imagem congelada como um princípio de esperança – era um tiro de meta, amigos.

Naquele tiro, naquela cobrança, era possível identificar até um cotidiano de nossas vidas: depois do tiro de meta, após um interrupção, que o jogo recomeça.

Mais substâncias, tracei em minha confusa memória uma relação com minha própria vida, machucada por revezes que deveriam sair por uma imaginária linha de fundo, representados por uma bola.

A vida, amigos, ávida por si própria, voltaria após breve intervalo a ser vivida tão logo fosse trocada a bola por outra e a devida reposição pelo tiro de meta seria um recobrar de ânimo, um renascer das cinzas, um poente a abafar a tempestade – talvez seja este o significado da expressão popular “bola pra frente”, não advinda de um lançamento primoroso, mas sim do desprezado e esquecido tiro de meta.

Talvez daí seja a razão do futebol ser tão apaixonante e cobiçado por gente de todo o mundo: podemos encontrar relações diretas com nosso viver através da vida e morte do jogo.

A derrota pelo gol sofrido e a alegria pelo tento marcado; a beleza da jogada articulada e a besteira da bola perdida; a pressão que não derrota através do chute que vai pela linha de fundo e o recomeçar pelo especial tiro de meta, somente ele.

É preciso entender a força, o vigor e a esperança que um tiro de meta é capaz de mostrar.

É preciso notar a perspectiva que um tiro de meta pode trazer a um jogo de bola, tão preciso quanto um recomeçar na vida depois de uma derrota circunstancial.

Quando a imagem voltou, o goleiro continuou solitário; desferiu o chute e a bola foi para o meio de campo, com vários jovens a disputá-la numa outra imagem.

O estádio continuava vazio e é possível que eu fosse um dos poucos telespectadores.

Depois do revés, o jogo recomeçou tal qual cada vida faz e fará após um desânimo marcante porém passageiro, efêmero feito uma nova bola num canto de linhas de cal.

(Publicada originalmente em 19/05/2006)

O grande legado olímpico (por Paulo-Roberto Andel)

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Definitivamente, a herança maior que os Jogos do Rio 2016 podem deixar para o Brasil não tratam exatamente de equipamentos, recursos e outros bens de consumo, públicos ou não.

Está em algo que parecia perdido no tempo.

A fidalguia.

Houve quem reclamasse – com razão – das torcidas em esportes que não têm os costumes do nosso football, que transformamos em futebol para o muito bem e o muito mal.

Mas a maioria está em paz, reconhecendo que também há valor numa medalha de bronze. Até mesmo sem o desejado pódio. Em práticas desportivas muitas vezes ignoradas pelos clubes e pelo Estado Brasileiro, como não valorizar um sexto ou oitavo lugar? É estar entre os maiores do planeta.

Há um detalhe que ajuda a perceber tudo: reparem, por exemplo, nas emocionadas comemorações dos atletas brasileiros em diversos momentos, bem diferentes do nosso futebol. Quando finalmente fizemos gols nas Olimpíadas, o alívio veio através de chutes, palavrões e ira. Muita ira.

Para alguns, demonstração de garra e vontade. Para outros, a carência de senso esportivo que ainda vitimiza um povo marcado por bruscas transformações sociais, econômicas e afetivas.

E por falar em afeto, o show de luta contra a homofobia, tão visto nestes dias de disputa, é mais uma lição dos Jogos ao nosso esporte mais querido, falado e divulgado, marcado permanentemente por armários de ferro trancados com correntes, contrariando o óbvio ululante, como diria Nelson Rodrigues.

É claro que ninguém treina anos a fio para perder e que a História é sempre mais destacada pelos vencedores, mas a vida não pode ser apenas o “perdeu, sai” instantâneo que se vê, por exemplo, na quantidade de treinadores demitidos a cada edição do Brasileirão.

Se os Jogos Olímpicos do Rio não foram capazes de transformar a Cidade Maravilhosa numa terra de paz, o que sabíamos ser quase impossível, é inegável que sua presença nos serve como uma verdadeira universidade de respeito a outros valores, ao harmonioso viver entre divergências, à diversidade em todas as instâncias.

Viver o respeito. Entender que o esporte é mais do que um jogo. Que não ser campeão não é vergonha, mas pode ser símbolo de reconhecimento, dependendo do que tenha sido feito – e como.

Eis aí um mar de lições para jogadores, torcedores, profissionais do futebol e seus “abnegados” dirigentes pendurados em vultosos grupos políticos de ocasião.

O espírito olímpico tem muito a ensinar ao país das chuteiras. Basta querer entender.

Olhar as comemorações dos gols da Seleção de Futebol e compará-las com as de Pelé já seria um exercício de franca humildade.

@pauloandel

O quê? Virou casaca? (por Paulo-Roberto Andel)

No Brasil, o ato de “virar casaca”, involuntariamente ou não – até mesmo por causas nobres, homenagem a amigos, ações comunitárias e filantrópicas – é condenado como se estivesse previsto no Código Penal.

Também vale para jogadores muito identificados com um clube e que passam a atual num rival, ou mesmo um clube de outro estado, e enfrentam a antiga casa.

Mas será que é possível realmente identificar os personagens abaixo pelas camisas que vestem/mostram nas imagens, às vezes de forma pontual e única?

Parece claro que não.

1)  Zico

zico camisa do vasco

2) Pedro Bial, supertricolor (homenageando Armando Nogueira)

bial botafogo

3) Pelé no Fluminense

pelé camisa do fluminense

4) O Rei do Futebol no Flamengo

pelé camisa do flamengo

5) O mito botafoguense Garrincha

garrincha camisa do flamengo

6) Tita, criado na Gávea e com passagem por diversos clubes brasileiros

tita

7) Roberto Dinamite, símbolo vascaíno

dinamite portuguesa

8) O cantor Fagner, que já foi Ceará, Fortaleza, Fluminense etc

fagner internacional

9) O cantor botafoguense Agnaldo Timóteo, também um torcedor firme do América

timoteo america mineiro

10) Nunes, intimamente vinculado ao Flamengo

nunes fluminense

11) Biro-Biro, eterno ídolo da Fiel

biro biro portuguesa

12) Casagrande, marca registrada do Corinthians

casagrande flamengo

13) Serginho Chulapa, muito ligado ao Santos e com passagem marcante pelo Sâo Paulo

serginho chulapa corinthians

14) Adílio, o “cobra criada” da Gávea, apelidado pelo locutor Waldyr Amaral

Adílio coritiba

Na grande área: Armando Nogueira 1966 (da Redação)

armando nogueira 1966

Em 08 de agosto de 1966, um dos decanos da crônica esportiva no Brasil publicava uma coluna que ainda serve de reflexão para o nosso futebol.

armando nogueira 08 08 1966

Reprodução do Jornal do Brasil sem finalidade lucrativa.

A Seleção nas Olimpíadas

ROMA, 1960

seleção brasileira 1960 olimpiadas

Elenco:

1 Roberto Branco • 2 Carlos Alberto • 3 China • 4 Chiquinho • 5 Dary • 6 Décio • 7 Edmar • 8 Gérson • 9 Gil • 10 Jonas • 11 Macarrão • 12 Alvaro Jurandis • 13 Maranhão • 14 Nonô • 15 Paulinho Ferreira • 16 Roberto Dias • 17 Rubens • 18 Valdir • 19 Wanderley • Treinador: Vicente Feola

MUNIQUE, 1972

SELEÇÃO BRASILEIRA OLIMPIADAS 1972

Alguns jogadores que fizeram parte do elenco da Seleção Brasileira que disputou os Jogos de 1972: Nielsen, Terezo, Abel Braga, Osmar, Celso, Bolívar, Falcão, Rubens Galaxe, Pedrinho, Washington, Zé Carlos, Manoel, Roberto Dinamite e Dirceu

LOS ANGELES, 1984

SELEÇÃO BRASILEIRA FUTEBOL OLIMPIADAS 1984

seleção brasileira 1984 olimpiadas ELENCO

Raimundo Fagner e o futebol (da Redação)

Em 2012, Raimundo Fagner, um dos grandes artistas da MPB, concedeu entrevista ao site Portal da Copa, recordando duas histórias com o mundo do futebol: amigos, convivências, e lembranças da amizade com jogadores como Zico e o falecido Geraldo.

fagner raimundo futebol

Um povo sem Maracanã (por Paulo-Roberto Andel)

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Mais um domingo de futebol no Brasil.

Sem o estádio que ocupou o lugar do Maracanã.

Ok, por conta das Olimpíadas. Desta vez.

Antes de ter sido assassinado em 2010 para dar vez à uma arena goumetizada, o Maracanã já tinha penado com reformas sucessivas em nome da modernidade. A primeira, benéfica, elevou a altura do piso da geral entre 1984 e 1985. A segunda, por conta do trágico acidente na final do campeonato brasileiro de 1992.

Depois, tome 2000, 2005 e, finalmente em 2010, o falecimento em nome da Copa do Mundo de 2014, cujo final para nós é desnecessário de lembrança.

As outras mexeram com várias estruturas, mas nada se comparou a esta última, que não se limitou a uma obra devastadora, mas também gerou danos sociais que parecem irreversíveis.

O povão que ocupou o velho Mário Filho por 60 anos foi varrido de vez. De acordo com uma “tendência mundial”, o monumental estádio foi destruído, dando vez a um substituto menor, completamente desprovido de alma e carisma, incapaz de tirar seu novo público-alvo dos Village Malls da vida, com os torcedores mais humildes – o grosso histórico do grande público médio presente antes – definitivamente alijados para bares, biroscas perto de casa ou a popular gatonet.

Resultado? Com exceção da Copa do Mundo, a nova arena jamais teve sua lotação esgotada, perdeu o posto de palco dos clássicos abarrotados, tornou-se um elefante branco na prática e agora depende de providências da prefeitura do Rio para sua reinvenção. Ah, mas é uma tendência mundial! Com o nosso país do tamanho de um continente, havia outras alternativas.

Estamos em 2016. Metade do tempo da década atual teve o Maracanã fechado. Crianças já cresceram sem o costume de ir ao estádio – e, talvez por isso também, muitas usam tanto as camisas de Barcelona, Real Madrid, PSG e outras grandes equipes europeias. Adultos perderam o costume de frequentar o futebol no campo. Para muitos torcedores dos grandes clubes cariocas, a referência de futebol passou a ser uma distância: a outra cidade, o outro Estado.

Silenciosamente, vivemos fora dos gramados a mesma crise dentro dele: basta ver quantas vezes nos últimos anos o Rio teve redução dos participantes na primeira divisão do futebol brasileiro.

Segundo especialistas, é uma tendência mundial.

Resta saber então porque os estádios alemães, ingleses, franceses, portugueses e até estadunidenses têm casa cheia enquanto os nossos, salvo raras exceções, estão à míngua.

A se manter o cenário atual, no futuro nenhum estádio nosso precisará de arquibancadas, porque não teremos público presente e todos se esbaldarão em frente à TV ou computador para ver mais um capítulo da eterna novela da bola, sem final feliz.

Hoje é mais um domingo sem Maracanã. Os torcedores do mundo corporativo desdenham da ausência: “Daqui a pouco ele volta”. A realidade parece outra: distância, indiferença e a perda de nossa principal casa do povo carioca, trocada pela força da grana que ergue e destrói coisas belas, incapaz de é para entender o que significa a alma, o espírito do futebol no Rio de Janeiro e no Brasil.

@pauloandel

Brasil 1966, há exatos 50 anos

Em 13 de julho de 1966, o Jornal do Brasil noticiava a preocupação dos húngaros com a possível evolução da Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Inglaterra, depois de estrear na véspera com uma vitória sobre a Bulgária por 2 a 0, com gols de Pelé e Garrincha.

Tudo seria diferente das preocupações húngaras dois dias depois: Hungria 3 x 1 Brasil e o encaminhamento para aquela que, desde então, foi a pior participação do escrete canarinho numa Copa, com a eliminação na primeira fase da competição. Eram claros os reflexos de tudo o que acontecia no país em termos políticos, com claros reflexos em nosso futebol.

Em tempos em que o jornalismo anda rareando, era um verdadeiro luxo a escalação dos correspondentes internacionais do JB na Inglaterra: José Inácio Werneck, João Máximo, Oldemário Touguinhó e grande elenco. Outras palavras.

BRASIL 1966 HUNGRIA

Por quem os sinos ainda dobram? (por Paulo-Roberto Andel)

saldanha e nelson rodrigues na resenha facit

Por quem os sinos ainda dobram?

E vocês, velhos amigos, onde moram agora que não mandam sequer um sinal de fumaça?

Alô, alô, marcianos: aqui quem fala é da Terra. Para variar, estamos em guerra, debaixo de violência, desonestidade, hipocrisia, mentira e injustiça.

Nosso futebol já foi uma espécie de entorpecente do bem: o mundo desabava, mas tínhamos o porto seguro nas tardes de domingo do falecido Maracanã.

Brigamos pelo Didi, discutimos por 1971 e também por 1957. Ah, os clássicos! O perfeito contraste entre o mundo das cores especiais contra o branco e preto. As histórias, as memórias, o drama. Do complexo de vira-latas ao triunfo definitivo no México, foram vinte anos de luta até a batalha final.

Mais dez, Nelson fechou a máquina de escrever.

Mais outros dez, Saldanha desligou o microfone.

Ficou um mar de histórias e recordações, tudo escoado para o lado, porque o que vemos aqui e agora sem vocês é a CBF, a opressão global, os escândalos da Fifa, o mundo corporativo do futebol, cheio de pose e arrogância, que não ousa dizer seu nome para não cerrar fileiras atrás das grades.

Os craques foram ficando cada vez menos craques. Paixão ainda existe, sentimento é terra liberta, mas acontece de vez em quando um sentimento de desolação…

Os sinos ainda dobram por vocês.

A pátria amada, cheia de lágrimas, soluça e ora por dias melhores.

Mas afinal, onde é que vocês foram parar?

Precisávamos de vocês por aqui, ensinando aos prepotentes o óbvio ululante até pararam de fazer tantas besteiras e apresentá-las como coisa importante e duradoura, a começar pelas Laranjeiras. Mas vai dar trabalho, porque será preciso visitar muitos outros logradouros de respeito.

O Brazil não entende o Brasil. É claro que mudamos, mas no âmago ainda mora aquele velho sentimento de que somos iguaizinhos aos nossos antepassados.

Um dia vamos todos nos encontrar e rir disso tudo. Mas já que vai demorar um tempo, que tal vocês nos darem umas dicas de como podemos sair deste lamaçal em que nos metemos? Pode ser carta registrada mesmo. Psicografada, pois.

Se o velho Ivan Lessa estiver aí por perto, será um favor mandarem um abraço a ele também, recordando dois de seus melhores escritos:

“Conseqüentemente: aí está, viva e atuante, a crônica do cronista brasileiro.

Pouco importa que o cronista ou a cronista limite-se a relatar seu encontro no bar ou sua ida ao cabeleireiro.

Tanto faz que seja elitista ou literariamente limitador.

E daí que tenha menos profundidade que mergulhadores mais audazes como Milan Kundera e Marion Zimmer Bradley?

A crônica vai registrando, o cronista vai falando sozinho diante de todo mundo.”

“O verdadeiro torcedor, assim como quem não quer nada, quer tudo. O verdadeiro torcedor é pela zebra e o circo pegando fogo fora de campo. O verdadeiro torcedor pouco liga para milionários dando pontapés e estragando gramados.

O negócio do verdadeiro torcedor é ver os outros milionários, os da mídia, quebrando a cara. Momentaneamente, ao menos. O verdadeiro torcedor sabe que os outros torcedores, coitados, logo vão embora e de tudo se esquecer depois de cantarem seus estribilhos, soprarem nisso ou naquilo outro e voltar a esperar outros quatro anos.”

@pauloandel

 

Saldanha 99 (por Paulo-Roberto Andel)

copa união 1987 2

Vivo estivesse, João Saldanha completaria hoje 99 anos.

É de se imaginar o que faria e diria caso estivesse por aqui.

Mas mesmo sua ausência física não o exime de ser uma referência brasileira permanente. No futebol, no carnaval, na política, no cotidiano.

Acompanhei o trabalho de Saldanha em seus últimos doze anos de vida por vários motivos. Depois, ídolo eternizado, mergulhei em seu passado e me assustei com o fato daquele senhor tão simpático e divertido (do jeito dele) ter sido uma verdadeira enciclopédia para se entender o Brasil de seu tempo, o de antes e o pós. Como ainda pode ser a síntese e a antítese de tanta coisa?

Pensando em João Saldanha você consegue refletir sobre o que chamam de novo jornalismo, esse que aí está com claros propósitos de favorecimentos pessoais em detrimento da transparência da informação.

Ou sobre a hipocrisia de muitos que discutem política, condenando na classe as más práticas que exercem cotidianamente.

Ou sobre um Rio de Janeiro que há muito deixou suas tradições autênticas de lado em troca de certo gigantismo oco.

Sobre doutores das ciências curtas e apagadas que veem em qualquer obrigação de Estado a bandeira do comunismo, também hipocritamente utilizando tal argumento para simplesmente deixar de lado o bem comum em prol do particular.

Saldanha me faz pensar em muita coisa.

Inesperadamente, com o passar do tempo, tornei-me um escritor.

Devo muito disso a ele, que tanto li na tenra juventude. Ainda leio. Também assustei-me, outro dia, ao lê-lo na Biblioteca Nacional: o texto remetia imediatamente à sua fala. Força da natureza.

Vivo estivesse? Saldanha aí está o tempo inteiro. Taí um sujeito que eu queria muito ter visto na arquibancada do meu Fluminense.

@pauloandel

O futebol de Chico Buarque (da Redação)

chico buarque jogando

A ligação de um dos maiores artistas brasileiros com o nosso esporte predileto vem de longe. Chico Buarque sempre enalteceu o futebol em diversas passagens de sua obra.

Torcedor do Fluminense e frequentador do Maracanã, fundou a torcida Jovem Flu ao lado de outros próceres das artes. Até hoje promove grandes campeonatos de pelada em sua casa.

Em 1989, compôs “O futebol”, delicioso resgate dos tempos em que éramos os reis dos gramados, com jogadores inesquecíveis e inigualáveis. Confira.

Para estufar esse filó
Como eu sonhei

Se eu fosse o Rei
Para tirar efeito igual
Ao jogador
Qual
Compositor
Para aplicar uma firula exata
Que pintor
Para emplacar em que pinacoteca, nega
Pintura mais fundamental
Que um chute a gol
Com precisão
De flecha e folha seca

Parafusar algum joão
Na lateral
Não
Quando é fatal
Para avisar a finta enfim
Quando não é
Sim
No contrapé
Para avançar na vaga geometria
O corredor
Na paralela do impossível, minha nega
No sentimento diagonal
Do homem-gol
Rasgando o chão
E costurando a linha

Parábola do homem comum
Roçando o céu
Um
Senhor chapéu
Para delírio das gerais
No coliseu
Mas
Que rei sou eu
Para anular a natural catimba
Do cantor
Paralisando esta canção capenga, nega
Para captar o visual
De um chute a gol
E a emoção
Da idéia quando ginga

(Para Mané para Didi para Mané / Mané para Didi/ para Mané para Didi para
Pagão/ para Pelé e Canhoteiro)

1958, há 58 anos (por Paulo-Roberto Andel)

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Era uma vez um país tímido mas alegre, humilde e pobre, sedento de progresso, com seus menininhos negros e descalços,chutando bolas em campinhos de terra batida ou na rua.

O país que queria ter sido grande em 1950, mas que acabou chorando a ponto de ter vários suicidas no Maracanã e em toda a velha Guanabara. Que teria grandes traumas cotidianos a seguir.

E que também pagava merrecas aos seus jogadores de futebol, mesmo os que defendiam a Seleção Brasileira (com camisas improvisadas).

Há 58 anos, um país desafiava todas as definições e tomava o futebol mundial como protagonista. Daqui saiu desacreditado. Olhando para trás, como seria possível não confiar em Zito, Garrincha, Didi, Nílton Santos, Gilmar? Os tempos explicam.

O que dizer do menino Pelé em lágrimas de adolescente?

Havia um país pronto para dar um salto equivalente de meio século em três ou quatro anos. A Bossa Nova, o Cinema Novo, o grande teatro, o Concretismo, a industrialização, a construção de Brasília. Havia o Brasil pronto para se libertar das amarras, levantar do berço esplêndido e caminhar altivo pelo pátio das grandes nações.

Tudo parecia que ia dar certo. Muita coisa ia ser feita. Era a hora de decolar. No meio do caminho, a ganância dos homens pôs o barco a pique, mas ele ainda não afundou.

Poucas vezes em toda a história os brasileiros foram tão felizes quanto em 29 de junho de 1958.

Choraram, gritaram, tomaram as ruas, trocaram abraços e beijos, tudo por conta da lira do delírio contada nos aparelhos de rádio por todo o país.

Ali, eles finalmente se viram como brasileiros de verdade. Por um dia, senhores do mundo.

Enfim, um Brasil.

@pauloandel

Sobre Alberto Léo (por Paulo-Roberto Andel)

alberto leo fluzão

Decano do jornalismo esportivo do Rio de Janeiro, Alberto Léo saiu de cena nesta quinta-feira fria e triste. Esperou até o último momento pelo seu Fluminense, mas as coisas não deram certo diante do Santos.

Há 16 anos, pertencia ao time da antiga TVE e, posteriormente, EBC – TV Brasil.

Pioneiro dos esportes da Rede Bandeirantes, começou em 1980, onde esteve ao lado de outras feras como Márcio Guedes, Paulo Stein e José Roberto Tedesco. Mais tarde, boa parte dessa equipe foi para a antiga TV Manchete, reforçada simplesmente por João Saldanha.

Na TVE, trabalhou como comentarista do programa Ataque, mesa-redonda exibida no domingo à noite. Depois, foi editor-chefe do programa, que hoje se chama No Mundo da Bola. Há três anos, havia assumido a Gerência de Esportes da EBC no Rio de Janeiro, sendo responsável pela programação esportiva da TV Brasil e da Rádio Nacional.

Não bastasse a carreira admirável de Alberto Léo, era uma pessoa extremamente afável, educada, elegante. Acompanhei-o como torcedor por décadas e nunca vi uma rusga sua com quem quer que fosse. Não apenas um profissional da antiga, qualificado, pausado, mas também um ser humano admirável. Gente que a gente precisa ver mais nas ruas, nos transportes públicos, nas repartições, nas mesas e rodas, no Fluminense também.

Em 2007, tive a oportunidade de entrevistá-lo na TVE para um livro, pronto, inédito, que um dia será publicado. Foram horas muito agradáveis e de simpatia, com muitas histórias legais. Alberto Léo era um tricolor 100% fidalgo na acepção da palavra, desses que andam faltando por aí.

Gostaria de falar muito mais, mas desculpem-me por favor a brevidade.

O tempo vai passado e as pessoas da minha geração vão perdendo as peças dos seus quebra-cabeças da infância. Alberto Léo era uma referência fundamental.

Penso no título “O Fluminense que eu vivi” e a tristeza é inevitável.

Em certas horas, o silêncio fala mais alto do que tudo.

Imagem: PRA

Colaborou Fernando Borges

Até quando? (por Rods e Fabíola Lima)

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Fabíola ama futebol. Um amor herdado de seu pai tricolor, que a levava aos estádios já com apenas cinco anos de idade. Calhou de não seguir o time paterno e, apesar do enorme carinho pelo Fluminense, acompanha e investe sua torcida no Atlético Mineiro. É torcedora no âmago da palavra. Fica nervosa, chora, ri e comemora. Se emociona.

Morou e viajou por diversas cidades. Em cada uma, fez questão de conhecer e vivenciar seus estádios. Maracanã, Mineirão, Independência, Rei Pelé, Castelão, Santiago Bernabéu, Vicente Calderón, Camp Nou e foi até ao Stade de Marrakech acompanhar o seu Galo. Justamente no Mané Garrincha, em Brasília, ela presenciou o pior do futebol. Justamente na cidade onde mora e viveu a maior parte da vida, na cidade que ela escolheu para criar seus filhos.

Sua filha mais velha, já com dezesseis anos, escolheu seguir o avô e torcer pelo Fluminense. O mais novo, com cinco anos, ainda não despertou para o futebol e, apesar de jogar bola na escola, diz que não tem time, que não gosta muito. Os dois cresceram acompanhando a paixão da mãe e Fabíola quis trazê-los um pouco mais para esse universo. Uma chance para isso apareceu quando foi anunciado o confronto entre Flamengo e Palmeiras na cidade.

De ingressos comprados, os três partiram ainda cedo para o Mané Garrincha, para evitar qualquer problema. A fila já estava grande, porém não se encontrava policiais ou funcionários do estádio para dar qualquer informação. Logo surgiram filas entre filas e muitos “fura-filas”. Mas ainda assim, a entrada foi relativamente tranquila, afinal o jogo só começaria em duas horas. Ah sim, finalmente apareceram policiais e funcionários. Era o momento da revista.

A alegria de estar com os filhos dentro do estádio era tudo para Fabíola. Nem o perrengue na entrada ou água, pipoca e batatinhas superfaturadas estragariam aquele momento. A área escolhida foi a mais cara, justamente para evitar possíveis confusões.

O jogo foi bem disputado e o empate em um a um chegava ao intervalo. Foi então que o programa família se tornou pesadelo. Exatamente no lugar onde estavam, começaram a aparecer homens sem camisa e muito vermelhos, machucados. Esse pessoal passou ao lado deles, na arquibancada. Estavam na saída da passagem que levava para o anel onde ficam lanchonete e banheiros. Ponto onde todas as áreas se cruzam. Nenhum segurança, nenhum policial, apenas funcionários e torcedores. De repente, a gritaria.

Ditos representantes da Mancha Verde foram para cima dos flamenguistas em um local cheio de crianças e família comprando água e comida ou indo ao banheiro. Foi um Deus nos acuda com gente pulando para dentro da lanchonete e se escondendo nos banheiros. Lixeiras e extintores de incêndio viraram armas. Entre várias pessoas, Fabíola e seus filhos se tornaram reféns da situação, presos na arquibancada. Pela proximidade da confusão, sequer tinham para onde fugir.

Alheio à confusão, o jogo foi reiniciado enquanto as pessoas gritavam por polícia. Até que tudo o que se ouvia era o barulho das bombas de efeito moral. O spray de pimenta utilizado rapidamente chegou às arquibancadas e, pouco depois, também ao campo. Fabíola cobriu os rostos dos filhos com uma blusa de frio e tentou se proteger com a própria camisa. Em volta, cada um tentava se proteger de alguma forma. Ainda assim, todos sofreram. Tosse, olhos lacrimejando, dificuldade em respirar e dor de cabeça.

Sem ter o que fazer, Fabíola abraçou seus filhos e deu sua proteção de mãe até que tudo se acalmasse. Pela primeira vez sentiu medo em um estádio de futebol.

Quando finalmente, acabou o corre-corre e a polícia liberou a área da lanchonete, Fabíola decidiu levar seus filhos embora. Medo da situação se repetir, medo que um gol reacendesse a briga. Medo.

Deixando o Mané Garrincha, Fabíola se sentiu atravessando uma zona de guerra. Gol do Palmeiras? Colocou o menino de cinco anos no ombro e apertou o passo antes que outra confusão acontecesse. O sentimento ruim superou o medo. Agora ela sentia terror.

Já dentro do carro, voltando para casa, uma dose extra de tristeza. Seu filho pequeno, justamente quem ela tanto queria que tomasse gosto por futebol, pediu que ela nunca mais o levasse a um estádio. Pediu que nunca o fizesse assistir a um jogo de futebol.

Fabíola sabe que pode contornar essa situação. Não pode deixar o filho acreditar que o futebol se resume a selvageria. Quer passar a ele todo o sentimento que recebeu do pai pelo esporte. Mas ela tem consciência de que será uma luta difícil.

Ela ainda quer acreditar. O país do futebol não pode ser o país da impunidade. O Brasil sediou uma Copa e, em menos de dois meses, o Mané Garrincha receberá jogos pelas Olimpíadas, receberá a Seleção Brasileira. Vai ser assim também? Com ingressos para três jogos, ainda não sabe se correrá o risco de voltar lá.

Bandidos fantasiados de torcedores e polícia com total despreparo colocam em risco o futebol brasileiro. É assim há anos e é difícil de enxergar o fim disso. Só em Brasília, Capital Federal, é o terceiro caso recente.

O problema são as organizadas? O problema é a falta de preparo da polícia? É a falta de condições para o evento? A cada acontecimento como o do Mané Garrincha, além dos danos (pessoas e estruturas), o futebol morre um pouco.

Pensem como foi dolorido para a Fabíola passar por essa situação com seus filhos. Pensem como foi ouvir do seu mais novo que não o faça ver futebol novamente.

Fabíola ama o futebol. Até quando?

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O futebol derrotado (da Redação)

Neste domingo, o Palmeiras venceu o Flamengo por 2 a 1 no Estádio Nacional de Brasília, pelo Brasileirão 2016.

Mas a grande derrota aconteceu fora do gramado: por conta de uma confusão envolvendo torcedores do Palmeiras, a polícia local utilizou gás de pimenta e este se espalhou.

Numa das cenas mais lamentáveis, um pai teve que carregar rapidamente no colo seu filho cadeirante, também intoxicado.

A partida demorou mais de dez minutos além do intervalo normal entre os tempos, com muitas pessoas passando mal, inclusive jogadores.

Independentemente do que deveria ser feito ou não, o fato é que a cada dia que passa é mais dificil frequentar um estádio de futebol no Brasil, o que parece agradar quem vê na transmissão dos jogos um mero exercício de lucro.

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Sobre os boias-frias do futebol e os geraldinos do Maracanã (da Redação)

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Nesta sexta-feira (03/06), a prorrogação do CINEFOOT 2016 traz dois filmes importantes no sentido de se debater a estrutura do futebol brasileiro dentro e forma de campo: “Os boias-frias do futebol”, de Luciano Pérez Fernández, e “Geraldinos”, de Pedro Asbeg e Renato Martins.

A exibição será no Centro Cultural da Justiça Federal, com entrada franca, sujeita à lotação da sala, às 19 horas.

Avenida Rio Branco, 241 – Centro – Rio de Janeiro – em frente ao Amarelinho da Cinelândia.
OS BOIAS-FRIAS DO FUTEBOL

Atrasos de salários; jogadores que não recebem, outros que pagam para jogar; promessas não cumpridas; jornadas duplas ou triplas para complementar a renda familiar; falta de estrutura; contratos curtos de trabalho; ausência de calendário anual. Essas são algumas das dificuldades e obstáculos da dura realidade do mercado de trabalho dos atletas da base da pirâmide do futebol brasileiro. “Os boias-frias do futebol” revela os sonhos e as incertezas de dois jogadores da Série C do Campeonato estadual do Rio, a divisão mais operária do futebol fluminense.

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GERALDINOS

Conta a história da Geral do Maracanã, carinhosamente conhecida como “o espaço mais democrático do futebol carioca”, que foi extinta em 2005. O nome do filme é baseado no termo Geraldinos, criado pelo radialista Washington Rodrigues para referir-se aos torcedores que assistiam aos jogos na Geral do Maracanã.

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Sobre a cultura da desonestidade (por Mauro Jácome)

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No último dia 25 de maio, a televisão mostrou a artimanha do técnico do Palmeiras, Cuca, para se comunicar com seu irmão – e assistente – à beira do campo. Cuca estava suspenso e não podia ficar no banco de reservas. Então, foi criado um sistema de comunicação entre o técnico, que estava numa cabine, e Cuquinha que comandava o time. Óbvio, sabiam que isso não era permitido. Óbvio, imaginaram que ninguém perceberia. Óbvio, tentaram tirar partido da situação. Depois de ser denunciado pelo STJD, soltou: “vai ver a gente ganhou o jogo por causa dessa m… que nem funciona”.

É lamentável essa mentalidade. O problema não é o ponto eletrônico ser o responsável pela vitória do Palmeiras. O resultado não está no centro da questão. O que está é o fazer o errado. Tivesse ganhado de dez ou perdido de vinte, o erro seria o mesmo. Qual a necessidade de tentar ludibriar todos os envolvidos no espetáculo? Engraçado que esse mesmo Cuca, recentemente, negou-se a continuar negociando com o Fluminense porque o clube mantinha contatos também com Levir Culpi.

A cada partida de futebol, temos inúmeros exemplos dessa mentalidade, quando os jogadores tentam enganar o árbitro ao se jogar, ao tocar a bola para fora e sinalizar que não o fez, ao fazer caras, bocas e gestos em infrações que todo mundo viu, inclusive o autor. O “roubado é mais gostoso” do goleiro Felipe foi mais um dos milhares de capítulos do livro que narra o perfil do caráter de significativa parcela do mundo do futebol. Eurico Miranda, Rubens Lopes, Ricardo Teixeira, Marco Polo Del Nero, entre muitos outros, reforçam a ideia das atitudes tortas.

Recentemente, foi a vez de Dunga ter sua dignidade questionada por ninguém menos do que Zinedine Zidane. O técnico da Seleção justificou a não convocação do lateral esquerdo do Real Madrid, Marcelo, numa contusão. No entanto, de imediato, o francês rebateu a afirmação chamando Dunga de mentiroso. Aliás, birra é típico do ex-capitão do time campeão da Copa de 94. Movido por sentimentos revanchistas, afasta da amarelinha qualquer um que ouse comentar algo. Rever ações que prejudicam o futebol brasileiro não entra na pauta desse pessoal.

O interessante é que esses atores – jogadores, técnicos, dirigentes – quando se sentem prejudicados, reclamam por justiça, questionam o caráter alheio, alguns enchem os olhos de lágrimas. É a visão de que somente os outros têm que ser honestos. Os problemas estão sempre nos outros. Pior que tudo isso faz escola, basta ver jogos entre os “subs”.

Seguindo a louvável linha da campanha iniciada após o assustador caso de estupro contra a menina no Rio de Janeiro, devemos clamar também, e sem a hipocrisia reinante no futebol, “pelo fim da cultura da desonestidade!”.

@MauroJacome

Imagem: ecodebate

Os subterrâneos do futebol (da Redação)

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Um documentário de 1965 que procura captar a vida do jogador de futebol, desde menino nos campos de pelada, até o fim da sua carreira, sempre efêmera.

Até então o cinema brasileiro ainda não tinha passado a visão real e cruel da trajetória do jogador. “Subterrâneos do futebol” pretende contrapor a ilusão da fama à incompatível condição para sobreviver depois dela, muitas vezes no ostracismo e até na decadência.

A direção é de Maurice Capovilla, com fotografia de Thomaz Farkas e Armando Barreto, mais a produção de Vladimir Herzog. Um timaço!

A história oficial (por Paulo-Roberto Andel)

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Não, não era para ser nada assim.

Nada disso.

Aí está o velho e querido America numa manhã de sol tímido, debaixo do tom preto e branco da foto, tirada pelo escritor Nelson Borges nesta quinta.

Em 1979, essa fachada significava o clube mais moderno do Brasil, erguido sobre o saudoso campo da rua Campos Sales. De saudade em saudade, o Diabo passou a jogar no Andaraí, Wolney Braune. E lá também a força da grana imperou. O sangue mudou de cidade – e não mais se encontrou, por mais que Edson Passos mereça o apreço.

De certa forma, essa linda fachada abandonada e vandalizada é uma espécie de símbolo desses tempos que vivemos: o Rio de Janeiro largado, indiferente, violento por todos os lados, caixa de percussão de um Brasil perdido, estuprado, alheio à maioria.

O America não é apenas o simpático segundo time dos cariocas que gostam de futebol. Ele é um dos pilares do esporte no Brasil.

Dia desses, num evento, tive a oportinidade de ouvir um breve discurso de um de seus dirigentes, falando das maravilhas contemporâneas produzidas recentemente pelo clube. Algo como tratar os interlocutores como perfeitos idiotas.

O America não é isso. Não é nem poderia ser um time de três rebaixamentos no campeonato carioca em dez anos. Mas aconteceu e aí está.

A triste imagem da fachada da sede de Campos Sales é a história oficial, bem distante da conversa para boi dormir de quem podia impedir isso mas, estranhamente, não o fez.

O America de Belford Duarte, de Pompéia, de Alarcón e também dos gêmeos Zó e Kel, de Moreno, Bráulio, Flecha, País, Ernâni, o incansável Luisinho Lemos, Edu, Romário e um milhão de glórias nos gramados.

Um dia tudo será diferente.

Gostaria de estar vivo para assistir.

Na modestíssima parte que me cabe, a de uma formiguinha diante do mundo, eu tentei ajudar, mas a ganância e a prepotência de terceiros brecaram tudo.

Vida que segue.

@pauloandel

Imagem: Nelson Borges

Corrupção no futebol (da Redação)

Em 12 de outubro de 1979, a revista Placar batia de frente com a corrupção no futebol, misturada à política nacional e outras mazelas que, pelo visto, não sofreram maiores modificações nas últimas décadas.

É interessante notar boa dose de perenidade nas canetas certeiras de Juca Kfouri e João Saldanha, tudo dosado com finas ironia e humor.

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Nacional do Uruguai: dançar esse tango nunca foi fácil (por Thiago Constantino)

Um pouco de história, música e muito futebol

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Hola, estoy aqui “de boa”, solamente mirando mi decano querido y esperando por Boca Juniors

Semana passada, o PANORAMA DO FUTEBOL estava passeando pela bela capital uruguaia, justamente no dia anterior ao jogo de ida de Nacional x Corinthians. E como não poderia ser diferente: passeio é trabalho também.

Fomos à busca do Gran Parque Central, estádio uruguaio, para fazer algumas fotos e conhecer mais de perto o Club Nacional de Football. Já que o GPS do “coche” não ajudou muito, quase desistimos pela segunda vez de visitar esse mito do futebol ao passarmos direto pela entrada do Clube, quase sem perceber. Mas, fizemos o possível e sem pestanejar, viramos a primeira a direita com o objetivo de retornar. Ahh GPS infernal! A tentativa de retorno se mostrou quase frustrada, não fôssemos parar em uma rua sem saída, onde havia pequenos cones nas cores do clube, símbolos do clube pintados nos muros junto aos grafites e uma pequena pista de skate onde moleques chutavam uma pelota, mostrando que ali, no subúrbio da capital, no bairro La Blanqueada, o futebol ainda respira. E nessa respiração, sentimos o cheiro do gol mais perto.

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Buscando estacionar para visitar o clube, vislumbramos o acanhado estádio que se situa na rua logo atrás. Pronto! Missão dada, missão cumprida! E todo bom viajante, tem que contar com a sorte. As equipes de TV brasileiras estavam no estádio fazendo a cobertura do Corinthians na Libertadores e, com isso, os seguranças permitiram que fizéssemos algumas fotos no interior.

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Logo na entrada, uma demonstração da responsabilidade que é defender um clube de massa. Os torcedores deixam suas mensagens de força, apoio e também cobrança, em um painel. E curiosamente o termo em espanhol para designar os torcedores se chama “hinchas”. Este termo tem origem em um torcedor do Nacional que inflava seus pulmões para encher balões de gás em todos os jogos.

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No hall dos elevadores, a imagem do General Artigas e o motivo das cores do clube.  Naquelas redondezas, em 1811, Artigas foi nomeado o chefe dos orientais que conduziriam a independência uruguaia. O local era o rancho de Juana de Suarez, conhecida como “La Paraguaya”, daí as cores do clube, que também guarda semelhança com as cores das bandeiras dos 33 orientais.

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A origem do nome “Quinta de la Paraguaya”

Hora de acessar as arquibancadas! Bom, para quem conhece La Bombonera, no Caminito, podemos dizer que a impressão é a mesma. Ao adentrar as arquibancadas, a sensação de caldeirão que temos pela TV nos foi confirmada. Um estádio marcado na história, que foi reconhecido pela FIFA como o local da primeira partida de Copas do Mundo, em 1930.

E para nossa grande surpresa, adivinhe quem permanece desde 2013, sentado, observando seu “clube de coração”, conforme reza a lenda? Carlos Gardel, o “Zorzal Criollo”, ele mesmo. Derivado da grande disputa por sua nacionalidade, Gardel também gera disputa pelo seu time de coração. E nessa disputa, a estátua-homenagem feita pelo Nacional, até o momento, mostrou-se mais ousada.

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Matéria do “Marca” sobre a inauguração da estátua de Gardel

Matéria da Agência EFE: Gardel torcia pelo Nacional ou pelo Peñarol?

Orgulhando-se de ser o primeiro clube criollo da América Latina, o grande Nacional, ostenta também o tri da Libertadores da América e inúmeros títulos uruguaios, que lhe dão a alcunha de Rey de Copas. Mas o maior “título” para eles vem de mais uma polêmica e conturbada controvérsia com seus adversários. Quem é o Decano do futebol uruguaio? Para La Banda del Parque, não há dúvidas. Club Nacional de Football, fundado em 14 de maio de 1899.

Dentre os jogadores de grande destaque por lá, lembramos Recoba, Dario Pereira, Hugo de Leon, Lugano, Loco Abreu, Ruben Sosa, Rodolfo Rodriguez, e o, super-reconhecido por lá, goleiro Manga.

Seu maior ídolo foi Atilio Garcia, com cerca de 460 gols. No entanto, Abdon Porte ficou marcado na história por dar literalmente sua vida pelo time.

Por fim, fizemos um interessante registro de como a vizinhança está colada com o muro do estádio. Nele mora a certeza de que ao nascer, o pequeno uruguaio, já nasce com a pelota nos pés.

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Essa coluna vai ao ar nesta sexta-feira (06/05), após o jogo de volta pelas oitavas de final da Libertadores, propositadamente para que possamos refletir que o amor pelo futebol está além das quatro linhas. E para que os clubes brasileiros aprendam que é impossível ganhar fácil de um time de expressão uruguaio, seja onde for o jogo. Não sabemos onde o Nacional poderá chegar nessa Libertadores. Mas na noite passada, a tradição e a mística da camisa foram muito bem contadas e o tango uruguaio foi dançado ao som de Gardel.

Wikipedia: Carlos Gardel

O adeus de Orlando Abrunhosa (da Redação)

Um dos grandes fotógrafos do Brasil faleceu hoje: Orlando Abrunhosa.

Sobre ele, as imagens falam mais do que tudo.

ZICO NOVINHO

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Orlando Abrunhosa em entrevista a Mauro Ventura em O Globo: CLIQUE AQUI.

O documentário “Três no Tri”

Copa do México, 1970: Pelé faz o gol da virada contra a Tchecoslováquia, dando início à arrancada da seleção brasileira rumo ao tricampeonato. Orlando Abrunhosa imortalizou o feito na fotografia brasileira mais reproduzida mundo afora, mas esta não é a sua única façanha.

Direção e roteiro: Eduardo Souza Lima
Produção: Ailton Franco Jr.
Produção executiva: Anna Azevedo
Direção de produção: Daniela Santos
Fotografia e câmera: David Pacheco
Montagem: Eva Randolph
Som direto: Júlio Braga e Vampiro
Edição de som: Rodrigo Maia
Mixagem: Damião Lopes
Participações especiais: Evandro Teixeira e Walter Firmo

Prêmios:

Prêmio Edital RioFilme de Produção de Curta-metragem 2011
Troféu CINEfoot 2013 de Melhor Curta-Metragem
Mention d’Honneur da categoria Movies & Great Champions do 31º Milano International Ficts Fest

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“O verdadeiro torcedor”, uma crônica de Ivan Lessa (por Paulo-Roberto Andel)

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O verdadeiro torcedor não se dá a conhecer. Embora um conoisseur, prefere trabalhar – seu ofício é duro – em silêncio. Tem razão. Sua prática é feroz, exige disciplina e nem todos o compreenderiam.

O verdadeiro torcedor não pinta a cara ou qualquer outra parte de seu corpo, não veste a camisa de seleção alguma, não agita bandeiras, não ergue a voz em coro com outros. O verdadeiro torcedor é um animal pensante doméstico. Não vai aos jogos. Principalmente os da Copa do Mundo. Escolhe, no entanto, torneios importantes que propiciem amplo espaço na imprensa, televisão ou mesmo rádio.

O verdadeiro torcedor gasta seu dinheiro em jornais, publicações especializadas, cadernos em espiral e canetas esferográficas. E uma tesoura razoável. No seu quarto, um território proibido a estranhos, tem colado nas paredes tabelas coloridas e algumas fotos e recortes pregados com uma massinha azul que não deixa marca ou mancha. Na mesa de trabalho, ao lado do computador, o caderno de notas, a tesoura (“Recortar é viver”, este seu lema) e uma Bic, de preferência azul.

O verdadeiro torcedor passa entre 2 a 3 horas por dia folheando os jornais em busca de colunas relativas aos diversos jogos. Degusta análises, com ênfase naquelas que ousem previsões. Não são difíceis de encontrar: o peixe morre pela boca, o jornalista esportivo pelo texto. O verdadeiro torcedor passa pelo menos uma hora vendo e ouvindo, com atenção, as observações feitas pelos bem pagos comentaristas profissionais durante os intervalos e as versões compactas dos jogos da Copa. O verdadeiro torcedor ri fácil e, sério, toma notas.

O verdadeiro torcedor é um perfeccionista. O verdadeiro torcedor sabe, como os mais desbragadamente apaixonados, o nome e a ficha completa de jogadores mais populares como Cristiano Ronaldo, Messi, Robinho, Maicon, Eto’o, Casillas, Rooney e Dempsey, como também daqueles menos cotados, como Zigic, Özil, M’bohir, Yussuf e Park-Ji-Sung.

Até mesmo os técnicos não fogem a seus olhos dourados de atenção: Otto Rehhagel, Huh Jung-moo, Gerardo Mantino e Rajevac são magos feiticeiros de sua intimidade. O verdadeiro torcedor desconhece limites para o esporte das multidões em sua modalidade máxima, pois sabe de cor e salteado até mesmo o nome de todos os estádios sul-africanos, dos quais prefere citar, em voz baixa e a sós, como se recitando uma incantação, os de Koftus Versfeld, Peter Mokaba, Mbombela e o de Moses Mabhida.

O verdadeiro torcedor tem, por vezes, seus exageros, pois é humano, nada mais que humano. Saber uma linha do hino nacional da Argélia, sob qualquer ponto de vista, não deixa de ser levar a idiossincrasia a seus mais desvairados limites (É assim: Qassaman Binnazzilat Ilmahigat e quer dizer “Juramos pelo raio que destrói”).

O verdadeiro torcedor freme e goza de prazer é quando encontra, como foi o caso, um comentário-prognóstico de David Hytner, doGuardian, na mesma manhã em que, algumas horas depois, a Alemanha foi perder de 1 a 0 para a Sérvia:

“Joachim Löw revitalizou sua equipe (a alemã, frise-se) com uma abordagem técnica audaz, saudável e multicultural”. E, mais abaixo, “A formação por ele escolhida a dedo abunda com a exuberância e o frescor da juventude”. Assim prosseguiu o notável David Hytner, sem sequer esquecer do trema sobre o “o”de Löw, jabuzelando e vuvulanando por umas três colunas.

A Sérvia? Sob a batuta de Raddy Antic? A Sérvia definitivamente não estava à altura de conter as feras de Löw que, até então, já haviam desembestado ganhando de 4 (de quatro!) da – seria manhosa, David Hytner? – Austrália, orquestrada sob a batuta do – seria capcioso, David Hytner? – Pim Verbeek.

O verdadeiro torcedor, assim como quem não quer nada, quer tudo. O verdadeiro torcedor é pela zebra e o circo pegando fogo fora de campo. O verdadeiro torcedor pouco liga para milionários dando pontapés e estragando gramados.

O negócio do verdadeiro torcedor é ver os outros milionários, os da mídia, quebrando a cara. Momentaneamente, ao menos. O verdadeiro torcedor sabe que os outros torcedores, coitados, logo vão embora e de tudo se esquecer depois de cantarem seus estribilhos, soprarem nisso ou naquilo outro e voltar a esperar outros quatro anos..

O verdadeiro torcedor não carece de matéria. N’est-ce pas, cari amici italiani?

(Publicado originalmente na BBC Brasil em 21 de junho de 2010)

Um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos – e um torcedor fanático do Botafogo -, Ivan Lessa fez parte do grupo que colaborou e que, durante muito tempo, fez sucesso no jornal “O Pasquim”. Carioca, filho de Orígines Lessa e Elsie Lessa, escreve valendo-se de um humor cheio de ironias. Auto-asilado na Inglaterra, segundo ele por ter-se desencantado com o Brasil, trabalhava na BBC de Londres. Publicou em praticamente todos os grandes veículos da imprensa brasileira.

Ivan faleceu aos 77 anos, em Londres, onde vivia, em 09/06/2012.

Sobre Teixeira Heizer (da Redação)

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Da EBC – Douglas Corrêa/Jorge Wamburg

Morreu ontem (3), no Rio de Janeiro, o jornalista Teixeira Heizer, de 83 anos, após sofrer uma parada cardíaca, um dia após o lançamento do seu mais recente livro A outra história de cada um. Jornalista esportivo, começou no rádio, na década de 1950, e trabalhou nos últimos anos como comentarista nas transmissões de futebol e nos debates do canal SporTV.

Foi fundador da Rede Globo e se orgulhava de ter o crachá funcional número 01, como primeiro contratado da emissora. Trabalhou em vários veículos ao longo da carreira, também na televisão, e passou pelas redações dos jornais Diário da Noite, Diário de Notícias, Última Hora, O Dia,  PlacarVeja e por vários anos trabalhou na sucursal do Estado de São Paulo no Rio de Janeiro, além de ter sido gerente de Jornalismo da extinta Empresa Brasileira de Notícias (EBN) e da Radiobrás, nos anos 80.

Heizer foi ainda professor de Jornalismo da Faculdade de Comunicação Social da Universidade Gama Filho. Ele escreveu dois livros sobre futebol, sua grande paixão: O Jogo Bruto das Copas do Mundo e Maracanazo – Tragédias e Epopeias de um Estádio com Alma, lançado em junho de 2010, contando suas memórias sobre a final da Copa do Mundo de 1950, no Rio de Janeiro, quando a seleção brasileira foi derrotada pela uruguaia, no Maracanã, por 2 a 1.

Ao Memória Globo, Teixeira Heizer lembrou que o apreço pela língua portuguesa era uma de suas principais marcas: “Sempre que eu escrevia [no jornal], eu prestava atenção porque alguém ia ler o que eu fizesse. Então eu construía o melhor para oferecer ao leitor. Até hoje, bate no meu ouvido: Ele tem o gosto pela frase”.

Primeiros passos

O primeiro trabalho no jornalismo foi na redação do jornal Correio Fluminense, em 1953. Um ano depois, já fazia parte da equipe de repórteres da Continental, emissora de rádio carioca cujo slogan era ser “Cem por cento esportiva”. No início da década de 1960, começou a trabalhar como comentarista esportivo na Rádio Globo, ao lado de profissionais como Waldir Amaral, Luiz Mendes e Raul Brunini.

Pela Globo, Heizer participou da cobertura da Copa do Mundo do Chile (1962), quando a seleção brasileira de futebol comandada conquistou o segundo título mundial. No ano seguinte, o jornalista fez parte da equipe que cobriu uma excursão da seleção brasileira pela Europa. Essa cobertura deu à Rádio Globo o primeiro lugar de audiência entre as emissoras cariocas na época.

Teixeira Heizer fez parte da equipe de profissionais que participaram da inauguração da TV Globo, em 1965, e foi contratado com o crachá número 01 da empresa. Heizer foi o responsável também pela criação dos primeiros programas esportivos da emissora, como o Em Cima do Lance e Por Dentro da Jogada. Fazia parte também do TeleGlobo e chegou a apresentar o programa ao lado da atriz Nathalia Thimberg e do locutor Hilton Gomes. O telejornal foi o primeiro a ser exibido pela emissora.

O jornalista será enterrado nesta quarta-feira (4) no Cemitério de Itaipu, em Niterói, região metropolitana do Rio, em horário a ser ainda definido pela família.

teixeira heizer livro

Do jornalista Fernando Brito, do blog Tijolaço

Eu poderia escrever sobre a importância de Teixeira Heizer no jornalismo esportivo, um dos pioneiros e mais independentes e apaixonados, como éramos nos anos em que o futebol era motivo de paixão.

Poderia escrever sobre sua importância para uma geração de companheiros teimosos, remadores contra a maré, na qual se incluem Juca Kfouri e José Trajano?

Escrevo, porém, sobre algo muito pessoal.

Quando me mudei para Niterói, construindo uma casa do nada, sem economias,Teixeira Heizer soube disso.

Por artes do destino, uma indenização trabalhista, se não me engano do Estado de São Paulo, havia permitido que ele comprasse uma pequena escola, o São Marcos, que sua mulher e seu filho Marcos – grande músico, já morto, agora – dirigiam.

Escola boa, aliás, muito boa, que acabaria sendo vendida para outro grupo educacional.

Teixeira queria porque queria que meus filhos estudassem lá, sem pagar.

Óbvio que não aceitei, mas ele então fez um desconto que tornou viável erguer casa e escola para os meus guris, sem que eu perdesse a vergonha na cara.

Homens bons morrem, que pena.

Leia também no blog de Marcelo Auler sobre Teixeira Heizer – http://www.marceloauler.com.br/teixeira-heizer-nos-deixa-o-jornalismo-esta-acabando-aos-poucos/

Dinheiro de placa: a ascensão da Traffic no Brasil (da Redação)

Em 20 de abril de 1984, a revista Placar publicava excelente matéria de Moacir Japiassu sobre a ascensão da empresa Traffic no mercado da publicidade esportiva, liderada pelos jovens Ciro José e J. Hawilla – este, no ramo desde 1973.

 

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Imagem: Nico Esteves e outros

Para mais informações sobre Ciro José, http://terceirotempo.bol.uol.com.br/que-fim-levou/ciro-jose-1787

Sobre J. Hawilla, http://oglobo.globo.com/esportes/j-hawilla-dono-do-nosso-futebol-2998400

O futebol no mundo dos videoclipes (por Paulo-Roberto Andel)

Popularizado a partir de 1981 com a chegada da MTV (Music Television), o videoclipe foi a grande mola propulsora do mercado da música mundial durante décadas, ainda com muita força nos tempos atuais. E algumas bandas famosas do rock e do pop nacional e internacional não deixaram de homenagear o futebol em suas produções artísticas, seja em imagens, versos ou melodias. Confira alguns exemplos.

1) “(Keep feeling) Fascination”, The Human League, 1983:

2) “Perfect strangers”, Deep Purple, 1984:

3) “Tiruliruli”, Hermeto Pascoal, 1984

4) “O futebol”, Chico Buarque, 1989:

5) “Bahia x Grêmio”, Yamandu Costa, 2001:

6) “Futebol no inferno”, Caju e Castanha, 2009:

7) “Umbabarauma”, Jorge Benjor & Racionais MCs, 2010:

Casa vazia, audiência cheia (por Paulo-Roberto Andel)

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No fim de semana passado, dois pontos me chamaram a atenção nas disputas regionais do futebol brasileiro, em seus dois principais centros.

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No clássico disputado no Rio de Janeiro, na cidade de Volta Redonda, o Botafogo venceu o Fluminense por 1 a 0, classificando-se para a final do Carioca 2016, diante de apenas 5.182 torcedores presentes, dos quais 3.562 foram pagantes.

Cerca de 31% do público foi beneficiado pelas leis de gratuidade – se elas não existissem, o resultado do comparecimento talvez fosse ainda mais catastrófico.

Trata-se do mais antigo clássico do futebol brasileiro.

Foram disponibilizados 14.933 ingressos para a decisão da vaga. Cerca de 35% dos ingressos foram utilizados, somando-se os pagos e as gratuidades. O Raulino de Oliveira teve sua capacidade ociosa em 65% ao receber o confronto.

Domingo, 19 horas, fora da capital, crise etc.

Em 2010, a população de Volta Redonda era estimada em 257.686 habitantes. Supondo que 10% dela tivesse interesse por futebol, um número muito modesto, algo como 26.000 pessoas.

É possível supor que o grosso do público presente à decisão no Clássico Vovô seja composto por torcedores cariocas que se deslocaram do Rio de Janeiro até Volta Redonda, em caravanas organizadas. Porque o público local está totalmente alheio à frequência no estádio. Basta ver os números e a frequência histórica no Raulino.

Em 2013, há três anos, na decisão da Taça Rio que também valia vaga para a final do campeonato, Fluminense e Botafogo levaram ao Estádio da Cidadania 12.485 torcedores pagantes e 15. 516 torcedores presentes.

Comparando-se a totalização dos presentes em 2016 contra 2013, queda de 67%.

Futebol virou minissérie de TV. E pouca gente atentou para a gravidade dessa situação.

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Em São Paulo, o Santos bateu o Palmeiras nos pênaltis e se classificou para a decisão do Paulistão 2016.

Em jogo de torcida única, com a chancela do Estado na declaração de incompetência para combater a violência, o Peixe atuou diante de 13.690 torcedores pagantes.

Mais do que o dobro do público presente à disputa de Fluminense e Botafogo, mas muito pouco para um clássico.

Entende-se que há uma limitação em função dos lugares disponíveis na Vila Belmiro, sem dúvida, além do direito natural do Santos como mandante da partida, tendo em vista a classificação no Paulistão.

Os dois casos fazem pensar.

Quatro dos times mais expressivos do futebol brasileiro jogando para plateias modestas nas arquibancadas, ainda que por motivos diferentes.

O futebol perde sua magia e passa a ser um mero produto de grade de TV. A novela que, se perdermos um capítulo, não muda muito.

Em Santos, um caso normal: o Peixe disputará a final contra o Audax na Vila Belmiro.

No Rio de Janeiro a final será disputada no Maracanã entre Vasco e Botafogo, com TV aberta. Com muita sorte, os dois jogos somados terão 100 mil torcedores presentes.

Há quem diga que o futebol mudou, o jeito de acompanhá-lo mudou e é claro que tudo isso deve ser avaliado. Mas o esporte precisa de coração, de sentimento, de chama, e isso não será pavimentado no futuro com relações distantes, sem presença ao lado da equipe.

Os chamados times grandes aos poucos perdem seu principal ativo: o torcedor presente. E as crianças cada vez mais vestem as camisas do Barcelona, do PSG, do Real Madrid e de outros times europeus porque veem estes times durante a semana, à tarde, em horários adequados aos torcedores mirins.

Alguém vai dizer que Vasco e Flamengo tiveram lotação máxima na outra semifinal do Carioca 2016, disputada no calor equatorial às quatro da tarde em Manaus. É uma outra discussão. Outra demais.

@pauloandel

Futebol de Praia: Carioca 2016 em Copacabana (por Paulo-Roberto Andel)

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No sábado passado, 16/04, o PANORAMA DO FUTEBOL registrou cenas de mais uma rodada do Campeonato Carioca de Futebol de Praia, na modalidade 11.

Imagens dos jogos Bairro Peixoto x São Clemente (aspirantes) e Juventus x Copaleme (aspirantes e amadores) – este, com destaque para a homenagem aos 60 anos do clássico, realizada antes da partida de fundo. E mais um trecho de “Craques da areia”, com o depoimento de Marcelo Bueno, tricampeão mundial pela Seleção Brasileira de Beach Soccer.

O PANORAMA apoia e defende a ampla estruturação do futebol de praia em investimentos e divulgação; um dos esportes mais tradicionais do Rio de Janeiro, posteriormente espalhado pelo Brasil e pelo mundo, merece mais atenção dos cariocas.


Uma produção Silvio Almeida Filmes

Direção: Paulo-Roberto Andel

Trilha sonora: “Jazz Carnival”, Azymuth

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O destino do America (por Paulo-Roberto Andel)

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Rebaixado ontem pela terceira vez à série B do Campeonato Carioca em menos de dez anos, o America infelizmente deixa dúvidas quanto ao seu futuro.

Segundo time de considerável parcela dos torcedores cariocas, com uma bela história, aos poucos, o importante clube foi dando passos rumo ao ostracismo a partir dos anos 1980. Bem verdade que o alijamento à caneta do campeonato brasileiro de 1987 contou muito neste sentido, mas não foi o único fator. As sucessivas diásporas com a mudança dos campos, a falta de verba, as dívidas e o descaso ajudam a explicar o processo.

A decomposição foi avançando, a torcida fanática foi encolhendo de tamenho e um dos orgulhos da cidade foi ficando de lado.

Que o America pode voltar ao cenário local da primeira divisão estadual, é fato.

Resta saber se, um dia, ele poderá retomar sua posição de grande clube do futebol brasileiro e símbolo do Rio de Janeiro.

Num domingo tão deprimente para o país, a terceira queda do simpático Diabo parece infelizmente fazer sentido.

Fica a torcida para que a recuperação aconteça, por mais difícil que seja.

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@pauloandel

Futebol de praia na enseada de Botafogo (por Paulo-Roberto Andel)

No sábado passado, 09/04, o PANORAMA DO FUTEBOL registrou imagens dos jogos entre o Força e Saúde e o São Clemente, nas categorias Aspirante e Amador, válidos pela segunda rodada do Campeonato Carioca de Futebol de Praia 2016.

Num cenário belíssimo, dos maiores cartões postais do mundo – a praia de Botafogo tendo o Pão de Açúcar e a Urca ao fundo.

Nos Aspirantes, empate em 1 a 1. Nos Amadores, o Força venceu por 2 a 0.

O futebol de praia é uma das grandes expressões do esporte litorâneo no Brasil, sendo praticado há décadas (desde os anos 1950) e tendo como berço a praia de Copacabana, tendo fornecido vários craques para os gramados, como o goleiro Renato (Atlético Mineiro, Seleção Brasileira de 1974, Flamengo, Fluminense e Bahia), o zagueiro Edinho (Fluminense e Seleção Brasileira 1978-1982-1986), o lateral Júnior (Flamengo e Seleção Brasileira 1982-1986), o meia Paulo Cézar Caju (Campeão mundial em 1970, Copa de 1974 e diversos grandes clubes), dentre muitos outros.

Precisa ser valorizado à altura tanto em termos midiáticos quanto de estrutura.

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@pauloandel

 

Zó e Kel: gêmeos da bola (por Paulo-Roberto Andel)

Eles começaram a carreira no Serrano da Bahia, passaram pelo America e depois em diversos clubes.

Muitas vezes, jogaram juntos e, claro, isso dava motivo a várias histórias engraçadas sobre substituições e confusões.

O pai, fazendeiro, os via em campo com seu inseparável chapéu de vaqueiro.

Um deles teve uma passagem efêmera pelo Corinthians.

Os baianos Zó e Kel, irmãos gêmeos.

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@pauloandel

O primeiro patrocínio individual do futebol brasileiro (da Redação)

Em maio de 1985, a revista Placar noticiava o primeiro patrocínio individual do futebol brasileiro, conferido ao atleta Cezar Saccol, jogando no time do Internacional de Santa Maria, feito pela Coca-Cola na manga de sua camisa.

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A tristeza do Bugre (por Paulo-Roberto Andel)

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Domingo de manhã, comecei a zapear os canais e então bati os olhos no futebol. O velho Guarani de guerra na briga da Segundona em São Paulo, numa decisão contra o Barretos – este, com seu uniforme de cores bolivianas que me remeteu ao Sampaio Correa.

Qualquer garoto em 1978 sabia a seguinte escalação: Neneca, Mauro, Gomes, Édson e Miranda; Zé Carlos, Renato e Zenon; Capitão, Careca e Bozó. Um timaço que bateu o Palmeiras naquele ano e se tornou o único campeão brasileiro do interior ao lado do Santos.

No ano de 1979, veio a Libertadores e os dois times alviverdes fizeram seus jogos da primeira fase contra os peruanos Alianza e Universitario de Lima. Partidas nas manhãs de domingo. Para mim, uma boa lembrança da juventude: volta e meia meu pai me dava dinheiro para comprar lasanha pronta num restaurante de Copacabana, a trattoria Torna, que ficava na rua Anita Garibaldi. Depois dos jogos, a deliciosa refeição tinha um sabor ainda mais acentuado, principalmente se depois a boa pedida fosse um jogo no Maracanã. O Bugre passou fácil pela primeira fase, com goleadas sobre o Palmeiras e o Universitario, vindo a cair nas semifinais (dois triangulares, onde os primeiros decidiam o título) e terminando em quarto lugar na maior competição de futebol da América.

O querido Guarani que depois seria semifinalista do Brasileiro em 1982 e vice-campeão em 1986. Pensem em nomes como Neto, Evair, Amoroso, Luizão e Edílson Capelinha: todos foram revelados no Brinco de Ouro da Princesa.

O tempo passou, o dinheiro acabou, as dívidas se acumularam, o estádio foi a leilão. Na Segundona também estavam – ou estão – a Portuguesa, o Marília, o Bragantino, o Juventus, próceres da gênese do futebol paulista.

O Barretos foi melhor e fez seus gols no segundo tempo. O resultado tirou o Guarani da fase final, onde serão decididas as vagas de acesso. Mais um ano de agonia, mais um domingo de tristeza, agravado por ser o dia seguinte ao aniversário de 105 anos do clube campineiro.

Penso naquela saborosa lasanha de 37 anos atrás. A mesada do meu pai. Zé Carlos, Renato e Zenon.

Outro dia mesmo, o Guarani era dos maiores; agora, suas chagas são carne viva.

O Brinco de Ouro da Princesa continua bonito, apesar de tudo. Mas tudo isso me remete aos sinais claros da decadência do nosso futebol.

O lugar do Bugre é em cima – ou, ao menos, deveria ser.

Imagem: Rodrigo Villalba

Um vai, outro fica (por Mauro Jácome)

16-06-2006, DUITSLAND.  JOHAN CRUIJFF. FOTO BAS CZERWINSKI 16-06-2006, DUITSLAND. JOHAN CRUIJFF.
FOTO BAS CZERWINSKI[/caption]

Johan Cruyff e Rinus Michels, um dentro e outro fora de campo, formaram uma dupla que ajudou a revolucionar o futebol a partir dos anos 70. As ideias e a forma de jogar refletiram no que aconteceu a partir da união dos dois no Ajax, no Barcelona e, principalmente, na Laranja Mecânica da Copa de 1974.

Para muitos, a influência foi positiva, principalmente para os países vizinhos. Até então, percebia-se um forte investimento europeu no futebol-força para concorrer com a técnica latina, com destaque para os sul-americanos. O surgimento do futebol-total de Michels, que era a convergência das diversas características do futebol praticado na Europa, com a técnica de Cruyff, despertou o mundo para algo que parecia impossível: futebol com ciência e técnica, ou seja, preparo físico e tático com qualidade técnica. Hoje, podemos perceber equipes, seleções e jogadores que assimilaram e desfilam esses conceitos.

Disse anteriormente que muitos adquiriram essas influências e cresceram, no entanto, teve quem não compreendeu o que estava presenciando e fez da Copa de 1974 o divisor de águas. A derrota para a Holanda e, posteriormente, para a Polônia, que não tinha a qualidade da Holanda, mas jogava em alta velocidade, levou o Brasil a um entendimento equivocado. Sob a justificativa de que precisávamos de mais competitividade para não sermos engolidos novamente, era necessário desenvolver um jogador mais bem preparado fisicamente, mais educado taticamente e com mais preocupações defensivas. A partir daí, foi dada a largada para a nossa decadência técnica. Em nome de um “futebol consistente” descambamos para menos craques e mais volantes, menos dribles e mais bola aérea, menos toques e mais chutões, menos gols e mais faltas. E os novos paradigmas inundaram as categorias de base. Tudo ficou contaminado.

Ao contrário dos outros centros do futebol, a técnica passou a ser vista por aqui, digo, pelos treinadores, até como sinal de irresponsabilidade. Garrincha não ficaria cinco minutos numa peneira qualquer. Talvez, o auge desse declínio técnico, pelo menos para fins didáticos e midiáticos, tenha sido a Seleção de Lazaroni. Tanto é que, após a Copa de 90, decretou-se o estágio do nosso futebol de Era Dunga. O volante, que não era um craque, mas também não era nenhum cabeça-de-bagre, pagou o pato, afinal, na nossa sociedade maniqueísta, alguém tem que assumir a responsabilidade pelas tragédias.

Desde então, tivemos suspiros, por exemplo, a Seleção de Telê Santana. Os 7×1 representam bem o contraste que o Carrossel Holandês ajudou a criar: de um lado, um time com diversas características do legado que Michels e Cruyff deixaram e, do outro, o exemplo acabado do erro de interpretação desse mesmo legado.

Para onde vamos? Infelizmente, Dunga está mais preocupado em vencer suas quedas de braço com a lógica do que, efetivamente, iniciar uma nova era no futebol brasileiro.

@MauroJacome

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Dois Dungas (por Paulo-Roberto Andel)

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Para os mais jovens, é importante dizer que a trajetória insossa de Dunga como treinador de futebol é distinta, ao menos em boa parte, de sua vida como jogador.

Volante de bons recursos técnicos, capaz de acertar passes longos, dotado de um chute forte e uma garra infinita em campo, não foi campeão do mundo à toa.

Contra si, teve o injusto linchamento midiático (para variar…) na Copa de 1990. A precoce eliminação diante da Argentina do genial Maradona levou a grande imprensa a culpar Dunga por tudo de ruim que aconteceu numa Seleção conturbadíssima. Um ano antes, depois de uma crise, o Brasil tinha ganho a Copa América depois de quatro décadas de espera. A expressão “Era Dunga” foi puro e cruel reducionismo, o que talvez ajude a explicar certa rispidez do treinador em entrevistas, alimentada por rancores do passado.

Já o profissional à beira das quatro linhas deixa a desejar. Sempre desejou. Remake da experiência realizada com Falcão depois daquela mesma Copa da Itália, Dunga chegou à condição de treinador da Seleção Brasileira sem qualquer experiência em clubes. Os dois casos foram inspirados em Franz Beckembauer, o cracaço vitorioso à frente da Alemanha campeã mundial em 1990. Um detalhe: o Kaiser levou anos a fio em cursos de preparação para o ofício de treinador, o que naturalmente não aconteceu com a dupla brasileira. Depois de muitos anos como comentarista, Falcão trabalhou no Bahia e tem feito uma boa jornada no Sport.

As empolgantes estatísticas que se firmaram com a inesperada conquista da Copa América de 2007, mais as vitórias nos amistosos que vão do nada a lugar nenhum deram-lhe um enganoso estofo triunfante. Na hora H, na África do Sul, o que se viu foi uma Seleção destrambelhada, convocada à base de caprichos pessoais e teimosias, que encerrou seu caminho diante de uma pavorosa partida contra a Holanda, na derrota de virada por 2 a 1. A imagem de Dunga com olhar atônito para seu banco de reservas durante aquele jogo é uma página eterna dos maus momentos do futebol brasileiro. Mas justiça seja feita: a arrogância sem limites do medíocre treinador foi também inflada pela eterna opressão da Rede Globo, contrariada em seus interesses comerciais – e qualquer semelhança com os tempos atuais será mera coincidência.

Daquele fracasso até 2014, foram quatro anos de limbo com uma apagada passagem pelo comando do Internacional e só. O que não deu certo em 2010 virou a promessa de dias melhores depois dos 7 a 1, numa CBF cheia de cartolas em cana ou à beira dela. Nada mudou. Dunga não evoluiu. Pouco trabalhou na função. Ao menos, reapareceu mais “humilde” em entrevistas coletivas. De resto, o que se vê é o contestável neymarbol e a insistência permanente na exclusão/rejeição de nomes como Thiago Silva e Marcelo, por exemplo, para a teimosia atroz na escalação de nomes como o de David Luiz – co-responsável por pelo menos 4 daqueles malditos 7 da Alemanha, no desastre do Mineirão.

A Seleção vive um momento complicado, reflexo de tudo que cerca o futebol brasileiro atual, muito visível ontem depois de ser completamente dominada pelo mediano escrete uruguaio. Sua grande história pode até empurrá-la a mais uma classificação em Mundiais, até mesmo numa desagradável repescagem. Mas hoje, pontualmente hoje, estamos em risco para 2018. E mesmo que ele seja superado, para o que todos torcemos muito, será difícil imaginar um Brasil hexacampeão, ainda mais demonstrando aquilo que foi sua maior marca do passado: um grande futebol.

O Dunga das quatro linhas é infinitamente superior ao da beira delas. Se o caso era trazer um treinador de força, líder incontestável, que tivesse a personalidade parecida com a do atual comandante, Leão teria sido um nome com mais estofo, currículo e resultados, mesmo tendo sido rifado da Seleção em 2001. Se a questão priorizasse o talento, Muricy e Tite seriam opções muito mais consistentes e relevantes.

O que não tem remédio, remediado está. Terça-feira tem mais.

@pauloandel

Imagem: globoesporte

Sobre Cruyff (por Paulo-Roberto Andel)

cruyff

A única certeza da vida é a morte.

E por mais que ela seja esperada, sempre assusta.

Ontem à noite, eu estava com meus amigos Fagner Torres, Paulo Tibúrcio, Nelson Borges e Leo Prazeres na Casa Vieira Souto, coração do centro do Rio. Vimos os jogos do Fluminense e do Flamengo pela Primeira Liga. Teve de tudo: grandes risos, acepipes, a bela Gabrielle nos atendendo, tudo de bom. E muita conversa sobre política, arte e futebol.

Em dado momento, falamos das listas que os grandes jogadores costumam fazer com seus craques preferidos. Claro, discordamos muito. Num dado momento, vociferei pela defesa de Pelé, considerando inaceitável qualquer rol de craques da bola que não inclua seu nome no topo.

Em algum momento, lembramos da devastadora Holanda de 1974. O Carrossel Holandês. A Laranja Mecânica. Um monte de craques loucos (dentro e fora de campo) que atacavam, defendiam e trocavam de posição, a ponto de consagrarem a tática do impedimento – só eles fizeram isso com perfeição absoluta, o que requer talento, destreza e principalmente inteligência. Naqueles tempos, as camisas indicavam quem jogava onde: o 2 era lateral direito, o 11 era ponta esquerda, o 9 era centroavante. Na Holanda, não.

E no meio daquelas feras, o grande lider era Johan Cruyff. Uma das feras da minha infância.

Eu e Fagner vibrando com jogadores fantásticos que, um dia, deram um nó na nossa seleção tricampeã mundial. Os opacos diriam que a Holanda não ganhou nada. E precisava?

Poucas horas depois de uma grande mesa de bar da nossa turma, acabei de saber que Cruyff faleceu. É o caminho inevitável para a morte, percorrido diariamente nessa estranha Terra em que vivemos.

A Holanda dos anos 1970 era reflexo direto do time do Ajax, da genialidade de Rinus Michels, de gigantes como o goleiro Jongbloed (que jogava sem luvas), o zagueiro Rudi Krol, o fantástico Neeskens. Tome Rensenbrink, os irmãos Van Der Kherkof, Suurbier, Rep e mais uma tonelada de gente que abriu caminho para as novas gerações – Gullit, Van Basten, Rijkaard, Bergkamp e tantos outros.

Os garotos de hoje precisam ver a Holanda de Cruyff no YouTube. É o único jeito de entender como nasceu o Barcelona de hoje – onde o craque jogou e posteriormente foi treinador -, e o que foi um pouco do Brasil de 1958, 1962 e 1970. Ou ainda a espetacular Hungria de 1954 – também não campeã, também maravilhosa. Todos estes caminhos deságuam naqueles loucos geniais de um timaço que disputou duas finais de Copa do Mundo, não foi campeão e nem precisou para ser eternamente vencedor.

Cruyff em português significa craque, monstro, fabuloso, genial.

Vale o escrito.

@pauloandel

Pompéia, o “Constellation” do America (da Redação)

pompeia américa

Pompéia foi um dos grandes goleiros do futebol brasileiro. Tinha o apelido de “Constellation”, um grande e elegante avião dos tempos em que encantou a milhares de torcedores num Maracanã que já não existe.

Marcou presença no time do America entre os anos de 1954 e 1965, levando a equipe rubra ao seu último título carioca conquistado no ano de 1960.

Repetindo a história de muitos dos ídolos do nosso futebol, ao término da carreira mergulhou numa vida de drama e miséria, morrendo em 1996.

america 1960

A seguir, texto de autoria de Antonio Edmilson Rodrigues, torcedor do America, livre docente em História, professor da UERJ e da PUC-RJ, pesquisador de História do Rio de Janeiro, escritor de temas vinculados à história urbana, coordenador do projeto Conversa de Botequim e autor de “João do Rio, a cidade e o poeta”, originalmente publicado na revista Carta Capital em 2013. 

“Sou torcedor do America F.C. do Rio de Janeiro desde pequeno e isso quer dizer muita coisa para quem começa 2013 com 64 anos. Posso dizer que sou americano de coração, embora isso pareça anacronismo para as gerações de hoje, que olham para os times do Rio e só veem Flamengo, Fluminense, Botafogo e Vasco. Mesmos alguns antigos torcedores do mequinha deixaram de lado as tradições do pavilhão rubro, abdicaram de sua história e bandearam-se para um dos grandes do Rio.

Minha atenção para o America veio de meu pai. Nos domingos, lá em Vila Isabel, meu pai e meu tio disputavam, quase a tapa, eu e meu irmão. Eu recebi, de meu pai, o uniforme do América, comprado na Superball e meu irmão, de meu tio, o do Vasco. No quintal brincávamos de América e Vasco, o clássico da paz, assim denominado por ter selado a pacificação no futebol carioca em 1937.

Mais tarde, já com oito anos, levado por meu pai, via os jogos do America no estádio da Rua Campos Sales. Sentia-me importante sentado na arquibancada junto com aquele mar de camisas vermelhas. Olhava com aflição e atenção os jogos. Notava a elegância de Amaro, a velocidade de Nilo, a classe de João Carlos. E o que falar da emoção dos gols de cabeça de Quarentinha, da calma de Djalma Dias ao desfazer, dentro da área, as jogadas dos adversários?

Mas quem mais me impressionava era o goleiro. Diferente do restante do time, que usava a camisa vermelha e o calção branco, Pompéia se vestia de negro ou de cinza e trazia no peito o escudo do mequinha. Era esguio, alto, de uma flexibilidade ímpar. Sua elasticidade chamava a atenção. Eu não tirava os olhos dele, entusiasmado com os seus voos, as suas defesas mirabolantes que levaram o narrador esportivo Waldir Amaral a apelidá-lo de Constellation. Outros apelidos se seguiram: Ponte Aérea, Caravelle, Fortaleza Voadora. Todos cabiam como uma luva naquele homem simples, nascido em Itajubá, Minas Gerais.

Esse extraordinário goleiro iniciou carreira no circo, onde desenvolveu sua capacidade de impulsão, experiência que deu a ele a condição de ser um goleiro acrobático. Suas defesas mexiam com a plateia e mereceram de Nelson Rodrigues uma crônica em um America e Bangu:

“Foi, então, que surgiu Pompéia, como uma bastilha inexpugnável. Pompéia! Eis o que o América tem e os outros clubes, não: − um Pompéia. Que bela e emocionante figura! É o goleiro mais plástico, mais elástico, mais acrobático do mundo. Nada tem de simples: − ele complica tudo. Em primeiro lugar, não sabe defender sem um salto ou, mais do que isso, sem um vôo. Pompéia voa, amigos. Pompéia voa! E enfeita, dramatiza, dinamiza tanto suas intervenções que o público tem a sensação de que todas as suas defesas foram geniais. (…) Ele é o espetáculo.”

O apelido Pompéia vem da sua infância. Desatento aos estudos, gostava mesmo era de desenhar e o fazia bem, colocando no papel os personagens Popeye e Olívia Palito. Os colegas que viam os desenhos passaram a chamá-lo de Pompéia, pela dificuldade de pronunciar o nome do marinheiro. Pompéia nasceu José Valentim da Silva, em 27 de setembro de 1934, dia de São Cosme e Damião.

Iniciou sua carreira esportiva como centroavante no clube Itajubá, time composto de funcionários de uma fábrica de material bélico que participava do campeonato da Segunda Divisão mineira. Mais tarde, se transferiu para outro clube da cidade, o São Paulo, ainda como centroavante. Em um jogo em Três Pontas, o goleiro do São Paulo adoeceu e Pompéia foi escalado no gol. Saiu-se tão bem que chamou a atenção de todos, foi a grande sensação do jogo. Mais tarde, numa partida contra o Bonsucesso do Rio, o goleiro titular do São Paulo entusiasmou a todos, inclusive ao juiz da partida, também olheiro dos times do Rio, que convidou-o para treinar no Bonsucesso e jogar na Cidade Maravilhosa.

Atraído pelo convite, o goleiro não pestanejou e decidiu ir para o Rio. Apresentou-se em Teixeira de Castro e assinou seu primeiro contrato profissional em abril de 1953. No ano seguinte, transferiu-se para o América, onde permaneceu por 11 anos. Seu aprendizado da profissão foi feito com a ajuda do seu primeiro técnico. Alfinete, técnico do Bonsucesso, levava-o para assistir aos jogos do Vasco e do Fluminense, para ver Barbosa e Castilho atuarem. Mas não copiou o estilo de nenhum deles. Construiu um perfil próprio, no qual a estética das defesas se sobrepunha às dificuldades dos chutes. Em qualquer bola desenhava uma cena entre o belo e o rocambolesco, lançando-se sobre a bola de maneira espetacular. Para uns, era presepeiro, para outros, excelente goleiro.

Quando estava no seu dia, tomava conta do espetáculo e não tinha para ninguém, fazia das tardes de domingo o seu momento de fama e os comentários das resenhas do dia seguinte eram elogiosos. Com a estética do goleiro criada por ele, deixou como herança uma jogada, a ponte aérea. O nome vinha da novidade da época que era a ponte aérea entre Rio e São Paulo. Inventada por ele, hoje se tornou em jogada comum dos goleiros. Essa é apenas uma das contribuições de Pompéia. Porém, mais importante do que isso é a construção de uma nova forma de agarrar no futebol, trazendo para as partidas momentos de comédia de arte ou de tragédia cômica, subvertendo a forma tradicional de comportamento dos goleiros e alegrando a plateia, que ria e sofria com seus voos.

Essa marca particular de Pompéia levou-o à consagração como goleiro titular do America Futebol Clube (campeão carioca de 1960), atuando também como titular, em 1957, pela seleção carioca.

Pompéia chegou à seleção brasileira, quando a CBD montou um combinado para defender o Brasil em jogos contra seleções sul-americanas.

Diversas vezes ficava patente o racismo, quando associava-se sua elasticidade a dos macacos.

Em seu primeiro jogo pelo America já despertou entusiasmo. O América jogava um torneio quadrangular em Lima, no Peru, do qual também participa o Santos de São Paulo e, no jogo final entre os dois clubes, Pompéia defendeu um pênalti batido por ninguém menos que Pepe, que assustava com a potência de seu chute todos os goleiros. Com essa apresentação de gala passou a dividir o gol do mequinha com Ari em diversas jornadas, mas sendo o titular em 16 das 22 partidas disputadas pelo America no campeonato de 1960.

Seu nome era dito, cantado, anunciado nas bancas da cidade nas segundas e sua estética de goleiro ganhou fama. Vários Pompéias surgiram no Brasil e seus voos levaram-no longe. Jogou no Porto de Portugal e em vários clubes da Venezuela.E foi na Venezuela que terminou sua carreira de goleiro esteta.

Em 1969, num jogo entre o seu clube, o Desportivo Português, e o Real Madrid, depois de agarrar um chute difícil, que no rebote a bola foi novamente chutada contra a sua cabeça, perdeu uma de suas vistas, deixando a outra também prejudicada. O chute foi dado por ninguém menos que Di Stefano. Com isso, teve que abandonar o futebol.

Com a impossibilidade de continuar a atuar, Pompéia perdeu a alegria. Seu colega Amaro ainda tentou levá-lo para o Bonsucesso como preparador de goleiros, mas nada mais deu certo na vida do grande Constellation. Na rua da amargura, sozinho e perdido, voltou-se para a bebida e morreu em maio de 1996, em um quarto de um manicômio, olhando para uma bola.

Amargou na vida e na morte a sina dos goleiros, ditada na célebre máxima de autoria desconhecida: “o goleiro é tão maldito que onde ele joga não nasce nem grama”.

Para saber mais sobre Pompéia, visite o blog TARDES DE PACAEMBU

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O time de Neném Prancha (por João Saldanha)

JOÃO SALDANHA NO MARACANA

Já faz muito tempo, acho que durante a guerra, os jogadores do Posto 4 FC, campeoníssimo da praia, dirigido pelo “Trenier” mais famoso da Costa do Atlântico, Neném Pé de Prancha, tinham resolvido dar uma festa de fim de ano, na garagem da casa de um tio do Renato Estelita. O Lá Vai Bola FC aderiu ao baile e compraram três barris de chope.

Eu não topei e disse na esquina do Café do Baltazar: “Não vou. Na festa do ano passado, na garagem do Pé de Chumbo, quebraram tudo e até hoje o clube não pagou a cristaleira da avó dele que estava guardada lá. Não vou mesmo. Chega de encrenca.”

Meu irmão Aristides, o Hélio Caveira-de-Burro e o Orlando Cuíca me acompanharam na idéia de não ir ao baile e fomos tomar um chope, sossegados, num bar vazio, na esquina da Avenida Atlântica com Rua Cons­tante Ramos. A noite estava boa e o papo também. Mais tarde, passou por ali o Jaime Botina e disse: “Caí fora do baile. Tem gente demais e muito nego bêbado. Vai dar galho.” E eu emendei: “Não disse?”

Lá pelas duas horas da manhã, parou um táxi daqueles grandes e sal­tou o doutor A. Coruja, esfregando os óculos, nervoso. O doutor Coruja era um impetuoso lateral direito. Só dava bico na bola de borracha e Ne­ném Prancha decretou: “Só joga se cortar as unhas. Uma bola está custando cinco pratas.” Seu controle de bola não era dos melhores, mas quebrava o galho na lateral direita. O galho ou o ponta-esquerda adversário.

Mas chegou e foi falando incisivo: “Se vocês são machos e meus ami­gos, têm de ir lá comigo. Fui desacatado mas eram muitos.” E foi logo dando ordens: “Entrem aqui no táxi e vamos lá.”

Lá aonde?” disse o Hélio. Coruja explicou: “E na Rua Joaquim Silva. A mulher me desacatou, ofendeu minha mãe e não pude reagir porque ela estava com três caras na mesa. Vocês têm de ir comigo ou não são meus amigos.” Repetiu isto umas cinco vezes e completou: “Como é, poetas? Vamos ou não vamos? Vocês agora deram para medrar?”

Eu cochichei para o Cuíca: “O Coruja está de porre. Não vou me meter nisto.” O Cuíca respondeu: “Ele vai chatear a gente o ano inteiro por causa disso. O Coruja quando bebe é assim. Fica remoendo os troços. Olha, ele veio de lá até aqui e gastou meia hora. Para voltar, outra meia hora. Os caras já não estão mais lá, a pensão já deve estar fechada e a mulher dormindo com alguém.” E virando-se para o doutor Coruja: “Tá bem, nós vamos, mas vem tomar um chopinho com a gente.” Coruja topou e mandou o português do táxi esperar.

Tomamos o chope bem devagarinho e fomos, ainda devagar, para a Rua Joaquim Silva. O táxi “disse” que não esperava mais e foi embora. Subimos a escada de madeira, comprida e estreitinha, e demos numa sala de uns três metros por quatro, se tanto. Quatro mesinhas, só duas ocupadas por fregueses, e, nas outras, umas três mulheres com cara de sono. O diabo é que numa das mesas estava a tal mulher papeando com os três caras. Doutor Coruja partiu direto e foi dizendo: “Repete agora, sua vaca.”

Os homens levantaram, o que estava mais perto levou um soco do doutor e o pau comeu solto. O lugar era apertado e eu me lembrei da cristaleira da avó do Renato. Um dos caras era uma parada, brigava bem. O garçom não parecia homem mas era e as mulheres fizeram uma gritaria dos diabos. As mesas e as cadeiras foram para o vinagre, um dos caras se man­dou escada abaixo, quando alguém apagou a luz. Escutei a voz de Hélio Caveira-de-Burro, que era muito experiente: “Vamos dar o fora.”

Saímos rápido e ainda levei com uns detritos atirados pelas mulheres da janela. Um guarda apitou e saímos pelas ruas da Lapa. Uns se mandaram pela Conde Laje e outros pela Glória. Eu fui parar no Passeio Público, arrumei um táxi e voltei para o ponto de saída. Quando cheguei, Orlando Cuíca já estava e disse: “O guarda começou a dar tiro e quase me pega. Tive sorte.”

Depois chegaram Hélio e meu irmão, que vieram noutro táxi. Hélio falou: “O grande era uma parada. Mas peguei ele bem com a perna da cadeira. Senão a gente não ganhava.” Meu irmão estava com a camisa ras­gada e disse que foi a mulher que se atracou nele. “Não bati mas tive de dar uma ‘banda’ nela. Juntou pé com cabeça. Depois que Hélio dominou o grandalhão, foi barbada. Dei uma no de terno marrom que ele se mandou pela escada.” E eu disse: “Ficou tudo quebrado e a mulher que o Coruja bateu não levantou, mas eu não vi sangue.”

E ficamos relaxando um pouco quando chegou um táxi e o doutor Coruja saltou esfregando os óculos com um lanho no rosto. Hélio pergun­tou: “Como é doutor, se machucou?” “Nada, um arranhãozinho à toa.” E prosseguiu: “Puxa, agora estou satisfeito. Há mais de três meses que eu estava para ir a esta forra.”

“O quê?” — berramos em coro — “O negócio foi há três meses!?” E Coruja explicou, calmamente: “Foi sim e eu não bati nela porque estava acompanhada.” Então meu irmão perguntou: “Quer dizer que os caras que apanharam não eram os mesmos?” Coruja respondeu: “Claro que não, meus poetas, mas o que tem isto demais?”

Nesta altura, o sol já estava aparecendo lá na Ponta do Boi, iluminan­do o primeiro dia do ano e desejando boas entradas para a excelentíssima senhora mãe do doutor A. Coruja.

JOÃO SALDANHA era gaúcho e nasceu em 1917 na cidade de Alegrete. Jornalista combativo, treinador, apaixonado pelo futebol, conseguiu unir o Brasil — então politicamente dividido — em 1969, por ocasião das eliminatórias para aquela que seria a Copa do tricampeonato no México. De temperamento difícil, extremamente corajoso, fez muitos inimigos na vida. Mas todos admiravam aquele homem (ainda que muitas vezes não o perdoando pelas aventuras que dizia — e acreditava — ter vivido) que assistiu a todas as Copas do Mundo de futebol; que, como jornalista, cobriu a guerra da Coréia; que desembarcou na Normandia com Montgomery e que fez a grande marcha com Mao Tse-Tung. Faleceu no dia 12 de julho de 1990, durante a Copa do Mundo. O texto acima consta do livro “Nelson Rodrigues e João Saldanha – a crônica e o futebol”, compilado por Ivan Candido Proença, – Rio de Janeiro – Educom – 1976, págln96-98, e extraído do livro “As cem melhores crônicas brasileiras”, Editora Objetiva – Rio de Janeiro – 2007 – pág. 206, organização e introdução de Joaquim Ferreira dos Santos.

SOBRE NENÉM PRANCHA

Antonio Franco de Oliveira (Resende-RJ, 16 de junho de 1906 — Rio de Janeiro-RJ, 17 de janeiro de 1976), mais conhecido como Neném Prancha, foi um roupeiro, massagista, olheiro e técnico de futebol brasileiro. Ganhou a alcunha de “O Filósofo do Futebol” de Armando Nogueira, por suas frases engraçadas.

Neném iniciou sua carreira no futebol como jogador, no pequeno time Carioca. Não obtendo sucesso, abriu uma escolinha de futebol para crianças nas areias de Copacabana. Ao mesmo tempo, trabalhava como roupeiro, massagista e olheiro do time do coração, o Botafogo. Entre os jogadores que descobriu, estão Heleno de Freitas, e o ex-jogador e hoje comentarista Junior.

Por ser especialista no trato com os jogadores, principalmente os mais jovens, foi técnico das divisões de base do Botafogo.

neném prancha

O clássico carioca no Pacaembu (por Paulo-Roberto Andel)

fla flu 20 03 2016 ricardo nogueira folhapress

O Fla-Flu de ontem no Pacaembu não foi nenhum jogão e, de certa forma, revela certo clima insosso na temporada 2016 do nosso futebol. Chegamos ao fim de março e conta-se nos dedos o rol de partidas empolgantes que foram vistas pelos gramados Brasil afora.

No entanto, alguns fatores positivos chamaram atenção.

Primeiro, o interesse do público. Talvez, apenas talvez, se esta partida tivesse sido disputada no Maracanã, talvez não conseguisse atrair 30 mil torcedores ao estádio – uma lástima quando falamos de um clássico, mas a triste realidade local: TV, desinteresse por parte do público, preços caros et cetera. Há quem aponte a televisão como a principal causa do afastamento dos torcedores do estádio e é justo refletir sobre isso, mas não creio que se trate do único motivo. Antes, 100 mil presentes era uma estatística até simplória; hoje, no máximo 95 mil e em Camp Nou. As modernas arenas brasileiras foram encolhidas em seus tamanhos originais, tendo o grosso de seu público – as classes populares – “devidamente” apartado para biroscas e afins. Mas o que não tem remédio, remediado está.

Segundo, o charme inquestionável do Pacaembu. Pensando nas arenas gourmetizadas, assépticas, frias até, o velho estádio tem realmente cara de estádio. Reparem que nem de longe sou contra modernidades; o que quero dizer é que, se precisavam trazer os campos de futebol para o futuro, não precisavam alijar o passado nem os principais focos de atração para uma partida. O Pacaembu tem história, tradição, imponência e ao lado de outras casas como São Januário e o Mundão do Arruda, ainda mantém certa aragem do que foram as nossas melhores épocas no futebol brasileiro.

Jogar em São Paulo passou a ser uma boa oportunidade para Flamengo e Fluminense. Mas não custa lembrar que isso só veio a acontecer porque ambos não se prepararam devidamente para o fechamento dos estádios no Rio de Janeiro, primeiro por ocasião da Copa de 2014 e, agora, com os Jogos Olímpicos. O que pode ser vendido como estratégia foi, na verdade, improvisação. Boa, mas improvisação.

Reitero: o Pacaembu é lindo demais, mas um Fla-Flu merecia público de Morumbi lotado. De toda forma, isso já é outra história.

@pauloandel

Imagem: Ricardo Nogueira/Folhapress

O que acontece por ora em nosso futebol (por Paulo-Roberto Andel)

 

globo x EI

Os movimentos que cercam a questão da televisão no futebol brasileiro causam preocupação nos atores econômicos envolvidos.

Outrora deitada em berço esplêndido da estabilidade contratual, a Rede Globo em poucos meses se viu num ambiente de concorrência, contestação e repulsa como jamais se viu antes. Tendo o grupo Warner nas costas por meio do Esporte Interativo, a chamada Vênus Platinada já perdeu times expressivos como Santos, Coritiba, Atlético-PR e Bahia para o Brasileiro de 2019.

Cansados dos desmandos que envolvem horários esdrúxulos, da gourmetização do futebol, das coberturas tendenciosas e desproporcionais, afora outros problemas, torcedores organizados têm manifestado suas críticas à detentora dos direitos de transmissão, a ponto de um árbitro precisar paralisar uma partida para que faixas críticas fossem retiradas das arquibancadas.

Outro ponto de desconfiança está nos imbróglios envolvendo a cúpula de CBF, o grupo Traffic e as ligações na FIFA, já com a suspensão de figuras importantes e o julgamento de alguns chairmen do mundo da bola, casos do ex-presidente da Confederação José Maria Marín e do empresário Jota Ávila. Del Nero segue autoexilado no Brasil, temendo a Interpol caso pise em terras estrangeiras.

Diante de tantos elementos negativos, às vezes enrustidos por alguns poucos jogos de grande apelo e grande celebração midiática, vendendo um produto de aparência duvidosa e conteúdo contestável, é possível entender o esvaziamento atual do futebol brasileiro, enquanto o mercado econômico do esporte preferido dos brasileiros caminha para a inviabilidade econômica – mais de 80% dos jogadores no Brasil ganham até dois salários mínimos mensais, conforme estatísticas de 2015. Clubes pequenos esmagados e em processo de fechamento, os grandes administrando dívidas multimilionárias, empresários fazendo a festa financeira e os melhores jogadores bem distantes dos gramados brasileiros. Jogos sem público enquanto a TV não se preocupa: ela lucra com os torcedores em casa à frente do PPV ou nos bares em geral. Torcida para quê?

Em contrapartida, as federações são dirigidas por grupos feudais, sem remuneração mas administradores de ótimos lucros. Da Confederação, é desnecessário dizer. Os meios de comunicação de massa aplaudem o modelo atual, interessados que estão na manutenção do status quo.

Quando o futebol deixou de ser um grande lazer em firma de espetáculo para se tornar um mero negócio econômico, as suas raízes foram enfraquecidas. Trocou-se o público dos estádios pela massa dos espectadores em frente à uma novela monótona às quartas-feiras e domingos – terças, quintas, sextas e sábados também.

Qualquer análise que relacione o avançar deste sistema nos últimos anos com o fracasso contemporâneo do futebol brasileiro, seja nas competições continentais interclubes ou nas de seleções, não o faz por mera coincidência.

@pauloandel

Cinema: “Os boias-frias do futebol” (da Redação)

os boias frias do futebol foto 3

Atrasos de salários; jogadores que não recebem, outros que pagam para jogar; promessas não cumpridas; jornadas duplas ou triplas para complementar a renda familiar; falta de estrutura; contratos curtos de trabalho; ausência de calendário anual.

Essas são algumas das dificuldades e obstáculos da dura realidade do mercado de trabalho dos atletas da base da pirâmide do futebol brasileiro.

“Os boias-frias do futebol” revela os sonhos e as incertezas de dois jogadores da Série C do Campeonato estadual do Rio, a divisão mais operária do futebol fluminense.

Direção: Luciano Pérez Fernández

Produção: ArtLink Produções

Nossa proposta com o PANORAMA DO FUTEBOL (da Redação)

panorama do futebol logo

Caros amigos, o PANORAMA DO FUTEBOL pretende ser um espaço de resgate das discussões sobre o que cerca boa parte do futebol que não se vê na televisão.

Para isso, utilizaremos texto, imagem vídeo e som, na tentativa de agregar torcedores em geral que estejam dispostos a uma reflexão mais profunda sobre este esporte que encanta e inebria, mas também caminha com frustrações, falhas e anonimato.

Esteja em casa, feito um estádio de antigamente. Ou outro desses que a TV nem sempre se lembra de mostrar.

A equipe.